Atualizado em 19 de abril de 2023 às 02h04
A cigarrinha do milho é uma praga agrícola bastante conhecida entre os produtores. Isso porque o inseto tem grande potencial de dano, podendo causar até 70% da perda total do plantio. O estrago é causado, principalmente, em decorrência do enfezamento do milho – doenças ocasionadas pela infecção da planta por microrganismos chamados molicutes.
Com uma presença significativa em várias regiões do Brasil, a espécie tem se destacado pelos prejuízos gerados nas últimas safras. Para você ter uma ideia, a praga foi responsável por 60% da perda da produção de milho da safra de 2022 no estado do Paraná, de acordo com dados do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural).
O que é cigarrinha do milho?
A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) é um pequeno inseto de coloração clara, com cerca de 0,5 cm de comprimento, mas com um grande potencial destrutivo. A praga é vetora de doenças como o vírus do rayado fino e molicutes, sendo os principais causadores de redução de produtividade da cultura do milho.
Em suma, essas doenças prejudicam o desenvolvimento da planta e das espigas, causando grandes prejuízos aos agricultores. Além disso, por ser um inseto sugador, os adultos e as ninfas alimentam-se da seiva das folhas na região do cartucho, reduzindo o crescimento das plântulas e transmitindo doenças.
A ocorrência da praga está relacionada com o período da semeadura e com as condições ambientais, visto que temperaturas altas favorecem na reprodução da espécie. Além disso, a presença de plantas hospedeiras é outro fator que contribui no aparecimento do inseto, uma vez que as fêmeas depositam seus ovos no tecido vegetal.
Basicamente, esse inseto sobrevive preferencialmente na cultura do milho e, habitualmente, migra de lavouras com plantas adultas para lavouras com plântulas recém emergidas.
Os danos causado pela cigarrinha do milho
Os danos causados pela cigarrinha do milho ocorrem de forma direta e indireta.
Os impactos diretos são ocasionados pelo aparelho bucal do inseto no momento que ele se alimenta da seiva da planta e não apresenta um grande potencial destrutivo.
Já o dano indireto consiste na transmissão de microrganismos chamados molicutes. Essas bactérias causam o enfezamento do milho, doenças com alto risco de perda que gera diversos impactos às plantas. Dentre os principais podemos destacar:
● Espigas pequenas e defeituosas;
● Falhas na granação;
● Plantas com baixa resistência;
● Secamento precocemente das plantas;
● Ocorrência de multi-espigamento;
● Grãos chochos e defeituosos;
● Má-formação das palhas das espigas;
● Encurtamento de entrenós;
● Redução da absorção e assimilação de nutrientes pela planta;
● Redução na capacidade de produção de fotoassimilados;
● Favorecimento de outros patógenos.
Todos esses danos podem reduzir drasticamente a produtividade de uma lavoura. De acordo com a Embrapa, o enfezamento provocado pela cigarrinha do milho pode gerar perdas de mais de 70% na produção.
Principais doenças causadas pela cigarrinha do milho
Como havia dito, o potencial destrutivo da cigarrinha do milho está na transmissão de molicutes, ou seja, na propagação de microrganismos causadores de doenças.
A infecção ocorre quando a cigarrinha se alimenta de uma planta contaminada e passa para outra. Este processo acontece na plântula do milho, principalmente nos estádios iniciais de desenvolvimento.
Em seguida, os microrganismos patogênicos proliferam-se nos tecidos do floema e a planta começa a apresentar os sintomas, principalmente na fase de produção:
Enfezamento
O enfezamento é responsável em gerar anualmente US$ 1 bilhão de prejuízo no Brasil segundo a Embrapa. A enfermidade é causada por um grupo de molicutes transmitido pela cigarrinha e, afeta a nutrição e a fisiologia da planta.
Como consequência ocorre a má formação das espigas, deficiência no sistema radicular e aumento da suscetibilidade ao ataque de outros microrganismos, o que pode reduzir drasticamente a produtividade de uma lavoura.
Além disso, uma vez infectada, a cigarrinha do milho já está apta a transmitir a doença, como:
Enfezamento pálido
O enfezamento pálido é causado pela espiroplasma (Spiroplasma kunkelli). As plantas infectadas podem apresentar manchas claras, estrias ou listras que se estendem ao longo da nervura central da folha. Pode apresentar também um crescimento anormalmente lento e raízes pouco evoluídas.
Enfezamento vermelho
Já o enfezamento vermelho é causado por uma fitoplasma e costuma apresentar sintomas mais graves, como o encurtamento e avermelhamento das folhas, bem como, a planta pode ter um crescimento reduzido e sintomas de deficiência nutricional.
Maize Rayado Fino Vírus
Além do enfezamento, a cigarrinha também pode infectar as plantas com o vírus Maize Rayado Fino Vírus (MRFV). A doença afeta a cultura do milho tanto em regiões tropicais quanto em subtropicais, causando pequenos pontos e linhas nas folhas ao longo da nervura.
Como consequência, ocorre o abortamento de gemas florais e redução do crescimento da planta. O controle do MRFV pode ser difícil, pois não há tratamentos específicos para o problema. Em vez disso, é importante implementar medidas preventivas, no qual veremos adiante.
Como identificar as espécies de cigarrinha do milho
No Brasil, existem mais de 44 espécies de cigarrinhas, mas apenas uma é vetor dos enfezamentos: a cigarrinha do milho. Ela se diferencia das demais, pelas duas manchas pretas na face.
É essencial que o produtor fique atento à ocorrência dessa praga, pois o método preventivo é a solução mais viável, até o momento, para reduzir os danos causados pela espécie. Seguem algumas dicas para identificá-la:
Características físicas
O primeiro passo para identificar a cigarrinha do milho é conhecer bem as suas características físicas. Trata-se de um inseto com cerca de 0,5 centímetros, tem coloração branca e duas manchas pretas entre os olhos.
Fique atento para não confundir com as cigarrinhas do gênero agallia, que apresentam traços semelhantes, porém tem uma cor mais acinzentada.
Monitoramento constante
Quanto mais cedo a infestação atingir a lavoura, maiores serão os danos. Portanto faça um monitoramento constante do seu plantio. Normalmente, as cigarrinhas do milho se alojam no cartucho da planta. Além disso, o uso de armadilhas também é uma ótima estratégia para identificar a praga.
Sintomas
Durante o monitoramento, é crucial que o produtor fique de olho nos sintomas das doenças causadas pela cigarrinha do milho. Geralmente, as plantas infectadas apresentam um crescimento lento, espigas e grãos com tamanhos reduzidos, falhos com coloração avermelhada ou pálidas, bem como, deformadas e enroladas.
Condições que favorecem o surgimento da cigarrinha do milho
Os ovos depositados pelos adultos demoram cerca de 8 dias para eclodir. A duração da fase larval é de aproximadamente 17 dias, a depender da temperatura. Em geral, a longevidade das cigarrinhas adultas é de 50 a 60 dias, tempo o suficiente para causar danos expressivos à lavoura.
Sob as temperaturas favoráveis (26°C – 32°C), o ciclo pode se completar mais rapidamente, em torno de 24 dias. Sendo possível que, uma fêmea deposite até 14 ovos por dia. Portanto, a atenção deve ser redobrada em regiões mais quentes em plantios tardios (safrinha).
Por isso, a identificação da praga, mesmo em populações baixas, é fundamental, principalmente nos estádios iniciais da cultura para reduzir os danos causados pela espécie.
Controle da cigarrinha do milho
Um dos motivos que torna a cigarrinha do milho uma potencial ameaça aos agricultores, é que não existe tratamento curativo para as doenças transmitidas por ela, somente é possível eliminar a espécie vetora. Vale destacar que, nenhuma medida isolada é 100% efetiva.
Nesse cenário, veja os métodos de controle que você pode adotar em sua lavoura.
Controle cultural
O controle cultural, como a eliminação de plantas de milho remanescente após a colheita (Tiguera), reduz a oferta de alimento e abrigo para a praga, dificultando sua proliferação na área e reduzindo seu potencial de dano.
Defensivos químicos
O uso de defensivos químicos no controle da cigarrinha do milho começa na dessecação da área para colheita da cultura anterior, depois pela dessecação para o plantio do milho, o tratamento de sementes e pode se estender com pulverizações com barra aberta até o estágio de V8. Com essas técnicas poderemos proporcionar melhores condições para as plântulas de milho se desenvolverem.
Desde que observadas as tabelas de compatibilidade, os defensivos químicos podem ser utilizados em conjunto com os bioinseticidas, possibilitando maior eficiência de controle e manejo de resistência.
Controle biológico
Os bioinseticidas à base de beauveria bassiana apresentam excelente eficácia no controle da cigarrinha. Ao atingir o inseto, o esporo do fungo germina e penetra em seu corpo pela cutícula, atingindo os órgãos internos.
Durante o processo, o fungo libera substâncias que levam o hospedeiro à morte. Isso ocorre de 2 a 7 dias após a aplicação, dependendo das condições climáticas. Os insetos infectados pelo fungo tornam-se duros e cobertos por uma camada pulverulenta de coloração branca.
Outras estratégias de controle
Além do controle cultural, químico e biológico, existem alguns cuidados importantes:
● Evite semeadura próximo a áreas com plantas com os sintomas de enfezamentos;
● Adote o calendário agrícola para minimizar os riscos em épocas favoráveis à praga;
● Faça uma varredura precisa para eliminar o milho tiguera;
● Se possível evite plantios consecutivos e sobreposição de culturas;
● Evitar a dispersão de milho na beira das estradas;
● Opte sempre pelas sementes de boa qualidade.
Confira o conteúdo completo sobre como fazer o controle da cigarrinha do milho na plantação.
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