A soja brasileira está sendo vista com bons olhos por um novo mercado. A Embrapa Cerrados e a Korea Agro-Trade Center São Paulo, empresa da Coreia do Sul, assinaram nesta sexta-feira (19) um memorando de entendimento para estabelecer uma parceria entre as empresas.
O objetivo da companhia asiática é buscar no Brasil cultivares de soja não-transgênica com bom desempenho para fabricação de produtos alimentícios, bastante consumidos no continente.
O principal produto é o tofu, um queijo vegetal feito a partir do leite de soja. Outros itens de grande consumo naquele país é o missô, uma pasta fermentada de grãos, e bebidas que têm como base a oleaginosa.
O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro (vencedor do Personagem Soja Brasil 21/22), afirmou que, em um primeiro momento, foram enviados grãos de soja de cinco cultivares desenvolvidas pela entidade para serem testados na Coreia do Sul.
“São materiais ricos em proteína, o que é importante para essas indústrias alimentícias. A partir de testes de processamento dos alimentos, podemos melhorar esses materiais até conseguirmos uma cultivar que atenda essa demanda”, salienta.
Ele completa: “Essa parceria visa identificar cultivares de soja convencional com genética da Embrapa desenvolvida para cultivo no Cerrado que atendam os padrões de consumo da população sul-coreana”. A parceira também visa compartilhar informações sobre as características que atendem o mercado sul-coreano.
“A partir disso, vamos organizar a cadeia produtiva para viabilizar o fornecimento desses grãos para o mercado da Coreia do Sul. Testar nossos materiais nesse mercado é o primeiro passo para este intento”, afirma Pedro.
Segunda cultura mais importante
A diretora da Korea Agro-Trade Center São Paulo, Young Jung, conta que, em seu país, a soja é a segunda cultura alimentar mais importante, atrás apenas do arroz. Mais de 80% da soja que consomem é proveniente dos Estados Unidos.
Atualmente, a Coreia do Sul importa 180 mil toneladas de soja convencional, sendo 60% usadas para produção de tofu. A empresa de Jung atua em diversos países do mundo com exportação de alimentos para a Coreia do Sul. O objetivo, com essa parceria, é diversificar os fornecedores do grão para produção de tofu, visando à segurança alimentar de seu país.
O acordo tem o apoio da Embaixada da República da Coreia no Brasil. Ao saber da composição dos materiais selecionados pela Embrapa Cerrados, que contêm 42% de proteína, o adido comercial da Embaixada, Kong Sung Ho, demonstrou grande satisfação pela boa proporção de proteína, principalmente para a produção de tofu.
Sung Ho ressalta: “Com o estabelecimento desse acordo, esperamos continuar aprofundando as relações entre os dois países, tanto no setor público quanto no privado, especialmente na agricultura”.
Apesar disso, Sebastião Pedro, também pesquisador com atuação em melhoramento genético de soja, explica que a quantidade de proteína pode se alterar de acordo com o local onde é produzida a soja e ainda pelas condições climáticas.
Ele ressalta que a Coreia do Sul é um importante cliente para o Brasil. “Essa aproximação, por meio do memorando de entendimento, permitirá que possamos entender qual é a real necessidade quanto ao tipo de qualidade de soja que o país precisa e vamos atender à medida em que entendermos essa necessidade”, garante.
Nicho de mercado especial
Sebastião Pedro lembra que, no início da produção do grão no Cerrado, o objetivo era produzir soja ordinária, para fabricação de farelo para alimentação animal e óleo.
“O Brasil é um líder na produção de alimentos no mundo e o Cerrado hoje é responsável por 60% da produção agrícola do País. A pesquisa agora está buscando fortalecer a produção de soja para o consumo humano, com proteína e óleo de alta qualidade”, informa.
Na maioria das propriedades agrícolas, a soja é uma commodity, negociada por peso, e não por sua qualidade. Dentro dessa realidade, a oleaginosa para o consumo humano é um nicho de mercado.
Por se tratar de cultivares convencionais, elas precisam ser produzidas em áreas separadas dos cultivos transgênicos, para não haver contaminação. Após a colheita, os grãos precisam ser armazenados e transportados separadamente.
“É muito trabalhosa a logística da soja convencional. O cuidado já começa com a semente, que tem de ser pura, não contaminada. Dentro do mercado de soja não-transgênica, a soja especial para produção de tofu é outro nicho, ainda mais específico. O grão tem que ser produzido para atender essa destinação, que tem como clientes países asiáticos, como Coreia e Japão, que estão dispostos a pagar o custo adicional por essa logística diferenciada”, detalha o chefe-geral.
Jung alerta ainda que, por se tratar de uma soja convencional, os materiais da Embrapa passarão por inspeções de segurança, para aferir se as amostras não contêm grãos transgênicos, e só depois seguirão para os testes de processamento.
Sebastião Pedro reforça que, por se tratar de um nicho de mercado especial, é importante que seja feito o acompanhamento da cadeia, garantindo que sejam aplicadas as boas práticas agrícolas, visando a sustentabilidade da produção e a segurança para o consumo humano: “Primeiro, vamos identificar uma soja que seja ideal para o mercado sul-coreano e depois vamos organizar a produção no Brasil com certificação de origem para garantir a qualidade do nosso produto”.