Alasse Oliveira – 15 de julho de 2024
Neste artigo, abordaremos detalhadamente como as plantas de cobertura contribuem para a sustentabilidade agrícola no Brasil, enfocando seus impactos positivos na saúde do solo, no controle de erosão e na promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis.
O Brasil, como um dos líderes mundiais na agricultura tropical, tem desempenhado um papel pioneiro na adoção de práticas de manejo voltadas para a conservação do solo e o desenvolvimento sustentável da agricultura.
Nos últimos anos, houve um crescimento significativo nos estudos e na implementação de técnicas que visam promover a saúde do solo e aumentar a resiliência dos sistemas agrícolas frente aos desafios climáticos e ambientais característicos da região tropical.
Entre os princípios fundamentais desses sistemas conservacionistas estão o mínimo distúrbio do solo, a manutenção de cobertura permanente ao longo de todo o ano e a prática de rotação de culturas.
Nesse contexto, destaca-se o papel crucial das plantas de cobertura. Essas plantas desempenham um papel multifuncional ao cobrir o solo durante períodos cruciais, como as entressafras de produção de grãos, a renovação de lavouras de cana-de-açúcar e o manejo entre fileiras de cultivos perenes.
Vamos conhecer um pouco desses benéficos e aplicações no campo?
Boa leitura!
O que são as plantas de coberturas?
As plantas de cobertura são culturas vegetais utilizadas especificamente para cobrir o solo durante períodos em que não há cultivos principais, como entre safras ou em áreas de pousio, com o objetivo de melhorar a saúde do solo, controlar ervas daninhas, reduzir a erosão e promover a ciclagem de nutrientes.
Elas desempenham um papel fundamental na agricultura sustentável ao oferecerem uma série de benefícios agronômicos e ambientais.
Figura 1. Benefícios ao funcionamento do solo fornecidos pela utilização de plantas de cobertura. Foto: Bruna Emanuele Schiebelbein (2024).
Classificação das plantas de cobertura
As plantas de cobertura podem ser classificadas com base em diversos critérios, como suas características morfológicas, ciclo de crescimento, função principal no sistema agrícola e adaptabilidade aos diferentes ambientes.
Abaixo estão algumas das principais classificações:
- Segundo o ciclo de crescimento:
Anuais: completa seu ciclo de vida em um único ano ou temporada de cultivo. Exemplos: milheto, aveia, nabo forrageiro.
Perenes: persistem por vários anos, rebrotando após cortes ou pastejo. Exemplos: trevo-branco, alfafa, capim-mombaça.
- – Segundo a função no sistema agrícola:
Fixadoras de nitrogênio: espécies que têm a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico em simbiose com bactérias. Exemplos: feijão-de-porco, feijão-guandu.
Melhoradoras da estrutura do solo: plantas que contribuem para a formação de agregados e aumentam a porosidade do solo. Exemplos: mucuna-preta, tremoço.
Supressoras de plantas daninhas: espécies que competem eficazmente com as plantas daninhas por luz solar, água e nutrientes. Exemplos: capim-sudão, sorgo.
3 – Segundo o tipo de cultivo principal:
Entre fileiras de cultivos perenes: utilizadas para cobrir o solo entre as linhas de culturas perenes, como pomares e vinhas. Exemplos: trevo-vermelho, gramíneas perenes.
Entre safras de cultivos anuais: semeadas após a colheita de culturas anuais para cobrir o solo até o próximo plantio. Exemplos: ervilhaca, trigo mourisco.
4 – Segundo a adaptabilidade ao ambiente:
Tropicais: adaptadas às condições climáticas e solos dos trópicos, como altas temperaturas e períodos de seca. Exemplos: crotalária, guandu.
Temperadas: espécies que preferem climas mais amenos e solos bem drenados. Exemplos: trevo branco, aveia.
Benefícios das plantas de cobertura
As plantas de cobertura desempenham um papel crucial na agricultura sustentável, oferecendo diversos benefícios práticos que podem ser observados em diferentes regiões do Brasil:
- Melhoria da fertilidade do solo
Exemplo: no Cerrado brasileiro, a utilização de leguminosas como a mucuna-preta e o feijão-guandu tem demonstrado sucesso na fixação de nitrogênio atmosférico, enriquecendo o solo e reduzindo a necessidade de adubação nitrogenada.
Aplicação prática: agricultores em Minas Gerais têm adotado essas espécies como parte de um sistema integrado de manejo, promovendo uma agricultura mais sustentável e econômica.
- Controle de Erosão
Exemplo: em áreas vulneráveis à erosão, como encostas íngremes na Mata Atlântica, a cobertura do solo com gramíneas como o capim-mombaça tem sido eficaz na redução da perda de solo e nutrientes durante períodos de chuva intensa.
Aplicação prática: produtores no Sul da Bahia têm implementado essa prática para proteger suas plantações de cacau, melhorando a estabilidade do terreno e conservando a fertilidade do solo.
- Supressão de Plantas Daninhas
Exemplo: no cultivo de soja no Centro-Oeste, a rotação com plantas de cobertura como o milheto tem mostrado eficácia no controle de plantas daninhas devido à competição por luz solar e nutrientes.
Aplicação prática: agricultores em Mato Grosso têm integrado o milheto em seus sistemas de rotação de culturas para reduzir a incidência de herbicidas e melhorar a eficiência do manejo agrícola.
- Sustentabilidade agrícola e resiliência ambiental
A incorporação de plantas de cobertura não apenas melhora a saúde do solo e a produtividade agrícola, mas também fortalece a resiliência do ecossistema agrícola brasileiro:
- Biodiversidade no Agroecossistema
Exemplo: no Pantanal Matogrossense, a utilização de leguminosas como o feijão-de-porco tem favorecido a atração de polinizadores e aumentado a diversidade biológica das áreas cultivadas.
Aplicação prática: produtores na região têm observado um aumento na produtividade de culturas como o arroz e o milho, além de benefícios ambientais como a conservação de áreas de várzea.
- Redução da dependência de insumos externos
Exemplo: na agricultura familiar do Semiárido Nordestino, a introdução de plantas de cobertura como o guandu tem proporcionado uma redução significativa na necessidade de fertilizantes sintéticos.
Aplicação prática: famílias agricultoras no Sertão da Paraíba têm adotado essa prática para enfrentar os desafios climáticos e econômicos, melhorando a sustentabilidade de suas atividades agrícolas.
- Implantação e manejo eficiente de plantas de cobertura
Para obter os máximos benefícios das plantas de cobertura no contexto brasileiro, é essencial considerar aspectos específicos como a adaptação ao clima regional, a escolha adequada das espécies e o manejo integrado com outras práticas agrícolas:
Escolha e posicionamento de um mix de plantas de cobertura de solo
Escolher e posicionar um mix adequado de plantas de cobertura de solo é essencial para promover a sustentabilidade e a produtividade agrícola.
No Brasil, país com vasta diversidade climática e edáfica, essa seleção requer uma análise criteriosa das condições locais. Primeiramente, é fundamental avaliar o clima regional, considerando as variações de temperatura e precipitação ao longo do ano.
Plantas de cobertura devem ser escolhidas para resistir às condições predominantes, garantindo seu crescimento saudável e eficácia no manejo do solo.
Além do clima, o tipo de solo exerce um papel determinante. A textura do solo, sua capacidade de retenção de água e os níveis de matéria orgânica e nutrientes disponíveis devem ser analisados. Espécies adaptadas a solos arenosos, por exemplo, podem não se desenvolver bem em solos argilosos e vice-versa.
Portanto, a escolha das plantas deve levar em conta essas características para otimizar os benefícios agronômicos.
As plantas de cobertura podem ser selecionadas para melhorar a fertilidade do solo através da fixação de nitrogênio por leguminosas como o feijão-de-porco ou o guandu. Para suprimir o crescimento de ervas daninhas, espécies com rápido crescimento e alta densidade de biomassa, como o capim-sudão, são recomendadas.
Já para proteger o solo contra erosão, escolhas com sistema radicular forte e densa cobertura vegetal, como o milheto, são ideais.
Figura 2. Exemplo de um planejamento de rotação de culturas dentro do sistemade produção. Foto: AG Croppers (2024).
Conclusão
As plantas de cobertura desempenham um papel crucial na sustentabilidade agrícola do Brasil, proporcionando uma série de benefícios práticos que podem ser observados em diversas regiões do país.
Ao cobrir o solo durante períodos de entressafra ou em áreas de pousio, essas plantas não apenas protegem o solo da erosão e da degradação, mas também contribuem significativamente para a melhoria da saúde do solo e a promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis.
A diversidade climática e edáfica do Brasil demanda uma cuidadosa seleção e posicionamento das plantas de cobertura. A adaptação ao clima local é essencial para garantir o sucesso dessas espécies, permitindo que cresçam vigorosamente e desempenhem suas funções agronômicas de maneira eficaz.
Alasse é Engenheiro-Agrônomo (UFRA/Pará), Técnico em Agronegócio (Senar/Pará), especialista em Agronomia (Produção Vegetal) e mestre em Fitotecnia pela (Esalq/USP).