A análise de dados desempenha um papel crucial na formação de lotes de vacas leiteiras em uma fazenda, pois assim é permitido uma abordagem mais precisa e eficiente no manejo do rebanho.
Formar lotes com base na curva de lactação envolve o agrupamento de vacas de acordo com o estágio de lactação em que se encontram, pois existem variações tanto de manejo como de necessidades nutricionais ao longo da lactação.
Neste texto iremos entender como podemos realizar a formação de lotes de vacas baseado na curva de lactação média do rebanho a partir de critérios principais, como a produção de leite, e também de acordo com critérios de exceção, como o DEL e a ordem de parto.
Quais podem ser os ganhos ao formar lotes?
- Melhoria da eficiência operacional: a formação de lotes pode reduzir o tempo e os recursos necessários para manejar o rebanho, o que contribui na otimização da alocação das pessoas e dos equipamentos.
- Melhoria da produtividade: quando agrupamos animais com características semelhantes é esperado que ocorra uma produção de leite de forma mais consistente e previsível ao longo do tempo.
- Bem-estar animal: quando formamos grupos estratégicos, que são mais harmoniosos e compatíveis, reduzimos o estresse e conflitos entre as vacas.
Como analisar a curva de lactação que pode contribuir?
Analisar dados como a curva de lactação das vacas para a formação de lotes é uma prática fundamental para as fazendas leiteiras, pois a partir disso conseguimos agrupar os animais com base em características específicas e potencializar seu desempenho.
Identificação de grupos homogêneos
A formação de grupos homogêneos dentro de uma fazenda leiteira é extremamente crucial, e uma possibilidade é a de segregação com base na produção e fase de lactação das vacas.
- Produção de leite = dados de produção de leite individual possibilita a identificação de vacas que produzem quantidades semelhantes de leite. Isso permite agrupá-las em lotes que irão melhorar a eficiência de alimentação e manejo.
- Fase de lactação = saber qual a fase de lactação cada vaca está, ajuda a agrupá-las em lotes com base no estágio específico (início, pico ou final de lactação), o que também potencializa a eficiência de alimentação.
Importância da curva de lactação
A informação de curva de lactação do rebanho é importante para auxiliar na separação dos lotes e classificação das vacas. Na curva de lactação, teremos vacas em diferentes momentos dentro da curva, por exemplo, vacas antes do pico e vacas depois do pico de lactação.
Um exemplo prático e didático para exercitarmos sobre a dinâmica de formação de lotes seria o de avaliar uma vaca com 10 dias de pós-parto e que esteja com produção real de 27 litros. Se classificarmos essa vaca por essa produção, muito provavelmente ela vai cair em um lote de baixa produção.
Isso não é nosso objetivo e nem seria interessante pois esse animal ainda não atingiu seu pico produtivo. Por isso, ao fazer essa avaliação é importante avaliar os animais nessa fase de lactação, ou seja, que estão na fase anterior ao pico antes de pensar em realizar qualquer mudança de agrupamento.
Uma forma de realizar esse ajuste de lote sem prejudicar os animais antes do pico de lactação seria o de pegar todos os animais nessa fase e ajustar a produção para a produção no pico através do leite projetado em uma planilha. A partir disso, classificamos essa vaca não pelo leite que ela está produzindo no dia, mas sim pelo leite potencial que ela tem para produzir.
Por exemplo, em uma determinada fazenda se essa vaca com 10 dias de parida for uma primípara a planilha já automatizada irá corrigir para a produção de leite projetado no pico para 37 L e se ela for uma multípara, irá corrigir para 43 L.
Curva de lactação projetada de um rebanho. Fonte: Ricardo Peixoto
Na outra parte da curva de lactação temos os animais que irão perder leite a cada dia, e conhecendo o rebanho e a categoria das vacas, conseguimos definir a perda de leite mensal esperada tanto para as primíparas quanto para as multíparas a partir do pico.
Quando ocorrem quedas anormais, ou seja, fora do estipulado pelo nutricionista e pela curva de lactação esperada pela fazenda, devemos corrigir a produção de leite real da vaca para classificar como se ela estivesse na normalidade da curva.
A partir disso, podemos avaliar as vacas de forma individual por meio da projeção do leite.
Imagem de uma planilha que traz informações individualizadas das vacas de um rebanho, onde a coluna Leite 3 é a produção real do animal, a coluna Prod. BAL seria a produção de leite projetado ou balanceado e a coluna Mudança seria o percentual de mudança do último leite real para o projetado. Fonte: Ricardo Peixoto
Analisando algumas situações da planilha acima:
- Animal 87 = Multípara e possui 84 DEL, ou seja, já passou do pico de produção. A produção em maio foi de 44,3 kg a de junho 58,8 kg e a de julho 58,6 kg, demonstrando que a vaca praticamente não caiu leite, estando dentro da normalidade esperada, que no caso da fazenda seria cair menos de 5% (por se tratar de uma multípara). Nesse caso, vamos classificar esse animal com o leite de 58,6 kg, que é de fato o leite que a vaca está produzindo e por estar de acordo com o projetado.
- Animal 108 = Multípara e possui 150 DEL. A produção em maio foi de 55,2 kg, em junho 54,4 kg e em julho 45,2 kg. Quando analisamos, vemos que essa vaca em um intervalo de 30 dias perdeu 9 kg de leite, ou seja, 18% da produção. Entretanto, dentro da curva esperada da fazenda, esse animal deveria ter caído apenas 6% e estar produzindo 51,3 kg de leite ao invés de 45,2 kg.
A produção balanceada ajusta a produção da vaca para a curva de lactação média do rebanho, para evitar falhas no agrupamento dos animais.
Além disso, é importante lembrarmos que o controle leiteiro não é um fim e não devemos querer resolver todos os problemas de agrupamento e produção de leite da fazenda apenas com uma análise. Pelo menos uma vez por mês é essencial que seja feito a análise controle leiteiro do rebanho.
Podemos ter critérios que não a produção de leite individual?
Quando conseguirmos definir o ordenamento das vacas, vamos classificar em relação a exigência das vacas, separando as de maior exigência daquelas de menor exigência.
Entretanto, antes de definirmos isso é importante definir se vamos utilizar algum critério de exceção, os quais serão definidos pelas fazendas.
Como exemplo de critério de exceção seria o de ter lote pós-parto e colocar todos os animais que estão no pós-parto em um lote pós-parto. O critério nesse caso será o DEL da vaca, independentemente da produção de leite do animal, e a partir disso definimos o primeiro lote da fazenda, o lote pós-parto.
Após isso, podemos utilizar o critério principal que é o leite balanceado para agrupar os demais animais ou ainda utilizar de outro critério de exceção.
Outro critério de exceção que é muito importante é o de separar as primíparas das multíparas por meio da análise da ordem de parto, e com isso teremos outro lote definido na fazenda, o lote de primíparas.
Se por ventura após essa análise e divisão de grupo for observado que a estrutura não comporta aquele número de animais no lote, podemos olhar para a produção de leite e retirar os animais de menor produção para outro lote.
Após esgotados os critérios de exceção, os outros animais devem ser agrupados conforme o critério principal, que é a produção de leite. Nesse ponto, é importante entender que não há regras, o principal é tentar manter a homogeneidade, buscando o bom senso, habilidade e uma análise sistemática, onde será necessário saber qual o espaço disponível, quantas vacas cabem em cada área e colocar tudo isso na conta.
É importante frisar que o lote de mais leite pode ser deixado com uma diferença de leite maior, pois neste lote as vacas têm capacidade alta de regular seu consumo, se algum lote precisar ficar heterogêneo, dar preferência para este.
No lote de baixa produção buscamos fazê-lo o mais homogêneo possível, pois normalmente trabalhamos com a limitação física de consumo, pois não queremos que elas engordem.
Quando necessário podemos fazer ajustes individuais em cada indivíduo de cada lote pensando no potencial de resposta de produção de leite passados o pico e a persistência de lactação, são poucos ajustes, pois o método da produção de leite balanceado já é eficiente.
Considerações finais
A separação de lote de vacas com base na curva de lactação é uma prática eficiente para otimizar a produção de leite, a saúde do rebanho e a eficiência operacional, podendo assim levar a uma gestão mais eficaz da fazenda.
Utilizando dados precisos e atualizados, é possível tomar decisões informadas para otimizar cada fase da lactação e alcançar melhores resultados.
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Autores: Ricardo Peixoto e Laryssa Mendonça – Equipe Leite Rehagro