O mercado da soja deu continuidade à tendência de baixa iniciada em junho na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), atingindo a mínima de 4 anos.
De acordo com o analista de Grãos da Hedgepoint Global Markets, Ignacio Espinola, o movimento ocorreu devido a uma onda de sobrevenda, após os relatórios de acreagem e de plantio dos Estados Unidos na semana passada.
“Essa tendência de baixa se refletiu nos preços da CBOT, onde, no ano passado, nesse momento, estávamos observando uma média de US$ 14,4 por bushel, enquanto hoje temos uma média de 11,7 por bushel”.
Os agricultores norte-americanos plantaram 3% a mais de soja este ano, aumentando a expectativa de uma colheita maior. Por outro lado, o relatório de área plantada foi divulgado na semana passada, apresentando uma redução na área de 86,5 milhões de acres para 86,1 milhões de acres (34,8 milhões de hectares).
O período crítico de crescimento da safra é geralmente em agosto, portanto, ainda há alguma incerteza sobre a produção.
Comportamento dos agricultores dos EUA
“O agricultor norte-americano tem relutado em vender sua safra devido aos baixos preços. Ele está tentando manter e estocar os grãos para ganhar tempo e, com sorte, conseguir preços mais altos. Essa é uma tática comum para qualquer agricultor”, analisa Espinola.
Segundo o analista, em junho, 48% da produção de soja dos Estados Unidos estava nas fazendas. Essa é a maior porcentagem para esta época do ano desde 2006 e significativamente maior do que a média de dez anos de 35%.
“Sua intenção é clara: reduzir a disponibilidade do produto, uma estratégia comum no mercado, o que poderá resultar em preços locais maiores. Contudo, a China tem sido mais ativa em buscar produtos brasileiros, comprando quase toda semana duas cargas de 55 mil toneladas”, observa.
De acordo com o analista da Hedgepoint, o mercado FOB atual está beneficiando os grãos brasileiros, apesar de o país estar prestes a entrar na última parte da janela de exportação da soja. “Julho é o mês de mudança histórica em que o milho começa a ganhar espaço em detrimento da soja”, aponta.
China e a soja
A consultoria afirma que a China tem tido um bom apetite pela soja brasileira este ano porque está acumulando estoques para o caso de haver outra guerra econômica com os Estados Unidos (apoiada pela ameaça de Trump voltar à Casa Branca), também incentivada pelos bons preços FOB do Brasil.
“Esse aumento nos grãos de origem brasileira também reduziu o número de cargas que o gigante asiático compra dos norte-americanos. Para que os EUA voltem a ser competitivos, especialmente nos últimos meses do ano, os prêmios americanos devem cair para que os preços continuem atraentes, ou os concorrentes devem aumentar os preços, o que geralmente acontece, considerando que nessa época do ano o Brasil e a Argentina estão exportando principalmente milho”, aponta.
Espinola reforça que o mercado está “inundado de grãos”. “Os agricultores dos EUA estão segurando o físico com a esperança de que os preços possam aumentar e vendendo apenas o mínimo para manter a ‘loja aberta’”.
Por outro lado, o Brasil está encerrando sua janela de exportação de feijão e iniciando a janela de milho, o que é uma ótima notícia para os Estados Unidos, pois eles podem começar a incluir as vendas de soja em sua carteira, especialmente depois de novembro.
Por fim, os fundos têm sido muito agressivos com sua posição vendida, e deve/pode haver alguma ação de realização de lucros na qual a posição deve ser reduzida. “No momento, a posição vendida é muito grande e uma redução poderia ajudar os preços a se recuperarem”.