Alasse Oliveira – 24 de maio de 2024
As enchentes recentes no Rio Grande do Sul afetaram a produção agrícola e a economia nacional. Soja, trigo, milho, frango, suínos, ovos e pecuária de corte enfrentam desafios significativos. Medidas integradas são essenciais para proteger o abastecimento alimentar e a estabilidade econômica do Brasil.
Os temporais recentes que devastaram o Rio Grande do Sul resultaram em enchentes históricas, transformando cidades inteiras em zonas de calamidade e causando prejuízos incalculáveis.
As consequências dessas enchentes vão além das fronteiras do estado, afetando diretamente a produção agrícola e, consequentemente, a economia de todo o Brasil.
As perdas agrícolas são particularmente preocupantes, uma vez que o Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de grãos e outros produtos agrícolas essenciais para o abastecimento nacional.
Estima-se que aproximadamente 4% da produção nacional de soja, por exemplo, está em risco devido às condições adversas. Além disso, o início do plantio de grãos para a safra 2024-2025, que estava previsto para o terceiro trimestre deste ano, pode ser severamente comprometido.
As dificuldades no escoamento da safra já colhida, bem como o transporte e armazenamento de grãos, ração animal e outros subprodutos agrícolas, estão causando gargalos significativos.
Adicionalmente, as pastagens alagadas comprometem a produção de leite, enquanto alguns rebanhos e criadouros de aves foram dizimados pelas enchentes, elevando os custos logísticos e de produção nesses segmentos. A interrupção temporária de parte do setor de serviços também interfere na geração de empregos e na arrecadação do estado, exacerbando os desafios econômicos.
Diante deste cenário, torna-se crucial entender como as perdas agrícolas nas enchentes do Rio Grande do Sul podem afetar seu estado e quais medidas podem ser tomadas para mitigar esses impactos. Desde o mapeamento de áreas de risco até o fortalecimento de infraestruturas e o planejamento urbano resiliente, é fundamental adotar uma abordagem integrada para enfrentar os desafios futuros e proteger a economia e a segurança alimentar do Brasil.
Boa leitura!
Enchentes e a economia do país
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul transformaram o estado em um verdadeiro cenário de devastação, com impactos que vão muito além das fronteiras gaúchas.
As imagens e relatos de cidades submersas e populações deslocadas sensibilizaram o Brasil inteiro. Com as águas atingindo níveis históricos, superando o recorde de 1941, a magnitude da tragédia foi exacerbada por uma combinação de fatores climáticos e urbanísticos.
Figura 1. Situação das estradas com importante PIB agrícola para o município— Fonte: Guia da região dos lagos (2024).
A destruição não se limitou apenas às infraestruturas urbanas. O setor agrícola, vital para a economia do Rio Grande do Sul e para o abastecimento de diversos estados brasileiros, sofreu perdas incalculáveis. As lavouras de soja e trigo, fundamentais para o mercado nacional, foram gravemente danificadas, resultando em prejuízos que se estendem para além das fronteiras do estado. A produção de arroz, que representa 70% da produção nacional, também foi severamente afetada em algumas regiões.
Essas perdas agrícolas têm um efeito dominó na economia brasileira, impactando diretamente os preços dos alimentos, a oferta de produtos no mercado e até a balança comercial do país. O aumento dos custos de seguros, os danos ao maquinário e a descapitalização dos produtores são apenas algumas das consequências que afetam diretamente outros estados que dependem dos produtos agrícolas gaúchos.
Além dos impactos econômicos imediatos, há uma preocupação crescente com a segurança alimentar e a estabilidade do abastecimento de alimentos. Estados que importam grandes quantidades de grãos e outros produtos agrícolas do Rio Grande do Sul podem enfrentar “escassez e aumento de preços”, afetando desde os consumidores até os setores industriais que dependem dessas matérias-primas.
Impactos na agricultura brasileira
As recentes enchentes no Rio Grande do Sul causaram uma devastação sem precedentes, com impactos que vão além das fronteiras estaduais, afetando a economia e a segurança alimentar do país como um todo. Com base em estudos de instituições como S&P Global e Itaú Unibanco, é possível antecipar diversos danos colaterais que precisam ser considerados para entender a extensão das consequências e como elas podem impactar outros estados brasileiros.
Impacto na produção de soja
O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de soja do Brasil, e as enchentes recentes representam um risco significativo de perda de aproximadamente 4% da produção nacional.
Figura 2. Perda na safra por conta de enchente no RS é de pelo menos 1 mi de t Fonte: Amanda Perobelli Reuters.
Plantio de grãos comprometido
As enchentes impactaram não apenas a colheita atual, mas também o plantio de grãos da safra 2024-2025. Com o início do plantio previsto para o terceiro trimestre deste ano, a preparação do solo e as operações de plantio serão desafiadas, resultando em uma possível redução na produtividade futura. Estados ou empresas que importam grãos do Rio Grande do Sul podem enfrentar uma “escassez de suprimentos”, afetando a indústria de alimentos e a agroindústria.
Dificuldades no escoamento e armazenamento
O escoamento da safra agrícola já colhida enfrenta grandes dificuldades devido aos danos causados pelas enchentes às infraestruturas de transporte. Ferrovias, rotas alternativas e portos estão sobrecarregados ou danificados, tornando o transporte e armazenamento de grãos, ração animal e subprodutos agrícolas mais caros e ineficientes. Esses gargalos logísticos podem resultar em atrasos na entrega de produtos, afetando as exportações e a cadeia de suprimentos interna.
Impacto na produção de leite e criação de animais
As pastagens alagadas comprometem a alimentação do gado, impactando diretamente a produção de leite. Além disso, muitos rebanhos e criadouros de aves foram dizimados pelas enchentes, aumentando os custos logísticos e operacionais desses segmentos. Estados que importam leite e produtos avícolas do Rio Grande do Sul podem enfrentar aumentos de preços e dificuldades de abastecimento.
Setor de serviços e empregos
O fechamento temporário de parte do setor de serviços no Rio Grande do Sul interfere significativamente no mercado de trabalho e na arrecadação de impostos do estado. Isso pode resultar em uma diminuição da renda disponível e do consumo, afetando também outros estados que mantêm relações econômicas estreitas com o Rio Grande do Sul.
Prognóstico e medidas necessárias
Embora a dimensão total dos impactos ainda seja difícil de estimar devido às áreas ainda submersas e à previsão de mais chuvas, é evidente que o período de reconstrução será desafiador. Estados que dependem economicamente do Rio Grande do Sul precisarão se preparar para lidar com os efeitos colaterais dessas perdas agrícolas. Medidas como a diversificação das fontes de suprimento, investimentos em infraestrutura de transporte e armazenamento, e o apoio aos produtores rurais serão essenciais para mitigar os impactos e garantir a continuidade do abastecimento alimentar e a estabilidade econômica.
Às culturas agrícolas
Soja
O Rio Grande do Sul, o segundo maior produtor de soja do Brasil, está enfrentando sérios desafios devido às enchentes. A safra 2023/2024, que era projetada para ser recorde com 22,24 milhões de toneladas, sofreu atrasos no campo e há preocupações crescentes sobre a qualidade das lavouras. O excesso de umidade pode aumentar a acidez do óleo de soja, diminuindo a oferta de boa qualidade para a indústria alimentícia. Estima-se que a colheita não alcance 20 milhões de toneladas, com apenas 70% da área colhida, abaixo da média de 83% dos últimos cinco anos.
Figura 3. Colheita de soja em Tapes – RS, — Fonte: Fábio Eckert e Equipe FieldCrops 19 maio de 2024.
Trigo
Maior produtor de trigo do Brasil, o Rio Grande do Sul produziu 5,2 milhões de toneladas em 2022. A safra 2023/2024 nacional estava estimada em 9,6 milhões de toneladas. No entanto, a ampla oferta de trigo argentino resultou em preços menos atrativos, levando a uma redução da área cultivada no estado.
Milho
A colheita da safra de verão de milho está quase paralisada, com apenas 83% da área colhida até o início de maio. A previsão da Conab indicava uma produtividade 40,3% maior que a última safra, mas as enchentes impediram o progresso.
Frango, suínos e ovos
As chuvas prejudicaram severamente a logística de transporte de frango, suínos e ovos devido a estradas danificadas. Produtores enfrentam dificuldades para adquirir insumos como rações e embalagens. Em 2022, o estado tinha 573 mil cabeças de suínos, sendo o terceiro maior do Brasil. A região Sul concentra a maior parte do abate de frangos do país, que é o maior exportador mundial.
Pecuária de corte
A destruição de pontes e estradas impediu o transporte de animais para abate. Em 2023, 519 mil animais foram abatidos no estado. A falta de infraestrutura está mantendo compradores e vendedores fora do mercado enquanto aguardam a normalização da situação.
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Conclusão
Os temporais no Rio Grande do Sul causaram enchentes históricas, devastando cidades e gerando prejuízos significativos que impactam a economia nacional. As perdas agrícolas são preocupantes, pois o estado é um grande produtor de grãos essenciais para o Brasil.
O plantio de grãos para a safra 2024-2025 está comprometido. As dificuldades no escoamento e armazenamento da safra colhida estão criando gargalos logísticos, elevando os custos e ameaçando as exportações.
A produção de leite está prejudicada pelas pastagens alagadas, e os rebanhos de aves foram dizimados, aumentando os custos de produção. O setor de serviços também foi afetado, prejudicando a geração de empregos e a arrecadação do estado, agravando os desafios econômicos.
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Sobre o autor
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Alasse é Engenheiro-Agrônomo (UFRA/Pará), Técnico em Agronegócio (Senar/Pará), especialista em Agronomia (Produção Vegetal) e mestre em Fitotecnia pela (Esalq/USP).