A prioridade número 1 é salvar vidas, seguida de todas as necessidades de provisão humanitária. Na sequência é hora de olhar para os prejuízos e enfrentá-los, estabelecer as estratégias e prioridades. Para os produtores afetados acionar o seguro é um caminho natural. O problema é que poucos tem. A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) informou que o território conta com 365 mil produtores rurais. E segundo o Departamento de Gestão de Risco do Ministério da Agricultura, 9 mil contratos de seguro rural foram feitos por produtores gaúchos feitos para a safra de verão 2023/24, com subvenção federal, e que estão em áreas onde a colheita de grãos não finalizou antes dos temporais. O Rio Grande do Sul é o com mais de 22 mil apólices, atrás apenas do Paraná. Em 2023, a área segurada de produtores gaúchos foi de 962,9 mil hectares, mas os números estão em queda. O Mapa atribui a queda ao aumento de preços dos contratos e da diminuição do recurso público para subvenção ao prêmio.
O assunto seguro rural é um ressentimento do setor. “A maior parte da produção gaúcha sequer foi segurada porque o seguro rural que era a principal política agrícola do Brasil deixou de ser. Nem dá para dizer que temos seguro rural apoiado pelo Brasil. Tanto é que no último Plano Safra o termo seguro rural nem foi mencionado nas falas do lançamento e e nem no material. É uma política que ficou descredibilizada e o número de segurados despencou”, relata Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul.
E os poucos produtores segurados não se sentem completamente garantidos. O problema para eles, neste momento, esbarra na perícia. “Tem produtores que precisam colher o que sobrou, mas para isso precisam da perícia. Ocorre que “o perito” também está com a sua casa debaixo d’água ou com o acesso até o produtor impossibilitado por queda de barreira, pontes, pontilhão. São muitos os percalços e é importante que a perícia seja colocada nos planos porque em muitos casos, já observamos que será impossível fazê-la a tempo”, alerta o economista.
O Ministério da Agricultura informou que as apólices “ativas” abrangem 616,1 mil hectares em 388 municípios gaúchos e que podem gerar sinistros. O valor segurado dessas áreas ultrapassa R$ 3,8 bilhões. O prêmio arrecadado com os contratos foi de R$ 298,1 milhões e a subvenção paga pelo governo, de R$ 73,8 milhões.
A maior parte dos contratos diz respeito a soja plantada mais tardiamente. O Departamento de Gestão e Risco do Mapa informou que as seguradoras foram orientadas a priorizar os atendimentos nas regiões alagadas, com equipes especiais e redes de atendimento emergencial.
O Ministério da Agricultura destaca que a área “sob risco” representa quase dois terços do que foi segurado com subvenção federal nesta safra no Estado, mas menos de 10% dos 6,6 milhões de hectares cultivados de soja pelos gaúchos, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
No Rio Grande do Sul 70% das lavouras já foram colhidas. A Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg) acredita que mesmo diante das cenas chocantes, as indenizações não serão astronômicas. “A diminuição na contratação de seguro no Estado, com a saída de seguradoras de lá após fortes perdas do agronegócio com as secas consecutivas, a redução da exposição, com a oferta de produtos mais restritivos, e o aumento de 40% no preço das apólices desde a safra 2021/22 também amenizam a situação. Outro fator que colabora para essa estimativa é que a Serra Gaúcha, região mais afetada neste ano, não está em época de produção das frutas, como uva. Embora seja uma tragédia humanitária, a percepção é que não terá grandes prejuízos para o seguro agrícola. As indenizações deverão ser pequenas”, disse Nascimento. Mas pode haver danos maiores em seguros feitos para máquinas e equipamentos agrícolas”, disse o vice-presidente da Comissão de Seguro Rural da Fenseg, Daniel Nascimento.
NÚMEROS
Mais de 93% das apólices dos produtores gaúchos contratadas em 2023 foram para a cobertura da safra de grãos. Na sequência estão o seguro de área florestal (3,41%) e de frutas (3,1%). Apesar da diminuição na área segurada (em 2020 foram 2,5 milhões de hectares), o Estado se destaca pelo alto valor segurado, alcançando a marca de R$ 6,76 bilhões.
Em 2024, já foram contratadas 1.130 apólices de seguro rural no Rio Grande do Sul. A área segurada é de 46,6 mil hectares, com valor coberto de R$ 269,3 milhões. A subvenção paga foi de R$ 13 milhões. A principal cultura que contratou a cobertura foi o trigo, com quase metade das apólices e do valor segurado (R$ 148,2 milhões). A uva aparece na sequência, com 407 apólices e R$ 68,1 milhões segurados.
(Da Redação)