“Está sendo difícil, ainda me emociono ao falar sobre a decisão”. Marcos Bortolini, produtor de leite reconhecido por vários prêmios conquistados pelos resultados do rebanho, há poucos dias colocou um ponto final na atividade. A notícia chocou quem conhecia o trabalho desempenhado pela família há várias décadas, cuja propriedade virou uma referência.
No auge a propriedade chegou a ordenhar 60 vacas no composto, com produtividade de 2 mil litros de leite por dia. No último o ritmo caiu consideravelmente, havia 45 animais em ordenha.
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Marcos não esconde o orgulho que a atividade já proporcionou e que fez dele um profissional apaixonado pelo setor. “Meus pais trabalhavam com leite desde 1982, ano em que nasci. Em 2000 decidimos profissionalizar a atividade. Investimos em maquinário e infraestrutura, confinamos o gado, optamos por atuar com genética apurada. Foram várias exposições com premiação em Toledo, Francisco Beltrão, Pinhalzinho, Pato Branco, Quedas do Iguaçu, Vera Cruz do Oeste e Cascavel”, lembra.
E de repente o setor leiteiro mergulhou em uma das mais profundas crises. No apogeu o preço do leite chegou em R$ 4,00 o litro. “Nos empolgamos. E de repente, R$1,80. E não reagiu. Ficamos trabalhando dez meses nesse valor e por fim não conseguimos cobrir despesas. Assumimos muitas contas e o leite ficou inviável. Temos dívidas para trás e outras que estão para vencer. Começamos a somar o que saía e o que entrava e achamos que parar com a atividade era o melhor a fazer. Foi uma decisão difícil.”, afirma.
Marcos aponta que um conjunto de fatores motivou a decisão final. “Pouco retorno e muito investimento; Escassez de mão-de-obra, ficou muito difícil encontrar pessoas disposta a esse trabalho; E qualidade de vida. Quem trabalha com o leite não tem férias, não tem fim de semana. E como a renda ficou muito aquém dos custos, a solução foi desistir”.
A propriedade é pequena, tem cerca de 46 hectares. O leite era o carro-chefe e o cultivo de grãos era basicamente para alimentação das vacas. A história de 24 anos termina pela inviabilidade, um sintoma crônico sentido pelos produtores de leite de todo o Brasil.
NÚMEROS
O Paraná é o segundo maior produtor de leite do Brasil, com 4,4 bilhões de litros ao ano. O leite é o quarto produto que mais gera valor no campo no Estado. Em 2022 a produção rendeu R$ 11,4 bilhões.
Uma das maiores preocupações dos produtores no momento é a concorrência diante da importação de leite de países do Mercosul. O Paraná importou 6,5 mil toneladas de leite em pó no ano passado a um custo de US$ 24,6 milhões.
Do total, 2,8 mil toneladas vieram da Argentina, custando US$ 10,9 milhões, o mesmo volume do Uruguai, por US$ 10,8 milhões, e as outras 800 toneladas tiveram origem no Paraguai, a um custo de US$ 2,8 milhões.
O volume representa aumento de 183% em relação às 2,3 mil toneladas importadas em 2022, que custaram US$ 9,2 milhões. De 2021 (682 toneladas) para 2022, o salto já tinha sido bastante considerável (237%), ao custo de US$ 2,3 milhões. Nos dois primeiros meses de 2024 o Paraná importou 250 toneladas, pagando US$ 799 mil.