Para garantir a saúde, integridade e preservação da glândula mamária das vacas é necessário que tenhamos conhecimento e compreensão sobre o funcionamento dos elementos básicos da ordenhadeira mecânica e a influência das suas características e correto manejo sobre a saúde das vacas e controle da mastite na propriedade.
O equipamento de ordenha deve ser projetado para minimizar as alterações teciduais infligidas às tetas e a glândula mamária, possibilitando rápida recuperação após a ordenha.
Nesse texto, vamos apresentar e entender o funcionamento do equipamento de ordenha, seus principais componentes, sua influência nos casos de mastite e quais critérios levar em consideração para a escolha das teteiras adequadas.
Independente do sistema de ordenha, das suas dimensões e eficiência, todos possuem os mesmos elementos básicos para garantir o seu funcionamento: vácuo, pulsação, extração do leite.
Vácuo
A bomba de vácuo extrai uma quantidade fixa de ar do sistema de ordenha. No entanto, quanto a demanda de vácuo é variável, dependendo da quantidade de ar que entra no sistema durante a ordenha, deve existir uma forma de regulação da manutenção da estabilidade.
O regulador de vácuo, às vezes também chamado de controlador de vácuo, é responsável por manter a estabilidade de vácuo. O regulador libera ar no sistema na quantidade e quando necessário para que o nível de vácuo se mantenha estável durante todo o tempo. Ele deve ser localizado em um local livre de poeira, de fácil limpeza e deve ser inspecionado sempre que necessário.
O filtro do regulador deve ser limpo regularmente, pois se for bloqueado ele pode ser incapaz de responder rápido a mudanças de vácuo no sistema, o que ocasiona baixa estabilidade de vácuo e aumentam os riscos de flutuação e de novas infecções com patógenos.
Eles são classificados de acordo com a quantidade de ar que pode ser admitido no sistema, ele deve estar sempre liberando ar no sistema, se isso não estiver ocorrendo, pode ser um indicativo de falhas em seu funcionamento.
Imagem de um sistema de ordenha de linha média destacando o regulador de vácuo (no topo). Fonte: Weizur
Pulsação
A pulsação é responsável por manter a circulação de sangue ao redor do teto, isso é alcançado através da abertura e fechamento da teteira, aproximadamente 60 vezes por minuto.
É muito importante que a teteira seja capaz de abrir e fechar completamente, sendo possibilitado pela alternância entre ar atmosférico e vácuo na câmara de pulsação.
Câmara de pulsação
A câmara de pulsação é o espaço entre a teteira e a capa da teteira, o ar é extraído da câmara de pulsação pelos tubos de longa e curta pulsação.
Durante a ordenha o vácuo é constantemente aplicado à base do teto, quando o ar atmosférico entra na câmara de pulsação, ele força o fechamento da teteira ao redor do teto. Isso ocorre, pois a pressão no lado de fora da teteira é maior do que dentro, nessa situação o fluxo de leite é interrompido e o sangue é capaz de circular pelo teto, chamamos esse momento de fase de massagem.
Quando o ar atmosférico é “sugado” para fora da câmara de pulsação e substituído por vácuo, a teteira é “forçada” a se abrir, isso ocorre pois não há diferença de pressão entre a câmara de pulsação e dentro da teteira, com isso ela se abre sobre sua própria elasticidade.
A elasticidade da teteira é muito importante, quando ocorre a sua abertura, temos a descida do leite do úbere, que é conhecido como fase de ejeção do leite.
Um movimento completo da teteira é chamado de ciclo de pulsação, cada ciclo de pulsação pode ser dividido em quatro fases, A, B, C e D. Cada ciclo de pulsação pode ser traçado em um gráfico para mostrar as mudanças de pressão que ocorrem dentro da câmara de pulsação, sendo apenas uma representação gráfica das mudanças de pressão que ocorrem al longo do ciclo de pulsação.
Foto: Maria Fernanda Faria
As fases A e B são chamadas de fases do leite, enquanto C e D, fases sem leite.
- Fase A: a teteira inicia o processo de abertura e há início do fluxo do leite;
- Fase B: a teteira se encontra totalmente aberta, e temos o fluxo máximo de leite;
- Fase C: a teteira inicia o seu fechamento e há diminuição do fluxo de leite;
- Fase D: a teteira permanece fechada e o fluxo de leite é interrompido. Nesse momento, o sangue volta a circular por todo o teto e tem-se a máxima massagem do mesmo.
Fonte: Blowey; Edmondson, 2010
A taxa de pulsação é o número de ciclos de pulsação por minuto, essa taxa normalmente é de entre 55 – 60 ciclos por minuto. A taxa de pulsação refere-se à duração da ejeção da fase ejeção de leite (a + b) comparado com a fase de massagem (c + d) é expressa em porcentagem, por exemplo:
- Taxa de pulsação = 60/40 🡪 Referindo 60% à fase de ejeção e 40% da fase de massagem.
Existem duas formas de pulsação: pulsação única e dupla.
- Pulsação única e simultânea ocorre quando o movimento das quatro teteiras do conjunto trabalham de forma concomitante, nesse caso todas os quatro quartos mamários são ordenhados ao mesmo tempo e massageados ao mesmo tempo. Isso pode resultar em pequena ejeção do leite do úbere e maior flutuação de vácuo na ponta do teto e menor pressão de vácuo no pico de fluxo de leite.
- Dupla ou pulsação alternada ocorre quando o movimento de duas teteiras se alterna com o das outras duas. Nesse tipo de pulsação, enquanto dois quartos estão sendo massageados ou outros dois opostos estão sendo massageados, isso resulta em um fluxo contínuo de leite do úbere e resulta em uma ordenha mais eficiente.
A teteira é a única parte do equipamento de ordenha que entra em contato direto com o teto da vaca. Elas são feitas de silicone ou borracha e apresentam algumas estruturas:
- Bocal da teteira;
- Cabeça da teteira;
- Massageador/Barril;
- Anel de fixação na Capa metálica;
- Tubo longo de leite;
- Dobra fácil.
Imagem demonstrando as estruturas de uma teteira. Fonte: Maria Fernanda Faria
O nível de elasticidade das teteiras possuem grande efeito na eficiência, no geral definimos para as teteiras de borracha uma durabilidade de 2.500 ordenhas ou 6 meses, avaliando sempre a condição das teteiras, caso alguma esteja rasgada ou furada, já as de silicone tem uma maior durabilidade entre 5.000 ordenhas, no entanto são mais caras.
As teteiras devem atender alguns requisitos:
- Deve possuir um bocal macio, flexível e deve ser hermeticamente fechado na base do teto, adjacente ao úbere. Isso vai minimizar o risco de queda da teteira ou do conjunto inteiro.
- Ter um massageador/barril longo suficiente para permitir a retirada das teteiras por inteiro ao redor da base do teto.
- Ser de fácil limpeza.
- Garantir uma rápida ejeção do leite com o mínimo de lesão no teto.
Um ponto importante na escolha da teteira é a avaliar a conformação, posição e o tipo de teto dos animais. As vacas podem apresentar úbere pouco compacto, levemente aderido ao abdômen e caimento com o avançar da idade ou ordem de lactação.
Existem classificações dos tipos de úbere e tetos da seguinte forma:
Fonte: Rubin (2011)
Os tetos mais largos e úberes muito inclinados (quartos posteriores e mais baixos do que os quartos anteriores) podem ser associados ao aumento de episódios de deslizamento de teteiras e ao aumento de ajustes manuais. Junto a isso, tetos com maior diâmetro e comprimentos maiores são associados com maior tempo de ordenha.
Imagem ilustrando uma teteira em deslizamento. Fonte: Maria Fernanda Faria
Levar essas peculiaridades de conformação de tetos são importantes para escolher bocal e cabeça ideais das teteiras. As teteiras com cabeça redonda são indicadas, por exemplo para tetos grossos e grandes e com paredes de úbere irregular, as cabeças semi-arredondadas é mais intermediária e, por isso, são indicadas para tetos grandes e médios.
Temos ainda no mercado teteiras com cabeça plana, elas são as mais utilizadas, por se adaptarem em todos os tipos de tetos e úberes. Por fim, as teteiras com cabeça rasa, que é indicada para tetos pequenos.
Exemplo de teteira de cabeça arredondada (esquerda) e de cabeça plana (direita). Fonte: Inabor
E a sobreordenha, tem alguma relação com as teteiras? Como avalio sua ocorrência?
Um ponto importante em relação ao funcionamento das teteiras é o cuidado com a sobreordenha. A sobreordenha é a ordenha a pleno vácuo, sem fluxo de leite. Quando temos um baixo fluxo de leite da vaca durante a ordenha, a extremidade do teto da vaca fica submetido à um alto vácuo/pressão.
A sobreordenha predispõe os tetos às lesões e hiperqueratose, o que prejudica a função do esfíncter do teto. Quando a vaca desenvolver hiperqueratose por esse problema, há maiores chances de apresentar um quadro de mastite clínica e de aumento da contagem de células somáticas (CCS).
Se após a retirada da teteira seja observado formação de anel no teto, este é um indicador de que a teteira permaneceu mais tempo do que o necessário.
Existem duas possibilidades para ocorrência de sobreordenha: inicial ou final.
- Sobreordenha inicial: representam falhas no estímulo e consequentemente na liberação de ocitocina e na descida do leite (ordenha bimodal). A estimulação deve ser adequada, pois apenas 20% do leite do quarto mamário se encontra na cisterna do teto, os outros 80% estão no compartimento alveolar e dependem da ação da ocitocina para que haja sua liberação.
Uma forma de avaliar esse tipo de sobreordenha é pela quantificação dos litros de leite que as vacas estão descendo nos primeiros 2 minutos de ordenha, momento de maior fluxo de leite. Nesse momento, as vacas bem estimuladas devem ter descida de 50% do leite total produzido.
Para corrigir esse problema o produtor deve adequar o tempo entre o estimulo e a colocação de teteiras, para que o estímulo para liberação da ocitocina seja de qualidade, é importante que tenha 10 – 12 segundos de contato das mãos do ordenhador com os tetos das vacas. O teste da caneca também provoca esse primeiro estímulo da descida do leite.
- Sobreordenha final: representa falhas na retirada das teteiras. Esse tipo de sobreordenha ocorre quando o conjunto de ordenha permanece no teto após a redução expressiva ou término do fluxo de leite. A forma de avaliar é pela formação do anel no teto e presença de hiperqueratose.
Imagens demonstrando a formação de anel na base do teto após a retirada das teteiras. Fonte: Acervo Rehagro
Considerações finais
O conhecimento técnico e prático sobre o correto funcionamento das teteiras e relacionar isso com a sobreordenha é crucial por várias razões, especialmente quando se trata da saúde do úbere, ressaltando sua relação com a prevenção de lesões e mastite e o bem-estar das vacas leiteiras, assim como a eficiência e sustentabilidade da produção leiteira.
Além disso, devemos levar em consideração a eficiência da ordenha, com a otimização do tempo quando se tem os equipamentos funcionando de forma adequada e a maximização da eficiência do trabalho e capacidade de produção.
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