Em sua fazenda de agroecologia em Ipiguá, a 470 quilômetros de São Paulo, a produtora Clélia Mardegan acompanha atenta o desenvolvimento de 30 mudas de cacau, doadas pelo Senar-SP, desde abril do ano passado. As plantas já estão com mais de 70 cm de altura e Clélia tomou todo o cuidado necessário para que o cacau se desenvolva, como a criação de áreas de sombra e quebra-vento.
As mudas de cacau são de alta qualidade genética. E fazem parte do curso sobre esse plantio, realizado pelo SENAR-SP em parceria com os sindicatos rurais, que já capacitou mais de 400 produtores rurais. No caso de Clélia, o curso foi realizado em conjunto com o Sindicato Rural de São José do Rio Preto.
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No primeiro dia de curso, são mostrados aspectos gerais e de manejo, como nutrição e adubação, controle sanitário, poda e controle de ervas daninhas. No segundo dia, os produtores põem a mão na massa e plantam as 30 mudas de cacau de material genético de alta qualidade.
Essas plantas crescem cercadas de expectativa. A perspectiva do cultivo de cacau em grande escala no Estado é ainda algo recente. A região de São José do Rio Preto, segundo estudos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), do governo do Estado, é altamente propícia para desenvolver essa cultura. Nascido na região em 2014, o programa “Cacau São Paulo”, da CATI, está se estendendo a todo o Estado.
Para o presidente do Sistema Faesp/Senar-SP, Tirso Meirelles, a produção de cacau tem tudo para dar certo no estado de São Paulo. “O produtor paulista é criativo, dedicado e perseverante, e com a capacitação oferecida Senar-SP, tenho certeza que a produção vai ser marcante”, destaca Meirelles.
Dados do IBGE apontam que a produção nacional de cacau é da ordem de R$ 3,5 bilhões anuais, com um total de 274 mil toneladas em 590 mil hectares plantados. A maioria dessas plantações se concentra no Pará e na Bahia. Dados do governo paulista estimam que há, hoje, 300 hectares plantados no Noroeste do estado e outros cerca de 300 hectares no Litoral e no Vale do Ribeira.
Faltam informações para quantificar o tamanho da produção paulista e uma das justificativas é que muitos produtores vendem diretamente para as chocolaterias artesanais. Em termos de preço, o estado de São Paulo pratica valores da ordem de R$ 28 o quilo, segundo a CATI. Segundo a entidade, o programa Cacau São Paulo se alicerça em quatro iniciativas: crédito rural, mudas de qualidade, divulgação.
Uma das características mais interessantes desse tipo de plantio é que as culturas são mistas. Clélia, por exemplo, plantou o cacau junto com café. Mas as plantações podem estar também associadas ao cultivo de seringueiras, entre outras plantas que possam dar meia-sombra ao cacau.
Para Clélia, uma produtora de orgânicos, o cacau pode ser uma excelente pedida. “Das 30 mudas, tenho três variedades. Elas estão lindas. Penso que elas darão sua primeira produção em dois anos”, afirmou a produtora.
Clélia avalia que ainda é cedo para dimensionar a produção de cacau. O que ela tem certeza é de que quer fazer um chocolate de alta qualidade. “Eu eu não quero ter, assim, uma imensa plantação de cacau. Eu quero ter um módulo. Eu quero fazer um chocolate mais especial para vender melhor, entendeu? Existe um mercado bastante promissor de chocolates finos. Eu não quero ter quantidade, eu quero ter qualidade na minha produção”, diz ela.
Para Clélia, a proposta do curso do SENAR-SP é “maravilhosa”. “O sindicato de São José do Rio Preto é muito ativo, muito interessado em dar suporte aos produtores.” Eles afirmam que o momento é bem oportuno para se diversificar a produção, uma vez que o cacau é uma das commodities em ascensão.
Segundo o site Mercado do Cacau, que monitora o setor em todo o mundo, em 8 de fevereiro deste ano a bolsa do cacau em Nova York, nos Estado Unidos, chegou a US$ 5.874/tonelada (um crescimento de 90% em relação ao mesmo período em 2023) e, na semana seguinte, em 13 de fevereiro, já havia subido para US$ 6.010/tonelada.
Outro ponto importante da cultura cacaueira é o plantio no modelo de consórcio, como explica um dos instrutores do curso, Andrey Borges. “É uma cultura consorciada com outra, que pode ser a seringueira, a bananeira ou mesmo o eucalipto. O cacau produz muito no sol, mas precisa de uma sombra inicial e não gosta de vento de jeito nenhum”, diz. Ele explica ainda que a vida do cacaueiro pode chegar a 35 anos no cultivo agrícola e cada hectare pode comportar mil pés de cacau.
Um passo agregado ao curso de cultivo é o de chocolate artesanal. “Hoje, a produção de chocolate artesanal é uma atividade financeira extremamente interessante. Ela traz renda, como uma pequena agroindústria. E é uma atividade que também cria oportunidades para o turismo rural”, salienta um dos instrutores. Já há produtores paulistas investindo na produção de chocolate artesanal, como no município de Mendonça.
Por CNA