Boas práticas nas fases de criação de bezerras e novilhas é de fundamental importância para a estabilidade e evolução de uma fazenda leiteira, pois essa fase será determinante para que além da genética, os animais se tornem vacas produtivas, longevas e com boa saúde. Por isso, é essencial compreender e aplicar práticas adequadas para o manejo desses animais jovens.
Neste texto, abordaremos detalhadamente os aspectos essenciais dessas práticas, focando em áreas críticas como colostragem, nutrição e controle de doenças, visando garantir um crescimento saudável e eficiente, que resultará em vacas leiteiras de alto rendimento.
Colostragem das bezerras
A colostragem consiste em fornecer o mais rápido possível o colostro para a bezerra após o nascimento. Como se sabe, as bezerras nascem sem nenhum tipo de proteção celular, assim, são totalmente dependentes da ingestão do colostro para terem essa proteção e conseguirem driblar os desafios ambientais existentes até a formação do seu próprio sistema imune.
Dito isso, vários critérios são necessários para que se obtenha a maior absorção de imunidade. Primeiramente é a quantidade, que é preconizada o fornecimento de 10% do peso corporal da bezerra em até 2 horas após o nascimento.
Além disso a qualidade desse colostro também deve estar dentro de parâmetros desejados, com um Brix próximo a 25%, e que o processo de obtenção do colostro e processamento seja realizado adotando boas condutas de higiene, para que então esse colostro detenha de baixa Contagem Bacteriana Total (menor de 10.000 UFC/mL) e baixa Contagem de Células Somáticas (menor de 100.000 UFC/mL).
Além de todos esses critérios é essencial a verificação de que a colostragem esteja atingindo os resultados desejados, a partir da avaliação da transferência de imunidade passiva.
O método mais utilizado é com o refratômetro, sendo ele óptico ou digital, através da análise do soro do sangue das bezerras. Esse sangue deve ser coletado entre 24 horas e 7 dias de vida e possui valores excelentes quando são maiores ou igual a 6,2 g/dL para proteína sérica ou 9,4% para brix sérico.
Por quais motivos a colostragem pode ser um desafio na criação das bezerras?
Sabemos que uma má colostragem seja por falha em um dos três pilares da colostragem: qualidade, quantidade e tempo para fornecimento, irá acarretar em uma transferência de imunidade passiva deficitária.
Esse comprometimento da transferência da imunidade vai impactar na vida da bezerra a curto e a longo prazo, afetando tanto na incidência de doenças nas primeiras semanas de vida como também no ganho de peso a desmama.
Bezerras mal colostradas vão apresentar uma maior taxa de mortalidade devido a sua comprometida capacidade de combater infecções, o que a torna mais susceptível a doenças.
É importante ressaltar que o ambiente representa e é um grande fator de impacto na vida e na saúde das bezerras, onde mesmo bezerras bem colostradas quando mantidas em condições hostis e que são muito desafiadas pelo ambiente podem sim ter um desempenho prejudicado.
Gráfico demonstrando a relação entre a mortalidade e a colostragem de 48.536 bezerras leiteiras avaliadas de 2021 a 2023, onde os animais com eficiência de colostragem excelente apresentam uma mortalidade significativamente menor em comparação com animais com colostragem ruim. Fonte: Rehagro consultoria
Quanto a tendência de bezerras mal colostradas ganharem menos peso, existem uma série de razões que justificam isso:
- Bezerras que não são colostradas de forma correta além de não receber a imunidade passiva esperada, também não recebe os nutrientes necessários para um desenvolvimento adequado, tendo em vista que o colostro é uma fonte de nutrientes essenciais, como proteínas, vitaminas e minerais.
- Bezerras mal colostradas detém de um sistema imunológico mais fraco, o que a deixa mais vulnerável a uma série de doenças.
- Bezerras com eficiência de colostragem ruim podem deter de um sistema digestivo subdesenvolvido, afetando negativamente sua capacidade de absorver nutrientes.
- Bezerras mal colostradas podem apresentar desafios de saúde a longo prazo, como um crescimento retardado em comparação com bezerras bem colostradas, desenvolvimento ósseo comprometido e menor eficiência quando adultas.
Gráfico com dados de 26.370 bezerras leiteiras nos anos de 2022 e 2023 demonstrando o comportamento do ganho de peso a desmama em relação a eficiência de colostragem, onde é notório que bezerras mal colostradas (Ruim) tem ganho de peso a desmama do que bezerras bem colostradas. Fonte: Rehagro consultoria
Fornecimento de dieta sólida para bezerras
O desenvolvimento de uma bezerra não depende apenas do seu consumo de leite, mas também do consumo de dieta sólida. O fornecimento de concentrado deve ser feito desde o primeiro dia de vida, sendo inicialmente colocado em pequenas quantidades e com aumento gradual de acordo com o consumo do animal.
Esse fornecimento de concentrado possui inúmeros benefícios para as bezerras como:
- Desenvolvimento das papilas ruminais;
- Maturação do sistema digestório;
- Aumento do ganho de peso diário;
- Maior possibilidade de uma desmama precoce.
Aprofundando mais sobre o concentrado a ser fornecido, é interessante que contenha um teor entre 22 e 25% de proteína bruta. A utilização de palatabilizantes com melaço e leite em pó é bastante recomendada pois estimulam o consumo das bezerras.
O tamanho de partícula é fundamental nessas rações, sendo recomendado que estas possuam partículas mais grosseiras, pois essas em atrito com a parede do rúmen estimulam sua movimentação, levando ao desenvolvimento muscular do órgão.
Além disso, os estímulos químicos causados pelos ácidos graxos voláteis (AGV) estimula o desenvolvimento das papilas, aumentado seu tamanho e quantidade.
Imagem de bezerra em aleitamento que recebe dieta sólida, uma ração específica pra fase da vida e que possui granulometria grossa (pellets). Fonte: Acervo Rehagro
Outro fator importante é o fornecimento de volumoso, essa oferta deve ser introduzida em torno dos 40 dias de vida da bezerra, com um fornecimento em baixa quantidade (5 a 7% da dieta).
Essa introdução de fibras serve para evitar acidose ruminal, auxiliando na ruminação, aumento da produção de saliva e movimentação ruminal. Também, auxilia na adaptação da flora ruminal e na diminuição de estresse na desmana, por já estarem adaptadas ao consumo de volumosos.
Controle de doenças
No desenvolvimento de bezerras existem grandes desafios sanitários, dessa forma o monitoramento e diagnóstico precoce são de fundamental importância para evitar perdas.
Durante esse período existem três principais doenças causadoras de grandes prejuízos na maioria das fazendas leiteiras do Brasil, sendo elas:
- Diarreia;
- Doenças respiratórias;
- Tristeza parasitária bovina.
Assim, o monitoramento, diagnóstico e tratamento dessas doenças devem ser feitos de maneira rápida e eficiente.
Diarreia
Os casos de diarreia, em sua maioria, ocorrem entre a primeira e segunda semanas de vida e a maior causa de morte é pela desidratação. Dessa forma, bezerras com diarreia devem ser hidratadas diariamente com utilização de soro oral e, caso necessário, hidratação venosa.
O monitoramento de temperatura é essencial no acompanhamento das diarreias, caso ocorra episódios de febre se faz necessária a utilização de antibioticoterapia aliada a hidratação, com intuito de evitar sepse e óbito do animal.
A coleta de dados se faz importante para elaborações de planos de melhoria dentro do setor de criação das bezerras, atualmente se espera uma taxa menor de 25% de morbidade causadas por diarreia na fase de aleitamento, menor que 2% no pós-desmame e menor de 1% dos 120 dias em diante.
Doenças respiratórias
Já as doenças respiratórias tem maior prevalência em bezerras entre 30 e 40 dias de vida. O monitoramento dessa doença pode ser feito através da observação individual das bezerras, avaliando:
- Velocidade de consumo do leite (bezerras com pneumonia tendem a ingerir mais lentamente o leitem com realização de pausas);
- Padrão respiratório (movimentos mais rápidos e curtos);
- Reflexo de tosse;
- Febre.
Além do monitoramento, mudanças ambientais podem ser feitas no ambiente para diminuir os casos desses problemas respiratórios na fazenda. A melhoraria da ventilação do ambiente é fundamental, pois permite a redução de umidade e remoção de gases irritantes.
Dessa forma as taxas aceitáveis dessa doença são: menor de 10% de morbidade causadas por diarreia na fase de aleitamento, menor que 10% no pós-desmame e menor de 2% dos 120 dias em diante.
Tristeza Parasitária Bovina
A Tristeza Parasitária Bovina (TPB) é uma grande causadora de mortalidade e morbidade de cria e recria. Dentre as 3 doenças aqui citadas esta é a que demanda maiores cuidados com monitoramento e observação dos animais.
Dentre os sintomas que essa doença pode ocasionar, a febre é considerada o primeiro deles, dessa forma, o seu monitoramento deve ser feito de maneira frequente para que seja possível atuar na fase inicial da doença e evitar sua evolução e até mesmo a perda do animal.
Esse monitoramento de temperatura é recomendado de ser feito no mínimo 3 vezes por semana, durante horários frescos do dia. Outra forma de monitoramento é realização de esfregaço sanguíneo para identificação do agente e tratamento específico dos animais doentes.
Imagem demonstrando o momento de aferição de temperatura retal das bezerras. Fonte: Acervo Rehagro
Outra forma de observação é a utiliza do hematócrito, mesmo sendo uma forma indireta pode ser de grande importância para animais mais debilitados, animais com volume globular menor de 24% indica anemia, menor de 20% é recomendado tratamento e menor de 15% se remenda transfusão sanguínea.
Considerações finais
O manejo adequado de bezerras e novilhas em uma fazenda leiteira é um investimento essencial para o sucesso a longo prazo do negócio.
As práticas de colostragem, nutrição balanceada e controle proativo de doenças estabelecem a base para o desenvolvimento de vacas saudáveis e produtivas.
Atenção especial à saúde, nutrição e ambiente desses animais jovens não só minimiza os riscos de doenças e mortalidade, mas também maximiza o potencial genético, resultando em melhor desempenho produtivo e reprodutivo no futuro.
Ao adotar essas estratégias, os produtores podem esperar uma melhoria significativa na saúde e na produtividade do rebanho, contribuindo para a sustentabilidade e rentabilidade da fazenda leiteira.
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