O leite de transição é definido como o leite da segunda a sexta ordenha após o parto, ou seja, é o leite produzido após a retirada do colostro até a transição para o leite integral.
O leite de transição quando comparado com o leite integral pode-se dizer que engloba um significativo aumento na quantidade de sólidos, como por exemplo, os teores de gordura, cálcio, proteína, vitamina A e E, o que é de suma importância para o desenvolvimento do animal jovem.
Nesse texto, iremos trazer informações importantes a respeito do leite de transição, evidenciando sua composição e os grandes benefícios relacionados ao desenvolvimento intestinal e saúde trazidos às bezerras com essa ingestão. Além disso, ressaltaremos sobre os cuidados básicos de higiene necessários na extração e fornecimento desse leite.
Ao nascer sabemos que as bezerras devem ser bem colostradas, preferencialmente por duas vezes, com colostro de qualidade, quantidade adequada e no tempo recomendado.
O colostro contém um alto teor de imunoglobulinas e, é, portanto, essencial para o fornecimento de imunidade passiva ao neonato. Em sua composição temos compostos bioativos e nutrientes em elevadas concentrações quando comparado ao leite integral.
O leite de transição também tem concentrações elevadas de IgG, e outros compostos bioativos como IGF-1, hormônio do crescimento e insulina, que gradualmente diminuem à medida que as secreções mamárias passam para o leite normal.
Esses compostos bioativos são capazes de alterar a proliferação, migração, diferenciação e longevidade das células epiteliais, bem como promover digestão, absorção e desenvolvimento do sistema imunológico.
Imagem de uma bezerra em seus primeiros dias de vida, alojada em gaiola suspensa e recebendo leite de transição no balde amamentador com bico. Fonte: Acervo Rehagro
Quais os benefícios do leite de transição para a bezerra?
Estudos demonstram que o trato gastrointestinal (TGI) de bezerros neonatos se encontra ativo e maduro no nascimento, entretanto, alterações de morfologia e funcionais deverão acontecer.
Hormônios e fatores de crescimento que estão presentes irão estimular o crescimento em largura e comprimento das vilosidades, o que é demonstrado em trabalhos que buscaram avaliar o desenvolvimento do trato, onde essa alimentação foi capaz de reduzir a apoptose de células epiteliais da mucosa, melhorou a fissão das criptas, elevou o número de células epiteliais das criptas às vilosidades e também aumentou a proliferação celular e espessura da mucosa e submucosa em partes do intestino delgado.
Exemplos de micrografias ópticas de secções intestinais de bezerros neonatos coradas com hematoxilina e eosina, onde temos: Duodeno = Imagem A (Leite de transição) e Imagem B (Substituto de leite); Jejuno proximal = Imagem C (Leite de transição) e D (substituto de leite); Jejuno médio = Imagem E (Leite de transição) e Imagem F (Substituto de leite); Íleo = Imagem G (Leite de transição) e Imagem H (Substituto de leite. Fonte: Soest et al. (2022)
Outros estudos concluem que em bezerros alimentados com colostro e leite de transição tiveram uma maior taxa metabólica, taxa de crescimento e diminuição fezes líquidas em comparação com os que receberam substituto de leite.
Alimentar bezerros com leite de transição após a colostragem melhorou as taxas de crescimento e reduziu a concentração sérica de haptoglobina, uma proteína de fase aguda produzida pelo fígado e que se liga de forma irreversível a hemoglobina.
Esse fato, pode ser um indicativo de um funcionamento mais eficaz da barreira intestinal. Além disso, ele é capaz de elevar o número de células T no epitélio ileal, sendo esse aumento um potencial fator de prevenção de doenças ao nível do TGI.
O leite de transição também pode elevar a digestibilidade de alimentos líquidos durante o primeiro mês de vida da bezerra e a maturação do intestino é provavelmente a responsável por esse aumento. Deter de maior capacidade de absorver uma porcentagem de nutrientes da dieta mais cedo irá contribuir para o crescimento mais eficiente do animal.
O consumo de leite de transição durante 4 dias após o nascimento é capaz de aumentar a maioria das medidas de desenvolvimento intestinal em pelo menos 50%.
Quanto ao crescimento dos animais, estudos já demonstram que bezerros alimentados com leite de transição crescem 0,3kg/dia mais rápido do que os bezerros que são alimentados com algum substituto de leite, o que corresponde em um crescimento percentual de 10% mais rápido durante todo o período pré-desmame.
Leite de transição e colostro como aliados para a saúde do animal
O leite de transição se torna então um grande aliado do colostro para viabilizar a estabilidade da saúde do animal nos primeiros dias após o nascimento, onde é considerado a fase mais crítica da vida de uma bezerra.
Sabendo que sua composição tem semelhanças com o colostro, devido aos altos teores de nutrientes que impactam positivamente no desenvolvimento do animal, podendo citar então como pontos positivos no seu uso:
- Melhor desenvolvimento intestinal;
- Aumento na absorção de nutrientes;
- Aumento no ganho de peso diário até a desmama;
- Maior eficiência na transferência de imunidade passiva.
Vale ressaltar que apesar do leite de transição ter semelhança com o colostro do ponto de vista nutricional, o mesmo não o substitui. Além disso, é importante entender que os resultados dos estudos que envolvem o leite de transição e seu benefício aos bezerros, são realizados em animais que já consumiram colostro de alta qualidade em um intervalo mínimo após o nascimento (cerca de 30 minutos), garantindo assim uma transferência de imunidade passiva bem-sucedida (> 10mg/mL IgG) e demonstrando o quão imprescindível é o colostro na vida do animal.
Ademais, vale frisar das consequências positivas e a longo prazo que o uso do leite de transição pode trazer, visto que um animal jovem saudável, tem mais probabilidades de se tornar um adulto eficiente, o que contribui para um maior desempenho produtivo e um maior retorno econômico para o produtor.
E como deve ser o manejo com o leite de transição para ser fornecido as bezerras?
É importante que todo o manejo de aleitamento seja realizado de forma adequada desde o nascimento da bezerra, com o momento da colostragem, o fornecimento do leite transição até leite normal e o desmame.
O cuidado com a higiene é de extrema importância, e ele deve estar presente tanto na equipe de ordenha, que será responsável pela extração do colostro e leite de transição até a equipe responsável pela cria, que de fato fornecerá o leite aos animais.
A limpeza de utensílios que serão usados para retirada do leite e dos utensílios utilizados no aleitamento são primordiais.
Imagem demonstrando a retirada do leite de transição de vacas do lote pós-parto, onde o mesmo é desviado para uma lata específica e posteriormente destinado aos neonatos da fazenda. Fonte: Acervo Rehagro
Para realizar a separação desse leite de transição de forma adequada, pode ser adotado na fazenda formas de identificação dos animais com leite em transição ou até mesmo a segregação desses em lotes específicos.
Entretanto, é fundamental que os colaboradores estejam atentos com as rotinas da fazenda e também cientes da importância que esse manejo tem no desenvolvimento das futuras vacas em lactação.
Existem formas que visam minimizar a contaminação bacteriana e possibilidade de transmissão de doenças do colostro, leite de transição e até mesmo o leite integral, e dentre elas temos a pasteurização, que é realizada por um equipamento específico para tal função. Contudo, o cuidado com a desnaturação das proteínas, principalmente do colostro são essenciais.
Considerações finais
Em resumo, tendo conhecimento do quão rico é o leite de transição para a bezerra nos primeiros dias de vida, fica claro que ele é capaz de desempenhar um grande papel no momento mais desafiador desses animais.
Ele será capaz de fornecer nutrientes essenciais, contribuir grandiosamente para o desenvolvimento intestinal das bezerras leiteiras, o que irá acarretar no preparo com excelência para uma vida produtiva futura.
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