A pecuária de corte é mais que uma atividade econômica, é um legado de cuidado, conhecimento e tradição que moldou comunidades e alimentou nações ao longo dos séculos.
Na fase de cria cada detalhe faz diferença, desde a concepção até o desmame, influenciando diretamente na qualidade e na produtividade do rebanho.
Neste contexto, exploraremos as características essenciais de um sistema de cria na pecuária de corte.
O sistema de cria é um conjunto de práticas que abrange desde a concepção até o desmame dos bezerros. Nesse processo, o desmame geralmente ocorre entre 7 e 8 meses, com uma média de 6 a 8@.
O principal objetivo dessa fase é a produção de um bom bezerro por vaca por ano. Para isso, é essencial a implementação de uma estação de monta bem definida, ajustadas às características da propriedade, para maximizar a eficiência reprodutiva do rebanho.
A estação de monta é o período do ano onde as fêmeas serão desafiadas a emprenhar, seja por monta natural ou inseminação artificial. Ela deve ser planejada, levando em consideração fatores como condições climáticas da região, disponibilidade de pastagem, manejo do rebanho e principalmente, época de nascimento dos bezerros.
Além disso, é importante garantir um manejo nutricional adequado das vacas durante todo o ano. Uma nutrição balanceada é fundamental para garantir a saúde e fertilidade das matrizes.
Vacas bem nutridas, com escore de condição corporal (ECC) entre 3 e 3,5, têm maiores chances de concepção, resultando em uma produção mais eficiente de bezerros.
Fonte: Fernanda Lazzarini Fernandes
Qual a estrutura necessária para implementar um sistema de cria?
Na pecuária de corte, o sistema de cria historicamente ocupou uma posição mais extensiva e marginalizada, com uma criação exclusivamente a pasto, aproveitando ao máximo os recursos naturais e minimizando custos com equipamentos, instalações e mão-de-obra.
Na prática, a alimentação das matrizes e bezerros era predominantemente baseada em pastagem, com suplementação de sal ureado durante períodos de seca e sal mineral no período das águas, muitas vezes sem um manejo adequado das pastagens.
Com a evolução das demandas na pecuária de corte, os pecuaristas perceberam a necessidade de intensificar seus sistemas de criação para se manterem competitivos. Atualmente, embora a criação de animais a pasto ainda seja uma característica marcante, há uma crescente ênfase na intensificação dos sistemas de cria.
O principal objetivo continua sendo a produção de um bom bezerro por vaca por ano. Para alcançar esse objetivo, é crucial implementar um manejo eficiente de pastagens e garantir uma nutrição balanceada para as matrizes, permitindo que cheguem à estação de monta com um escore de condição corporal ECC adequado. Vacas em condições físicas inadequadas, magras, têm menor probabilidade de emprenhar, resultando em prejuízos para o sistema.
Além disso, a presença de mão de obra especializada é fundamental, especialmente para o manejo reprodutivo, que inclui a realização de sincronização de cio e o uso de tecnologias como inseminação artificial, cada vez mais comuns nas propriedades de cria. Uma equipe de campo bem treinada é essencial para garantir a saúde dos bezerros, realizando cuidados como a cura do umbigo e garantindo que recebam colostro nas primeiras horas de vida.
É crucial, também, contar com uma estrutura adequada na propriedade, incluindo piquetes maternidade para facilitar os primeiros cuidados com os recém-nascidos, como identificação e cura do umbigo. Um curral bem equipado é necessário não apenas para o manejo vacinal seguro, mas também para o manejo reprodutivo, como a sincronização de cio, inseminação e diagnóstico de gestação.
Em suma, implementar um sistema de criação eficiente requer um conjunto de estratégias integradas, desde o manejo nutricional até a estrutura física da propriedade, visando garantir a saúde e o desempenho reprodutivo do rebanho, bem como a rentabilidade do negócio pecuário.
Cuidados para garantir um sistema de cria competitivo e lucrativo
Garantir a produção de um bom bezerro por vaca/ano, é a primeira meta de um sistema de cria, sendo essencial estabelecer uma estação de monta bem definida e implementar uma programação fetal que assegure a nutrição balanceada da matriz, principalmente durante o segundo e terceiro terço da gestação.
Para viabilizar o sistema, é de suma importância realizar a evolução do rebanho, descartando fêmeas que não tenham emprenhado, que tenham abortado ou produzido bezerros com baixo peso à desmama.
Investir nos primeiros cuidados com os neonatos é igualmente crucial, além de realizar o manejo das pastagens, que deve estar sempre em dia.
A implementação dessas práticas contribui significativamente para um sistema de cria competitivo e lucrativo, garantindo a saúde, o bem-estar e o desempenho reprodutivo do rebanho, assim como a eficiência operacional da propriedade.
Fonte: Fernanda Lazzarini Fernandes
Estação de monta (EM)
Fazendas com ausência de estação de monta, em que o touro permanece com as fêmeas durante todo o ano, gera uma distribuição desordenada dos nascimentos ao longo de vários meses, o que complica o manejo das matrizes e crias.
Isso impacta negativamente o desenvolvimento dos bezerros e a fertilidade das vacas devido à restrição alimentar, resultando em um aumento do intervalo entre o parto e o primeiro serviço, diminuindo a fertilidade.
A falta de uniformidade das crias dificulta os controles zootécnicos e sanitários, prejudicando a seleção de animais com alto potencial reprodutivo, o que torna esse sistema economicamente menos viável.
A reprodução eficiente é crucial para o sucesso na pecuária. A estação de monta desempenha um papel fundamental nesse processo, sendo essencial para garantir um rebanho produtivo e evitar problemas reprodutivos que afetam a rentabilidade do negócio.
A Estação de Monta (EM) oferece uma série de benefícios que impactam positivamente a gestão do rebanho e a lucratividade do produtor. Isso inclui a concentração dos nascimentos, facilitando a identificação dos bezerros e a formação de lotes uniformes, o que simplifica a desmama.
A Estação de Monta com o uso de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) é uma prática na pecuária que combina a programação reprodutiva com a tecnologia da inseminação artificial.
Nesse método, as fêmeas têm o cio sincronizado para ovular em um determinado período, geralmente na época das águas, quando há maior oferta de forragem, e são inseminadas artificialmente, podendo ser usado também os touros de repasse.
A IATF oferece diversas vantagens, como a maximização do número de fêmeas prenhes em um curto espaço de tempo, contribuindo para uma estação de monta mais concentrada e uniforme. Além disso, possibilita o uso de sêmen de reprodutores de alta qualidade genética e a seleção de características desejáveis para a produção de bezerros.
Com a sincronização do cio, há também uma melhoria na eficiência reprodutiva, o que possibilita a identificação de matrizes improdutivas. Para alcançar sucesso, é essencial um planejamento prévio, considerando a disponibilidade de forragem.
Investir em planejamento e manejo reprodutivo é fundamental para maximizar a eficiência e lucratividade na pecuária de corte.
Programação fetal
A programação fetal, baseada na síntese de tecido muscular, desempenha um papel fundamental no crescimento dos animais.
O crescimento dos tecidos ocorre por meio de duas vias principais: hiperplasia, relacionada ao aumento do número de células, e hipertrofia, que diz respeito ao crescimento em volume das células musculares existentes.
No caso do tecido muscular, a hiperplasia muscular, também conhecida como miogênese, ocorre exclusivamente durante o período pré-natal, compreendendo a miogênese primária e secundária. Isso significa que ao nascer, o animal já possui um número definido de células musculares.
No entanto, a hipertrofia muscular, que se refere ao aumento do volume das células existentes, inicia-se ainda durante o período fetal e continua ao longo da vida do animal.
Um plano nutricional adequado durante o período de gestação da matriz pode influenciar significativamente a programação fetal. Um bom suprimento nutricional durante a gestação pode resultar em uma prole com maior número de células musculares ao nascer.
Esse aumento na quantidade de células musculares oferece ao animal um maior potencial de ganho de peso ao longo de sua vida, pois há mais células disponíveis para participar dos processos de hipertrofia muscular.
Assim, a programação fetal adequada pode contribuir para o desenvolvimento muscular e o potencial de crescimento dos animais desde o nascimento até a fase adulta.
Cuidados com os neonatos
Os primeiros cuidados com os bezerros recém-nascidos desempenham um papel crucial no estabelecimento de uma criação saudável e produtiva.
Um dos passos fundamentais é garantir a correta cura do umbigo, aplicando produtos apropriados para prevenir infecções e garantir a cicatrização. Além disso, é imperativo observar atentamente a mamada inicial do colostro, assegurando que o bezerro tenha acesso ao leite materno e seja capaz de mamar normalmente na vaca.
A identificação adequada do bezerro e sua matriz também são práticas essenciais, permitindo um monitoramento eficaz do desenvolvimento individual e do desempenho reprodutivo da vaca. Além disso, anotar o peso ao nascimento é uma ferramenta valiosa para avaliar a saúde e o potencial de crescimento do bezerro.
Ademais, é crucial iniciar o protocolo vacinal conforme o calendário sanitário da fazenda, garantindo a imunização adequada para prevenir doenças e perdas produtivas no rebanho. Esses cuidados iniciais são vitais para estabelecer uma base sólida para o desenvolvimento saudável e produtivo do gado na fazenda.
Fonte: Fernanda Lazzarini Fernandes
Considerações finais
Em resumo, a implementação de um sistema de cria eficiente na pecuária de corte exige uma abordagem integrada que abrange desde a nutrição das matrizes até o manejo dos bezerros.
Ao estabelecer uma estação de monta bem definida, garantir uma alimentação balanceada, investir em manejo reprodutivo e proporcionar cuidados iniciais adequados aos bezerros recém-nascidos, os produtores podem maximizar a eficiência produtiva do rebanho e garantir a sustentabilidade econômica da atividade.
Ao seguir esses princípios, os pecuaristas estão não apenas assegurando o sucesso de seus negócios, mas também contribuindo para o avanço e a excelência da pecuária de corte como um todo.
Melhore os seus resultados na pecuária de corte!
Conheça o Curso Gestão na Pecuária de Corte do Rehagro.
Saiba como elevar sua margem de lucro e otimizar indicadores cruciais, como taxa de desfrute, arrobas por hectare/ano, taxa de lotação, GMD, entre outros.
Adquira conhecimento em técnicas validadas ao longo de duas décadas de consultoria nas principais fazendas do Brasil, com resultados práticos comprovados.
Clique e saiba mais!