Armazenagem de grãos: o que você precisa saber sobre silos
João Paulo Pennacchi – 12 de março de 2024
Armazenagem de grãos: saiba como escolher entre silos bolsa, silo próprio de pequeno, médio porte ou silos de uso conjunto e dicas para evitar perdas
Investir em armazenagem de grãos é a certeza de que o planejamento estratégico da fazenda está na sua mão. E esse pode ser um grande diferencial na sua rentabilidade, além de ser fundamental para a comercialização agrícola.
Para quem produz, saber bem em qual tipo de armazenagem investir é essencial. Ainda, essa etapa envolve muito planejamento e conhecimento das estruturas do seu próprio negócio.
Neste artigo, discutimos sobre os principais tipos de silos para grãos, inclusive suas vantagens e desvantagens para que você faça a melhor escolha! Boa leitura!
O que são as unidades armazenadoras de grãos?
Uma unidade armazenadora de grãos é uma estrutura que tem como finalidades o recebimento de grãos, sua conservação e distribuição. As unidades armazenadoras mais comuns são os silos e armazéns.
É muito importante que o armazenamento de grãos seja feito de forma correta e cuidadosa. Afinal, ele influencia nas características do produto a ser entregue ao mercado. Grãos armazenados em condições não ideais podem sofrer diversos danos, como:
- perda de qualidade sensorial;
- diminuição nos teores de massa seca ou compostos específicos de qualidade;
- ataques de patógenos e insetos que impactam no seu valor de venda.
É importante ressaltar que a qualidade dos grãos não pode ser melhorada, apenas preservada durante um bom armazenamento. Por isso é necessário entender onde armazenar seus grãos para que eles não se deteriorem e percam valor.
Por que é importante o armazenamento de grãos?
O armazenamento correto de grãos é importante por diversos motivos. Além de evitar a degradação e perdas de qualidade da produção agrícola, esse processo também traz maior flexibilidade ao produtor nos processos de estocagem e venda.
Abaixo citamos pontos de importância da armazenagem de grãos na propriedade:
- Qualidade de grãos/sementes: ao armazenar na fazenda o produtor tem maior controle de seu produto e evita perda de qualidade ao estar em contato com outros lotes; Isso também pode aumentar a padronização e diminuir as perdas por doenças e pragas ou deterioração do produto;
- Rapidez no processo de armazenamento: ao se ter uma opção de armazenamento de grãos na propriedade, o produtor ganha agilidade no transporte, evitando perdas no transporte e espera de caminhões nos armazéns/silos compartilhados;
- Gestão de lavouras: o produtor pode decidir o melhor momento para colher suas lavouras sem ter que se adequar à disponibilidade de armazenadores externos. Isso aumenta a qualidade do produto e a eficiência do uso de máquinas, bem como permite um planejamento agrícola maior;
- Preço de venda: como o mercado de grãos é bastante variável, o produtor com armazenagem própria pode aguardar o melhor momento de venda de suas commodities sem comprometer sua qualidade, conseguindo maiores lucros pós-colheita.
Quais são as regras para armazenar grãos?
Se você pensa em aproveitar seus silos e prestar o serviço de armazenagem de grãos, é necessário ficar de olho na Lei nº 9.973. Essa Lei regula essa atividade, e também deve ser considerada caso você queira conseguir um financiamento público para a construção.
Nela e na Instrução Normativa Nº 29 de 8 de Junho de 2011 há diretrizes para a instalação e manutenção de estruturas de armazenagem na propriedade. Isso garante a qualidade dos grãos armazenados, a segurança do ambiente e das pessoas.
Para a armazenagem de grãos, há uma lista de requisitos técnicos necessários para a obtenção da certificação de armazenamento.
- Cadastramento;
- Localização;
- Infraestrutura;
- Isolamento/acesso;
- Ambiente de atendimento ao público;
- Escritório;
- Sistemas de pesagem;
- Sistemas de amostragem;
- Determinação da qualidade do produto;
- Sistema de limpeza;
- Sistema de secagem;
- Sistema de movimentação do produto;
- Sistema de armazenagem;
- Sistema de segurança.
Quais são as etapas de armazenagem de grãos?
Desde a colheita, até o transporte e outras atividades de pré-armazenamento, há uma série de etapas a serem cumpridas para que a armazenagem de grãos seja eficiente. As principais etapas anteriores ao armazenamento são:
- Recepção: é a primeira etapa do processo que consiste em receber as cargas de grãos e mantê-las por um curto período de tempo antes de serem levadas às próximas etapas. È importante ter cuidado para que não haja misturas de lotes ou produtos diferentes;;
- Amostragem: essa etapa e importante para decidir quais os próximos passos no processo de armazenamento. Por exemplo, grãos com altas umidades devem ser rapidamente secos para posteriormente serem enviados à pré-limpeza. Isso evita que percam qualidade e se deteriorem;;
- Pré-limpeza: essa etapa é uma limpeza inicial que consiste em retirar impurezas e materiais estranhos, para que atinjam um nível abaixo de 4%. Os principais materiais retirados das amostras são: Para manter a qualidade dos lotes, são retiradas as matérias estranhas. Alguns exemplos são: grãos e sementes de outras culturas, insetos vivos ou mortos, torrões de solo, sujidades, restos culturais (folhas, hastes, colmos, raízes, vagens, pedaços de sabugo, dentre outros). Utiliza-se máquinas de ar e peneira nessa etapa;
- Secagem: nessa etapa se usam técnicas de ventilação natural ou forçada, com ar natural ou aquecido para diminuir a umidade da massa de grãos. O tempo de secagem irá depender do método, da massa de grãos e da umidade final que se deseja atingir;;
- Classificação: a classificação é feito por tamanho de grãos ou sementes para separação em lotes de maior ou menor valor. Utiliza-se jogos de peneiras para a classificação;
- Limpeza de sementes e grãos: nessa etapa é feita uma limpeza mais criteriosa que visa aumentar a qualidade da massa de grãos. Essa etapa é principalmente importante para lotes de sementes. O trabalho é normalmente feito através de máquinas de ar e mesas densimétricas que retiram sementes mais leves que tendem a ter menor vigor e taxa de germinação;
- Armazenamento: a partir daqui os grãos estão prontos para serem armazenados, à granel ou em sacarias.
Quais os tipos de armazenamento para grãos?
Existem estruturas para armazenagem de grãos com diferentes funções. Normalmente essas funções se referem às estruturas que são destinadas à armazenagem de longo prazo, com grãos secos.
Porém, existem outros tipos de silos de armazenagem com funções específicas:
- Silos de espera: são os silos que recebem grãos ainda úmidos por um curto espaço de tempo, para posterior transporte e transferência a silos secadores;
- Silos secadores: são silos que visam homogeneizar a umidade dos grãos a um nível pré-estabelecido. Esses silos podem apresentam ventilação forçada e sistema de aquecimento para agilizar o processo de secagem;
- Silos de expedição: são silos elevados que recebem a massa de grãos dos silos armazenadores, facilitando a carga dos veículos transportadores.
Para escolher o tipo de armazenagem ideal, é necessário ficar de olho em alguns detalhes. Afinal, alguns fatores podem influenciar a decisão da melhor solução para armazenamento na propriedade. Por exemplo:
- Tipo do produto e suas características;
- Tempo de armazenagem previsto;
- Quantidade de produto a ser armazenado;
- Maquinário disponível e mão-de-obra;
- Incidência de pragas e patógenos na região;
- Microclima do local do armazenamento;
- Dimensão, relevo e face de exposição da propriedade.
Silos de bolsa
Os silos de bolsa, também conhecidos como “bags”, são alternativas àqueles construídos em estrutura metálica.
Nesse caso, é preciso que os grãos estejam secos para que não estraguem. Assim, avalie se o baixo custo desse tipo de armazenagem de grãos compensa os custos com secagem de grãos ou o risco de esperar o grão secar em campo.
Também considere que esse tipo de silo pode sofrer mais facilmente com ataques de animais, além de pragas agrícolas de armazenamento. Tudo isso pode danificar uma grande quantidade de grãos.
Silos fixos ou permanentes
Os silos permanentes são unidades de armazenamento que podem ser construídas de diversos materiais. Mais comumente, encontram-se silos metálicos, de alvenaria, de concreto ou mesmo de madeira.
A escolha da dimensão e do material deve ser feita considerando as características da propriedade, do tipo de produto e da capacidade de produção.
Armazéns para sacarias
Nos métodos acima, os grãos são armazenados à granel. Porém, há também a opção de se alocar os grãos em sacos e armazená-los em um armazém. O armazenamento em sacaria possui diversas vantagens, como:
- maior controle de lotes;
- maior facilidade em detecção e separação de grãos estragados;
- menor custo de implantação;
- possibilidade de armazenagem de produtos diferentes.
Por outro lado, esse tipo de armazenamento também possui desvantagens, como:
- menor capacidade de controle de condições microclimáticas;
- facilidade na entrada de doenças e pragas;
- maior custo com sacaria;
- maior dimensão para a mesma carga em toneladas se comparado ao silo.
Unidades armazenadora nível fazenda para pequeno e médio produtor
Quando pensamos em silos de grande capacidade para armazenamento de grãos, principalmente de soja e milho, imaginamos a realidade de um grande produtor.
Porém, existem opções de unidades armazenadoras para pequenos e médios produtores que podem fortalecer suas capacidades de negócio. É importante que o planejamento seja bem-feito, incluindo projeto técnico, custos operacionais, depreciação, maquinários etc.
As principais vantagens em possuir sua unidade armazenadora própria seria:
- Venda de sua produção em períodos adequados;
- Redução das perdas que ocorrem no campo;
- Economia em transporte. Afinal, na safra os custos se elevam em relação à grande logística para transportar os grãos;
- Maior rendimento na colheita (evita espera dos caminhões nas filas das unidades coletoras, na grande maioria em cooperativas de recebimento;
- Melhor independência da estratégia de venda de seus grãos.
Silos de armazenamento em conjunto com outros produtores
Outra opção de armazenagem dos grãos são as estruturas conjuntas, sobretudo para produtores que não possuem muito espaço próprio. As cooperativas agrícolas utilizam bastante esse tipo de armazenagem de grãos.
Dependendo da sua localização e dos acordos firmados entre os produtores, o armazenamento nesse tipo de unidade pode valer a pena. Para isso, coloque na ponta do lápis todo o custo de construção e manutenção de um silo próprio.
Após isso, considere esse custo de construção com o custo do armazenamento em unidades coletoras. Lembre-se de considerar também as vantagens e desvantagens em relação à estratégia de venda em cada uma dessas situações.
Qual a diferença entre silo e armazém?
Silos e armazéns são estruturas que podem ser confundidas, porém, são bastante diferentes. Há maior confusão quando falamos de silos permanentes e não de silos bags, por exemplo. Abaixo listamos algumas dessas diferenças entre silos permanentes e armazéns:
- Formato: silos normalmente são estruturas redondas e com estrutura vertical, enquanto os armazéns são normalmente retangulares e horizontais;
- Material: enquanto os silos podem ser feitos de material, chapas de metal, concreto ou tijolos, os armazéns são feitos de alvenaria;
- Estocagem: os silos são usados para estocagem de grãos à granel, enquanto os armazéns podem receber grãos à granel (armazém graneleiro) ou em sacaria;
- Maquinário: os silos são preenchidos através de elevadores ou mesmo do caminhão graneleiro enquanto para armazéns graneleiros há a necessidade de máquinas para movimentação dos grãos.
Cada tipo de estrutura tem suas vantagens e desvantagens e o produtor deve decidir o que usar de acordo com fatores como: nível de investimento, funcionalidade, nível tecnológico, espaço disponível, previsão de volume de estocagem, dentre outros.
Armazéns normalmente têm maiores riscos com entrada de animais, vazamentos de água e tem menor versatilidade na movimentação de grãos. Porém, são mais baratos e rápidos de serem construídos, além de comportarem maior volume de grãos.
O armazenador de grãos em silo próprio compensa?
Exemplo simples, apenas para refletirmos, seria uma unidade de armazenagem de sementes ou grãos de 50 mil sacas. Se o produtor consegue vender com R$ 2 a mais por saca no momento que achar melhor, isso daria R$ 100 mil a mais de rentabilidade.
Este valor poderia ser usado para quitar a parcela do investimento feito com aquisição da unidade armazenadora em agências financiadoras. Com uma média nacional de produção de grãos, em 5 anos esta unidade armazenadora se paga com investimento feito.
É claro que nem sempre encontramos oportunidades de mercado sempre acima com o armazenamento. Mas fica claro que o poder de barganha e a sua independência de estratégia é muito maior, podendo resultar em rentabilidades muito maiores.
Como fazer controle de custo dos silos com tecnologia?
Os silos são estruturas mais ou menos custosas, a depender do tipo que você escolher. Caso você decida implementar um silo na sua fazenda, é necessário ter na ponta do lápis o controle desses custos.
Nesses casos, contar com a tecnologia é fundamental para não dar margem para o erro. Hoje em dia há muitos usos da tecnologia no armazenamento de grãos. Alguns pontos em que a tecnologia pode ser útil são:
- Gestão de custos e tempo de payback do investimento;
- Sensoriamento dos produtos e lotes;
- Rastreabilidade do produto e sua qualidade;
- Organização de colheita de talhões diferentes;
- Controle de entrada e saída nos estoques de grãos;
- Monitoramento do mercado e preços de venda de commodities;
Com o software de gestão rural Aegro você tem um controle detalhado desses gastos e da quantia exata armazenada, isso porque o sistema integra e simplifica o gerenciamento do campo ao escritório.
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Como evitar perdas no armazenamento de soja, milho e outros grãos?
Alguns cuidados são cruciais para a boa manutenção das características dos grãos durante o armazenamento, evitando deterioração do produto e perdas financeiras.
- Limpeza da unidade de armazenamento: realize a desinfecção das unidades: baixo custo e alta eficiência;
- Verifique a umidade dos grãos: a umidade da massa de grãos deve ser medida no momento da entrada dos grãos na unidade de armazenamento e, periodicamente, durante o armazenamento. A umidade aliada à temperatura intensifica a perda de qualidade dos grãos.
- Monitoramento de temperatura e aeração: esses dois fatores são essenciais para a manutenção da qualidade dos grãos. Tanto a temperatura quanto a aeração podem variar de acordo com a região em que seus grãos estão armazenados.
- Monitoramento de pragas e roedores: o monitoramento constante da unidade armazenadora é fundamental, pois permite a verificação de infestações por insetos; pragas; roedores; e até mesmo pássaros, no momento inicial, impedindo grandes perdas.
- Tratamento da unidade: realizar o tratamento preventivo com a aplicação de inseticidas e até mesmo eliminação de pragas presentes nos grãos e muitas vezes invisíveis a olho nu. Opte por inseticidas residuais de contato ou pelo expurgo.
Conclusão
Antes da armazenagem de grãos, é importante que você identifique todos os custos (financeiros e de mercado) e vantagens dentro de sua realidade.
Softwares de gestão ou de planejamento de gastos são ferramentas tecnológicas que podem te auxiliar muito na escolha da melhor solução para o armazenamento da sua produção agrícola.
Assim, com todas essas informações e apoio de profissionais e empresas capacitadas, tenho certeza que tomará uma decisão mais consciente e a melhor para sua empresa rural!
Armazenagem de grãosgerenciamento
Sou engenheiro eletricista formado pela UNIFEI e engenheiro-agrônomo formado pela UFLA. Mestre e doutor em agronomia/fisiologia vegetal pela UFLA e PhD em ciências do ambiente pela Lancaster University. Atualmente desenvolvo pesquisa na área de fisiologia de culturas agrícolas pela UFLA.