Os nematicidas desempenham um papel crucial na agricultura moderna, contribuindo para o controle efetivo de nematoides, organismos microscópicos que podem causar danos significativos às mais diversas culturas.
No Brasil, estima-se que uma em cada dez colheitas seja perdida devido aos danos silenciosos causados pelos nematoides no solo. O diagnóstico muitas vezes ocorre apenas quando os danos já atingiram níveis significativos, com uma população expressiva desses patógenos, resultando em perdas acentuadas.
Apesar de serem animais diminutos, os nematoides habitam diversas camadas do solo e têm a capacidade de permanecer viáveis por longos períodos.
Uma vez que a infestação ocorre, torna-se crucial realizar anualmente o controle da população desses patógenos, safra após safra. Além disso, por serem patógenos polífagos, têm a capacidade de se alimentar de várias culturas, incluindo espécies de plantas daninhas.
Se você está envolvido na agricultura ou simplesmente busca entender mais sobre esse tema, continue a leitura para obter insights valiosos.
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O que são nematicidas, afinal?
Os nematicidas, sejam eles de natureza química ou biológica, constituem ferramentas estratégicas desenvolvidas com o propósito específico de controlar nematoides, organismos microscópicos que estabelecem seu habitat no solo.
Estes vermes, apesar de seu tamanho diminuto, exercem um impacto substancial no desenvolvimento das plantas, sendo capazes de gerar danos significativos às mais diversas culturas de interesse agrícola.
Sua presença interfere diretamente na absorção de nutrientes essenciais, desencadeando uma cascata de efeitos adversos. Essa interferência pode resultar na redução do crescimento das plantas e, em casos mais severos, culminar na morte das culturas.
Os nematoides, devido à sua natureza parasitária, podem provocar diversos danos e sintomas nas plantas, comprometendo seu desenvolvimento e saúde, como:
Danos nas raízes
Meloidogyne spp. (nematoides das galhas): esse gênero causa a formação de galhas nas raízes, levando à deformação, redução da capacidade de absorção de água e nutrientes pelas raízes, nanismo, murcha (principalmente em períodos secos), clorore e outros sintomas de deficiência nutricional.
O resultado é um crescimento comprometido e, em casos severos, o enfraquecimento geral da planta, afetando a qualidade e rendimento da cultura.
Lesões e envelhecimento precoce
Pratylenchus spp. (nematoides das lesões radiculares): ao se alimentarem das células das raízes, esses nematoides causam lesões e necrose ao longo do sistema radicular, resultando no comprometimento das raízes (sistema radicular subdesenvolvido, com tonalidade escura) e, consequentemente, na absorção de nutrientes e água essenciais para o desenvolvimento saudável das plantas.
As plantas atacadas tendem a ser de menor porte e manifestam murcha especialmente nas horas mais quentes do dia.
Redução na massa radicular
Heterodera spp. (nematoides cistoides): esses nematoides formam cistos nas raízes, levando à diminuição da massa radicular e prejudicando a capacidade da planta de sustentar seu crescimento e desenvolvimento adequados.
Em soja, Heterodera glycines é responsável pelo nanismo-amarelo-da-soja, que tem como sintomas principais a clorose e a redução do porte das plantas.
Estresse hídrico e murcha
Rotylenchulus spp. (nematoides reniformes): esses nematoides induzem a formação de galhas nas raízes, resultando em um sistema radicular debilitado. Isso pode levar a um estresse hídrico nas plantas, manifestado por murcha e diminuição da turgidez foliar.
A identificação e a determinação da espécie ou raça envolvida são cruciais para a implementação de estratégias eficazes de controle, incluindo a escolha apropriada de nematicidas e práticas de manejo integrado.
O conhecimento específico dos danos causados por diferentes nematoides possibilita uma abordagem mais direcionada e eficiente na proteção das culturas contra esses parasitas.
Para que servem os nematicidas?
Os nematicidas são utilizados para prevenir e controlar infestações de nematoides, protegendo as plantas contra os danos causados por esses patógenos.
Sua aplicação é fundamental em áreas com infestações identificadas, em culturas de grande importância econômica, como cereais, frutas, legumes e hortaliças.
Além de proteger as plantas, o uso de nematicidas contribui para o aumento da produtividade agrícola e para a preservação da qualidade do solo.
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Existem diferentes tipos de nematicidas disponíveis no mercado, cada um com características específicas. Os principais incluem:
Nematicidas químicos
- São compostos por substâncias químicas sintéticas;
- Atuam diretamente sobre os nematoides, interrompendo seus processos metabólicos;
- Exemplos incluem avermectina, benzamida, neonicotinóides, entre outros, a depender da espécie e até mesmo raça identificada na área de cultivo;
- Para tratamento assertivo é indispensável o auxílio de um Engenheiro Agrônomo.
Nematicidas biológicos
- Baseiam-se em organismos vivos para controlar nematoides;
- Utilizam microrganismos benéficos ou parasitas naturais;
- Exemplos incluem bactérias do gênero Bacillus e fungos entomopatogênicos como os do gênero Trichoderma.
Nematicidas orgânicos
- Derivados de fontes naturais, como óleos essenciais e extratos vegetais;
- Oferecem uma abordagem mais sustentável ao meio ambiente.
A escolha do nematicida dependerá da gravidade da infestação, do tipo de cultura e das considerações ambientais.
Como os nematicidas agem
O modo de ação dos nematicidas varia de acordo com o tipo utilizado. Em geral, essas substâncias interferem nos processos fisiológicos dos nematoides, resultando em sua incapacitação ou morte.
Segundo o IRAC (Comitê Brasileiro de Ação à Resistência a Inseticidas), os nematicidas agem danificando ou interferindo no:
- Sistema nervoso dos nematoides;
- Respiração;
- Crescimento e desenvolvimento;
- Mecanismos desconhecidos.
Como utilizar nematicidas de forma eficiente
A correta aplicação dos nematicidas é essencial para assegurar a eficácia e mitigar as perdas ocasionadas pelos nematoides nas lavouras. Contudo, é fundamental realizar uma identificação precisa das espécies de nematoides presentes na área, assim como de suas raças.
Isso se torna crucial, uma vez que as cultivares resistentes utilizadas na lavoura frequentemente são direcionadas a raças específicas, deixando lacunas na proteção.
Da mesma forma, os nematicidas apresentam eficácia variável em relação às diferentes raças, destacando a necessidade de uma identificação precisa para direcionar adequadamente o uso do nematicida, seja ele químico ou biológico.
Essa abordagem, aliada a outros manejos como a rotação de culturas, é fundamental para garantir um controle eficiente. A seguir seguem algumas orientações cruciais para um controle eficiente de nematoides:
Identificação da Infestação
- Antes de aplicar qualquer nematicida, é crucial identificar corretamente o tipo de nematoide presente e avaliar a extensão da população do patógeno.
Escolha do nematicida adequado
- Com base na identificação do nematoide, selecione o nematicida mais apropriado para o controle efetivo da raça, ou raças que estão presentes na lavoura, especialmente aquelas em maior população;
- Além disso, é fundamental que estratégias conjuntas para um manejo integrado de pragas e doenças (MIPD), sejam tomadas, para potencializar o controle exercido por meio da aplicação de nematicidas.
Dosagem e diluição
- Siga rigorosamente as instruções do fabricante quanto à dosagem e diluição do produto, especialmente no que diz respeito a reaplicação em safras subsequentes;
- Após a infestação de uma área, a população dos nematoides deve ser controlada safra após safra, tendo em vista que esses patógenos são capazes de utilizar inúmeras espécies de plantas como hospedeiras.
Época e método de aplicação
- Aplique os nematicidas na época apropriada, considerando o ciclo de vida dos nematoides e as condições climáticas, via tratamento de sementes, pulverização direcionada ao sulco de plantio.
Monitoramento pós-aplicação
- Realize monitoramentos regulares para avaliar a eficácia do tratamento e realizar ajustes, se necessário;
- Em cultivos sucessivos com espécies de plantas hospedeiras, é fundamental que o controle permaneça sendo realizado por meio da aplicação de nematicidas, mantendo sempre a população do patógeno abaixo do nível de dano econômico (NDE), o qual determina que as perdas serão superiores ao custo do controle empregado.
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Cuidados importantes para um controle eficiente
Além das práticas de aplicação, alguns cuidados são essenciais para garantir um controle eficiente de nematoides, especialmente o emprego do MIPD:
Rotação de culturas
- Pratique a rotação de culturas para interromper o ciclo de vida dos nematoides e reduzir sua população no solo.
Uso sustentável
- Opte por nematicidas de baixa toxicidade e que causem impacto mínimo ao meio ambiente.
Manejo integrado de pragas
- Adote estratégias de manejo integrado, combinando o uso de nematicidas com práticas culturais, biológicas e mecânicas.
Monitoramento contínuo
- Mantenha um sistema de monitoramento contínuo para identificar precocemente sinais ou sintomas de infestação e agir prontamente;
- Sintomas como manchas em reboleiras, amarelecimento de parte aérea em plantas presentes em partes da área, ou até mesmo menor tolerância ao estresse hídrico, podem ser indícios da presença de nematoides na lavoura, exigindo coleta de amostras para determinação dos agentes causais;
- As amostragens realizadas na área devem ser realizadas por um profissional, de forma correta e devem ser imediatamente encaminhadas a um laboratório de análise de solo, especialista na identificação de nematoides. Atualmente, existem inúmeros laboratórios em diversas regiões produtoras.
Conclusão
Os nematicidas desempenham um papel vital no controle de nematoides, garantindo a saúde das plantas e a produtividade agrícola.
Ao compreender os diferentes tipos de nematicidas disponíveis, seus mecanismos de ação, métodos de aplicação e cuidados necessários, os agricultores podem implementar estratégias eficazes para o manejo desses parasitas.
A busca por soluções sustentáveis e integradas é fundamental para preservar a saúde do solo e promover uma agricultura mais resiliente.
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Escrito Por
Bruna Rohrig
Engenheira Agrônoma, Mestra em Fitossanidade, área de concentração fitopatologia pela UFPel, Doutoranda em Fitotecnia pela UFRGS, área de concentração sanidade vegetal. É redatora técnica de conteúdos agro. Tem experiência e interesse em temas relacionados ao diagnóstico e controle de doenças de plantas, pós-colheita de grãos e sementes, grandes culturas e agricultura de precisão.