Pesquisadores do RCGI publicam artigo detalhando projetos a fim de identificar e quantificar as melhores práticas agrícolas para o sequestro de CO2
No esforço mundial para combater a mudança climática, a agricultura tem um papel essencial — em especial, a brasileira, com o seu vasto território e biomas diversos. Mas, apesar dos avanços crescentes de práticas sustentáveis na agricultura brasileira, ainda há muitas oportunidades de melhorias, por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e também remoção de carbono atmosférico e sequestro de CO2 no solo.
O Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia constituído pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Shell e sediado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), criou em 2021 um programa voltado para soluções baseadas na natureza e publicou recentemente um artigo detalhando os avanços dos projetos com os quais pretende contribuir para que a agricultura ajude o Brasil a atingir suas metas (NDCs) junto ao Acordo de Paris.
“É preciso passar de sistemas convencionais baseados em monocultura para sistemas integrados, que envolvem mais de um componente (culturas anuais, animais e/ou árvores) em uma mesma área, que forneçam diversos serviços ecológicos, entre eles o sequestro de carbono”, escrevem os autores do artigo, publicado na revista Green and Low-Carbon Economy.
Mais de 600 milhões de toneladas de GEE brasileiros são provenientes da fermentação entérica, do cultivo de arroz, da gestão de resíduos animais, da queima de resíduos agrícolas e de solos manejados de forma inapropriada, informam eles. Sistemas integrados entre lavoura, pecuária e floresta; plantio direto; plantas de cobertura, uso de resíduos orgânicos; controle biológico de pragas; e fertirrigação são algumas das técnicas sustentáveis citadas que podem levar as fazendas a vender, além de sua produção agropecuária, os “créditos de carbono”.
De acordo com os autores, a saúde do solo aumenta a capacidade de sequestro de CO2 no interior daquele solo ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento socioeconômico em razão da produtividade maior no longo prazo. A transição para projetos regenerativos pode, assim, contribuir para o país cumprir as metas de emissão do país, ressaltam.
“O Brasil tem a oportunidade de promover a bioeconomia circular sustentável e, fazendo isso, assumir uma posição de potência agroambiental”, concluem os pesquisadores, todos da USP.
O artigo foi escrito a partir de dados coletados em um evento presencial do RCGI realizado na ESALQ/USP, em Piracicaba, com os pesquisadores de universidades e instituições de todas as regiões do Brasil que participam do Programa Nature Based Solutions (NBS).
“Fizemos uma pesquisa participativa com os integrantes do NBS para saber deles os resultados que tinham até o momento e as perspectivas com relação a esses resultados”, conta Danielle Mendes Thame Denny, pesquisadora do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, e primeira autora do artigo.
“Os pesquisadores do RCGI que integram o NBS estão espalhados pelo país justamente para termos a coleta de dados, dos solos, das pastagens, dos sistemas integrados, com biomas diversos. Nesse levantamento apenas o bioma amazônico ficou de fora, pois é estudado por outro grupo dentro do RCGI.”
O programa deve durar ao mínimo cinco anos e inclui a adoção de alta tecnologia em suas investigações, com o uso de satélites e dos equipamentos do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, no interior paulista, para a análise dos solos.
“Quando aplicamos uma técnica de manejo sustentável, além de conseguirmos mais produtividade com menos custo, há toda uma questão de longo prazo, com água, com saúde de solo, com mais biodiversidade”, afirma Denny.
“Há uma série de serviços ecossistêmicos que na verdade são externalidades positivas. Acabam sendo multiplicadores dos efeitos positivos da implementação daquela técnica de agricultura sustentável.”
Os pesquisadores apontam que um quadro regulatório governamental pode ser uma força motriz para essa transição na agricultura e citam exemplos de instrumentos que podem ser usados para criar valor econômico para a agropecuária sustentável. Entre eles, estão pagamentos por serviços ambientais; normas voluntárias de sustentabilidade (acordos privados entre produtores, certificadoras e selos de qualidade); letras de crédito do agronegócio (LCA) verde; financiamento verde por certificados recebíveis do agronegócio (CRA).
Os autores defendem que o país deve dirigir suas estratégias políticas para aumentar a sinergia entre os negócios sociais e ambientais, promovendo uma transformação de longo prazo para uma agricultura mais sustentável, circular e tecnológica.
“A saúde do solo é um dos principais pilares para atingir esses desafios complexos. Solos saudáveis são mais produtivos e resilientes, fazendo dos sistemas agrícolas integrados menos vulneráveis à mudança climática nas próximas décadas”, concluem.
“Os projetos de NBS do RCGI trabalham na produção de dados empíricos para a tomada das melhores decisões e para transformar ciência e tecnologia em ação, coordenando, portanto, as intervenções técnicas e políticas de alto impacto que atendam as necessidades de todos os atores dos setores agrícolas.”