Levantamentos da Aprosoja Mato Grosso já apontaram um panorama geral da quebra na safra de soja provocada pela falta de chuva. Entretanto há regiões que foram impactadas de forma mais severa e quebra média prevista de 21% foi superada.
Estes vários cenários que compõe a safra mato-grossense são visitados na segunda a temporada da série Mato Grosso Clima e Mercado, produzida pela Aprosoja Mato Grosso, que visita as lavouras in loco.
A primeira parada da comitiva composta pelo Presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, Gerente de Relacionamento da Aprosoja MT, Evandro Carmo Thiesen e ainda da Analista de milho do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Milena Habeck da Costa.
“Nesta segunda temporada vamos encontrar as máquinas no campo colhendo, vamos poder trocar ideias com os produtores e saber qual era a expectativa de produtividade inicial, como está ocorrendo a colheita e quais os impactos que a estiagem causou na safra da soja”, explica o Presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber.
Nova Mutum – Replantio e quebra de 21%
A expedição começa pela região norte do estado, pelo município de Nova Mutum, onde o presidente da Aprosoja MT, assume o papel de produtor e sente os impactos da fata de chuva na lavoura de soja.
“Estamos aqui em um talhão que já é um replantio, por sorte é uma variedade superprecoce, eu fiz o replantio no cedo. Tive que replantar 17% da minha área devido à falta de chuva, algo que há mais de 10 anos não acontecia dentro da lavoura. Em relação ao ano passado as condições foram as mesmas, foi irrigado a mesma variedade, o mesmo trato, inclusive até o investimento em fertilizantes maior, porque eu tinha feito uma correção, porém a produtividade 21% menor, ou seja, não foi só o fator hídrico, mas também o fator da temperatura que também afetou a produtividade”, explica Lucas.
Ele relata ainda que em todo o estado a falta de chuva ocorreu na mesma intensidade e por isso a pesquisa da Aprosoja MT que ouviu mais de 900 produtores e todas as regiões projetam uma média semelhante. “uma questão que preocupa é que mesmo que chova bem agora não é garantida uma boa safra pra essas lavouras de soja semeada mais tarde, primeiro por conta do fotoperíodo, fora da época ideal e segundo por pressão de praga, se tiver excesso de chuva pode ser a ferrugem asiática e se tiver a falta de chuva pressão de mosca branca e outros insetos”, alerta.
Outra preocupação levantada pelo produtor é com relação ao plantio da safra de milho. “A minha área de milho que eu faço todos os anos eu ainda vou conseguir, mas a grande maioria dos produtores vão semear um pouco fora da janela”, afirma.
Lucas do Rio Verde – quebra de 35%
Depois de Mutum, a expedição segue rumo a Lucas do Rio Verde e por lá a situação é ainda mais grave. Na fazenda da família Barzotto a quebra supera a média estadual. “Diante da falta de chuva nós já tínhamos uma expectativa de perda de 20% nesta safra e infelizmente essa expectativa foi superada, nós estamos contabilizando quebra de 35%. Provavelmente não vamos conseguir nem empatar o custo da soja. Apesar da volta irregular das chuvas, os volumes não foram suficientes para recuperar a nossa produção. A situação foi agravada pelo calor. Passamos mais alguns períodos de dias super quentes, o que acabou dizimando ainda mais a lavoura e levando a uma quebra muito superior à que a gente imaginava na época. Todo esse tempo que estamos plantando aqui nunca vimos isso acontecer na nossa lavoura. Investimos muitos para que o solo pudesse aguentar estresse hídrico, mas um cenário igual este ano nós nunca tínhamos passado”, conta o produtor Alexandre Barzotto.
A quebra ainda mais significativa que a média estadual não é exclusividade da lavoura da família Barzotto, o Supervisor de relacionamento da Aprosoja, Marcio Martins, relata que a região como um todo foi duramente impactada pelas condições climáticas. “O panorama do que eu tenho visto da região é lamentável, produtores falando da redução da produtividade, em média de 25 a 30% na área. O atraso das chuvas foi essencial para diminuir essa produtividade esperada. Produtores que plantaram um pouco mais cedo, relataram a falta de chuva na fase de enchimento de grão. Quem conseguiu plantar um pouco mais tarde conseguiu uma chuva até considerável na parte de enchimento de grão e com isso melhorando um pouco a produtividade”, observa.
Sorriso – produtividade de 20 sacas/hectare
A terceira parada da expedição foi em Sorriso. Na Comunidade do Barreiro, o produtor, Diogo Damiani, também atribui a quebra significativa na safra à falta de chuva aliada às ondas de calor. “A safra 23/24 se tornou uma safra muito desafiadora. Desde o início do plantio nós não recebemos bons volumes de chuva, na medida que a soja foi se desenvolvendo em outubro e novembro tivemos índices de chuva muito abaixo da média. Com isso, a expectativa já era de queda de produtividade e hoje estamos vendo isso. Tem produtores que estão colhendo muito mal, em torno de 15, 20, 25 sacas por hectare. Aqueles produtores que receberam boas chuvas estão tendo produtividades um pouco mais satisfatórias, mas as lavouras também por foram impactadas pelas altas temperaturas, então por mais que teve umidade no solo, o calor acabou também afetando um pouco a produtividade. A quebra na região de Sorriso deve ser de 15 a 20%”, aponta.
Preocupação com a safra de milho
O primeiro capítulo da série chega ao fim. E além da constatação da quebra significativa na safra de soja o cenário atual também traz preocupação com relação à safra de milho. “Passamos por três municípios, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso. Pudemos ver os impactos significativos na safra da soja, por conta da falta de chuva. Vários relatos de baixa produtividade, em alguns talhões que receberam chuvas mais generosas, temos um resultado um pouco melhor que a média, mas são situações pontuais. E ao mesmo tempo que ocorre a colheita da soja, as lavouras de milho da segunda safra vão sendo instaladas, no geral em boas condições com umidade ideal para a cultura do milho, mas sem uma empolgação com a cultura do milho o cenário econômico não está tão atrativo então o produtor instala a cultura, mas de uma forma cautelosa”, afirma o Gerente de Relacionamento da Aprosoja MT, Evandro Carmo Thiesen.
A Analista de milho do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Milena Habeck da Costa, aponta que a preocupação do produtor é com a rentabilidade, que neste momento ainda é incerta com a cultura. “Já observamos muitas áreas com o início da semeadura perspectiva de mercado ainda bem aflorada, produtores receosos com a rentabilidade, mas aí a gente vai continuar acompanhando essa evolução ao longo das próximas semanas”, conclui.