A nutrição é um dos fatores mais importantes para a produção de bovinos leiteiros. Estabelecer o manejo nutricional, sanitário, reprodutivo e condições de conforto animal adequados, é essencial para garantir o bom desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, além de sua saúde e bem-estar.
As exigências nutricionais dos bovinos variam de acordo com a fase de produção, sexo, peso corporal, condições ambientais e outros fatores.
Para atender às necessidades dos animais, é importante fornecer uma dieta balanceada, que contenha todos os nutrientes essenciais em quantidades adequadas.
Os objetivos ao se formular rações para vacas leiteiras, são propiciar aos animais condições para produzir altas quantidades de leite, teores elevados de gordura, proteína e lactose, compatíveis com o sistema de produção adotado, assim como permitir que tenham escore de condição adequados para cada fase do ciclo produtivo e alta eficiência reprodutiva.
Consumo de alimentos
Um dos fatores determinantes para o sucesso do programa nutricional é garantir que a vaca leiteira apresente consumo adequado de alimentos, não bastando apenas oferecer alimentação balanceada para os animais. Vários fatores relacionados ao manejo nutricional diário da propriedade possuem reflexo direto na ingestão de alimentos pela vaca, como:
- Manejo pré-parto;
- Escore de condição corporal (ECC);
- Peso corporal;
- Qualidade da forragem;
- Balanceamento das dietas;
- Manejo de cocho;
- Disponibilidade de água de boa qualidade;
- Problemas de casco;
- Agrupamento dos animais;
- Ambiente e condições de conforto dos animais, entre outros.
Figura 1. Fatores que afetam a IMS em vacas em lactação e a importância relativa destes. Fonte: Roseler (1998).
Mesmo com os avanços no conhecimento das áreas de nutrição, formulação e balanceamento de dietas, como a adequação de proteínas degradável (PDR) e não degradável (PNDR) no rúmen, balanceamento de aminoácidos essenciais, ajustes nos carboidratos fibrosos e não fibrosos e o uso de aditivos nas rações, o aumento na ingestão de matéria seca pode não surtir efeito positivo em produção de leite. Isso tudo em razão dos fatores relacionados aos manejos nutricionais inadequados, surtindo efeitos negativos sobre o consumo dos animais.
No caso de animais mantidos em sistemas de pastagens, apesar da produção menor de leite, o desafio em busca da otimização do consumo não é menos importante que nos sistemas em confinamento.
O manejo do solo, planta e animal são extremamente complexos e refletem diretamente no consumo de forragem do animal.
O manejo da forragem possui grande impacto no consumo afetando na capacidade de colheita da forragem. A proporção de folhas e hastes, a altura e a densidade são os fatores que, além de alterar o consumo, também podem alterar a estrutura do pasto.
O consumo de matéria seca (CMS) pelos bovinos é controlado por dois mecanismos:
- Controle físico: é realizado por sensores localizados no rúmen, que monitoram o volume e a distensão do órgão. Quando o rúmen está cheio, os sensores enviam sinais ao cérebro, que reduzem o apetite do animal. Este mecanismo atua quando a digestibilidade do alimento e inferior a 68%.
- Controle quimiostático: é regulado pela ingestão de energia do animal, sendo este mecanismo acionado quando a digestibilidade da dieta é superior a 68%. O consumo de alimento começa a cair, mas em função da sua densidade energética alta, o consumo de energia continua crescendo inibindo o consumo dos animais.
Figura 2. Regulação do consumo de alimentos. Fonte: Hafez e Dyer (1969).
Os alimentos de baixa digestibilidade são os que exercem as maiores restrições na ingestão de matéria seca devido a sua lenta passagem através do rúmen e do sistema digestivo. O rúmen possui receptores de tensão e de estiramento em suas paredes, que afetam negativamente a ingestão de matéria seca, de acordo com o volume e o peso da digesta acumulada.
As vacas leiteiras são animais de alta exigência nutricional. Durante a lactação, para produção de leite, grande parte dos nutrientes ingeridos são destinados para esta finalidade, já no caso de animais jovens, os nutrientes serão destinados para o crescimento e desenvolvimento. Para isso é necessária uma dieta balanceada com quantidades adequadas de nutrientes e de boa qualidade.
Os nutrientes exigidos pelos bovinos são energia, proteínas, minerais e vitaminas, sendo a energia o nutriente de maior quantidade, seguido das proteínas, minerais e por último as vitaminas.
Energia
A energia pode ser obtida a partir do metabolismo de carboidratos, seguidos de lipídeos e das proteínas. Existem várias medidas de energia, como energia bruta, energia digestível, energia metabolizável e a energia líquida.
Energia Bruta (EB) é a energia total gerada por um alimento. Parte da energia bruta consumida pelo animal é digerida e absorvida pelo trato gastrointestinal, enquanto a fração não digestiva é excretada através das fezes. A parte da energia bruta digerida é denominada Energia Digestível (ED). Parte da energia digestível é perdida na forma de gases e através da urina. A diferença entre a energia digestível e as perdas, é denominada de Energia Metabolizável (EM).
Por meio dos processos de fermentação dos alimentos no rúmen, digestão e absorção nos intestinos, síntese de compostos nos tecidos e síntese e excreção de produtos não utilizáveis, ocorre produção de calor, denominado de Incremento Calórico (IC). A EM é descontada do IC resultando na Energia Líquida (EL). A EL por sua vez pode ser dividida em duas frações:
- Energia gasta com metabolismo basal e atividade voluntária, denominado de Energia Líquida de manutenção (ELm).
- Energia retida na forma de tecido corporal, leite e tecido fetal denominada de Energia Líquida retida (ELr) que também pode ser expressa como energia líquida de lactação (ELI) uma vez que a eficiência de utilização da energia metabolizável é igual tanto para a produção de leite como para o ganho de peso.
Carboidratos
Os carboidratos são os principais componentes das forragens e alimentos concentrados ingeridos pelos bovinos e por isso, constituem as principais fontes de energias para vacas em lactação. Para a nutrição de ruminantes os carboidratos são divididos em dois grupos:
- Carboidratos Fibrosos (CF), que são a hemicelulose e celulose constituintes da parede celular dos vegetais
- Carboidratos Não Fibrosos (CNF), que são o amido, açucares e pectina.
Os CNF são sempre mais digestíveis que os CF.
O procedimento utilizado para a determinação de fibra para os ruminantes é por meio da determinação de Fibra em Detergente Neutro (FDN) do alimento.
Durante a análise bromatológica ao expor o alimento ao detergente neutro, o amido, açúcares e pectina são solubilizados pela solução, permanecendo apenas a fração da celulose, hemicelulose e lignina. Portanto, a fração de FDN é interpretada como a fração de CF.
No rúmen, o processo de fermentação transforma os CF e aos CNF em, principalmente: ácidos graxos voláteis (AGV), acético, propiônico e butírico.
Além disso, são produzidos ácidos graxos de cadeia ramificada, gás carbônio, metano e amônia. O metano é eructado pelo animal e pode representar perda de até 12% da energia ingerida. Os AGV’s representam cerca de 60 a 70% da energia absorvida pela vaca leiteira, podendo ser ainda mais altos em animais mantidos exclusivamente a pasto.
Do total de CF ingeridos, entre 30 a 50% são fermentados no rúmen pelos microrganismos com produção de AGV e outros compostos. Os AGV’s são absorvidos pela parede do rúmen e a fração não digestível no trato gastrointestinal dos CF é eliminada nas fezes. Dos CNF’s, cerca de 95% são fermentados no rúmen para produção de AGV’s. Portanto esses carboidratos são prontamente disponíveis para o crescimento microbiano no rúmen.
Para vacas leiteiras dependendo da fonte e forma de processamento dos grãos que possuem amido, de 40% a 80% do amido ingerido é fermentado diretamente no rúmen (Tabela 1).
O amido não digerido passa para o intestino delgado onde sofrerá ataque das enzimas amilolíticas secretadas pelo pâncreas e intestino do bovino, sendo quebrado até glicose que será absorvida e posteriormente metabolizada no fígado.
O restante não digerido, ao chegar no intestino grosso será novamente fermentado e para produção de AGV’s, os quais serão absorvidos pela parede do intestino e atingem o fígado pela veia porta.
Tabela 1. Digestibilidade do amido do grão de milho sob diferentes métodos de processamento.
Vacas em lactação possuem alta exigência por glicose, sendo a maior parte provinda da gloconeogênse hepática. O fígado utiliza os ácidos propiônicos e o ácido lático produzidos no rúmen e parte dos aminoácidos absorvidos pelo intestino pelo intestino delgado, para sintetizar glicose, que é liberada para os demais tecidos dos animais.
Lipídeos
A principal função de se fornecer lipídeos para bovinos é que eles são ricos em energia.
As forragens de modo geral contêm teores baixos de extrato etéreo, entre 1 e 4%, sendo que ácidos graxos representam menos de 50% deste. As dietas normalmente consumidas pelos bovinos têm entre 2 a 3% de extrato etéreo.
A principal forma de aumentar a densidade energética da dieta com a adição de gordura, é através da inclusão de oleaginosas, como o caroço de algodão ou a soja grão.
Como essas fontes contêm 18 a 20% dei extrato etéreo, a adição de 10% dessas oleaginosas na dieta, aumenta os valores totais da dieta entre 4 a 5% de extrato etéreo na matéria seca.
A adição de gordura é reconhecidamente positiva na dieta de vacas, dadas as condições ambientais e a variabilidade na qualidade de forragens (digestibilidade da fibra como sendo o maior limitante) e a qualidade dos grãos. Porém, deve-se ter cautela em relação ao tipo de gordura que será fornecido às vacas em lactação.
O excesso de gordura insaturada (fontes vegetais) apresenta efeito negativo na função retículo-ruminal, reduzindo a fermentação das frações fibrosas dos alimentos, principalmente volumosos.
Isso induz a uma consequente redução no consumo de MS, resultando também em queda na produção e no teor de gordura do leite.
Mistura de gorduras saturadas e insaturadas representa a melhor opção. Se as gorduras ditas protegidas ou inertes estão sendo fornecidas, é importante conhecer a digestibilidade do produto. Segundo estudos, parece que algumas gorduras ricas em ácido esteárico têm baixa digestibilidade no intestino delgado.
Proteínas
O metabolismo proteico no rúmen é proveniente da atividade metabólica dos microrganismos ruminais sendo que, a estrutura da proteína da dieta é considerada um fator chave deste metabolismo, determinando a susceptibilidade das proteases microbianas e, portanto, a degradabilidade.
A proteína bruta contida nos alimentos dos ruminantes é composta por uma fração degradável no rúmen (PDR) e uma fração não degradável no rúmen (PNDR).
A degradação de proteínas no rúmen ocorre através da ação de enzimas secretadas pelos microrganismos ruminais, transformando a PDR em pepitídeos, aminoácidos (AA) e amônia. Estes compostos nitrogenados serão utilizados para produção de proteína microbiana e multiplicação celular.
Quando a velocidade de degradação ruminal da proteína excede a velocidade de utilização dos compostos nitrogenados para síntese microbiana, ocorre o excesso de amônia no rúmen. Esta amônia atravessa a parede ruminal, chegando ao fígado onde será convertida em ureia e pode ser excretada via urina e leite ou reciclada.
Figura 3. Visão geral do metabolismo proteico em bovinos. Fonte: Wattiaux (2002)
A maioria do suprimento de proteína que chega no intestino delgado em ruminantes é proveniente da síntese de proteína microbiana (PMic), sendo cerca de 60% dos AAs absorvidos no intestino delgado é de origem microbiana e o restante, 40%, proveniente da PNDR da dieta.
A proteína não degradada no rúmen (PNDR), é a segunda maior fonte de AAs absorvidos pelo animal. A PNDR passa pelo rúmen sendo quebrada a AAs no intestino delgado. Esses AAs são absorvidos e utilizados posteriormente pelos músculos e outros tecidos na síntese proteica. Assim, ambas as frações PDR e PNDR são de fundamental importância para a formulação de dietas balanceadas.
No final, a nutrição proteica de ruminantes não se baseia em PB, NNP, PDR ou PNDR, mas sim por AA’s, que serão utilizados pelos tecidos para seu metabolismo.
Por esta razão, o valor nutricional da proteína metabolizável para ruminantes depende principalmente do seu perfil de AA’s. Isso demonstra o porquê da superioridade no uso da PMic pelo metabolismo da vaca, uma vez que este é equilibrado na maioria dos aminoácidos em relação a proteína do leite ou do tecido muscular.
A otimização da síntese de proteínas microbiana no rúmen, representa um uso eficiente da PDR, menor perda de amônia e menor excreção de ureia, menor necessidade de PNDR da dieta e maior fluxo de proteínas metabolizáveis com perfil de aminoácidos adequados para o intestino.
Figura 4. Visão geral dos fatores que afetam a síntese microbiana. Fonte: Kozloski (2011).
Fatores relacionados ao metabolismo ruminal, como taxa de passagem e pH, também afetam a degradabilidade da proteína. O aumento da taxa de passagem, causado por aumento no consumo de matéria seca ou pelo processamento do alimento diminui o tempo de retenção do alimento no rúmen e assim pode aumentar o seu teor de PNDR.
O pH ruminal pode alterar a solubilidade da PB, assim como afetar a digestão ruminal da fibra e interferir com o acesso microbiano à molécula de proteína. Além desses fatores, a concentração de carboidratos da dieta interfere diretamente na síntese de PMic, uma vez que os microrganismos utilizam do esqueleto de carbono proveniente da digestão desses compostos para a formação das proteínas microbianas.
Em resumo, as exigências nutricionais de bovinos leiteiros são complexas e variam de acordo com a fase de produção, peso corpora, ECC, ambiente em que o animal se encontra e outros fatores. Para atender a estas necessidades, é de extrema importância fornecer uma dieta balanceada, para garantir o bom desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, além de saúde e bem-estar.
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