A intensificação da produção leiteira no Brasil trouxe uma nova realidade de crescimento e aumento da produção para as fazendas no país, no entanto, também levou há uma grande sobrecarga do aparelho locomotor dos bovinos.
Com a introdução de sistemas de intensivos em confinamentos visando melhor conversão alimentar, conforto e produtividade dos animais, surgiram também maiores riscos de problemas podais dos animais confinados.
A presença de pisos irregulares, inclinados ou desgastados, presença de úmida excessiva ocasionada por manejos realizados de maneira inadequada ou por má projeção de instalações, objetos perfurocortantes, pedras, e deficiente higienização das instalações são fatores de riscos para as afecções podais dos bovinos que podem acarretar muitos prejuízos para o produtor.
As lesões podais são responsáveis por aproximadamente 90% das claudicações na espécie bovina e seus prejuízos econômicos se traduzem por queda na produção, custo do tratamento, descarte do leite por resíduos de antibióticos, perda de escore corporal, problemas reprodutivos como anestro, maior número de serviço/prenhez, maior intervalo entre partos (IEP), descarte precoce dos animais e maior susceptibilidade a outras doenças.
Uma das formas de prevenir e tratar as lesões podais é o uso do pedilúvio.
Nesse texto discutiremos mais a respeito do pedilúvio, trazendo desde a forma correta de utilização a depender do produto comercial escolhido, o dimensionamento e também os principais erros de utilização.
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O que é pedilúvio?
Pedilúvios são recipientes geralmente instalados em corredores de entrada e saída da sala de ordenha, contendo uma solução desinfetante com a proposta de desinfetar os cascos dos animais. Eles são utilizados tanto para o tratamento de lesões no casco quanto também tem aplicação na rotina e em grande escala no manejo da fazenda.
O principal objetivo é a promover a redução da carga de microrganismos patogênicos, como bactérias e fungos que podem causar infecções nos cascos.
As soluções desinfetantes utilizadas mais utilizadas nos pedilúvios normalmente são as que contém ingredientes como o formaldeído e o sulfato de cobre (CuSO4), ambas com a mesma funcionalidade e diferindo na questão de custo e no tempo de atuação, devido a maior volatilidade que o formaldeído apresenta em comparação ao sulfato de cobre.
Existem vários modelos de pedilúvios com abordagens diferentes de uso, o pedilúvio de passagem, é o mais utilizado no Brasil, nesse modelo os animais passam em fila indiana, na saída da ordenha dos animais em lactação.
Imagem demonstrando um pedilúvio de passagem, onde os animais estão passando pela solução de sulfato de cobre. Fonte: Acervo Rehagro
O uso do pedilúvio é uma medida efetiva de prevenção e controle de problemas podais no rebanho da propriedade, no entanto, devemos ter cuidados com possíveis erros que podem ocorrer durante esse processo:
Diluição Inadequada do Produto
Os produtos utilizados em pedilúvios devem possuir a concentração e diluição adequada, pois caso não sejam respeitados podem provocar lesões irritativas.
A formalina é um dos produtos comumente utilizados, tem como componente ativo o formaldeído, sua concentração é de 40% de formaldeído. Tem excelente efeito bactericida, causa endurecimento do casco e atual como poderoso desinfetante mesmo em banhos contaminados com urina e fezes dos animais.
No entanto, devemos ter alguns cuidados durante a utilização do produto, pelo seu caráter cáustico é irritante para a pele do dígito e tetos dos animais, além de ser extremamente tóxico ao homem e as vacas caso seja ingerido ou inalado.
Juntamente a esses fatores ele é pouco biodegradável e inativado em temperaturas abaixo de 13º C, não sendo recomendado para o uso em lesões abertas da pele. Uma sugestão de utilização desse produto para evitar erros é:
- Utilizar uma concentração de 3% a 5% com a frequência de utilização a depender do desafio da fazenda.
- Drenar e renovar o líquido do pedilúvio quando estiver muito contaminado com barro e fezes. Em geral, a solução deve ser renovada após 200 passadas na mesma solução.
Outro produto muito utilizado é o sulfato de cobre, essa substância tem efeito adstringente, ou seja, precipita proteínas. Quando aplicado sobre a pele lesada, forma uma camada protetora superficial e causa endurecimento da pele, além de diminuir as secreções e ter efeito levemente antisséptico.
Um cuidado muito importante ao escolher o produto é a característica de rápida inativação quando poluída com barro, urina e fezes, devendo, portanto, ser renovada também após cerca de 200 passadas, seguindo o mesmo protocolo da utilização do produto a base de formalina. Quanto a utilização é importante que se tenha uma solução com concentração de no máximo 5% do produto, podendo variar de 3 a 5 %.
Inativação do produto
Outro ponto de atenção no momento da utilização destes produtos é aos riscos de inativação dos produtos. Existem sistemas que adotam a passagem dos animais em uma caixa contendo areia e água corrente na superfície, onde o principal intuito é o de remover o excesso de sujeira dos cascos antes que os mesmos passem pela solução com o produto.
Umas das causas mais comuns de inativação dos produtos utilizados no pedilúvio é o excesso de barro, urina e fezes. Daí a importância em se preocupar com a situação de limpeza dos cascos antes da entrada no pedilúvio, além disso é essencial que seja realizado a troca da solução após a passagem do número determinado por cada solução.
Um manejo inadequado do pedilúvio pode transformá-lo em um importante foco de contaminação, e consequentemente, de transmissão de doenças podais.
Mal dimensionamento do pedilúvio
Outro ponto que pode ser um problema no uso do pedilúvio é o dimensionamento da instalação.
É muito importante que a caixa tenha um comprimento adequado para que o animal possa dar pelo menos dois passos na solução desinfetante.
No caso, por exemplo de um pedilúvio instalado ao longo da seringa ou em tronco instalados na saída da ordenha, a fim de fazer com que os animais deem duas passadas pela solução, as dimensões sugeridas são de:
- 2,5 a 3 m de comprimento
- 70 a 80 cm de largura
- 15 cm de profundidade (7 a 10 cm com a solução).
Profundidade incorreta do pedilúvio
Para garantir que o contato do casco com a solução desinfetante seja efetiva é muito importante nos atentarmos também a profundidade do pedilúvio. A solução deve alcançar a região da coroa do casco do animal.
A dermatite digital, por exemplo, é uma infecção de pele digital localizada com frequência na face plantar do casco do animal, e muitas vezes pode afetar até a sobreunha dos bovinos.
No caso da afecção, o pedilúvio pode ser utilizado como forma de tratamento e também como forma de prevenção.
Por isso, é muito importante que a profundidade do pedilúvio seja de, no mínimo, 15 centímetros de profundidade para garantir que todas as estruturas do casco estejam em contato para a realização do tratamento.
Imagem demonstrando a profundidade do pedilúvio, onde a solução cobre toda estrutura do casco do animal. Fonte: Coagril- informativos
Dermatite interdigital afetando o paradígito ou “sobreunha”. Fonte: NICOLLETI, J. L. M. 2004
Acúmulo de sujidade no casco do animal
Outro fator que tem grande impacto na eficiência do uso do pedilúvio é o grau de sujidade dos cascos dos animais. Uma camada de sujeira muito espessa presente no casco e na pele impede a penetração da solução desinfetante de forma correta, inibindo a ação completa do produto.
Com o objetivo de evitar tal situação é muito importante que tenhamos atenção ao ambiente em que esses animais se encontram. Estudos demonstram que existe uma relação inversa entre a resistência ou dureza do casco e o seu conteúdo em água, isto é, um aumento do conteúdo de água (umidade do ambiente, por exemplo) leva a uma menor resistência do casco e, consequentemente, a uma maior taxa de desgaste.
As solas e paredes dos cascos mais amolecidas permitem que pequenos objetos pontiagudos penetrem com maior facilidade nas estruturas profundas dos dígitos, predispondo a infecções secundárias. Por isso, é muito importante estar atento a alguns pontos que são cruciais quanto ao ambiente e manejos:
- Cuidar do ambiente das vacas, mantendo pisos limpos, de preferência antiderrapantes.
- Garantir o conforto da cama dos animais em sistemas como compost barn ou free stall, pois, a permanência em pé por períodos muito longos agrava os problemas podais.
- Importante manter o local onde esses animais se encontram com o mínimo de exposição à umidade e prezando pelo conforto e bem-estar das vacas.
Acúmulo de sujidades no casco devido ao ambiente. Fonte: Acervo Rehagro.
Frequência do pedilúvio
A frequência do pedilúvio depende do tipo de sistema que os animais se encontram, da rotina de manejo da fazenda, do número de animais e também dos objetivos que a fazenda está buscando.
Dessa forma, existem os mais variados protocolos de frequência do pedilúvio, podendo ser diário com alternância de produtos, em dias alternados ou então semanal.
Usar o pedilúvio como tratamento de lesões
Apesar da possibilidade ser uma prática aliada ao tratamento, o pedilúvio tem seu uso mais relacionado a prevenção das lesões nos cascos.
Quando os bovinos já apresentam lesões é necessário primeiro realizar o tratamento, além de identificar o tipo de alteração do casco como, dermatite digital e interdigital, erosão dos talões, flegmão interdigital, entre outros.
É necessário também a realização de casqueamento de forma preventiva nos animais, visando restabelecer a forma e proporções normais dos dígitos, restaurando a posição dos membros e favorecendo uma distribuição equilibrada do peso do animal e retirar os tecidos córneos comprometidos.
Além disso, é importante a atuação de forma preventiva, onde uma séria de manejos como o manejo de cama e limpeza do ambiente deve ser bem executada a fim de evitar que problemas podais se tornem um desafio dentro da propriedade.
Por fim, é importante ressaltar que o pedilúvio deve ser utilizado de forma regular, com produtos e concentrações adequadas visando garantir a eficácia na prevenção de problemas podais.
Além disso, é fundamental adotar práticas de manejo, incluindo a limpeza das instalações, manejo de cama em casos do sistema de compost barn e também deter de acompanhamento técnico para garantir o bem-estar e saúde dos animais.
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