Uma ferramenta muito útil e simples para avaliação do desempenho produtivo dos animais é o Escore de Condição Corporal (ECC), onde usamos a observação e um padrão visual da estrutura corporal do indivíduo. Essa avaliação visa estimar as reservas energéticas de vacas leiteiras a partir da deposição de tecido adiposo.
Adotar esse manejo como rotina nas propriedades favorece o diagnóstico de doenças, análise de conversão nutricional e condição reprodutiva do animal, visto que essa ferramenta pode ser considerada indicativo de saúde geral e também do potencial reprodutivo e produtivo da vaca.
Nesse texto vamos discutir sobre a avaliação do escore de condição corporal de vacas leiteiras, demonstrando a forma de avaliação, os momentos cruciais para ser realizada a avaliação e principalmente a importância que essa avaliação tem durante os diferentes estágios produtivos da vaca.
Como avaliar o escore de condição corporal?
Uma das propostas mais usadas foi produzida pelos autores Wildman et al., (1982) e Edmonson et al., (1989) onde temos a escala de 1 a 5, com variações de 0,25 pontos:
- 1 (animal extremamente magro)
- 5 (animal extremamente gordo)
Escore de Condição corporal em vacas leiteiras (ECC) – Intervalo de 1 a 5. Fonte: Wildman et al., (1982).
O que deve ser avaliado na inspeção e avaliação do animal?
- Inserção de íleo, ísquio e a base da cauda;
- Acúmulo de tecido adiposo na região costal e do flanco;
- Detectar saliências ósseas (principalmente na região das costelas e garupa).
Imagem ilustrando os pontos a serem inspecionados e avaliados durante a atribuição do escore de condição corporal. Fonte: Adaptado de A.J. Edmondson, I.J. Lean, C.O. Weaver, T. Farver and G. Webster. 1989.
Quando avaliar o escore de condição corporal?
O ECC deve ser avaliado principalmente no momento da secagem, ao parto e no final do Período de Espera Voluntário (PEV) para detectar e buscar corrigir possíveis consequências de doenças metabólicas ou nutricionais.
A cada momento existe um escore que podemos considerar como ideal, ou seja, aquele que esperamos que o animal apresente:
Tabela exemplificando escores desejados em diferentes estágios produtivos da vaca. Fonte: SANTOS, R. M. VASCONCELOS, J. L. M. (2007)
Porque é importante avaliar?
O escore de condição corporal é utilizado de forma frequente em muitas propriedades para avaliação do manejo alimentar, produtividade e bem-estar animal, além disso o ECC é comumente utilizado como parte do manejo reprodutivo, pois vacas que possuem um baixo escore de condição corporal podem ter uma maior dificuldade de emprenhar e também ciclos estrais irregulares e vacas que apresentam um alto escore de condição corporal elevam as chances de desenvolver problemas de saúde, como cetose e distúrbios metabólicos.
Por esse motivo, é importante ressaltar que o ECC se torna uma ferramenta útil em alguns estágios específicos da vaca, como no momento da secagem, no pré-parto e no momento do parto. A avaliação nesses momentos tem como finalidade garantir que as vacas possuam no parto uma condição corporal adequada para que sejam reduzidas as chances da ocorrência de problemas metabólicos no pós-parto.
Sabendo que o período de transição envolve uma série de mudanças metabólicas e fisiológicas na vaca, as quais são consideradas desafiadoras, pois é o momento em que ela estará passando de uma fase gestante não lactante para a fase lactante não gestante.
Diversos estudos demonstram que vacas que parem com ECC baixo estão mais propensas a ter menor eficiência reprodutiva, a maior chance de doenças infecciosas e a uma menor produção de leite na lactação. Por outro lado, as vacas que parem com ECC alto, além de também apresentar uma menor produção de leite na lactação, tendem a ser mais propensas a apresentar partos distócicos e desenvolver cetose e esteatose hepática (fígado gorduroso).
Por esse motivo, é essencial entender a importância que escore de condição corporal da vaca no momento da secagem tem nas oscilações de escore dali em diante, pois existe a tendência de que a vaca que entra no período seco muito gorda perca escore até o parto, e que a vaca que na secagem apresenta um escore reduzido consiga aproximar mais do escore ideal ao parto.
Além desses estudos, outros já demonstraram relações entre a alteração do escore de condição corporal no momento em que a vaca está seca com a ocorrência de doenças uterinas no pós-parto. Onde ficou evidenciado que as vacas que apresentam uma perda de ECC moderada, que mantém ou ganham escore (em pequena magnitude – ajuste de escore para cerca de 3,5) tiveram menor chance em ter doenças uterinas e se tornam menos propensas a receber terapia de suporte e até mesmo tratamentos medicamentosos (antibiótico e anti-inflamatório) em comparação com aquelas vacas que perdem muito ECC no período seco.
Quando se associa o ECC ao Balanço Energético Negativo (BEN), ou seja, período que se caracteriza pela deficiência do aporte energético, devido ao grande gasto energético e reduzido consumo de alimento para suprir essa demanda, sabemos que, as vacas que ganham escore durante o período seco, ou seja, cerca de 60 dias anteriores ao parto, passam a deter de um balanço energético menos negativo, visto que uma possível justificativa seja o maior aporte de energia disponível para sustentar as exigências no período pós-parto.
Em resumo, temos:
- Vacas magras
Apresentam baixa produção de leite na lactação, maior predisposição a doenças metabólicas (ex: cetose) e infecciosas, dificuldade ao parto e podem apresentar atraso do ciclo estral detectado pela ausência de cio (anestro).
Vaca com escore de condição corporal 2. Fonte: Arquivo pessoal Raquel Prates
- Vacas gordas
Maior chance de distocias, doenças metabólicas (Ex: cetose 🡪 esteatose hepática), dificuldade para obter prenhez e também diminuição de produção leiteira na lactação.
Vaca com escore de condição corporal 5. Fonte: Arquivo pessoal João Marques Diniz
Então vale a pena monitorar o ECC do meu rebanho?
A resposta é sim! Esse monitoramento é uma prática valiosa e recomendada na gestão do rebanho, pelo fato de fornecer informações importantes sobre o estado nutricional e a saúde dos animais, o que vai impactar de forma direta no desempenho produtivo. Apesar dessas, existem outras razões que conferem o benefício de monitorar o ECC das vacas:
- Produção de leite = Vacas que possuem ECC inadequado para a estágio produtivo contribui para a redução na produção de leite e minimiza o desempenho do animal.
- Reprodução = O ECC se mantém intimamente relacionado à fertilidade das vacas. Animais com escore inadequado podem ter os ciclos reprodutivos irregulares e maior dificuldade de emprenhar em comparação com vacas em escore corporal adequado.
- Saúde = Vacas com baixo ECC detém de maiores chances de problemas de saúde, dessa forma, esse monitoramento permite a detecção precoce de distúrbios e garante uma intervenção antecipada.
- Manejo nutricional= Monitorar de forma regular o ECC das vacas auxilia na avaliação do programa alimentar do rebanho. Dessa forma, há a possibilidade de ajustar a dieta conforme necessário para que seja garantida a oferta de nutrientes adequados para que o ECC esteja dentro do esperado nos diferentes estágios.
- Bem-estar = Manter os animais com um ECC adequado contribui para o bem-estar geral das vacas, pois em casos onde os animais apresentam um ECC inadequado, os menos podem enfrentar desconforto e estresse.
Entretanto, para que seja realizado o monitoramento e encontrar possíveis desvios é importante que pessoas envolvidas na operação na fazenda estejam treinadas para tal avaliação visual.
Esse acompanhamento sistemático ao longo do tempo permite que ajustes contínuos sejam realizados nos manejos e nutrição, a fim de elevar cada vez mais o desempenho dos animais e o sucesso da atividade.
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