O descarte do leite devido a problemas relacionados à qualidade é um problema enfrentado por produtores e que gera perdas econômicas. Estratégias de qualidade dentro das fazendas precisam ser traçadas para que seja fornecido um alimento seguro para a população.
Dentro deste contexto, é importante entender o conceito de biosseguridade, que se refere ao conjunto de normas e procedimentos destinados a evitar a entrada de agentes infecciosos (vírus, bactérias, fungos e parasitas) no rebanho.
Nesse texto iremos tratar sobre o descarte de leite relacionado com a alteração nos índices de qualidade, tratando a mastite como a principal causadora desse descarte.
Além disso, traremos dicas de como minimizar esse descarte a partir de rotina de manejos de ordenha bem implementados, sobre a importância do monitoramento dos animais e equipamentos de ordenha e também do manejo de secagem e também sobre o ambiente de permanência dos animais.
O leite não-comercial pode conter:
- Colostro (quando não destinado ao banco de colostro);
- Leite de transição;
- Leite oriundo de vacas com mastite;
- Leite de animais em tratamento com antibiótico.
Mastite
É um processo inflamatório complexo da glândula mamária, decorrente da interação entre animal, agente microbiano e meio ambiente e, basicamente, pode ser classificada em dois tipos: a mastite clínica e a mastite subclínica.
Esta doença gera impacto direto na produção de leite porque afeta as células produtoras de leite, causando uma inflamação. Pode gerar lesão das células que sintetizam o leite levando a perdas na produtividade. A inflamação da mastite clínica promove alterações visíveis no leite, podendo também gerar dor, calor, rubor e vermelhidão na glândula mamária.
Quando não se percebe esses sinais, mas há aumento na contagem de células somáticas (acima de 200 mil células/ml), temos a mastite subclínica, que só será possível detectar através da contagem dessas células de defesa (CCS individual ou teste de CMT).
Como reduzir problemas que levam ao descarte do leite?
Para reduzir problemas que proporcionam o descarte de leite devido as questões de qualidade envolve a implementação de boas práticas de manejo, monitoramento constante e ações proativas. Dentre essas estratégias, podemos citar o controle de mastite como um dos principais gargalos e dentro disso práticas relacionadas ao manejo de ordenha.
Para reduzir a mastite na propriedade, a principal medida a ser tomada é trabalhar com estratégias preventivas. Para isso, é importante atentar:
Manejo da ordenha
Práticas de higiene de ordenha
- Análise de qualidade físico química da água: essa análise é crucial para garantir a qualidade de leite e a saúde do rebanho e nela estão inclusos a medição de parâmetros como pH, dureza, sólidos totais dissolvidos. Os resultados dessa análise indicarão se a água está atendendo os requisitos necessários para uma limpeza eficaz dos equipamentos de ordenha.
- Higienização de tanque de refrigeração e equipamento de ordenha: a higienização dos equipamentos e do tanque desempenham um importante papel na garantia da qualidade do leite. Ambas as práticas devem ser realizadas seguindo uma rotina rigorosa frente aos processos, como o enxágue inicial, o qual remove de 90 a 95% dos resíduos de leite e torna essa lavagem facilitada. Para ter eficiência dos produtos de limpeza, existem concentrações adequadas de acordo com o fabricante e também temperaturas adequadas da água que devem ser respeitadas. Uma boa higienização inclui ação mecânica, que pode ser promovido a partir da utilização de escova/vassoura manual e turbulência da solução e água nos sistemas automatizados.
Aplicação de pré-dipping e pós-dipping
Essas aplicações são práticas essenciais na higiene dos tetos antes e após a ordenha, pois tem o intuito de prevenir a contaminação bacteriana, reduzir os riscos de mastite e garantir a qualidade do leite. Dentre as principais dicas sobre essas práticas, podemos citar:
- Seguir instruções do fabricante quanto ao uso, diluição e tempo de contato.
- Ter uma equipe de ordenha treinada para termos a garantia das aplicações do pré e pós-dipping sendo realizadas de forma correta.
Esquema demonstrando a ordem de acontecimento dos processos durante a ordenha. Fonte: Mariana Paula
Monitoramento
- Monitoramento da Contagem de Células Somáticas (CCS): sabemos que vacas sadias e com boa saúde da glândula mamária possuem valor de CCS de até 200.000 células/ml de leite. Quando temos valores mais altos é indicativo de desiquilíbrio da glândula mamária, que muitas das vezes está associada a mastite.
- Rastreamento dos agentes infecciosos: pensando no controle e prevenção de mastite é importante realizarmos o rastreamento dos agentes. Para isso, é feita a coleta de uma amostra de leite do animal que apresenta mastite clínica ou subclínica, ou até mesmo de todo o rebanho para realização da cultura bacteriana e identificação dos principais agentes. Essa identificação específica possibilita uma melhor orientação de tratamento e consequentemente maior chance de cura, além de também ser um indicador para segregação de animais na linha de ordenha a fim de evitar novas contaminações.
- Manutenção adequada de equipamentos de ordenha: o equipamento de ordenha para ter um funcionamento adequado requer periodicamente a realização de manutenções, pois quando o mesmo trabalha com funcionamento inadequado, pode se tornar um fator de risco para o desenvolvimento de mastite. Nesses casos, isso ocorre pelo fato do equipamento irregular, principalmente quando se trata do nível de vácuo, facilitar a contaminação de bactérias entre as vacas no momento da ordenha, aumentar lesões na pele e extremidade do teto e também predispor a entrada de bactérias para dentro do teto.
Manejo de secagem
Sobre o manejo de secagem, é importante que seja realizado de forma correta, pois ele desempenha um papel essencial no controle da mastite e consequentemente na redução de descarte de leite por qualidade.
Nessa fase, que se refere ao período onde a glândula mamária passa por um período de descanso e preparação para a próxima lactação, prevenir novas infecções a partir da adoção da terapia de vaca seca com o uso de antibiótico é fundamental. Esse manejo irá impactar na qualidade do leite produzido na lactação posterior a secagem.
Esquema de como deve ser realizado o processo de secagem das vacas. Fonte: Mariana Paula
Ambiente de permanência dos animais
O cuidado com o ambiente é um dos passos fundamentais nesse processo e é importante que a cama, piquetes, corredores de acesso, sala de espera e sala de ordenha estejam secos e limpos, pois evitando a sujeira e umidade aumenta-se a probabilidade da proliferação de microrganismos. Além disso, é fundamental realizar o manejo de dejetos de forma correta e garantir uma circulação de ar eficiente em galpões.
Quando temos condições inadequadas no ambiente, os riscos de infecções mamárias podem aumentar, o que impactará no bem-estar e na qualidade do leite. A implementação de práticas de manejo consistentes como limpeza de corredores, manejo de cama em sistema de Compost Barn e Free Stall e a atenção a drenagem de piquetes e áreas de descanso das vacas, juntamente com manutenção adequada das instalações podem reduzir significativamente o risco de mastite.
Como podemos avaliar a rotina de ordenha?
A avaliação da rotina de ordenha é uma ferramenta de auxílio na fazenda para identificar falhas de manejo e processos e buscar ajustes e melhoria. Dentro dessa avaliação, alguns pontos podem ser checados:
- Higiene do ambiente de ordenha e dos equipamentos de ordenha
- Manejos pré-ordenha:
- Como está sendo feita a desinfecção com solução pré-dipping dos antes da ordenha?
- Tem sido realizado o teste da caneca com descarte dos três primeiros jatos de leite?
- Qualidade da ordenha:
- O tempo entre a estimulação dos tetos e o acoplamento da teteira tem sido obedecido?
- O tempo de ordenha está adequado para garantir a completa remoção do leite?
- Manejos pós-ordenha:
-
- A aplicação do pós-dipping está adequada? O teto foi inteiramente mergulhado na solução?
- Os animais ao serem liberados da ordenha encontram comida a disposição a fim de que haja a permanência desses animais de pé após a ordenha?
- Como tem sido a avaliação do filtro do leite após a ordenha? Qual o escore desse filtro?
Uma forma simples de avaliação da qualidade da rotina que pode ser feita é através do filtro de leite. Todo o leite ordenhado passa pelo filtro de leite, portanto, representa uma excelente ferramenta para avaliação da limpeza das vacas antes da ordenha, eficiência na higiene dos tetos e identificação de mastite clínica.
Filtros com elevada presença de sujidade e com grande aderência de grumos indicam que as vacas estão sendo ordenhadas com tetos sujos e que o leite proveniente dos casos de mastite clínica não está sendo desviado do tanque.
Uma boa opção consiste em monitorar e comparar o escore dos filtros entre as ordenhas e entre os dias da semana. Com esta ação obtemos parâmetros para identificar oportunidades na melhoria da higiene e qualidade do leite ao longo do tempo.
Imagem ilustrando a disposição dos filtros após cada ordenha no decorrer da semana. Fonte: Acervo Rehagro Leite
Quais outros fatores podem contribuir para o descarte do leite?
A nutrição e conforto das vacas, é um ponto importante para o sistema imunológico do animal, o que o torna eficiente no combate às infecções no geral. Quando temos dietas balanceadas chegando na boca dos animais, teremos nutrientes essenciais desempenhando um papel crucial na saúde da glândula mamária. Além disso, ter um sistema imunológico robusto, contribui para a resistência a doenças, incluindo a mastite, o que diretamente irá contribuir para a redução do descarte de leite.
Pensando no bem-estar das vacas, quando temos ambientes confortáveis, com condições ideias de descanso e espaço adequado, estamos promovendo bem-estar, o que gera como consequência a maior probabilidade das vacas se alimentarem mais e produzirem de forma mais eficiente. Nesses casos de ambientes que promovem a redução do estresse dos animais, termos também uma contribuição para com o sistema imune, o que gera menor chance de problemas de saúde e o descarte de leite.
Por fim, podemos concluir que a higiene geral, os manejos de ordenha, o ambiente e a nutrição são fatores fundamentais e que estão totalmente relacionados ao descarte do leite. Se não trabalhados adequadamente, as vacas ficam susceptíveis ao desenvolvimento de doenças, incluindo a mastite, que afeta a qualidade do leite levando ao descarte devido a tratamento com antibióticos.
O uso de antibióticos em vacas leiteiras, seja para tratamento de casos de mastite clínica, realização da terapia da vaca seca ou tratamentos de outras doenças, necessita de muito controle e atenção para que esse leite com resíduo de antibiótico não seja colocado junto ao leite destinado ao consumo. Por isso é importante estar atento as recomendações gerais quanto ao uso e via de aplicação, dosagem recomendada e período de carência de cada medicamento. Além disso, a separação do leite de vacas com mastite e de vacas que estão utilizando medicamentos que promovem liberação de resíduos no leite e que são impróprios para consumo deve ser rigorosa, pois apresenta riscos à saúde humana, além de gerar penalização para o produtor.
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