No Brasil, 90% da produção pecuária se enquadra na categoria extensiva, ou seja, utiliza pastagens base alimentar para os animais.
Com base nessa informação é possível entender a relevância que as pastagens têm para o setor agropecuário nacional.
Partindo desse pressuposto, surge a grande pergunta.
“Como ter uma pastagem produtiva e longeva?”
A lei da semeadura diz que colhemos exatamente aquilo que plantamos, será que podemos nos embasar nessa ideia quando o assunto é pastagem? É claro que sim. Se ao implantar a cultura que posteriormente será pastejada, as técnicas não forem adequadas, ou seja, se o plantio for mal feito, como será a colheita? Acredito que já imaginou.
Você que quer formar uma pastagem e acredita que a implantação é o momento crucial para definir o sucesso ou insucesso da produção de forragem, em outras palavras, se você quer plantar com técnica para colher com sucesso, vem com a gente que ao final da leitura você saberá exatamente como formar uma pastagem produtiva e duradoura.
Planejamento
Podemos enquadrar as pastagens como cultura perene, portanto, é algo que permanecerá por anos, sendo assim, o planejamento pré-plantio deve ser minucioso para garantir correto estabelecimento que refletirá em uma vida útil maior, alguns pontos são essenciais nesse momento, dentre eles estão:
- Escolha da cultivar que melhor se enquadra nas características edafoclimáticas da região e do seu sistema produtivo;
- Escolha estratégica das áreas onde a pastagem será implantada.
- Realizar análise de solo para posterior interpretação e recomendação técnica;
- Definir calendário de implantação, ou seja, deixar formalizado quando cada etapa da formação do pasto será realizada.
Após o planejamento feito, decisões tomadas, agora é o momento de iniciar a execução do que foi planejado.
Preparo do solo
O preparo é essencial para garantir as condições ideais de germinação para sementes e mudas.
A primeira operação será com arado ou grade aradora, também conhecida como “grade rome”, isso permite que o solo tenha melhor condição de aeração e armazenamento de água, além de ser uma forma de controle das plantas invasoras que estão na área.
Em seguida ocorre o destorroamento e nivelamento da área, por meio do uso de grades niveladoras, que normalmente são passadas 2 ou 3 vezes.
Caso a espécie escolhida seja propagada por sementes, do ponto de vista de preparo, o solo está pronto para o plantio, caso seja por mudas deve se fazer sulcos ou covas onde essas mudas irão ser plantadas.
O solo deve ser preparado no mínimo 90 dias antes do plantio.
Imagem ilustrando uma grade aradora preparando o solo. Fonte: Revista Cultivar.
Calagem e gessagem
Após a interpretação da análise de solo, e a decisão de qual a espécie será utilizada no plantio, é realizado o cálculo de necessidade de calagem e posteriormente, de acordo com o PRNT do calcário escolhido, chegamos na quantidade de calcário por hectare.
A calagem é feita com o intuito de ajustar o pH do solo, além de aumentar o nível de saturação por bases e fornecer cálcio e magnésio.
Em relação à aplicação, metade da quantidade total recomendada deve ser aplicada antes da aração, e a outra metade antes da primeira gradagem, esse processo é realizado 3 meses antes do plantio para que o calcário reaja no solo.
Se caso a espécie escolhida for exigente ou muito exigente, recomenda-se o uso de gesso agrícola (sulfato de cálcio), afim de condicionar o solo nas camadas mais profundas. O mesmo pode ser aplicado mais próximo do plantio, por volta de 30 dias antes.
Imagem demonstrando a aplicação de calcário no solo. Fonte: Galpão Centro-Oeste.
Plantio
Com o solo preparado e a calagem realizada 90 dias antes, agora é a hora do plantio. É recomendado que a semeadura seja feita quando aumentar a frequência de chuvas, portanto, é necessário entender qual o melhor momento onde a frequência pluviométrica é ideal na sua região.
Um ponto essencial é a correta obtenção das sementes ou mudas. No caso das sementes, as mesmas devem ser adquiridas de fornecedores idôneos e devem ter alto valor cultural. Para as mudas, a intenção de se adquirir de fornecedores confiáveis é para que as mudas tenham boa sanidade e o plantio tenha sucesso.
No caso das sementes precisamos definir qual a taxa de semeadura, e para se descobrir essa taxa que é dada em kg/ha, usamos a seguinte equação:
Taxa de semeadura = (kg/ha SPV x 100) / VC da semente adquirida
SPV = Sementes pura viáveis.
VC= Valor cultural.
Existem basicamente dois tipos de semeadura:
- À lanço
- Linha/covas.
A primeira pode ser por meio de avião, implementos específicos ou até mesmo usando espamarramador de calcário, a segunda é por meio de semeadoras de linhas e plantio manual por meio de matracas. Além disso, como já visto, existem algumas espécies que são propagadas de forma vegetativa por mudas, nesse caso o plantio é feito em sulcos.
Independente de qual o método escolhido, o importante é garantir que o equipamento usado esteja bem regulado para que haja coerência entre a taxa de semeadura esperada e a real, bem como, uniformidade de plantio.
Plantio sendo realizado com semeadoras de linhas. Fonte: Cooperativa Comigo.
Realização do plantio por meio de lanço. Fonte: Sementes Santafé
Adubação
A adubação de estabelecimento deve ser feita no momento do plantio, priorizando adubação fosfatada sendo que a dose vai variar de acordo com o nível de produção e fertilidade do solo em questão. Recomenda-se utilizar fontes solúveis e a aplicação no sulco de plantio, no caso do plantio a lanço é importante que haja leve incorporação.
Abaixo temos 2 tabelas retiradas do “Manual de recomendação para uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais (5ª aproximação)”, a primeira mostrando recomendação de adubação fosfatada de acordo com o nível tecnológico e (P-rem), a segunda com recomendação de adubação potássica variando de acordo com o nível tecnológico e disponibilidade de K2O no solo.
Tabela 1: Recomendação de adubação fosfatada para o estabelecimento de pastagens em sistemas de diferente nível tecnológico, considerando a disponibilidade de fósforo de acordo com a textura do solo ou com o valor de fósforo remanescente (P-rem).
Fonte: 5ª aproximação
Tabela 2: Recomendação de adubação potássica para o estabelecimento de pastagens em sistemas de diferente nível tecnológico, considerando a disponibilidade de potássio.
Fonte: 5ª aproximação
Após o plantio e adubação pode ser utilizado o rolo compressor para que a semente e adubo sejam levemente incorporados junto ao solo, garantindo o sucesso na semeadura.
Imagem de rolo compresso utilizado após o plantio. Fonte: S. Hisaeda (2020)
Pós-plantio
É importante acompanhar o desenvolvimento após o plantio e garantir que as etapas de controle de daninhas e insetos, além da adubação de cobertura sejam realizadas de forma assertiva.
A adubação de cobertura deve ser feita em torno de 30 dias após a germinação das sementes ou mudas, onde as plantas germinadas já estarão cobrindo entre 60 e 70% da área. A recomendação é aplicar entre 100 e 150 kg/ha de N parcelados de forma que não passe de 50 kg/ha de N por aplicação.
Em torno de 50 dias após a germinação é recomendado que se faça o pastejo utilizando animais leves, para fazer somente o desponte das plantas.
Sendo assim, agora podemos juntos, responder que para ter uma pastagem produtiva e longeva, é necessário que o processo de formação seja muito bem planejado e as etapas de implantação sejam cumpridas com técnica e utilizando materiais de qualidade, conforme visto acima.
Portanto, com as informações em mãos o próximo passo é colocá-las em prática e garantir o sucesso produtivo da sua propriedade.
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