As doenças causam significativos prejuízos nas lavouras, mas aquelas que atacam as espigas são as que causam maior impacto, pois afetam diretamente os grãos. Entre estas doenças, encontra-se a Brusone, a qual ataca cereais de inverno como o trigo, a cevada, o centeio, o triticale e também o arroz.
Essa doença provoca perdas que podem chegar a quase 100% no arroz e no trigo em safras em que há severa incidência e condições ambientais favoráveis.
Em anos com ocorrência do El Niño e com maior volume de chuvas, a ocorrência da doença é muito mais intensa, exigindo muita atenção do produtor.
Por isso, este artigo vai abordar o que é a brusone, quais os sintomas, quais os danos que ela causa, quais as condições favoráveis e demonstrar práticas para controlar a doença. Boa leitura!
Leia também: Fungicidas: conheça os produtos responsáveis por controlar doenças nas plantas
Saiba o que é a brusone
A brusone é uma doença fúngica de grande importância em cereais de inverno como o trigo e o arroz. Causada pelo fungo Pyricularia oryzae, é considerada uma doença de difícil controle nas culturas.
Na cultura do arroz, representa a doença de maior importância no mundo, ocorrendo em mais de 85 países.
No trigo, dados apontam que os prejuízos podem chegar a 74%, sendo que a doença se encontra distribuída nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e em outros países da América do Sul próximos ao Brasil.
De maneira geral, a incidência da brusone está relacionada às condições climáticas que favorecem o seu desenvolvimento. Dessa forma, a ocorrência é mais comum em regiões com temperaturas acima de 20°C e alta umidade relativa do ar.
Um aspecto importante é que o fungo necessita de pelo menos 10 horas de molhamento foliar para conseguir infectar as plantas. Portanto, longos períodos de chuva é o principal fator que favorece a brusone.
O que causa a brusone?
Como vimos, a brusone é causada pelo fungo Pyricularia oryzae, que também pode ser encontrado como Magnaporthe oryzae, pois é como se denomina o fungo em estádio perfeito, fruto da reprodução sexuada do patógeno.
Existem algumas características importantes de se entender sobre a brusone para poder traçar as melhores estratégias de controle:
- O fungo sobrevive em restos culturais e em plantas daninhas que podem ser hospedeiras;
- A transmissão do fungo pode ocorrer a partir de sementes infectadas, restos culturais contaminados e por esporos (estrutura de reprodução do fungo) produzidos em plantas hospedeiras, que podem ser daninhas ou espécies cultivadas em locais próximos;
- A disseminação dos esporos na lavoura ocorre pelo vento, principalmente;
- Condições climáticas com longos períodos de orvalho, baixa luminosidade e elevada umidade relativa do ar favorecem o desenvolvimento da doença.
A brusone é muito comum em regiões que cultivam cereais de inverno. Em anos com maior ocorrência de chuvas é crucial ficar atento para realizar o controle preventivamente e evitar que ela cause prejuízos severos na lavoura.
A brusone no trigo
Na cultura do trigo, a brusone afeta diversas partes da planta, incluindo folhas, colmos e espigas, mas, apesar disso, ela é considerada uma doença de espiga, pois os danos mais significativos ocorrem no estádio reprodutivo da cultura e refletem na produção e qualidade do grão.
O principal sintoma da brusone é a descoloração (ou branqueamento) das espigas, principalmente na metade superior, resultando em grãos “chochos”.
No ponto de inserção do fungo sob a ráquis é possível observar uma mancha de coloração preta, e a espiga morre acima deste ponto.
Este sintoma nos permite diferenciar a brusone de outra doença muito comum no trigo, a giberela, que também causa branqueamento da espiga, mas, neste caso, ocorre a morte da porção inferior da espiga.
No caso de incidência de giberela, as lesões esbranquiçadas podem ser visualizadas em diferentes pontos da espigueta, podendo haver pontos verdes entre as porções esbranquiçadas.
Já a brusone vai sempre causar a descoloração a partir do ponto de infecção, podendo haver branqueamento de parte ou de toda a espigueta, sem pontos verdes.
Outros sintomas da brusone incluem lesões em plântulas, folhas e folhas bandeira que se caracterizam por manchas estreitas com centro acinzentado e bordas de coloração marrom.
Veja também: Principais doenças do trigo: identificação e controle
Como combater a brusone no trigo?
Existem algumas práticas que podem ser usadas para controlar a brusone, mas é importante lembrar que o controle deve ser sempre baseado no manejo integrado de doenças (MID).
Vamos conhecer as principais estratégias de combate:
- Rotação de culturas: optar sempre por espécies que não são hospedeiras do fungo, evitando cereais de inverno ou arroz;
- Controle de plantas daninhas e plantas de trigo voluntárias para eliminar fontes de inóculo;
- Utilizar cultivares tolerantes: até o momento não existem cultivares de trigo resistentes à brusone;
- Semeadura: deve ser realizada em época mais tardia para evitar condições favoráveis para o fungo durante o período de florescimento, mas sempre respeitando o Zoneamento de Risco Agroclimático (ZARC);
- Controle químico preventivo: a atenção deve ser redobrada se as previsões climáticas marcarem alta ocorrência de chuvas; é fundamental que o controle seja feito de forma preventiva, com o uso de fungicidas registrados para o trigo. As primeiras aplicações devem ser feitas no período de emborrachamento, seguido de uma aplicação no florescimento e, se necessário, uma terceira aplicação, que pode ser após 12 dias ou menos.
Para auxiliar o produtor na tomada de decisão sobre o controle de doenças, a Embrapa e a Universidade de Passo Fundo criaram uma plataforma gratuita chamada SISALERT, a qual simula o risco de epidemias com base nas condições ambientais favoráveis à doença.
Outra prática que auxilia a cultura a se “defender” do fungo, é realizar a calagem e gessagem, além de proporcionar uma nutrição equilibrada para as plantas.
Em sistema irrigado, o manejo da água é imprescindível, pois como vimos, a umidade relativa do ar elevada e longos períodos de molhamento favorecem o fungo.
A brusone no arroz
A brusone é a principal doença da cultura do arroz. As perdas podem chegar a 100% em casos severos e sem manejo adequado.
Os sintomas da doença nas plantas de arroz podem ser observados, principalmente, a partir do perfilhamento e no estádio reprodutivo. Os sintomas incluem:
- Nas folhas, a brusone causa manchas castanhas com o centro acinzentado, de formato alongado, no mesmo sentido das nervuras. Pode formar um halo amarelado ao redor das lesões;
- Nos colmos também podem surgir manchas elípticas acinzentadas com bordas marrons. Nestes casos, a doença é chamada de brusone do pescoço, pois causa um sintoma conhecido como “pescoço quebrado”;
- Nas panículas, ocorrem manchas de coloração marrom e também o branqueamento e o “achochamento” das espiguetas.
A brusone do pescoço causa a interrupção da passagem de fotoassimilados para a parte superior da planta, impedindo o processo de enchimento de grãos, o que causa “achochamento” parcial ou total dos grãos na panícula, causando perdas significativas na produtividade da lavoura.
Além disso, as manchas nos colmos e nas folhas reduzem a área fotossintética da planta, prejudicando o seu desenvolvimento e, consequentemente, o enchimento de grãos.
Os cuidados com a brusone devem ser maiores nos estádios R2 e R4 (emborrachamento e floração), pois as plantas se encontram mais suscetíveis neste período. O produtor deve ficar mais atento em períodos de maior nebulosidade e ocorrência de orvalho.
Como controlar a brusone no arroz?
O controle da brusone no arroz inclui algumas práticas:
- Utilizar cultivares resistentes e/ou mais adequadas para a região;
- Realizar a semeadura dentro do período indicado para a região e evitar semeadura tardia;
- Utilizar sementes sadias e certificadas, pois as sementes contaminadas transmitem a brusone;
- Realizar tratamento químico de sementes;
- Evitar o adensamento de plantas para que não se forme um microclima com maior umidade na lavoura;
- Realizar a correção do solo e proporcionar nutrição equilibrada para as plantas, principalmente evitando o excesso de nitrogênio;
- Adubação com silício auxilia a redução da severidade da brusone;
- Eliminar restos culturais e fazer o manejo de plantas daninhas para diminuir as fontes de inóculo;
- Controle químico com fungicidas registrados, sendo os de maior eficiência, de acordo com a Embrapa: triciclazol, seguido de azoxistrobina e formulações contendo mancozeb + tiofanato-metílico ou tebuconazol + trifloxistrobina.
Com relação ao controle químico, é fundamental que as aplicações se iniciem ainda na fase vegetativa, assim que os primeiros sintomas forem observados. Por isso, realize o monitoramento para não perder tempo!
Na fase reprodutiva, as aplicações devem ser feitas de forma preventiva, com a primeira pulverização no emborrachamento, e a segunda 10-15 dias depois.
Confira também: Principais doenças do arroz: identificação, sintomas e controle
Conclusão
A brusone é uma doença preocupante para os produtores de cereais de inverno e de arroz. O seu controle não é uma tarefa fácil devido ao grande efeito das condições climáticas que favorecem o desenvolvimento da doença.
Contudo, a melhor estratégia é realizar o manejo integrado de doenças, combinando práticas que incluem monitoramento, manejo cultural, manejo da área com eliminação de restos culturais, utilização de cultivares resistentes/tolerantes e controle químico, quando necessário.
O clima dificulta muito o sucesso do controle da brusone. Por isso, o produtor não pode se descuidar desse fator, realizando sempre um monitoramento das previsões meteorológicas para a tomada de decisão sobre a aplicação de fungicidas, que deve ser iniciado preventivamente quando houver previsão de excesso de chuvas e altas temperaturas.
Com relação ao controle químico, vale lembrar que os ingredientes ativos dos fungicidas para o controle da brusone devem ser rotacionados para evitar o surgimento de resistência da doença.
Siga as nossas dicas e faça o manejo de brusone mais assertivo na sua lavoura!
E então, gostou desse conteúdo? Aproveite e confira também o nosso artigo sobre os tipos de bicos para pulverização agrícola e suas indicações. Boa leitura!
Escrito Por
Priscila Marchi
Priscila Monalisa Marchi é Engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Santa Maria, Mestra em Ciências, área de concentração em Fruticultura, e Doutora em Ciências, área de concentração em Fitomelhoramento, ambos pela Universidade Federal de Pelotas. Tem experiência e interesse em temas relacionados ao melhoramento genético vegetal, à pesquisa experimental, à fruticultura, à olericultura e ao manejo de grandes culturas. Atualmente é docente do curso de Agronomia, ministrando disciplinas relacionadas à fitotecnia e a experimentação agrícola.