Na cadeia produtiva leiteira, o fornecimento de sombra é um parâmetro importante para o conforto das vacas leiteiras, que traz respostas significativas na produtividade e desempenho dos animais. Existem diversas formas de fornecimento de sombra que podem mitigar o desconforto térmico, que em certas épocas do ano pode se intensificar.
Nesse texto, iremos debater sobre a importância do fornecimento de sombra para bovinos leiteiros em sistema de campo aberto, que geram respostas significativas na produtividade e no conforto dos animais. Tendo em vista, maneiras e técnicas, que podem ser utilizadas e viáveis para diversos sistemas.
Importância do conforto térmico
Sabemos que com o aumento das temperaturas globais, o manejo do gado leiteiro em regiões com climas tropicais, subtropicais tem se tornando um desafio crescente.
Podem ser medidas diversas variáveis climáticas, como a temperatura ambiente, velocidade do vento, umidade relativa e radiação solar, a fim de resumir a intensidade da exposição ao estresse térmico em vacas leiteiras. Desses, dois parâmetros ambientais são comumente medidos para avaliar o estresse térmico, sendo eles a temperatura ambiente e a umidade relativa.
O índice de temperatura-umidade (THI) é um valor sem unidade usado para medir a severidade do estresse por calor em vacas leiteiras. Pesquisadores têm usado consistentemente um THI ≥72 como o limite de temperatura no qual as vacas leiteiras começam a sofrer estresse por calor. Entretanto, estudos já mostram que a produção de leite de vacas de alta produção diminuiu 2,2 kg/d a cada 24 horas com um ITU médio diário de 68.
Tabela indicando valores de THI para vacas de alta produção a partir de temperatura ambiente e umidade relativa do ar. Fonte: Valores propostos por Collier e Zimbleman (2012).
Segundo alguns pesquisadores, o ideal é valores de THI abaixo de 67. Pois quando esses valores estão mais elevados podemos ter:
- THI entre 68 e 72 = aumento da temperatura retal (> 38,5ºC), da frequência respiratória e ocorre redução no desempenho produtivo e reprodutivo;
- THI entre 72 e 80 = eleva a temperatura retal para 39ºC, e acima de 80 agrava ainda mais esses quadros, chegando a 40ºC de temperatura retal.
O alojamento para vacas leiteiras pode afetar negativamente a gravidade do estresse térmico experimentado se modificações benéficas não forem implementadas.
À medida que o THI aumenta, as condições de estresse térmico são mais prováveis de ocorrer se as instalações forem projetadas inadequadamente, ou seja, se os materiais de construção utilizados tiverem maior condutividade térmica, a ventilação natural não for fornecida ou os barracões estiverem superlotados.
Dessa forma, trabalhar alterando o ambiente é em muitos casos a maneira mais fácil e rápida de melhorar o bem-estar, a produção e o desempenho reprodutivo.
Impactos da falta ou escassez de sombra
Em sistemas de produção em campo aberto que não possuem sombra, os animais expostos a incidência solar direta, tendem ao estresse calórico, sendo um desconforto intenso ao animal, onde, ele sofre mudanças fisiológicas causando aumento da frequência respiratória, diminuição da ingestão de alimentos, diminuição da produção de leite e diminuição da fertilidade
O estresse calórico se relaciona com fatores ambientais e fisiológicos, onde a produtividade da vaca cai por ocasionar a redução da ingestão de matéria seca, aumento no gasto energético para mantença, aumento da frequência respiratória, elevação no gasto de energia para termorregulação e sudorese.
Quando as temperaturas ambientais excedem a temperatura corporal interna de uma vaca, seus métodos naturais de dissipação de calor tornam-se inadequados. Dessa forma, em períodos de estresse térmico, quando uma vaca é incapaz de regular sua temperatura corporal interna, a sua saúde, produtividade e comportamento podem ser dramaticamente alterados.
A queda da produtividade e qualidade do leite, se refere a redução da ingestão de matéria seca, que por via, reduz o consumo de fibras e proteínas, decaindo a quantidade de gordura e proteína do leite. Além, do remanejamento da reserva energética para combater os efeitos do estresse calórico, na termorregulação.
Vacas em estresse térmico pode deixar de produzir em média 1 mil kg de leite em uma lactação de 305 dias e quando temos casos de um estresse térmico severo, essa perda de leite pode ainda ser maior, podendo superar 2 mil kg de leite na lactação.
Produção de leite conforme nível de estresse térmico. Fonte: Embrapa
O estresse calórico se relaciona com a redução da fertilidade, por afetar a função celular dos tecidos do trato reprodutivo, comprometendo a dinâmica folicular ovariana, levando a uma codominância folicular.
Sabemos então que a sombra é benéfica tanto no ponto de vista fisiológico quanto comportamental e também produtivo. Quando em condições de altas temperaturas, como acontece no verão, as vacas que detém de acesso a sombra apresentam uma redução da taxa respiratória e também da temperatura corporal em comparação com vacas sem acesso a sombra.
Além disso, esses animais sem acesso a sombra podem ter uma redução no tempo de pastejo nos momentos que as temperaturas ambientais estão mais altas, e isso ocorre para buscar alívio do calor.
Nesses momentos de busca pelo conforto térmico, é comum observarmos as vacas passando mais tempo em pé e até mesmo reunidas ao redor do bebedouro de água, favorecendo a criação de uma área lamacenta. Assim, os animais se deitam na lama em busca de resfriamento e também para tentar se adaptar ao ambiente.
Imagem de vacas em pé e deitada torno do bebedouro a fim de minimizar os efeitos do calor. Fonte: C. Becker
Alternativas para fornecimento de sombra para vacas leiteiras
Com os avanços em pesquisas e tecnologias, possuímos estudos que demonstram as diversas alternativas para fornecimento de sombra em sistemas de campo aberto, que podem ser disponibilizadas de formas naturais e/ou artificiais. Com a diferenciação de estruturas e matérias, que podem se tornar viáveis independente da topografia, clima e área construída/disponível.
Naturais
A disposição de sombra natural pode ser feita através da modificação natural do ambiente, sendo considerado uma maneira sustentável e ecológica. Um recurso de baixo custo, tendo alta eficiência, que traz uma qualidade superior de sombra para os animais.
Quando as árvores são plantadas intencionalmente e manejadas para fornecer sombra e proteção adequadas, este método de redução do calor pode ser útil para minimizar os efeitos negativos do estresse térmico. No entanto, devemos nos atentar nos casos onde as árvores já existem no local, pois elas podem fornecer sombra somente em alguma parte do dia, dependendo de onde estão localizadas em relação ao sol.
As vacas podem amontoar-se em torno de uma árvore de sombra porque não há espaço de sombra suficiente, o que muitas vezes leva à erosão do solo, pode expor as raízes, criar ambientes úmidos devido ao acúmulo de fezes e urina, predispondo a lama e a problemas de saúde.
Área de sombra natural implementada intencionalmente. Fonte: Cursos CPT
Área de sombra também natural, porém utilizando das árvores que já existiam no local. Fonte: Nordeste rural
Os parâmetros básicos para comportar os animais, é que seja disponibilizada uma sombra entre 5 a 10m²/animal, tendo uma altura de no mínimo de 3 metros, e que essas árvores sejam eretas e resistentes. É importante que seja obedecido o espaço de sombra por animal, pois assim os animais passarão mais tempo na sombra e não competindo por ela.
As espécies de plantas a serem escolhidas para compor o sistema, devem obedecer a critérios específicos para a compatibilidade ambiental. Promovendo área de sombra suficientemente para comportar os animais, redução da refletividade solar, proteção contra ventos e ruídos. Sistema radicular profundo permitindo que os animais se deitem em volta, sem toxicidade e/ou estruturas lesionantes.
Artificiais
A disponibilidade de sombra artificial pode ser realizada a partir de estruturas planejadas com materiais específicos para reduzir a radiação solar e a alta umidade.
Seu planejamento estrutural deve ser desenvolvido obedecendo critérios de altura principalmente na parte mais baixa, a inclinação e também a orientação e declive do solo a fim de minimizar o acúmulo de umidade.
Principais materiais utilizados:
- Alumínio;
- Tela de polipropileno;
- Alvenaria;
- Madeira;
- Ferro galvanizado.
Imagem ilustrando uma área de sombra a partir da utilização de tela de polipropileno (sombrite). Fonte: Cícero Pereira de Carvalho Júnior e Wesley Leite Matos
A promoção de sombra é considerada um dos métodos de redução de calor mais fáceis de se implementar na propriedade. A sombra irá proteger contra a radiação solar, entretanto, não pode afetar a temperatura ou a umidade do ar ao redor das vacas, o que pode inibir sua capacidade natural de dissipar o calor.
Portanto, é importante adotar ações que visam complementar a sombra com estratégias adicionais de resfriamento, como os ventiladores e aspersores, os quais tem capacidade de aliviar ainda mais os efeitos negativos do estresse térmico.
Principais áreas de sombra
Dentro do sistema de produção, precisamos ter algumas áreas de sombras que são necessárias para amenizar o desconforto térmico, pois trazem o conforto animal, assim, contribuindo em elevar a produtividade. Dentre esses locais, podemos citar como os principais:
- Sala de espera – Durante a ordenha, as vacas ficam durante algum tempo na sala de espera, onde, o conforto proporcionado nesse momento traz resultados significativos para produção.
- Cochos e bebedouros – Os animais tendem a maior ingestão de matéria seca e água, quando os chochos e bebedouros estão sombreados. Além, de não terem o desconforto térmico durante sua alimentação.
- Áreas de descanso – Bovinos expostos a radiação solar direta e intensificada, procuram lugares frescos e com sombra para reduzirem a temperatura corporal. Buscam se deitar juntos, principalmente após suas atividades diárias (ordenha, alimentação, pastagem etc.). As sombras auxiliam no conforto e nos processos fisiológicos das vacas e é essencial respeitar a área necessária para cada animal dentro desses espaços a fim de evitar aglomerações e potencializar o estresse.
Em resumo, sabemos que a sombra desempenha um papel fundamental na criação de um ambiente favorável para as vacas leiteiras, promovendo seu bem-estar, podendo prevenir problemas de saúde e contribuindo para a produção eficiente de leite.
É uma prática importante na gestão de rebanhos leiteiros em diversas condições climáticas.
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