A infecção por Eurytrema pancreaticum pode ter impactos significativos na lucratividade de uma fazenda leiteira, uma vez que afeta diretamente a produção de leite, os custos operacionais, eficiência reprodutiva e a saúde geral do rebanho.
Portanto, tendo a redução da produtividade e a elevação dos custos, a margem de lucro é comprometida, o que afeta a rentabilidade global do negócio.
Nesse texto iremos entender mais sobre esse parasita, demonstrando seu ciclo de vida, quais são suas características, os sinais clínicos, formas de tratamento e quais os impactos que ele traz para a pecuária leiteira.
O parasita Eurytrema pancreaticum
Esse agente embora muito comum nos rebanhos, principalmente naqueles criados no sistema a pasto, muitas vezes pode ser subdiagnosticado pela falta de reconhecimento dos sinais clínicos, visto que, muitas vezes na forma subclínica seja de difícil diagnóstico e geralmente pode estar associado a outros acometimentos mais evidentes deixando o quadro euritrematose oculto.
É um parasita trematódeo, ou seja, um tipo de verme achatado que são encontrados nos ductos pancreáticos, ocasionalmente ductos biliares e não frequentemente em intestino delgado de ruminantes, os quais são os seus hospedeiros definitivos.
Ciclo de vida do Eurytrema pancreaticum
Apresenta ciclo biológico heteroxênico, ou seja, aquele que possui mais de um hospedeiro. No caso desse parasita, o seu ciclo envolve dois hospedeiros intermediários:
- Primeiro hospedeiro intermediário = são moluscos do gênero Bradybaena (Caramujo)
- Segundo hospedeiro intermediário = artrópodes do gênero Conocephalus (“Bicho esperança”).
Os ruminantes são hospedeiros definitivos que adquirem o parasita por meio da ingestão acidental dos insetos em meio às pastagens ou ingestão de metacercárias (pequenos invólucros, normalmente arredondados ou esféricos, que alojam estádios intermédios de parasitas) eliminadas pelos insetos.
Um dos maiores desafios é controle dos hospedeiros intermediários visto que não é adequado o uso de inseticidas ou pesticidas no local de consumo de água e comida pelos animais.
Além disso, existe a dificuldade operacional de controlar esses hospedeiros, principalmente pensando que estações climáticas, precipitações e temperaturas ambientais são condições associadas ao aumento e manutenção da euritrematose em uma região.
Imagem demonstrando esquematicamente o ciclo de vida do Eurytrema pancreaticum. Fonte: TESSELE et al., 2013
Como é caracterizado o Eurytrema pancreaticum?
São comumente encontrados em necropsias e se caracterizam por corpo achatado e de formato ovalado. Medem entre 5 e 8 mm de comprimento e entre 2 e 3 mm de largura e a superfície do corpo é coberta por uma cutícula lisa e sem espinhos.
Possui duas ventosas, uma oral e uma ventral, que são usadas para fixação no hospedeiro. A ventosa oral está localizada na extremidade anterior e a ventral, também chamada de acetábulo, está situada na região média do corpo.
Fonte: FERREIRA,2022
Fonte: FERREIRA,2022
O Eurytrema pancreaticum é hermafrodita, possuindo tanto órgãos reprodutores masculinos quanto femininos.
O sistema reprodutor masculino inclui testículos esféricos ou ovais localizados na metade posterior do corpo e o sistema reprodutor feminino inclui um ovário, vitelários (glândulas vitelinas) que produzem nutrientes para os ovos, e um útero que geralmente está cheio de ovos.
Como esse parasita impacta na pecuária leiteira?
A presença do Eurytrema pancreaticum nos bovinos pode trazer uma série de efeitos negativos, especialmente na produção de leite.
Além disso, a infecção causa fibrose e inflamação no pâncreas, levando à substituição do tecido pancreático funcional por tecido fibroso ou adiposo. Isso pode comprometer a função pancreática e a digestão.
- Redução na produção de leite: devido a inflamação crônica no pâncreas, a digestão e absorção de nutrientes é prejudicada e isso vai afetar a saúde geral do animal e consequentemente reduzir a produção de leite das vacas em lactação, o que consideramos ser um impacto direto, entretanto, há ainda impactos indiretos, como na qualidade do leite, o que pode afetar a valorização do produto.
- Perda de peso: com o comprometimento da função pancreática, sabemos que o processo de digestão também é comprometido, pois algumas enzimas digestivas essenciais têm sua produção reduzida, e isso vai levar à perda de peso dos animais, mesmo que haja uma dieta equilibrada, em quantidade adequado e que atenda às necessidades nutricionais dos animais.
- Desempenho reprodutivo reduzido: os animais infectados têm a saúde debilitada e isso também irá impactar negativamente na reprodução, o que vai resultar em uma menor taxa de concepção e prenhez.
- Maior vulnerabilidade a outras doenças devido ao comprometimento do sistema imunológico e metabólico.
Todos esses fatores em conjunto contribuem para menor desempenho dos índices zootécnicos e somado a outros acometimentos impactam significativamente a produtividade e viabilidade econômica do rebanho.
Quais são os sinais clínicos da euritrematose?
- Redução de consumo: Pode ocorrer uma diminuição no apetite ou uma ingestão de alimentos irregular, já que o desconforto digestivo interfere na alimentação.
- Apatia: Os animais acometidos podem se apresentar apáticos e letárgicos, demonstrando sinais de fraqueza. Isso é resultado da falta de energia resultante da má digestão e menor aproveitamento dos nutrientes.
- Caquexia: Por apresentarem perda de peso ou dificuldade em ganhar peso mesmo com alimentação adequada, a disfunção pancreática vai comprometer a digestão e contribuir para deixar os animais em estado de caquexia.
- Icterícia: Quando associamos a icterícia a presença do parasita, ela pode ocorrer devido a compressão dos ductos biliares, pois o parasita pode migrar para os ductos pancreáticos e biliares, causando inflamação e bloqueio desses canais interferindo assim na drenagem adequada da bile para o intestino e contribuindo para o acúmulo de bilirrubina no sangue.
- Hiperglicemia: O pâncreas tem um papel importante no metabolismo da glicose, pois ele é responsável pela produção de insulina. A infecção por Eurytrema pancreaticum pode danificar o tecido pancreático, incluindo as células beta das ilhotas Langerhans, as quais produzem insulina. Com a menor produção de insulina, o controle da glicemia é comprometido.
- Glicosúria: A glicosúria vai ser consequência direta da hiperglicemia. Os rins filtram e reabsorvem a glicose a fim de mantê-la no corpo, no entanto, quando os níveis de glicose no sangue se tornam elevados, os rins não conseguem reabsorver toda glicose filtrada e a mesma tende a passar para a urina.
Qual o tratamento para a euritrematose?
Atualmente, não há tratamento cientificamente comprovado para a parasitose, visto que não foram identificadas drogas anti-helmínticas eficazes contra o agente e os danos causados pelo parasita são considerados irreversíveis.
Dessa forma, o melhor caminho é atuar em manejos que contribuam para a redução da contaminação, dentre elas temos:
- Manejo de vetores e hospedeiros intermediários: reduzir a população dos hospedeiros intermediários é essencial, e para isso, adotar práticas para redução da população de caracóis e insetos, como os gafanhotos e grilos é indicado. Para isso, o ideal é estar atento à drenagem de áreas úmidas e ter protocolos de pulverizações seletivas com inseticidas específicos para áreas com alta infestação dos insetos.
- Manejo nutricional e saúde: o suporte nutricional e o manejo geral da saúde dos animais são cruciais para contribuir para a recuperação. Por isso, ter na dieta alimentos de alta qualidade, ricos em nutrientes e energia pode ser fundamental. Além disso, fornecer suplementos vitamínicos, principalmente vitaminas A e E e minerais como selênio e zinco, pode fortalecer o sistema imune dos animais.
- Rotação de pastagens: é considerada uma medida preventiva muito importante, pois ao detectar áreas possivelmente contaminadas e estipular um período de descanso para a área, fará com que o ciclo de vida do parasita seja interrompido. Isso pode contribuir para a redução da carga parasitária do rebanho.
Como diagnosticar a presença do parasito e alterações patológicas observadas?
O diagnóstico posteriormente a suspeita pode ser realizado das seguintes maneiras:
- Exame coproparasitológico (OPG);
- Necropsia (são agentes que são possíveis de visualização macroscópica e pode-se relacionar ao histórico prévio do animal e a incidência de sinais clínicos semelhantes no rebanho).
As lesões pancreáticas causadas por Eurytrema spp. em ruminantes domésticos variam de leve até uma acentuada fibrose, inflamação e perda do tecido pancreático.
Os trematódeos são encontrados no lúmen dos ductos pancreáticos, mas os ovos penetram as paredes dos ductos, causando reação granulomatosa com células gigantes multinucleadas. O tecido pancreático perdido é substituído por tecido fibroso ou adiposo, enquanto o tecido que persiste permanece essencialmente normal.
O tamanho dos trematódeos adultos é inversamente proporcional à intensidade das lesões pancreáticas, refletindo a falta de nutrição devido à destruição tecidual. Em um pâncreas com destruição tecidual mínima, os trematódeos são grandes e ativos, localizados nos ductos maiores.
Em pâncreas gravemente danificados, os trematódeos são pequenos e atróficos, encontrados nos ductos menores. As lesões causadas por E. pancreaticum ocorrem com maior frequência no lobo esquerdo do pâncreas.
Aspecto macroscópico da superfície de corte do pâncreas. Os ductos estão dilatados e contêm exemplares de Eurytrema pancreaticum. O parênquima pancreático apresenta acentuada atrofia. As áreas mais escuras representam reação granulomatosa ao redor de aglomerados de ovos. Fonte: Santos & Alessi,2016
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