Na cultura do café, a presença de plantas daninhas é um problema recorrente. Essas plantas indesejadas competem diretamente com a cultura do café por recursos vitais como água, luz, nutrientes e espaço, comprometendo significativamente o desenvolvimento e a produtividade da lavoura. Além disso, as plantas daninhas podem abrigar pragas e doenças, causando ainda mais prejuízos para a cultura.
Neste artigo, abordaremos as principais estratégias de manejo das plantas daninhas no café e algumas das espécies que mais afetam a cultura. Além disso, falaremos sobre os impactos das plantas invasoras no cultivo do café e a importância de um diagnóstico preciso para uma gestão eficaz. Confira!
Estratégias de manejo
O manejo adequado de plantas daninhas no café envolve um conjunto de práticas que se inicia no controle preventivo, passando pelo controle cultural, controle manual, controle mecânico, controle biológico, controle químico e controle integrado.
Controle preventivo
O manejo de plantas daninhas no café começa no controle preventivo, iniciando na implantação da cultura, visando conservar o solo e reduzir a emergência de sementes daninhas. Os principais pontos incluem:
- Seleção da área: A declividade influencia as práticas culturais. Áreas com mais de 20% de inclinação limitam a mecanização, sendo necessário tração animal ou trabalho manual em declives mais acentuados;
- Preparo do solo: Limpeza da área durante o período seco, com aração rasa e gradagem para dificultar o crescimento das plantas daninhas;
- Proteção do talhão: Destruição de plantas daninhas nas áreas adjacentes para evitar a disseminação de sementes para a lavoura;
- Fertilização da lavoura: Aplicação de calcário e adubos para melhorar a fertilidade do solo, o que ajuda a inibir algumas espécies de plantas daninhas adaptadas a solos ácidos.
Controle cultural
Já o controle cultural está relacionado à condução da lavoura e visa diminuir a presença de plantas daninhas ou mitigar seus efeitos adversos. Ele leva em consideração os aspectos agronômicos e ecológicos do sistema e envolve as seguintes práticas:
- Espaçamento do cafeeiro: o espaçamento adequado entre as plantas de café ajuda a reduzir a presença de plantas daninhas, especialmente em cultivares maiores, que exigem mais espaço. O adensamento favorece o controle das daninhas e diminui a necessidade de capinas;
- Culturas intercalares: O plantio de culturas de ciclo curto entre as linhas de café melhora a qualidade do solo, reduz custos com capinas e aumenta a renda, mas limita a mecanização e pode ter menor produtividade.
- Sistema consorciado: consiste no cultivo de outras espécies junto ao café, promovendo sombreamento e benefícios como a conservação do solo, a redução de plantas daninhas e a melhoria da qualidade dos frutos.
- Plantas de cobertura: espécies usadas para cobertura do solo ajudam a controlar plantas daninhas e melhoram a qualidade do solo, além de reduzir o uso de herbicidas e fertilizantes, transferindo nutrientes para o café.
Controle manual
Como o próprio nome já diz, trata-se de um controle de plantas daninhas feita com enxada e foice, que podem promover bons resultados caso sejam realizados no momento adequado.
Controle mecânico
O controle mecânico é feito com a utilização de equipamentos como roçadeiras, trinchas e rolos para remover fisicamente as plantas daninhas.
Controle biológico
Trata-se da utilização de agentes biológicos que reduzem a população de plantas daninhas a um nível mais baixo do que o que ocorreria de forma natural, sem causar prejuízos econômicos à cultura.
Entre os métodos de controle biológico estão a alelopatia entre plantas, o pastoreio de animais e o uso de herbicidas naturais.
Controle químico
O controle químico de plantas daninhas no cultivo de café envolve a aplicação de herbicidas que eliminam ou inibem o crescimento de plantas indesejadas. Esse método é amplamente utilizado pela sua eficiência, rapidez e capacidade de controlar grandes áreas com menor demanda de mão de obra.
Existem diferentes tipos de herbicidas, sendo classificados de acordo com o momento de aplicação (pré-emergentes e pós-emergentes) e o espectro de controle (seletivos ou não seletivos).
- Herbicidas pré-emergentes: São aplicados antes da germinação das plantas daninhas, criando uma barreira química que impede o desenvolvimento dessas espécies. Esses herbicidas são eficazes na prevenção de infestações, mantendo o campo limpo por mais tempo;
- Herbicidas pós-emergentes: Aplicados após a germinação, atuam diretamente nas plantas daninhas já estabelecidas. Eles podem ser seletivos, eliminando apenas as espécies-alvo sem afetar o cafeeiro, ou não seletivos, que eliminam qualquer planta com a qual entram em contato.
O uso de herbicidas no café deve ser feito com cautela, considerando fatores como o estágio de desenvolvimento da lavoura, o tipo de solo e as condições climáticas. O manejo adequado reduz o risco de resistência das plantas daninhas aos herbicidas.
Embora eficaz, o controle químico deve ser integrado a outras práticas, como o controle cultural e biológico.
Controle integrado
O controle integrado combina os diferentes métodos de controle citados visando a otimização do manejo das plantas daninhas. Essa abordagem tem como objetivo reduzir a dependência exclusiva de herbicidas, minimizar impactos e prolongar a eficácia das técnicas de controle, adaptando-se às condições da lavoura.
Principais plantas daninhas em café
Existem algumas plantas daninhas que aparecem com maior frequência na cultura. Algumas delas são:
Picão-preto
O picão-preto (Bidens pilosa) é uma planta invasora amplamente disseminada pelo Brasil, causando grandes danos à agricultura devido à sua alta capacidade de propagação.
O controle dessa planta normalmente é realizado por meio de manejo biológico, mantando solo coberto com plantas ou palhadas ou controle químico com herbicidas, pois a remoção mecânica dessas plantas, ao revolver o solo, pode expor sementes prontas para germinação. No entanto, certos biótipos da espécie Bidens pilosa já demonstram resistência a alguns tipos de herbicidas.
Assim, algumas boas práticas no controle do picão-preto incluem a rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas, a saturação do solo, entre outras estratégias. Esses métodos são detalhados em nosso artigo dedicado à informações sobre essa planta daninha.
Capim-amargoso
O capim-amargoso (Digitaria insularis) é uma espécie de planta daninha perene, altamente competitiva, com folhas estreitas que formam touceiras de 50 a 100cm.
O controle dessa planta normalmente é realizado primeiramente com método físico, por meio de palha e cobertura verde que desaceleram sua germinação.
O controle químico é realizado em pós-emergência da planta, utilizando herbicidas seletivos nibidores de ACCAse, que não afeta o café, já que a cultura é isenta dessa enzima.
Capim-pé-de-galinha
O capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) é uma monocotiledônea anual de difícil controle, caracterizada principalmente pela formação de touceiras que variam entre 30 e 50 cm de altura.
O manejo dessa planta pode ser realizado por meio de triações em estágios jovens, durante a entressafra, e capina química no preparo para a colheita. O controle químico também pode ser feito com o uso de inibidores da PROTOX ou, em alguns casos, com a aplicação sequencial de glifosato.
Caruru
O caruru (Amaranthus spp.) é uma planta de ciclo anual com altura que varia de 20 cm a 2 m.
Além de ser uma planta daninha que compete por recursos com a cultura do café, prejudicando seu desenvolvimento, também serve como hospedeiro do nematoide Meloidogyne. Esse parasita causa sérios danos às raízes do cafeeiro, resultando na morte de parte das plantas e em uma drástica redução do sistema radicular.
Devido à sua resistência à vários herbicidas, o controle do caruru se torna desafiador. Portanto, o manejo integrado é essencial. Recomenda-se monitorar a plantação e em caso de identificação dessa planta, realizar o controle físico para evitar a propagação de sementes.
Cobrir o solo das entrelinhas com palha ou cobertura verde, como a braquiária, também auxiliam no controle dessas plantas.
Quando o controle químico for necessário, recomenda-se aplicação pós-emergente em plantas pequenas, com jato direcionado.
Impactos das plantas daninhas no cultivo do café
As plantas daninhas podem introduzir substâncias tóxicas no ambiente das plantas cultivadas, comprometendo sua saúde e desenvolvimento.
A competição por nutrientes e outros recursos resulta em menor crescimento e produtividade, evidenciado pela redução de nutrientes nas folhas dos cafeeiros. Este impacto é especialmente crítico em períodos de alta demanda da planta, como durante a expansão e granação dos frutos.
Importância do diagnóstico e planejamento
Atualmente, muitas plantas daninhas desenvolveram resistência aos principais herbicidas, complicando seu controle. Isso exige uma abordagem integrada e cuidadosa para o manejo dessas plantas, que deve ser realizada de maneira técnica e com o auxílio de profissionais qualificados.
Um diagnóstico adequado, realizado por profissionais capacitados, é essencial para identificar a melhor estratégia de manejo. Isso evita o uso inadequado ou excessivo de herbicidas, preservando a saúde das plantas e a qualidade do café.
A integração dos diferentes métodos de manejo pode resultar em soluções complementares, possibilitando até a convivência controlada com algumas plantas daninhas.
Conclusão
O manejo eficaz de plantas daninhas na cultura do café é um desafio complexo que demanda conhecimento técnico especializado, investimento em mão de obra qualificada e uso de produtos e equipamentos apropriados.
A integração de métodos de controle variados, juntamente com um diagnóstico preciso e um planejamento estratégico, pode reduzir significativamente os impactos negativos das plantas daninhas, promovendo a saúde das plantas de café e potencializando a produtividade.
Escrito Por
Amanda Cássia Parra
Especialista em Agronegócio, Especialista em Topografia e Sensoriamento Remoto, Tecnóloga em Mecanização em Agricultura de Precisão e Analista de Marketing.