Mais uma vez, em 2023, os sindicatos rurais do Paraná cumpriram a missão de atuar como agentes de transformação no campo. Em um cenário de constantes desafios e inovações, juntas, as entidades promoveram 8.695 cursos do Sistema FAEP ao longo do ano passado: aumento de 14,5% em relação a 2022. E as estratégias para divulgar as capacitações e sensibilizar os produtores e trabalhadores a frequentá-las são das mais diversas: do uso de recursos digitais ao velho “boca a boca”; de parcerias com entidades e empresas ao atendimento personalizado. Tudo para levar conhecimento e atualização ao elo mais importante da cadeia produtiva do setor.
O ranking dos dez sindicatos rurais que mais mobilizaram cursos do Sistema FAEP passou a ter quatro novos expoentes: Irati (5º lugar), Nova Londrina (7º), Cornélio Procópio (8º) e Cascavel (9º). Agora liderada pelo Sindicato Rural de Cianorte – que promoveu 204 capacitações em 2023 –, a lista traz outras cinco entidades que também já figuravam no “Top 10” com base nos números de 2022. Juntos, esses dez sindicatos levaram a campo mais de 1,5 mil cursos – o equivalente a 18% do total de capacitações ofertadas pelo Sistema FAEP no ano passado.
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“O setor agropecuário tem passado por uma transformação. Esse movimento evidencia ainda mais a necessidade de o produtor rural e o trabalhador se atualizarem e se capacita – rem. Para isso, não temos poupado recursos e esforços para levar conhecimento ao campo, independentemente da atividade agropecuária ou da cadeia produtiva”, ressalta o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette. “Cada sindicato rural deve adotar as estratégias mais adequadas para levar os cursos aos produtores, considerando as particularidades locais. O importante é que as capacitações continuem chegando a quem precisa”, destaca.
A divulgação da lista dos dez sindicatos que mais promoveram cursos não vai no sentido de estabelecer uma competição entre as entidades. O Sistema FAEP destaca que o rol se baseia apenas em aspectos quantitativos. Há, entretanto, outros elementos que influenciam a mobilização de capacitações, como a dimensão dos municípios, a vocação agropecuária da localidade, os tipos de cadeias produtivas estruturadas na região e a presença de agroindústrias no entorno. Por isso, a ideia é que o indicador quantitativo não seja analisado por si só, mas sirva de motivação coletiva.
Foco nas redes
O uso de ferramentas digitais impulsionou a mobilização de cursos do Sistema FAEP em Nova Londrina, no Noroeste do Paraná. Ao longo dos últimos dois anos, o sindicato rural intensificou a utilização do WhatsApp como canal para estreitar o relacionamento com associados e possíveis alunos de capacitações. A entidade mantém uma lista de transmissão com mais de 450 contatos, por meio da qual divulga os treinamentos agendados. Paralelamente, há outro grupo só para os associados. Além disso, o sindicato rural tem ampliado o foco em redes sociais.
Para tornar a comunicação mais atrativa, a equipe do sindicato tem recorrido a artes – ou seja, a postagens com imagens e com as informações destacadas. Além disso, a mobilizadora Tatiane Zampieri Gonçalves Trombeta também tem apostado em vídeos, em que explica detalhes das capacitações. A entidade também incentiva que os frequentadores dos cursos enviem seus depoimentos, como forma de sensibilizar novos participantes.
“A gente não abriu mão do contato pessoal, que continua ocorrendo, mas essas ferramentas digitais fazem com que chegue mais rapidamente ao produtor. É uma estratégia que tem dado muito certo”, diz Tatiane. “A gente inventa algumas modas. Dá brindes ao aluno que mais frequenta curso, pega depoimento dos participantes, grava vídeos. Com isso, temos movimentado e chamado a atenção de produtores que nunca tinham feito curso antes”, acrescenta.
Em Cornélio Procópio, no Norte do Paraná, o uso dos recursos digitais começou a aumentar durante a pandemia do novo coronavírus. Hoje, as redes são parte indispensável da estratégia de mobilização do sindicato rural. O WhatsApp e as redes sociais ajudam a entidade a encurtar as distâncias com os produtores locais e dos seis municípios da extensão de base. “Antes, a divulgação era ‘boca a boca’. Tinha que ligar um por um. Agora, é mais fácil. O produtor já recebe no celular as informações de que precisa”, pontua a mobilizadora Andréa Canário Nunes da Cruz.
Ao longo do último ano, a equipe do sindicato percebeu que “estava falando” mais com os produtores pelo WhatsApp do que pelo Facebook. Hoje, a entidade mantém três grupos principais – um deles, com mais de 600 participantes –, além de outros, menores. A equipe também aposta em postagens atrativas, recorrendo a imagens. Recentemente, a mobilização passou a utilizar a ferramenta do Sistema FAEP, que prepara materiais de divulgação automaticamente, a partir do preenchimento de um formulário básico.
“Nós temos chegado a muito mais gente. Tanto que nos últimos cursos apareceram alunos que nunca tinham vindo ao sindicato. Então, as ferramentas têm uma potência grande”, diz Andréa. “Mas também não dá para abandonar o contato pessoal. Tem produtor que vê a postagem no grupo, mas não se sente convidado. Aí, precisa ligar, manter essa proximidade. O ideal é caminhar junto”, aponta.
Boca a boca
Toda semana, a direção e a equipe do Sindicato Rural de Irati se reúnem para traçar o roteiro e a estratégia de mobilização dos próximos dias. Com base nessas definições, a diretora Carmen Lúcia Soldan Martins, que também é a responsável pela mobilização dos cursos do Sistema FAEP, pega o carro e vai, pessoalmente, às localidades, divulgar os cursos. O contato é personalizado. Há 30 anos trabalhando no sindicato, ela conhece praticamente todos os produtores do município.
“É olho no olho. Eu vou de casa em casa. Se pular uma, o produtor vai se sentir excluído e não volta mais. Tem que ter esse cuidado”, garante Carmen. “Eu procuro ressaltar a importância dos cursos. É um conhecimento que ninguém vai tirar deles. Nossas turmas são sempre cheias. Se tiver um cancelamento [de curso], para mim é morte”, acrescenta a mobilizadora, obstinada.
Presidente do Sindicato Rural de Irati, Mesaque Kecot Veres, destaca que a oferta de treinamentos é uma prioridade. Por isso, quando produtores vão à entidade em busca de algum serviço específico, a equipe está orientada a divulgar as capacitações. “A profissionalização é um elemento fundamental para o fortalecimento do agro. Os cursos do Sistema FAEP são estratégicos, nesse sentido. Além disso, as capacitações ajudam a trazer o produtor para o sistema sindical”, avalia o presidente.
Parcerias
Até por representar produtores em um município maior – com população de 348 mil pessoas –, o Sindicato Rural de Cascavel tem dado ênfase a parcerias diversas, para ofertar cada vez mais cursos a produtores. As parcerias são firmadas com empresas – como concessionárias de tratores e lojas de insumos –, cooperativas, integradoras, colégios agrícolas, universidades e com a própria prefeitura. Esses laços têm trazido um novo público às capacitações.
Além disso, o sindicato realiza uma iniciativa chamada Prosa Rural, em que promove reuniões nas mais variadas comunidades rurais do município. Nessas ocasiões, a entidade tem estimulado os líderes comunitários a ajudarem na mobilização de treinamentos. A partir dessa parceria, a entidade tem ampliado sua capilaridade e, por conseguinte, formado mais turmas, de acordo com as necessidades de cada comunidade.
“A gente tem feito tudo que é tipo de parceria, aumentando o nosso público. Não é só trazer o público para o sindicato, mas levar o sindicato e os cursos onde há demanda, seja nas empresas, nas cooperativas ou nas comunidades. Nós vamos até lá”, explica Paulo Cezar Vallini, diretor-secretário do Sindicato Rural de Cascavel. “Além disso, aproveitamos as instalações e os recursos dos parceiros, para somar esforços e atender bem o nosso público”, conclui.
Mulheres catapultam participação em cursos
Outro ponto comum na estratégia dos quatro novos sindicatos que passaram a fazer parte do “Top 10” é a importância das mulheres na articulação dos cursos. Em Cascavel, a comissão de mulheres do sindicato – uma das mais antigas do Estado – tem sido determinante em diversos aspectos, inclusive para atrair mais produtoras rurais e familiares para o sistema sindical.
“Nosso núcleo feminino é muito forte. Elas têm ajudado nos treinamentos e têm sido um grande chamariz para novas mulheres ingressarem no sindicato. Elas têm dado um fôlego novo”, aponta Paulo Cezar Vallini.
Em Cornélio Procópio, foram realizadas seis turmas do programa Mulher Atual só no ano passado. Essas capacitações tendem a despertar a autonomia e a participação entre o público feminino. A partir disso, as produtoras intensificaram sua atuação em diversas iniciativas. “Existe um movimento de mulheres em feiras, que passaram a frequentar cursos de turismo rural, que passaram a empreender. Elas também já fundaram um ‘Clube do Livro’ e um programa, chamado ‘Elas por Elas’. Elas participam muito”, conta Andréa Canário Nunes da Cruz.
Irati, por sua vez, já conta com a participação feminina há mais de 20 anos. “A dona Carmen [Martins] é uma diretora que atua há anos”, exemplifica o presidente do sindicato rural, Mesaque Kecot Veres. Ele diz que com a intensificação da participação em cursos, as mulheres estão prestes a fundar a comissão local – o que deve ocorrer em julho. “Elas são participativas, têm um olhar específico”, apontou o dirigente.
Em Nova Londrina não é diferente. O sindicato rural levou a campo cursos que costumam ter participação feminina majoritária, como de turismo rural, básico em mandioca e em milho, derivados de pescado e panificação, além do programa Mulher Atual.
(Com FAEP)