Nas prateleiras dos supermercados da Europa, três variedades de maçã desenvolvidas pela Epagri, identificadas com a marca Sambóa, vão conquistando os olhos e o paladar dos consumidores. Suas características mais marcantes – superdoces, suculentas e crocantes – estão destacadas em propagandas e são alvo de investimentos massivos em marketing. Graças à qualidade das frutas e às vantagens competitivas para os produtores, os cultivares de maçã Luiza, Venice e Isadora chamaram a atenção de empresas do outro lado do Atlântico, que estão empenhadas para fazer delas um case de sucesso mundial.
Já são 200 hectares de pomares produzindo na Itália. Com a primeira safra comercial, colhida no verão/outono de 2023, a Empresa obteve a primeira impressão de consumidores e clientes. “Foi maravilhoso. O impacto das frutas, do perfil gustativo, deixou nossos parceiros do mundo empolgados para acelerar os plantios”, conta Gerhard Dichgans, diretor do projeto Sambóa no mundo.
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A expansão pelos outros continentes também já começou, com a prospecção de parceiros em países como Nova Zelândia, Chile, África do Sul, Austrália e Estados Unidos. A previsão é atingir 4 mil hectares com as três variedades da Epagri nos próximos oito anos. Essa área vai garantir uma produção anual de quase 200 mil toneladas de maçãs comercializadas sob a marca Sambóa. “Estivemos visitando a Nova Zelândia, a Austrália e o Chile. No Chile, vimos as primeiras plantas Luiza que saíram da quarentena e foram plantadas, mostrando os primeiros frutos. E vimos que a Luiza está dando os mesmos resultados maravilhosos que temos na Itália”, acrescenta Dichgans.
O início da viagem
A história da jornada das maçãs da Epagri pelo mundo começou há mais de 20 anos. Por meio de um contrato de cooperação e licenciamento internacional com a francesa International Fruit Obtention (IFO), a Epagri envia seleções e cultivares desenvolvidos em Santa Catarina para a IFO testar na França. À medida que esses materiais são bem avaliados e despertam interesse dos europeus, eles avançam para a prospecção de parceiros comerciais.
Foi o que aconteceu com as variedades Luiza, Venice e Isadora. Há dois anos, a IFO firmou uma parceria comercial com o Grupo Rivoira, da Itália, para comercializá-las ao redor do mundo. Para isso, o grupo Rivoira criou um Clube de Variedade, que permite vender as frutas sob uma marca única, a Sambóa.
No Brasil, o mercado não tem essa prática, mas os Clubes de Variedades são muito comuns mundo afora. Nesse modelo, semelhante a uma franquia, as frutas são comercializadas sob regime controlado, em que o consumidor não conhece o nome da variedade, mas sim a marca que a identifica. Os produtores que ingressam no clube trabalham dentro de normas rigorosas e recebem maior retorno econômico pela comercialização das frutas.
Diferenciais das maçãs
As macieiras da Epagri chamaram a atenção dos europeus pela qualidade das frutas e pela boa adaptação, mesmo sob condições climáticas mais quentes. Isso porque uma das metas do Programa de Melhoramento Genético da Epagri é desenvolver cultivares com menor requerimento de frio hibernal para a superação do período de dormência.
Esse diferencial atraiu Marco Rivoira, presidente do grupo Rivoira: “Quando encontrei essas variedades, eu imediatamente pensei que havia uma boa adaptação ao clima europeu. Porque, na Europa, o clima mudou: a temperatura aumentou nos últimos cinco ou seis anos, então hoje temos vários problemas diferentes, como a glomerella, por exemplo”, explica.
O empresário, que é especialista no segmento de maçãs superdoces, também viu no sabor das frutas um importante fator de competitividade. “A principal motivação que eu tive foi porque essas três variedades têm um sabor único: elas são superdoces, suculentas e crocantes. Então, hoje, temos as três maçãs embaixo do guarda-chuva da marca Sambóa. No nível do consumidor, elas não têm diferenciação. E nós podemos oferecer a mesma linha de produtos nos 12 meses do ano”, explica. Com períodos de colheita diferentes entre si – precoce, intermediário e tardio –, as três variedades da Epagri, juntas, permitem abastecer o mercado durante o ano todo.
E no Brasil?
Apesar do sucesso mundial e da qualidade superior comprovada dessas macieiras, aqui no Brasil, a Luiza, a Venice e a Isadora ainda não “decolaram”. Elas foram desenvolvidas para atender às necessidades dos produtores brasileiros, mas alguns fatores impedem a entrada de maçãs diferentes de Fuji e Gala no mercado. “A barreira comercial imposta pelo mercado de maçã Gala e Fuji é tão grande que, mesmo portando diversas vantagens agronômicas e alta qualidade, as novas variedades híbridas não se consolidam no país e acabam não tendo plantios expressivos”, ressalta o pesquisador Marcus Vinicius Kvitschal, responsável pelo Programa de Melhoramento Genético de Macieira da Epagri.
Por isso, a Epagri trabalha para usar esse sucesso mundial como exemplo para o setor produtivo brasileiro, mostrando que é possível estabelecer mercado para novas variedades de maçã no país. “O sucesso da Sambóa pode ser a força de convencimento que o setor produtivo precisa para inovar no Brasil. Muitos consumidores buscam por algo diferente do tradicional”, defende o pesquisador.
Royalties para SC
Enquanto os brasileiros não encontram essas variedades de maçã no mercado e o país não fatura com a produção, a Epagri arrecada royalties pela venda de mudas e frutas com a marca Sambóa. Esses recursos financiam novas pesquisas para beneficiar o setor produtivo brasileiro. Até 2023, a Empresa arrecadou quase €400 mil (cerca de R$2 milhões) entre taxas de cessão do direito de uso dos cultivares e royalties de comercialização de mudas e de frutas com a marca. “Os valores devem ser crescentes ao longo dos anos, à medida que novos pomares iniciarem a produção e a venda de frutas se intensificar”, diz Marcus.
Cultivares de maçã da Epagri
Com um trabalho desenvolvido há cerca de 50 anos, a Epagri é referência no Brasil em melhoramento genético de macieira. A Empresa já colocou à disposição dos fruticultores 24 variedades – dessas, 17 são híbridas e sete são mutantes espontâneas de Gala e Fuji.
O objetivo é desenvolver macieiras com características que interessam aos produtores e aos consumidores. Entre os atributos buscados ao longo de cruzamentos, avaliações e seleções de plantas, estão alta produtividade, melhor adaptação climática, resistência genética às principais doenças e pragas, época de colheita ampliada, alta qualidade de frutas e boa capacidade de conservação em câmaras frigoríficas. De olho no mercado, também são observadas características como crocância, sabor, cor e formato dos frutos. O desenvolvimento de cada cultivar híbrido leva de 18 a 25 anos.
Sustentabilidade no pomar
Uma das principais vantagens ambientais dos cultivares de maçã da Epagri é a menor necessidade de uso de indutores de brotação nos pomares. Esses produtos, extremamente tóxicos para os aplicadores no momento da pulverização, são necessários para quebrar a dormência quando as plantas não têm sua necessidade de frio satisfeita durante o inverno. Diversos cultivares da Epagri, entre eles as variedades Luiza, Venice e Isadora, são melhor adaptados ao clima ameno, típico do Brasil, e têm menor necessidade de frio hibernal.
As variedades de maçã da Epagri também oferecem resistência genética às principais doenças e pragas que atacam a cultura. Isso reduz a necessidade de uso de agrotóxicos em comparação com as macieiras Gala e Fuji. “Essa vantagem torna a produção de maçãs mais segura para os trabalhadores, o meio ambiente e os consumidores”, destaca o pesquisador Marcus.
Todos esses avanços tecnológicos contemplados nas variedades de macieira garantiram à Epagri a premiação máxima no 23º Prêmio Fritz Müller, em 2022, na categoria Agricultura Sustentável. O concurso é o principal reconhecimento ambiental do estado de Santa Catarina e se destina a valorizar projetos e iniciativas que resultam em benefícios para a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.
Período de colheita escalonado
Os cultivares Luiza, Venice e Isadora têm períodos de maturação diferenciados. Essa característica permite aos produtores escalonar a colheita de forma gradual, demandando um menor número de pessoas para essa atividade. A Luiza é de maturação precoce: a colheita acontece no mesmo período da Gala ou até alguns dias antes. Já a Venice é de meia-estação, colhida justamente no intervalo entre a Gala e a Fuji. E a colheita Isadora, por sua vez, é bem tardia – após a colheita da Fuji. Nos pomares do Brasil, isso possibilita distribuir as colheitas desde o fim de janeiro até o fim de abril. “A produção dessas variedades melhoraria o padrão de qualidade das frutas ofertadas ao mercado brasileiro ao longo do ano, inclusive na entressafra”, finaliza Marcus.
Conheça essas e outras tecnologias da Epagri no Balanço Social 2023.
(Com Epagri)