A florada do café está diretamente relacionada com a produção da planta. Diversos fatores como doenças, fotoperíodo, temperatura, disponibilidade hídrica e balanço hormonal interferem na florada.
Estar atento a esses fatores que interferem no florescimento é essencial para garantir boa produtividade das lavouras.
O florescimento do cafeeiro tem algumas particularidades, as flores são formadas a partir de gemas florais localizadas nas axilas foliares.
Em cada nó dos ramos plagiotrópicos (laterais) existem várias gemas, que podem se diferenciar em estruturas vegetativas, formando assim outros ramos ou em estruturas reprodutivas, formando as flores.
Diferenciação da gema em estrutura vegetativa (ramo secundário) e estrutura reprodutiva (flor). Foto: Isaías dos Santos
Ciclo fenológico do cafeeiro
O ciclo fenológico do cafeeiro leva dois anos para ser concluído. Durante o primeiro ano, ocorre a fase de vegetação e formação das gemas foliares, que se desenvolve entre os meses de setembro e março, período em que o fotoperíodo ultrapassa 13 horas de luz.
Esquematização das seis fases fenológicas do cafeeiro arábica, durante 24 meses, nas condições climáticas tropicais do Brasil. Fonte: Camargo e Camargo (2001).
Ainda no primeiro ano, quando os dias são mais curtos, ocorre a 2ª fase, que consiste na indução, maturação e dormência das gemas florais, é nessa fase que dura entre abril e agosto que ocorre a indução das gemas foliares formadas na primeira fase, para se tornarem gemas florais.
Vários fatores influenciam na indução e diferenciação floral do cafeeiro, como fotoperíodo, temperatura, disponibilidade hídrica e balanço hormonal.
No fim da segunda fase, entre julho e agosto, o cafeeiro entra em repouso e emite um ou dois pares de folhas pequenas, separando os anos fenológicos.
Dois pares de folhas pequenas, separando os anos fenológicos do cafeeiro arábica. Foto: Isaías dos Santos
A 3ª fase inicia-se com a florada, normalmente ocorre de setembro a novembro, quando os botões florais diferenciados, após passarem por um período de dormência tornam-se sensíveis ou fisiologicamente maduros e reagem aos estímulos externos desencadeadores de um rápido crescimento, que dura cerca de 10 dias, a depender da temperatura, levando à abertura das flores (antese), finalizando o processo de floração.
Em condições naturais, as floradas são induzidas pelas primeiras chuvas, após um período de seca.
Cafeeiro arábica após a aberturas das flores. Foto: Isaías dos santos.
Como foi citado anteriormente as gemas florais passam por várias fases até acontecer o florescimento, que de forma didática pode ser dividida nas seguintes etapas:
- Indução e iniciação (G1).
- Diferenciação (G2).
- Crescimento/desenvolvimento (G3 e G4).
- Latência (G5).
- Antese (G6).
Estágios do desenvolvimento floral do cafeeiro arábica. Fonte: Lopez et al (2021).
Fatores que interferem na florada do café
Temperatura e umidade
Condições extremas de seca e temperaturas altas durante o período de vegetação e formação das gemas foliares (setembro a março), pode afetar o desenvolvimento das gemas e consequentemente a produção do ano seguinte.
Essas mesmas condições de seca e temperaturas altas na fase do florescimento, interferem na formação das estruturas reprodutivas, podendo ocasionar abortamento das flores e flor estrelinha (mal formada).
Alta temperatura prejudicando o desenvolvimento adequado da flor do cafeeiro. Esquerda: flor desidratada. Direita: flor estrelinha (mal formada). Foto: Diego Baquião / Isaías dos Santos.
Em lavouras que são irrigadas manter a umidade no solo nos períodos críticos auxilia no bom pegamento da florada e consequentemente no aumento da produtividade.
No trabalho abaixo, pode-se observar diferença significativa de produtividade onde foi realizado a irrigação suplementar, visando manter a reserva no solo em 100 mm.
Produtividade em cafeeiros submetidos ou não a irrigação suplementar no período de indução floral e outros períodos críticos. Fonte: Paiva et al. (2009).
Nutrição
A nutrição adequada durante o período de entressafra é fator fundamental para o desenvolvimento do cafeeiro e consequentemente bom desenvolvimento e pagamento da florada.
Alguns nutrientes como o cálcio e o boro estão ligados diretamente a essa fase, eles atuam na germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico. Porém é importante ficar atento ao balanço nutricional de todos os elementos, respeitando a lei do mínimo.
É importante ressaltar que os nutrientes cálcio e boro devem ser fornecidos via solo, uma vez que são imóveis via floema, garantindo assim uma boa distribuição nos tecidos vegetais em que são solicitados.
Manejo fitossanitário
Manter a planta livre de pragas e doenças é importante para garantir um bom enfolhamento da lavoura durante a entressafra, o que auxilia no equilíbrio da relação fonte/dreno, uma vez que a florada tem alta demanda energética da planta e as folhas é a principal fonte de fotoassimilados.
Visando o controle preventivo de doenças que acometem a florada do cafeeiro, é importante se atentar com as pulverizações de pré e/ou pós florada, de acordo com as condições climáticas do ano e da região.
Fatores como umidade relativa, altitude, temperatura, espaçamento e cultivar, interferem diretamente na incidência da doença e podem ajudar no direcionamento do monitoramento.
Doença de Phoma causando seca de ponteiro e mumificação de chumbinhos em cafeeiro arábica. Foto: Isaías dos Santos.
Colheita do café
A colheita é outro fator que pode influenciar na florada da planta de café. A mesma quando realizada tarde pode danificar os botões florais ou até mesmo derrubá-los durante a derriça.
Desta forma, o planejamento de colheita deve ser realizado visando encerrar numa data adequada, essa data varia de região para região.
Em regiões em que a colheita se inicia no mês de abril o ideal seria terminá-la no máximo até o final de junho. Já onde se inicia em maio, a data limite seria o final do mês de julho. De qualquer forma é importante ter em mente que quanto mais cedo terminar a colheita melhor.
Esquerda: frutos secos e botões florais em cafeeiro. Direita: Botões florais no fundo da colhedora de café. Foto: Isaias dos Santos
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Referências bibliográficas
- CARVALHO, G.R. et al. Cafeicultura do Cerrado. Belo Horizonte: EPAMIG, 2021. 564p.
- CAMARGO, A.P.; CAMARGO, M.B.P. Definição e esquematização das fases fenológicas do cafeeiro arábica nas condições tropicais do brasil. Bragantia, Campinas, 60(1), 65-68, 2001.
- LOLPEZ, M.E. et al. An overview of the endogenous and environmental factors related to the Coffea arabica flowering process. Beverage Plant Research. 2021, 1: 13.
- MATIELLO, J. B. et al. Cultura de café no Brasil: Manual de recomendações. Varginha, MG, 2020. p.714.