Mais de quatro mil produtores rurais de várias regiões do Rio Grande do Sul lotaram o ginásio da Fenarroz, em Cachoeira do Sul nesta quinta-feira (4). Eles se uniram em uma manifestação pacífica e gigantesca na tentativa de reforçar o coro, e fazer com as vozes ecoem em Brasília.
O Estado gaúcho foi vítima de uma catástrofe ambiental que atingiu 470 municípios, deixando um rastro de muita destruição e prejuízos que passam de R$ 4,5 bilhões. Mais de 200 mil propriedades rurais foram duramente atingidas e recomeçar tem sido muito difícil perante o apoio que ainda não veio do governo na medida da necessidade. “O que estamos vivendo não é resultado de falta de empenho de nossa parte, dentro da propriedade. Vimos nossa lavoura podre, pra mim foi como se tivesse ido num velório. Inesquecível. Visitei outras e a constatação era cada vez pior, porque no vizinhos a realidade era a mesma. Fui para dar apoio e não tinha apoio pra dar. Nos abraçamos chorávamos no meio da lavoura. Temos uma força gigantesca, mas só é gigante quando estamos juntos. O maior medo de qualquer governo, e aqui não falo de partido, é que o povo esteja unido. Só assim temos força e voz. Hoje, da forma como está, não tenho como continuar, são três anos de seca e um de enchente. Desolador. Se o Rio Grande do Sul gera 70 bilhões em impostos, não é nenhum favor disponibilizar dinheiro para nos ajudar. Se decretarmos recuperação judicial, como vai ficar o banco? Foi uma catástrofe. É um direito que temos”, desabafa a produtora rural Luciana.
Produção de leite é atividade mais relevante
Show Rural de inverno aponta 3 motivos para investir no trigo
A mobilização, parte do movimento SOS AGRO RS, foi organizada por diversas entidades representativas do setor produtivo e por lideranças do estado. Foram convidados para o evento todos os deputados estaduais e federais, o governo do Estado e os ministros da Fazenda, Fernando Haddad; ministro de Agricultura, Carlos Fávaro e ministro Paulo Pimenta, que comanda a Secretaria Extraordinária para a reconstrução do Rio Grande do Sul. Dos nomes citados do alto escalão do governo nenhum compareceu.
Pautas do SOS AGRO
- Prorrogação de dívidas: 15 anos, com dois anos de carência e taxa de juros de 3% ao ano;
- Crédito para reconstrução e capital de giro;
- Securitização e anistia de dívidas:
- Pronaf e Pronamp com taxas de juros reduzidas (1% a 3% ao ano) e prazos de reembolso de até 15 anos;
- Anistia das parcelas do Programa Nacional de Crédito Fundiário e do Programa Nacional de Habitação Rural com vencimento entre maio de 2024 e dezembro de 2025;
- Linhas de crédito e assistência técnica:
- Para reconstrução das propriedades e capital de giro para cooperativas de produção;
- Destinação de R$ 20 milhões para assistência técnica e extensão rural.
- Auxílio Emergencial: No valor de um salário mínimo pelo período de seis meses para famílias rurais.
Próximos passos
Lucas Scheffer, que também é produtor e parte da comissão organizadora do movimento relatou que o encontro foi promovido uma vez que o prazo estipulado para se ter uma resposta do Governo Federal expirou no dia 30 de junho. “Hoje fizemos uma nova ata. Vamos aguardar até o dia 15 e se não houver posicionamento faremos uma nova manifestação em Porto Alegre, convocado produtores de todas as regiões para que coloquem nos asfalto suas máquinas, seja trator, colheitadeira, pulverizador, caminhão, etc. Será uma mobilização por tempo indeterminado. Se necessário for vamos à Brasília”, reforçou.
No Rio Grande do Sul além das lavouras, maquinários e infraestrutura foram perdidos. O solo também foi levado pelas águas, o que dificulta ainda mais o recomeço.
Os produtores reivindicam que ao Projeto de Lei 1536, que prevê o perdão das dívidas agropecuárias no estado entre em vigor. Foi aprovado por unanimidade. O texto contempla financiamentos de custeio agropecuário, de comercialização e de investimento rural para produtores em municípios reconhecidos pelo governo federal em estado de calamidade pública ou situação de emergência. Contudo, o texto ainda aguarda análise dos senadores para ser encaminhado à sanção presidencial. A saída seria uma Medida Provisória, com efeitos imediatos.