Nunca choveu tanto na Serra Gaúcha desde o começo das medições há mais de um século, mostram dados meteorológicos. Os volumes extraordinariamente altos anotados na região serrana, onde estão e por onde passam rios que descem para os vales como o Caí e o Taquari, explicam as cheias sem precedentes.
O Rio Taquari teve dois grandes picos de cheia neste mês, efeito da chuva descomunal na Serra e nos vales. O primeiro ocorreu no início de maio, quando o nível superou a marca de 33 metros, perto de 4 metros acima dos recordes de 1941 e setembro de 2023.
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Foi quando os piores estragos foram observados no Vale do Taquari com as águas atingindo até o terceiro andar de alguns prédios na região de Lajeado. A devastação foi absoluta e total em várias localidades do vale, como em Roca Sales, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul.
No repique da cheia, as marcas nas réguas foram muito menores. O nível chegou a 27,78 metros em Estrela, marca muito menor que a do começo do mês, mas uma grande cheia pelos valores médios históricos, uma vez que o pico do início de maio fugiu absurdamente à curva das piores enchentes da história do vale em 150 anos de dados.
A estação meteorológica convencional de Caxias do Sul do Instituto Nacional de Meteorologia registrou apenas nos primeiros 20 dias de maio anotou 746,8 mm. Com isso, o acumulado não apenas é recorde para maio no período 1931 a 2024 como é recorde para qualquer mês do ano.
Para se ter ideia do que representa este volume, o que choveu em Caxias do Sul apenas nos primeiros 20 dias do mês supera absurdamente a média histórica mensal da cidade da Serra, que é de 131,4 mm. Ou seja, choveu apenas em três semanas neste mês o equivalente a 570% da média histórica mensal ou quase metade da média anual inteira.
A Prefeitura de Caxias do Sul decretou calamidade pública no começo do mês pelos efeitos da chuva que causou inundações e muitos deslizamentos de terra. A chuva teve início no dia 29 de abril com perdas de vidas, danos materiais em residências e vias públicas e equipamentos públicos, necessidade de remoção de milhares de pessoas em áreas de risco de alagamentos, queda de árvores, deslizamento de encostas e danos ambientais, dentre outros.
Com base nos dados desde 1931 da estação convencional oficial de Caxias do Sul, estes são os meses mais chuvosos da série histórica da cidade:
Maio de 2024 (parcial): 746,8 mm
Novembro de 2023: 478,7 mm
Setembro de 2023: 437,2 mm
Setembro de 1967: 434,9 mm
Setembro de 2009: 421,7 mm
Dezembro de 1980: 419,3 mm
Julho de 1983: 412,1 mm
Setembro de 1961: 407,6 mm
Maio de 1941: 403,9 mm
Janeiro de 1996: 403,3 mm
Outubro de 1963: 402,6 mm
A estatística mostra um dado impressionante. Os três meses mais chuvosos da série de Caxias do Sul ocorrerem todos desde setembro do ano passado com maio de 2024, novembro de 2023 e setembro de 2023 encabeçando o ranking, todos sob o evento do El Niño de 2023-2024 com o planeta muito mais aquecido que em episódios anteriores do fenômeno.
Os números deste maio recorde de chuva na Serra, entretanto, estão longe do definitivo e vão aumentar ainda mais. Vão superar certamente os 800 mm e podem atingir até marcas de 900 mm, uma vez que se prevê mais chuva para a Serra entre quinta e sexta assim como em parte da semana que vem.
(Com METSUL)