As doenças respiratórias em bovinos são um desafio presente em muitas fazendas no país. O seu diagnóstico muitas vezes é tardio e dependente da manifestação de sinais clínicos, o que se torna um complicador para que o tratamento das bezerras seja precoce e consequentemente bem sucedido.
Nesse texto, vamos abordar pontos que indicam o favorecimento do uso da ultrassonografia na fazenda e os benefícios dessa prática para garantir a saúde dos animais.
Particularidades anatômicas
Os pulmões presentes na cavidade torácica dos bovinos são protegidos pelo esqueleto na porção torácica pelo esterno, costelas, vértebras torácicas e é considerada uma estrutura rígida.
O lobo cranial do pulmão das vacas se encontra entre os primeiros três espaços intercostais (IEC), tal característica dificulta significativamente o exame clínico deste lobo, devido ao impedimento provocado pela localização deste sobre o membro torácico do animal. Essa região acaba, muitas vezes, sendo negligenciada durante o exame clínico e uso da percussão e auscultação.
O pulmão direito dos bovinos é relativamente maior do que o pulmão esquerdo e ambos são bem compartimentalizados. O pulmão direito é formado por:
- Parte cranial do lobo cranial direito;
- Parte caudal do lobo cranial direito;
- Lobo médio;
- Lobo acessório;
- Lobo caudal.
Já o pulmão esquerdo é formado pela:
- Parte cranial do lobo cranial esquerdo;
- Parte causal do lobo cranial esquerdo;
- Lobo caudal esquerdo.
Essa diferença anatômica deve ser levada em consideração no momento do exame clínico e avaliação dos lobos para diagnóstico de pneumonia em bezerras, por exemplo.
A anatomia do trato respiratório bovino possui particularidades que os deixam mais propensos ao desenvolvimento de lesões pulmonares, quando comparados aos outros animais domésticos.
Os bovinos apresentam uma menor capacidade fisiológica de troca gasosa devido às características de sua caixa torácica e uma maior atividade ventilatória basal, resultando em níveis de oxigênio bronquiolar e alveolar mais baixos.
Essa redução pode provocar baixa tensão de oxigênio ou hipóxia que retarda a ação dos macrófagos do trato respiratório e aparato mucociliar diminuindo as taxas de depuração pulmonar.
Fonte: BUDRAS, 2010
Como usar o ultrassom para o diagnóstico de pneumonias?
A pneumonia é definida como uma inflamação do parênquima pulmonar, geralmente acompanhada da inflamação dos brônquios e bronquíolos, associada frequentemente com pleurite.
Os sinais clínicos dos animais são variados, podendo apresentar aumento da frequência respiratória, taquicardia, hipertermia, corrimento nasal, depressão, inapetência, alterações na profundidade da respiração, tosse, sons respiratórios anormais à ausculta e nos casos de infecções bacterianas, sinais de endotoxemia.
Devido à grande variabilidade de sintomatologia clínica, nem sempre os animais apresentam sinais bem definidos que possam definir com propriedade que se trata de um quadro de pneumonia. Diante desse cenário, associar ao exame clínico do animal ao uso de exames auxiliares, como a ultrassonografia para determinação da extensão, gravidade e prognóstico dos animais é benéfico, pois dessa forma, temos mais confiabilidade e informações para atuar no tratamento das bezerras.
A técnica para realização da avaliação ultrassonográfica do pulmão envolve a substituição do gel acústico, normalmente utilizado nesse exame, por álcool isopropílico. Isso deve ser feito, pois a densidade dos pelos das bezerras impede a formação de imagem adequada, o álcool permite a formação de uma boa imagem. Ele é aplicado sobre a pele deste o 10º espaço intercostal até o 3º espaço intercostal, onde é viável realizar o exame, opta-se pelo uso do transdutor linear de 8.5 MHz, pois seu tamanho é ideal para colocação no espaço intercostal dos animais.
Para a realização do exame, a movimentação da probe do equipamento no sentido caudo-cranial dos campos pulmonares, fazendo a avaliação de cada espaço intercostal no sentido dorso-ventral.
Avaliação do lobo cranial direito em bezerras, onde temos os maiores índices de consolidação. Nas bezerras essa avaliação é mais fácil devido à facilidade de acesso no membro torácico. Foto: Maria Fernanda Faria.
O que observamos em um pulmão saudável x pulmão em quadros de pneumonia?
Um pulmão saudável apresenta as pleuras com interface com o pulmão aerado, anecóico, enquanto a pleura observa-se como uma faixa brilhante. Abaixo da pleura espera-se a formação de artefato de reverberação, ou seja, uma série de linhas hiperecóicas horizontais, curvilíneas, dispostas paralelas e bem regulares.
Em casos de pneumonia, podemos observar a presença de linhas B, também chamadas de “cauda de cometa”. São caracterizadas por um feixe estreito com linhas hiperecogênicas próximas, na superfície da pleura, são formadas na presença de bolhas de gás, líquido dentro dos alvéolos, na pleura ou em casos de edema intersticial. Outros achados comuns na pneumonia, são as irregularidades pleurais e a consolidação pulmonar, que indicam lesões pulmonares e podem ser utilizadas para definir a gravidade e extensão das pneumonias.
A consolidação pulmonar é a principal alteração visualizada em casos de pneumonia, elas representam qualquer parte do pulmão sem a presença de reverberação, ainda é visualizada característica hipoecoica e ecoica visualizada a partir da pleura. Já a efusão pleural é observada no ultrassom pela presença de regiões anecóicas entre as pleuras pulmonares. Para fazer a avaliação das pneumonias com o uso de ultrassom utiliza-se de um escore ultrassonográfico:
Fonte: ANDRADE (2021); BUCZINSKI (2016).
Imagens ultrassonográficas onde a imagem B demonstra a “cauda de cometa” e as imagens E e F com consolidações pulmonares. Fonte: João Paulo Andrade
Em experimento já realizado, observou-se que as consolidações ocorrem em maior número de casos em apenas um lobo, sendo a maioria no lobo direito (72,2%) enquanto no lobo esquerdo houve um número menor (1,7%), já em relação à consolidação em ambos os pulmões se observou resultados de 25,5%.
Quanto à localização das consolidações nos quadrantes pulmonares, o lobo cranial direito apresentou uma representatividade bem maior quando comparado aos outros lobos (88% dos casos), sendo quase metade desses casos restritos apenas a esse lobo, sem acometimento dos caudais (43%).
A hipótese levantada para o maior acometimento da porção cranial do lobo cranial direito está relacionada ao fato deste ser o primeiro ponto de parada de patógenos vindos das vias aéreas superiores. Em bezerros, o acesso ao lobo cranial é mais fácil devido ao tamanho dos animais, entretanto, com o avançar da idade e desenvolvimento muscular do membro torácico direito, torna-se mais difícil levar a probe do ultrassom à região.
Avaliação pulmonar em vacas leiteiras. Foto: Maria Fernanda Faria
A ultrassonografia, muitas vezes independe da presença de sinais clínicos para o fechamento do diagnóstico de pneumonia, o que permite a identificação de quadros subclínicos nos animais. Isto posto, a utilização dessa ferramenta permite um diagnóstico mais preciso na fazenda, avaliação da intensidade das afecções respiratórias nas bezerras, categorias mais afetadas, a gravidade das lesões e também monitorar a recuperação dos animais e a eficiência do tratamento instituído aos animais.
A identificação de quadros subclínicos é um dos grandes benefícios da adoção da ultrassonografia. Ela permite realizar o diagnóstico de pneumonias com alta sensibilidade e especificidade mais significativa do que apenas os escores clínicos. O uso dessa ferramenta complementar permite fácil realização nas bezerras e avaliação da consolidação pulmonar.
A adoção da ultrassonografia permite a melhor tomada de decisão e escolha para tratamento para as bezerras. E pode ser uma ferramenta aliada a outras práticas nas fazendas, como monitoramento de temperatura dos animais, uso de escores respiratórios, como Wisconsin e Califórnia para garantir o diagnóstico mais precoce do quadro nos animais.
O ultrassom possui outros benefícios como avaliação clínica das vacas, pode ser utilizado para avaliação das estruturas umbilicais dos bezerros e para o diagnóstico reprodutivo e da saúde reprodutiva das vacas.
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