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Avanços e desafios para o desenvolvimento sustentável e bem-estar das comunidades de agricultores familiares no Amazonas foram discutidos no III Workshop Serviços Ambientais, que ocorreu durante três dias, de 10 a 12 de abril de 2024, na comunidade Tururukari-Uka, localizada no município de Manacapuru, AM.
O workshop de serviços ambientais envolveu comunidades participantes de projeto de inovação social da Embrapa no Amazonas, como o projeto “Desenvolvimento de sistema de produção sustentável envolvendo culturas perenes, semi-perenes, anuais e meliponicultura para pequenos produtores de Manaus”.
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As ações desenvolvidas pelo projeto com as comunidades disponibilizaram aos agricultores conhecimentos, acesso a tecnologias resultantes da pesquisa agropecuária, como cultivares melhoradas e orientações de manejo, informações técnicas, assim como oportunidades para apoiar maior organização dos agricultores em torno de objetivos comuns para viabilizar ações de serviços ambientais e de desenvolvimento de suas comunidades.
Representantes de oito comunidades de agricultores familiares e agricultores indígenas, localizadas nas proximidades de Manaus, falaram sobre seus esforços, avanços e dificuldades em incorporar nas suas comunidades ações relacionadas a viabilizar agricultura mais sustentável com produção de alimentos, geração de renda e serviços ambientais.
Algumas dessas comunidades, apoiadas pelo projeto da Embrapa, tem melhorado sua produção agrícola, mas precisam superar desafios coletivos para melhorias em suas comunidades e, por meio do projeto foram incentivadas a compromissos coletivos que estão buscando para o desenvolvimento das comunidades, indo além da questões de produção agrícola.
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Alguns, ribeirinhos, estão buscando implementar acordos de pesca para garantir melhor manejo e disponibilidade de peixe para as comunidades; Outros estão buscando reivindicar junto a instituições o acesso a ensino médio, solicitando implantação de escola local para evitar o êxodo rural dos jovens; Outras estão se organizando para beneficiamento da produção agrícola, com construção de pequenas agroindústrias. Em outra comunidade, o foco é em busca da regularização fundiária, para ter acesso a políticas voltadas para agricultura familiar.
Everton Cordeiro, chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, comentou que um ponto em comum expresso pelas comunidades é que estão sendo afetados por questão climáticas, como a seca extrema que ocorreu recente no Amazonas, e que deixa consequências com a perda de produção pela estiagem, a falta de peixe, a falta de acesso a água potável para consumo, tudo isso influenciando na insegurança alimentar, e que passa a ser um desafio a mais para que tanto a Embrapa como empresa de pesquisa, assim como outros agentes públicos, precisem considerar neste contexto.
A pesquisadora Raquel Prado, da Embrapa Solos (RJ), que participou das versões anteriores do workshop, comenta o quanto a abordagem de serviços ambientais nas comunidades participantes do projeto avançou, incluindo nas suas práticas da agricultura diárias ações que contemplam cada vez mais o cuidado com os recursos naturais e prestação de serviços ambientais, com a incorporação de práticas conservacionistas, seja no manejo do solo, no cuidado com a água, com o lixo, com a preservação de nascentes, proteção da biodiversidade, entre outras ações.
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“O conhecimento trazido pela Embrapa e por seus parceiros tem sido muito bem aproveitado nessas comunidades”, destaca Raquel, citando o intercâmbio de conhecimentos obtidos e as práticas, inclusive conservacionistas, que passaram a ser adotadas. Um exemplo foi o incentivo à criação de abelhas sem ferrão, a meliponicultura, que contribui tanto como polinizadores que é importante para a agricultura e a produção dos cultivos, além da provisão de alimentos diretamente das abelhas, como o mel. Comunidades receberam curso e materiais, estão interessados no tema, e algumas se dedicando a trabalhar com as crianças a importância das abelhas e da preservação.
“Começamos nosso avanço quando nos unimos”, disse o representante da comunidade Tururukari-Uka, Gelson da Costa, ao relatar como a união da comunidade, formada por indígenas da etnia Kambeba, e a parceria com a Embrapa, permitiu colocar em prática os conhecimentos para melhorar a produção de alimentos.
“Com o manejo do solo, a gente está plantando, sem queimar, sem desmatar, gerando alimentos pra próprio consumo”, disse, citando que passaram a cultivar banana em um processo diferente do que conheciam, chegaram a desacreditar no início, mas tiveram resultados que surpreenderam com boa colheita.
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Também experimentaram o cultivo de feijão-caupi biofortificado, fizeram cursos e passaram a criar abelhas na meliponicultura e também foram contemplados com curso e apoio para implantação do Sisteminha Embrapa, uma tecnologia social voltada para produzir alimentos de forma integrada em pequenos espaços, a baixo custo. No caso da comunidade o sistema integrado vai ter produção de peixes, onde a água é reaproveitada para o cultivo de hortaliças e outras plantas.
Outra comunidade participante, que reúne famílias indígenas é a Aldeia Gavião, que passou a diversificar sua produção para a segurança alimentar. Com o apoio do projeto, “conseguimos plantar tanto cacau, banana, açaí, feijão, jerimum e isso trouxe bastante benefício para nossas famílias”, conta Terezinha SateréMaué, que acrescenta o cuidado especial da comunidade para não desmatar.
Além dos relatos das comunidades, houve rodas de conversa com apresentações de pesquisadoras convidadas abordando temas como serviços ambientais e segurança alimentar. Raquel Prado, da Embrapa Solos (RJ), destacou a relação entre recursos naturais e agricultura, e a importância dos agricultores enquanto agentes promotores de serviços ambientais, e como o manejo da terra na agricultura é fundamental para a prestação de serviços ambientais, para a agricultura de qualquer porte, tanto para a recarga de aquíferos, para a contenção de perda de solos, para a manutenção da própria mata e da biodiversidade.
A pesquisadora Marília Nuti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), explanou sobre os alimentos biofortificados, desenvolvidos pela Embrapa, e que trazem maior conteúdo de ferro, zinco e vitamina A. Isso é obtido com pesquisa nos bancos de germoplasma da Embrapa, identificando variedades com maior conteúdo de vitaminas e minerais e feito o cruzamento, por melhoramento convencional, com variedades de maior produtividade. Como resultado de pesquisas de mais de 20 anos já foram desenvolvidas 14 cultivares biofortificadas, com alimentos básicos, como o arroz, o feijão, a mandioca, a batata doce, o milho, a abóbora e o trigo.
“Então, nós temos hoje, por exemplo, um feijão que tem mais ferro e mais zinco, mas que continua sendo produtivo, resistente a pragas, e é o alimento biofortificado”, referindo-se ao feijão Tumucumaque, que tem o dobro de zinco que um feijão caupi comum, e foi apresentado e cultivado ano passado na comunidade Tururukari-Uka com boa aceitação. “Então a ideia é que as comunidades possam estar se alimentando com produtos que elas já comem, como o feijão, mas que são mais nutritivos”. Na vinda à Manaus, a pesquisadora Marília Nuti, cumpriu agenda conversando com profissionais de outras instituições, para trabalhar em parcerias locais, junto com a Embrapa, para apoiar a produção e a divulgação desses alimentos biofortificados no Amazonas.
Também na programação do III Workshop Serviços Ambientais, a pesquisadora Dionisia Nagahama, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), apresentou ações de pesquisas e transferência de conhecimentos relacionadas ao aproveitamento de alimentos regionais, principalmente frutos.
A proposta é mostrar o que fazer com frutos que têm um potencial nutricional muito alto, muito bom, e transformar em produtos tecnológicos, conforme explicou a pesquisadora, citando como exemplo a pupunha, tucumã, açaí, visando elaborar produtos alimentícios,como farinhas desidratadas e outras elaborações a partir desses produtos, como nectar, suco, refresco, geleias etc. Outra ação nesse sentido é voltada para que agricultores familiares possam utilizar técnicas de processamento para aproveitar produtos não comercializados, agregar valor para gerar renda, por exemplo, com o abacaxi muito maduro não vendido in natura pode ser feita a desidratação.
Compromissos
O pesquisador Lindomar Silva, da Embrapa Amazônia Oriental, coordenador do workshop, destacou que a partir das trocas de experiência no evento foram elaborados e assumidos compromissos para dar continuidade ao trabalho em 2024 e apresentar o resultados no próximo workshop, no 1º semestre de 2025. Entre os compromissos assumidos entre os participantes, estão o de continuar a atuação junto às instituições públicas e privadas, visando fortalecer os acordos nas comunidades ribeirinhas; o compromisso de diversificar cada vez mais a produção agrícola; fortalecer o movimento de pequenos agricultores e a organização das comunidades, entre outras ações.
Pela Embrapa há o compromisso de permanecer com os processos de capacitação, voltado para o manejo e da administração de unidades familiares de produção, e incluir culturas de alimentos biofortificados como o feijão, o milho e a batata doce nessas comunidades.
O III Workshop Serviços Ambientais foi promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Coordenação de Povos Indígenas de Manaus e Entornos (Copime), a Associação Tururukari-Uka dos índios Kambeba e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Siglia Souza (Mtb66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental