Reflorestar áreas desmatadas de maneira correta é fundamental para garantir uma melhor qualidade de vida para todos e assegurar o futuro da humanidade. Essa prática não apenas protege o solo e a biodiversidade, mas também contribui para melhorar o clima e a qualidade das águas, entre diversos outros benefícios.
Apesar da complexidade e do tempo necessário para realizar o reflorestamento, não devemos descartar ou adiar esse projeto em nossas propriedades. Pelo contrário!
De acordo com um levantamento realizado pela Embrapa, no Brasil, é necessário recuperar pelo menos 100 milhões de hectares de pastagens. Segundo essa empresa pública, somente assim o país poderá alcançar uma agropecuária de qualidade, especialmente considerando que possui o maior rebanho de bovinos comerciais do mundo.
Neste artigo, abordaremos detalhes importantes sobre como realizar o reflorestamento de áreas degradadas e os benefícios dessa prática. Boa leitura!
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Afinal, o que é um reflorestamento?
Certamente, em algum momento de sua vida, mesmo que tenha sido nos primeiros anos de escola, você já ouviu falar sobre reflorestamento. Atualmente, é um tema bastante relevante devido ao aquecimento global, que prejudica o meio ambiente e afeta todo o planeta.
Antes de apresentar todas as informações sobre como reflorestar uma área degradada é importante explicar inicialmente qual a diferença entre florestamento e reflorestamento.
Ou seja, o florestamento é o ato de plantar árvores em áreas onde não existe nenhuma vegetação. Já o reflorestamento ocorre quando essas plantas, principalmente árvores, foram removidas para outros fins (como exploração da madeira, por exemplo) ou foram destruídas pela ação do homem.
Portanto, o reflorestamento basicamente significa a recuperação de uma região que foi afetada, tendo sua fauna e flora comprometidas. Dessa forma, a área desmatada voltará a ser produtiva, o que será muito benéfico para todos nós e para o meio ambiente.
Preocupação com o desmatamento no Brasil
Ao discutir o reflorestamento, é crucial mencionar o motivo pelo qual é um tema tão preocupante, que é o contraponto: o desmatamento. Esta é uma realidade mundial e extremamente preocupante.
Um fato importante a ser destacado é que a maior parte do desmatamento acontece em terras públicas, ou seja, desmatamento ilegal.
De acordo com um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), apenas entre 2010 e 2015, cerca de 6,5 milhões de hectares de mata nativa deixaram de existir. O Brasil foi o país que apresentou a maior taxa de desmatamento: em torno de 984 mil hectares por ano.
O problema se agrava ainda mais porque grande parte desse desmatamento ocorre por meio de queimadas, que provocam a emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera.
De fato, é importante ressaltar que o dióxido de carbono é um dos principais fatores que contribuem para o agravamento do aquecimento global.
Veja no vídeo a baixo, um trecho em que Lygia Pimentel fala sobre o desmatamento no Brasil:
Portanto, o reflorestamento traz uma série de benefícios, tais como a captação do CO2 da atmosfera através da fotossíntese e a recuperação de uma área degradada. A seguir, trataremos sobre esses benefícios.
Citamos anteriormente que o desmatamento é um problema mundial e particularmente grave no Brasil. Portanto, a importância de realizar o reflorestamento é evidente. Essa prática traz inúmeros benefícios ao meio ambiente, que serão detalhados neste tópico.
No entanto, você sabia que o reflorestamento também pode gerar retorno financeiro para o proprietário da fazenda?
Além disso, as florestas plantadas em áreas desmatadas podem gerar renda por meio da produção e comercialização da madeira, dos produtos não-madeireiros, como frutas e castanhas, e pelo aproveitamento das sementes dessas árvores para produção de novas mudas. Além disso, o reflorestamento contribui para combater o desmatamento ilegal.
Aliás, recentemente, outra questão tem chamado a atenção em relação a essa possibilidade de retorno financeiro: o crédito de carbono.
Com o objetivo de reduzir o efeito estufa, a Conferência de Quioto (1997) consagrou o conceito de crédito de carbono, visando conter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera. E a forma mais comum disso acontecer, de maneira natural, é por meio das florestas.
Em suma, o crédito de carbono é um conceito relacionado à redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Funciona assim: empresas ou países que conseguem reduzir suas emissões de CO2 abaixo de uma certa meta podem receber créditos por essas reduções. Esses créditos podem então ser vendidos para outras empresas ou países que têm dificuldade em cumprir suas metas de redução de emissões.
Em termos simples, é como se fosse uma espécie de “moeda verde” que representa a quantidade de CO2 que foi evitada de ser liberada na atmosfera. Esses créditos incentivam a redução das emissões de gases de efeito estufa e promovem práticas mais sustentáveis.
Resumindo, a Conferência de Quioto, em 1997, foi um marco importante ao estabelecer regras e diretrizes para o uso e comércio de créditos de carbono como parte dos esforços globais para combater as mudanças climáticas.
Diante disso, é importante frisar que o reflorestamento oferece uma série de benefícios importantes para o meio ambiente e a sociedade. Aqui estão seis deles apresentados pelo Instituto Brasileiro de Florestas:
- Reposição de madeira dura tropical: No Brasil, a demanda por madeira dura tropical excede a oferta, criando um déficit no mercado. O reflorestamento com espécies exóticas, como o Mogno Africano, ajuda a aumentar o suprimento dessas madeiras, reduzindo o déficit e combatendo a extração ilegal.
- Equilíbrio ambiental: As árvores desempenham um papel crucial na regulação do ciclo da água, armazenando e liberando parte dela através da evaporação. Isso é especialmente vital para áreas distantes dos oceanos, onde as árvores ajudam a evitar desertificação e mantêm o equilíbrio hídrico.
- Absorção de CO2: As árvores realizam a fotossíntese, absorvendo CO2 e armazenando carbono em seus troncos, galhos e raízes. Esse processo não apenas reduz os níveis de CO2 na atmosfera, mas também enriquece o solo, contribuindo para a fertilidade.
- Ar-condicionado natural: As florestas ajudam a resfriar o ambiente, retendo parte do calor em seus componentes, como troncos e galhos, o que contribui para amenizar o calor nas áreas circundantes.
- Melhoria da saúde humana: Estudos mostram que caminhar em florestas tem efeitos positivos na saúde, como a redução da pressão arterial e a melhoria da capacidade pulmonar. Componentes liberados pelas árvores, como fitocidas, contribuem para um sistema imunológico mais forte.
- Promoção da biodiversidade: As árvores fornecem habitat e alimento para uma variedade de espécies animais, além de abrigarem fungos que ajudam na fixação do nitrogênio no solo. Plantar árvores perto de corpos d’água pode aumentar a produção de plâncton, beneficiando toda a cadeia alimentar marinha.
Apesar desses benefícios, o Brasil enfrenta uma significativa perda de áreas verdes devido ao desmatamento. O estabelecimento de florestas comerciais pode ser uma solução para reduzir esses impactos e a exploração ilegal de madeira nativa.
Nesse sentido, o produtor rural que protege áreas que poderiam ser derrubadas no futuro garantirá que estas continuem absorvendo e fixando gás carbônico da atmosfera. Este investimento será compensado com certificados que equivalem ao carbono evitado e, portanto, podem ser vendidos.
Isto é, com o intuito de reflorestar uma área, é essencial ter paciência e saber a forma correta de agir, incluindo o plantio de mudas de espécies adequadas. Nesse sentido, você pode buscar ajuda de especialistas no assunto ou adquirir esse conhecimento por meio de cursos e capacitações.
Se optou pela segunda hipótese, continue lendo nosso artigo, pois é justamente isso que vamos abordar a seguir: as melhores espécies de árvores para reflorestar uma área.
Quais as melhores árvores para reflorestamento?
Em verdade, ao abordarmos o reflorestamento de áreas desmatadas, é essencial considerar a pluralidade. Quanto mais diversificado o ambiente vegetal for, maiores são as chances de obter sucesso em sua empreitada.
Hoje, uma parte significativa das áreas reflorestadas no Brasil inclui o plantio de eucalipto (Eucalyptus). Essas árvores, originárias da Austrália, Tasmânia e outras ilhas da Oceania, são utilizadas para diversas finalidades, como produção de lenha, carvão vegetal, indústria moveleira, geração de energia, medicamentos, celulose, papel, entre outras.
Com foi notado, o eucalipto é amplamente explorado devido ao seu rápido crescimento, capacidade de adaptação a diversas regiões e seu potencial econômico. No entanto, o plantio dessa espécie é sujeito a restrições e requer orientações técnicas específicas.
Como resultado, os aspectos técnicos mais importantes a considerar antes de decidir sobre investir em plantios de eucaliptos incluem: clima, solo, dimensão da área, sistema de cultivo, principal finalidade de uso e sistema de colheita, entre outros fatores.
Além disso, é viável realizar o reflorestamento com árvores nativas, as quais são capazes de produzir frutos e contribuir para a biodiversidade local. Essas espécies nativas atraem animais que, por sua vez, dispersam as sementes, promovendo o crescimento de novas árvores na região desmatada.
Árvores nativas mais apropriadas para um projeto de reflorestamento no Brasil
Abaixo, confira outras espécies que podem ser usadas em reflorestamentos. Elas também se destacam pelo crescimento rápido, segundo estudos do Instituto Brasileiro de Florestas, além da possibilidade de serem usadas em projetos de paisagismo. Confira:
- Aroeira Pimenteira (Schinus terebinthifolius Raddi): de pequeno porte (média de 5 a 10 metros), é uma espécie cuja casca é usada no curtimento de couro e para fortalecer redes de pesca, enquanto que seus frutos são usados na culinária, como condimento;
- Paineira (Ceiba speciosa): árvore que pode chegar a até 30 metros de altura, é opção para plantios mistos em áreas degradadas de preservação permanente. Fornece sombra e possui lindas flores (muito utilizada em paisagismo de jardins e praças);
- Angico branco (Anadenanthera colubrina): essa espécie pode alcançar cinco metros em apenas dois anos. Sua madeira é aproveitada na produção de lenha, carvão e construção civil. Opção também ao paisagismo/arborização devido a sua beleza;
- Farinha seca (Albizia niopoides): árvore muito elegante, é considerada excelente para reflorestamentos de áreas degradadas. Por ser elegante, é plantada também como a finalidade de arborização de praças públicas e jardins;
- Mutambo (Guazuma ulmifolia): conhecida por embira, pode chegar a uma altura de 16 metros. Proporciona uma boa sombra e possui frutos comestíveis apreciados por muitas espécies de animais;
- Dedaleiro (Lafoensia pacari): conhecido como Pacari, pode chegar até 18 metros de altura. Sua madeira é destinada à marcenaria e construção civil. É recomendada aos reflorestamentos mistos de áreas desmatadas e também possui boas características ornamentais;
- Açoita cavalo (Luehea divaricata): com altura média da árvore de 3 a 17 metros é uma espécie indicada para terrenos secos e pobres e, portanto, muito utilizada na recomposição de áreas degradadas.
Confira também: Tratamento da madeira de eucalipto: como é feito e para quê serve!
Proteger o que já existe é importante!
Além de realizar o reflorestamento das áreas desmatadas, é importante proteger a vegetação remanescente na área.
Mesmo que sejam poucas árvores, elas podem servir como base e garantir o sucesso do seu projeto de proteção ambiental. Dessa forma, o trabalho se torna mais simples e ainda é possível preservar algo original da região.
Por sinal, existem diversas ações que incentivam empresas a patrocinarem o reflorestamento por meio de doações voluntárias de mudas. Essas iniciativas são consideradas sustentáveis e contribuem para a compensação de CO2, além de promoverem a preservação ambiental e o engajamento com a comunidade.
Vale acrescentar que essa restauração de matas nativas ocorre dentro dos limites dos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado. E ainda, os proprietários rurais recebem doações de mudas e promovem a restauração dessas matas ciliares.
Por sua vez, as empresas que patrocinam a doação de mudas recebem o Certificado de Empresa Amiga da Floresta (selo “Eu Colaboro”), seguindo a legislação ambiental vigente e o modelo proposto pela Norma ISO 14020 para concessão de selos ambientais.
Outro ponto importante é que o projeto precisa ser sustentável, o que significa que deve se manter em funcionamento por um longo período.
Por esse motivo, é importante planejar como será o abastecimento de produtos que irão manter em bom desenvolvimento as mudas utilizadas no reflorestamento, incluindo sistemas de irrigação na fase inicial de crescimento.
Nesse sentido, recomendamos contar com a ajuda de profissionais especializados nessa área. Eles realizarão um estudo que analisará o melhor plano a ser seguido, a garantia de sua viabilidade e, ao final, obter os melhores resultados.
Exemplo de sustentabilidade
Por falar em proteção, existem iniciativas de preservação e recuperação ambiental em diferentes regiões do país. Um exemplo é a Associação Ambientalista Copaíba, localizada no município paulista de Socorro.
Sendo que a iniciativa começou em 1999, quando quatro amigos perceberam a degradação da Mata Atlântica naquele município e resolveram realizar ações de restauração de matas ciliares. Eles criaram a ONG, que, com o passar do tempo, ampliou sua atuação, agregando novos membros e colaboradores.
Atualmente, a Copaíba atua em 19 municípios da região leste do Estado de São Paulo e sul de Minas Gerais, por meio de diversas ações integradas na área ambiental, tais como:
- Projetos e programas de restauração ecológica: em parceria com proprietários de áreas visando recuperação de matas nativas e nascentes de rios de suas propriedades;
- Produção de mudas nativas: são cerca de 160 espécies de árvores nativas;
- Iniciativas de educação ambiental: reconectar as pessoas com a natureza, conscientização sobre a importância da conservação e restauração da Mata Atlântica e outros ecossistemas;
- Participação em políticas públicas: ajudar na elaboração de políticas ambientais, fiscalizar as ações do poder público e adequação de áreas às normas ambientais.
Além de ONGs e outras entidades ambientais, o reflorestamento ambiental foi objeto de uma pesquisa científica desenvolvida por dois especialistas nessa área: o professor da Esalq-USP Ricardo Rodrigues e o diretor do Instituto de Botânica de São Paulo Luiz Mauro Barbosa.
Por essa razão, eles tiveram apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e apresentaram uma nova metodologia nessa área de recuperação ambiental, considerada mais eficiente e com menores custos. Você pode conferir mais detalhes no vídeo abaixo:
Conclusão
Por fim, neste artigo, mostramos a importância das ações voltadas ao reflorestamento, levando em consideração a extensão territorial do Brasil e a grande quantidade de áreas degradadas.
Por falar em degradação, que tal conferir a nossa sugestão de leitura complementar a respeito das 10 causas da degradação dos solos, o que fazer e como corrigi-los? Vale a pena acessar!
Escrito Por
Klaus Bernardino
Jornalista há mais de 40 anos, formado pela Unimar (Universidade de Marília). Editor do portal Visão Notícias.com