O momento da ordenha na propriedade leiteira é um dos pontos mais importantes do manejo dos bovinos. É nesse momento que se torna possível realizar a avaliação dos tetos das vacas, o que é crucial para garantir a saúde e a produtividade do rebanho.
Nesse momento, fica evidente se processos relacionados a ordenha e cuidados com os tetos estão adequados, além de também predizer sobre o manejo com as vacas e se o treinamento dos colaboradores está alinhado.
Nesse texto, iremos discutir sobre a avaliação dos tetos das vacas e sua relação com a saúde, qualidade do leite, eficiência da ordenha e bem-estar. Além disso, discutiremos sobre pontos a serem levados em consideração nessa avaliação, como a coloração, ressecamento, rachaduras e a presença de hiperqueratose.
Porque é importante fazer a avaliação dos tetos?
Antes de entendermos melhor sobre os pontos a serem observados durante a avaliação dos tetos, é importante ressaltar as razões pelas quais devemos estar atentos em relação a avaliação dos tetos, e dentre elas podemos citar:
- Saúde mamária: A avaliação dos tetos permite detectar de maneira precoce problemas da saúde mamária, pois sabemos que os tetos são a principal via de entrada de microrganismos que causam infecções na glândula mamária. Nesse caso, durante a avaliação dos tetos é possível observar sinais de mastite, como inchaço, vermelhidão, calor, dor e presença de pus no teto.
- Qualidade do leite: Alterações nos tetos podem afetar a qualidade do leite produzido. Tetos que estão danificados, ou seja, com presença de feridas ou lesões, são considerados porta de entrada para bactérias, o que aumenta o risco de contaminação do leite. Esses microrganismos presentes na superfície dos tetos podem ser transferidos para o leite durante a ordenha, o que pode elevar os indicadores de qualidade do leite devido o comprometimento da qualidade microbiológica do teto.
- Bem-estar: A avaliação regular dos tetos deve fazer parte do manejo das vacas leiteiras, o que contribui para o bem-estar geral dos animais. Tetos lesionados, feridos ou com deformidades causam dor e desconforto às vacas, o que pode impactar na capacidade de consumo da dieta, de se movimentar e até mesmo de descansar. Esse desconforto gerado é um grande fator que contribuiu para o estresse, o qual sendo crônico pode levar a problemas de saúde adicionais, afetando o comportamento e o desempenho produtivo das vacas.
- Eficiência na ordenha: Tetos saudáveis, íntegros e em boas condições irão facilitar o processo de ordenha, conferindo uma extração eficiente do leite. Quando temos problemas nos tetos, seja devido a presença de feridas ou deformidades, pode haver dificuldade na ordenha, além de prolongar o tempo necessário para tal processo.
Avaliação da condição da pele do teto
Realizar observação dos tetos como um todo representa um passo importante para avaliação da rotina de ordenha e identificação de possíveis falhas.
As condições dos tetos das vacas podem ser afetadas pelo processo de ordenha, os produtos utilizados para assepsia do teto (pré e pós-dipping), condições ambientais gerais da fazenda e por qualquer agente em contato com o teto da vaca.
A ordenha mecânica cria alterações nos tetos que são melhor observados quando ocorre a remoção do conjunto de ordenha, geralmente dentro de 30 – 60 segundos, porém também podemos observar alterações a longo prazo, principalmente na extremidade do teto.
Para avaliar os tetos durante a ordenha, é muito importante que tenhamos uma fonte de luz eficiente pois na região ventral da vaca é escuro. Além disso, devemos usar sempre luvas para fazer essa avaliação, e fazer a identificação dos animais e anotar as alterações imediatamente, como presença de lesões.
Coloração do teto
A coloração dos tetos das vacas pode apresentar variabilidade de acordo com a raça, dentro de um mesmo rebanho ou até mesmo entre os tetos do mesmo animal.
As vacas podem apresenta tetos rosados, com presença de manchas mais escuras pela extensão do teto (malhado) ou preto. A cor dos tetos possui uma relação com a rugosidade da pele, tetos com coloração preta, apresentam mais rugosidade por apresentarem a superfície da pele mais seca.
Tetos pretos podem esconder alterações de pigmentação induzidos por ordenha mecânica ou reações de hipersensibilidade em resposta à fatores externos. Já os tetos de pele mais clara, podem ser mais susceptíveis às irritações pelas paredes das teteiras.
Avaliar a condição dos tetos após a retirada do conjunto de ordenha, pois tetos que estão saindo do conjunto mais avermelhados, arroxeados ou inchados são indicativos de falhas da rotina de ordenha e/ou regulagem do equipamento de ordenha, aumentando os riscos de hiperqueratose.
Quando observamos vermelhidão em áreas específicas do teto ou de forma generalizada podemos relacionar à presença de irritação em resposta à agentes químicos. Caso seja observada essa alteração de cor é muito importante anotar as áreas afetadas e o padrão de distribuição entre os tetos e comparar outras vacas da linha de ordenha.
Manter essas anotações e avaliar a coloração é muito importante para identificação de possíveis causa. A irritação em resposta a produtos utilizados na higiene dos tetos, normalmente ocorre entre 2 – 7 dias após o primeiro uso.
Ocasionalmente, os ordenhadores também podem apresentar irritação na pele das mãos, antebraço e rosto. Qualquer mudança de coloração do teto por irritação exige atenção e deve ser avaliada. Essa é uma forma de avaliarmos a coloração dos tetos:
Adaptado de NMC – Guidelines for Evaluating Teat Skin Condition
Ressecamento do teto
A estimativa da secura do teto pode ser não ser exato caso seja utilizado apenas a avaliação visual, pois os tetos de coloração preta vão parecer sempre mais secos.
Por isso, a melhor forma de fazer essa avaliação é pelo teste de fricção: utilizando de uma luva de látex, o examinador deve arrastar o dedo indicador e polegar ao longo da superfície do teto com leve pressão.
Adaptado de NMC – Guidelines for Evaluating Teat Skin Condition
Rachaduras
As rachaduras nos tetos devem ser pontuadas pela extensão como mínima ou severa/extensa e pela posição (proximal, distal ou na extremidade).
A extensão das rachaduras pode indicar a duração do problema, as rachaduras apresentam-se como fissuras horizontais, aberta ou com crostas que seguem as dobras naturais da superfície do teto. Elas devem estar ausentes nas vacas, pois a sua ocorrência pode estar relacionada à má desinfecção do teto ou uso de produto inadequado, geralmente contendo muito pouco emoliente.
As rachaduras podem ocorrer, com maior frequência, na face anterior dos tetos anteriores e na face posterior dos tetos posteriores.
Um dos fatores que pode levar a formação de rachaduras é o fator climático desfavorável pois, à exposição ao frio sobre a pele desgastada do teto pode levar ao ressecamento excessivo de tetos molhados.
Além disso, um ambiente inadequado de permanência das vacas ou pastagens mal manejadas podem aumentar o acúmulo de lama que também provoca uma abrasão no teto.
Adaptado de: NMC – Guidelines for Evaluating Teat Skin Condition
Avaliação da hiperqueratose
A hiperqueratose é uma resposta fisiológica normal da pele dos tetos às condições do ambiente, clima, produção de leite, genética do animal e manejo de ordenha.
Nos casos de hiperqueratose relacionados às falhas na rotina de ordenha, alguns pontos de atenção referem-se a reduzir casos de sobreordenha e ajustes no equipamento, como nível de vácuo e pulsação,
O esfíncter do teto é a primeira barreira contra a entrada de agentes infecciosos causadores de mastite e previne infecções intramamárias. Tetos que apresentam hiperqueratose são mais predispostos à ocorrência de infecções intramamárias, por conseguinte a ocorrência de mastite e aumento de CCS do leite.
Podemos utilizar o escore de ponta de teto para avaliar o grau de hiperqueratose:
Fonte: Adaptado de: NMC – Guidelines for Evaluating Teat Skin Condition
Em resumo, realizar a avaliação dos tetos das vacas leiteiras é essencial para garantir ao final do processo a produtividade do rebanho, bem como assegurar a qualidade do leite produzido. Realizar essa avaliação de forma constante durante a ordenha e adotar práticas de manejo adequadas são fundamentais e elevam a possibilidade de implementação de medidas preventivas que minimizem o risco de alterações nos tetos e também problemas de saúde mamária.
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