A avaliação do enchimento ruminal é uma importante ferramenta para verificar a saúde das vacas leiteiras e também a qualidade dos ingredientes e da dieta como um todo. A partir do entendimento sobre o funcionamento e anatomia do rúmen, já conseguimos compreender melhor sobre o enchimento ruminal.
Nesse texto iremos discutir sobre o escore de enchimento ruminal, compreender a classificação de cada um deles, como esse escore pode ser uma medida interessante de ser adotada na rotina das fazendas, justamente por possibilitar avaliar o consumo, a dieta e saúde dos animais.
O que é o escore de enchimento ruminal?
O rúmen ocupa todo o lado esquerdo do abdômen e, dependendo do grau de enchimento também se estende ventralmente ao lado direito. Pela sua visibilidade sobre o flanco do animal, este órgão é um bom indicador para avaliação da quantidade de alimentos e nutrientes que a vaca tem ingerido, essa avaliação para maior precisão, pode ser ainda associada a avaliação do enchimento abdominal do animal e ao Escore de Condição Corporal (ECC) das vacas.
Esquema demonstrando pontos de avaliação do escore de condição corporal, enchimento ruminal e enchimento abdominal nos animais. Fonte: Maria Fernanda Faria
A avaliação do enchimento ruminal permite avaliar a quantidade de alimento que a vaca ingeriu nas últimas 2 – 6 horas, a velocidade de fermentação e a taxa de passagem do alimento no trato digestivo do animal.
Essa avaliação pode ser feita durante a inspeção diária dos animais, é interessante fazer esse manejo em diferentes horas do dia para ter uma boa margem de avaliação da situação da ingestão da dieta pelos animais. É importante reconhecer os escores ideias para cada fase de produção das vacas:
Fonte: HULSEN, 2016.
O escore de enchimento ruminal apresenta uma pontuação de 1 – 5, sendo o escore 1 utilizado para o rúmen muito vazio e o escore 5 para o rúmen mais cheio que é visualizado na fazenda e os outros escore estarão entremeados entre estes dois extremos.
Para realizar essa avaliação, devemos nos posicionar atrás da vaca e olhar o flanco esquerdo do animal.
Escore 1
A fossa do rúmen, atrás da última costela, tem mais de uma mão de profundidade. Fossa profunda no flanco esquerdo, a pele sob a vértebra lombar se curva para dentro e a dobra da pele sobre o ílio continua verticalmente para baixo.
Esta vaca está se alimentando pouco ou nada, o que pode ser causado por doença, dor ou falta de alimento ou água.
Escore 2
A fossa do rúmen atrás da última costela, está com uma mão de profundidade. A pele abaixo da vértebra lombar se curva para dentro.
Frequentemente a pele dobra a partir do ílio seguindo diagonalmente para frente até a última costela, formando um triângulo: triângulo do perigo.
Indica que a vaca precisa imediatamente de cuidados. Este é um sinal de consumo insuficiente, algumas vezes, associado com uma taxa de passagem muito rápida.
Escore 3
A fossa do rúmen, atrás da última costela, mal pode ser vista.
A pele sob a vértebra lombar se curva verticalmente para baixo pela largura de uma mão e depois se curva para fora. A dobra de pele do ílio não é visível.
Este é o escore desejável 3 – 3,5 para vacas em lactação que tenham consumido o suficiente e o alimento tem permanecido o tempo correto no rúmen.
Escore 4
A fossa do rúmen não está visível atrás da última costela. Além disso, a pele sob a vértebra lombar curva para fora.
Este é o escore correto para vacas em final de lactação ou vacas secas.
Escore 5
As últimas costelas não estão visíveis, pois o rúmen está cheio.
Não existe uma transição visível entre o flanco e as costelas. Bem como, a pele sobre todo o abdômen está bastante esticada.
O que podemos avaliar sobre a dieta e saúde dos animais através do escore de enchimento ruminal?
A digestibilidade dos alimentos consumido pelos ruminantes está relacionada à cinética de digestão e sua passagem pelo rúmen havendo estreita associação com a digestão de fibras. As fibras dependendo de sua qualidade, podem provocar a limitação da ingestão de matéria seca e também podem limitar a taxa de desaparecimento do material no trato digestório.
A digestão dos ruminantes é resultado de dois processos: digestão e passagem.
A taxa de passagem (Kp) determina o tempo que o alimento é retido no rúmen para digestão e a taxa de degradabilidade (Kd) determina a digestão que pode ocorrer durante o tempo de retenção do alimento no rúmen.
Dessa forma, a taxa de passagem influência nos padrões de fermentação ruminal, o tamanho da partícula e a qualidade da fibra, quando a partícula é maior ela fica retida no rúmen e reduz a taxa de passagem, o mesmo corre quando a fibra tem valor nutritivo baixo. Quando o valor nutritivo e qualidade da dieta aumenta, a digestibilidade também aumenta e consequentemente a taxa de passagem (Kp), reduzindo o enchimento ruminal.
Dessa forma, o escore de enchimento ruminal é uma forma interessante de avaliarmos a velocidade em que a dieta está se movendo no trato digestivo do animal (se estão sendo rapidamente ou lentamente degradados pelo rúmen) e se as características dos ingredientes da dieta estão adequadas para proporcionar a digestão adequada como, digestibilidade, palatabilidade, tamanho de partículas e proporção dos componentes na dieta.
Outro ponto de atenção que podemos avaliar pelo escore é a distensão ruminal, os ruminantes fazem a ingestão do alimento até que ocorra uma certa mudança na distensão provocada pelo volume e peso da digesta, essa percepção é detectada pelos receptores de tensão localizadas na parede ruminal, pela ocupação do espaço físico o animal tem sensação de saciedade e reduz o consumo da dieta.
Por isso, as características da dieta têm importante influencia na taxa de passagem e consequentemente na distensão ruminal, que ao atingir determinado ponto não permitirá mais a ingestão e inibe o consumo de matéria seca.
Outros usos do escore de enchimento ruminal
O uso do escore de enchimento ruminal é uma forma de interessante de avaliar e identificar animais que possam apresentar quadros clínicos que levam a redução do consumo de alimento. Por exemplo, se uma vaca come muito pouco, o rúmen fica vazio e o enchimento do seu abdômen pode ser drasticamente reduzido em dois dias, e seu escore de condição corporal em uma semana.
A avaliação do contorno abdominal é uma forma interessante de identificarmos doenças, podemos através dessa ferramenta avaliar doenças como timpanismo, indigestões, íleo paralítico, por exemplo.
O rúmen vazio pode ser um indicativo de problemas de casco por exemplo, pois se o animal apresentar algum grau de claudicação ou dor ele se direcionará menos ao cocho para consumir a dieta.
Demonstração de um rúmen normal (primeira ilustração) e problemas relacionados ao rúmen que irão provocar alterações quanto a sua distensão. Fonte: Rosenberg, Exame clínico dos Bovinos.
Por fim, o escore de enchimento do rúmen é uma ferramenta importante para levantarmos hipóteses quanto ao consumo e a dieta das vacas.
Podemos avaliar, por exemplo, se a dieta está sendo suficiente para exigência das vacas, a qualidade dos ingredientes da dieta, a palatabilidade do alimento, a saúde das vacas, se é um problema de um indivíduo ou do rebanho como um todo.
Por isso, pode ser uma medida interessante para ser adotada na rotina das fazendas buscando gerar mais informações e dados de análise do manejo alimentar na propriedade.
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