O capim–carrapicho é uma planta daninha cujos transtornos vão muito além de grudar na roupa das pessoas ou nos pelos dos animais. Ele provoca um impacto econômico negativo em diversas lavouras, tais como na cana-de-açúcar, citros, café, soja, algodão, entre outras.
Com o potencial de interferir significativamente na colheita mecanizada em lavouras e comprometer a alimentação adequada dos animais quando presente nas pastagens, o capim-carrapicho pode causar grandes prejuízos ao produtor. Além de disputar recursos como água, luz e nutrientes com as culturas agrícolas, essa planta invasora também serve como hospedeira para diversas pragas e doenças.
Assim, é crucial que o agropecuarista esteja vigilante e implemente estratégias adequadas de manejo e controle. Neste artigo, você vai aprofundar seus conhecimentos sobre esta planta invasora e as práticas mais eficientes para a sua erradicação. Continue e tenha uma leitura proveitosa!
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O que são plantas daninhas e quais prejuízos causam?
O capim-carrapicho é apenas um exemplo dentre as diversas plantas invasoras que representam uma ameaça tanto para a agricultura quanto para as pastagens. Para esclarecer: plantas invasoras, também conhecidas como “daninhas”, são aquelas que se estabelecem em áreas nas quais não são desejadas.
De acordo com a Embrapa, aproximadamente 250 espécies de plantas são consideradas universalmente como plantas daninhas. Estas possuem a capacidade de produzir um volume substancial de sementes, apresentam vários métodos de dispersão e possuem uma resiliência significativa.
Conforme mencionado, elas interferem diretamente na região cultivada, pois competem com a plantação existente pelos nutrientes disponíveis. Além disso, existe o risco de elas se tornarem hospedeiras de pragas, potencializando ainda mais os prejuízos.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) projeta que, na ausência de medidas de controle, as perdas atribuíveis a essas plantas daninhas podem chegar a mais de 90%. Especificamente na produção de grãos, tais plantas comprometem, em média, de 13% a 15% do total colhido.
Um aspecto a ser destacado é a resistência formidável dessas plantas, que tendem a prosperar mesmo sob condições adversas. Seja em ambientes secos ou úmidos, sob temperaturas extremas – tanto baixas quanto altas – ou em distintos tipos de solo, essas plantas demonstram uma notável capacidade de adaptação e crescimento.
Percebeu o quão danosas elas podem ser? Portanto, a partir de agora, conheça todos os detalhes sobre uma delas: o capim-carrapicho, praga presente em diferentes regiões brasileiras. Vamos lá?
O Cenchrus echinatus, popularmente designado como capim-carrapicho, é uma espécie notável dentro de sua classificação. Este capim é conhecido também como capim-amoroso e capim-timbête. Pertence à família Poaceae (Gramineae) que abrange cerca de 800 gêneros e 10.000 espécies, entre gramíneas, capins, gramas e relvas.
O local de origem deste capim é a América Tropical, que se estende do sul dos Estados Unidos até a Argentina. Contudo, foram documentadas infestações em mais de 30 países. No Brasil, sua presença é predominante nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste.
Essa erva invasora possui um ciclo de reprodução anual, realizado através da dispersão de sementes. A propagação acontece também pelo enraizamento dos seus colmos, quando estes interagem com o solo. A planta pode atingir alturas que variam entre 20 e 60 centímetros, caracterizando-se pela porção inferior do seu colmo, que se apresenta prostrada.
O que mais chama a atenção nessa planta é a produção de sementes que é muito intensa. O capim-carrapicho libera hastes com espiguetas que podem conter de cinco a até 50 sementes. Elas apresentam um formato subgloboso, com 4 a 7 milímetros, mas não são disseminadas com facilidade pelo vento.
Assim, a razão pela qual o revestimento espinhoso das sementes se prende aos pelos de animais e às vestimentas de pessoas que entram em contato com essas plantas é a estratégia biológica para que seja “transportado” para outras áreas, com o intuito de se propagar. Portanto, essa é a origem de seu nome: carrapicho.
Quais riscos o capim-carrapicho oferece às lavouras?
Uma característica distintiva do capim-carrapicho é a sua adaptabilidade ambiental. Como mencionado anteriormente, ele demonstra a capacidade de prosperar em vários tipos de solo, garantindo assim sua continuidade nestes habitats.
Imagine as áreas destinadas para o cultivo de plantações ou pastagens, onde todos os nutrientes necessários são fornecidos para corrigir possíveis deficiências e, assim, assegurar uma produtividade otimizada. É certo que a infestação será potencializada se essa planta invasora não for eliminada prontamente.
Podemos citar como exemplos de culturas agrícolas afetadas por essa planta daninha: milho, soja, algodão, arroz, cana-de-açúcar, feijão, vegetais, citros e também lavouras perenes, como café e caju.
No algodão, por exemplo, por ser muito sensível, os carrapichos aderem à fibras, reduzindo a qualidade do produto e, consequentemente, prejudicando o seu valor de mercado. De acordo com a Embrapa, o arroz é outra lavoura bastante prejudicada por essa planta daninha.
Além disso, as sementes do capim-carrapicho não são exigentes em relação à luminosidade para germinar. Na verdade, elas podem permanecer em uma profundidade de 10 centímetros e mesmo assim germinarem e produzirem mais sementes.
Dessa forma, o capim-carrapicho representa um considerável risco para as regiões impactadas. Além disso, sua presença interfere de maneira prejudicial na colheita mecanizada, especialmente em lavouras como a de soja, ao elevar os níveis de impurezas, resultando na deterioração da qualidade dos produtos colhidos.
Outro incômodo recorrente: durante a coleta manual, os espinhos têm potencial para infligir ferimentos aos trabalhadores, além de aderirem às suas vestimentas. Este fator contribui, como mencionado anteriormente, para a propagação dessa espécie invasora.
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Como fazer o manejo adequado do capim-carrapicho?
Ao longo deste artigo, destacamos a necessidade urgente de eliminar o capim-carrapicho de lavouras e pastagens. Esta tarefa pode ser realizada adequadamente por meio de várias práticas de manejo apropriado.
Salientando que a seleção do método de controle será primariamente determinada pela área de sua propriedade, disponibilidade de recursos e mão de obra disponível.
Confira, a seguir, alguns métodos:
Higienização do maquinário
Inicialmente, uma das medidas primordiais para prevenir a propagação das sementes do capim-carrapicho consiste na adequada higienização e limpeza dos equipamentos e utensílios empregados nas plantações.
As sementes, que estão localizadas nos torrões de solo têm a capacidade de permanecer ali, presas ao maquinário e serem transportadas à diferentes áreas. É uma maneira rápida de sua disseminação, segundo alerta o agrônomo Lucas Oliveira, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral/CE).
Ademais, o especialista aconselha o produtor rural a observar com cuidado a qualidade e a procedência das sementes destinadas ao plantio. Estas devem, obrigatoriamente, ser certificadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Ele afirma ainda que, para obter essa certificação, as sementes são submetidas a testes de germinação e pureza, que são verificáveis. Isso evitará, por exemplo, que as sementes estejam contaminadas por essa planta daninha.
Manejo integrado do capim-carrapicho
O ideal é que seja feito um manejo integrado do capim-carrapicho com o propósito de aumentar a eficiência das práticas implementadas. Os métodos de controle são: cultural, mecânico, integrado e químico. Confira cada um deles:
- Método Cultural: este método é projetado para ampliar a capacidade competitiva entre as plantas em termos de luz e nutrientes. Como exemplo, podemos citar técnicas de plantio com espaçamento restrito entre as fileiras, uso de variedades de forrageiras mais adequadas para as regiões de cultivo, e consideração da época ideal para o plantio. É interessante notar que o custo associado a este método é considerado menor em comparação com os outros que serão apresentados;
- Método Mecânico: este método envolve o uso de capina, que pode ser manual ou mecanizada. Para propriedades menores (por exemplo, um ou dois hectares), a capina manual, que utiliza uma enxada, é a ideal. Para áreas maiores, cultivadores são utilizados, que podem ser puxados por um animal ou um trator;
- Método de Controle Integrado: esta metodologia implica a implementação simultânea de várias estratégias de manejo, que incluem o monitoramento contínuo da área em questão e a aplicação de medidas de controle cultural ou químico, baseadas na avaliação do local. O principal objetivo deste método é otimizar os recursos financeiros do produtor rural;
- Método Químico: esta estratégia envolve o uso de defensivo registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cuja escolha dependerá do tipo de cultura em questão. Essa abordagem inclui a utilização de defensivo pré e pós–emergentes.
Confira também: O que é preciso saber sobre defensivos agrícolas? Confira aqui!
Uso de herbicidas pré e pós-emergentes no controle do capim-carrapicho
Caso a escolha seja pelo método de controle químico, mencionado anteriormente, aconselhamos que o manejo do capim-carrapicho seja realizado durante o período de entressafra. A razão para isso é que, nesse intervalo, existe uma variedade maior de produtos defensivos disponíveis, eliminando o risco de potencial dano à lavoura durante o seu ciclo de cultivo.
É preferível que as plantas não estejam sofrendo de estresse hídrico, uma vez que tal condição pode diminuir a eficácia dos herbicidas. Os produtos defensivos podem ser aplicados tanto na fase pré-emergente (antes da planta surgir do solo) quanto na fase pós-emergente (após a infestação), utilizando compostos adequados para cada fase.
Herbicidas pré-emergentes
Durante a pré-emergência do capim-carrapicho, pode ser utilizado:
- S-metolachlor:
- Ação residual;
- Utilizado no sistema aplique plante da soja;
- Dose: 1,5 a 2,0 L ha-1;
- Evitar aplicação em solos arenosos.
- Trifluralina:
- Ação residual;
- Utilizado na primeira aplicação do manejo outonal, associado a herbicidas sistêmicos;
- Dose: 1,2 a 4,0 L ha-1;
- Aplicação em solo úmido e livre de torrões.
- Sulfentrazone:
- Ação residual para controle de banco de sementes;
- Utilizado na primeira aplicação do manejo outonal, associado a herbicidas sistêmicos.
- Imazetapir:
- Ação residual para controle de banco de sementes;
- Utilizado na primeira aplicação do manejo outonal, associado a herbicidas sistêmicos ou no sistema aplique plante da soja;
- Dose: 0,8 a 1,0 L ha-1.
É recomendado fazer a primeira aplicação durante o outono em associação com herbicidas sistêmicos, como o glifosato.
Herbicidas pós-emergentes
Depois que o capim-carrapicho já atingiu a área de lavoura, a opção é o uso de herbicidas pós-emergentes. É possível utilizar Glifosato, Cletodim e Haloxyfop para fazer o controle das plantas com até dois perfilhos e que também podem ser utilizados na primeira aplicação do manejo sequencial.
- Glifosato:
- Controle eficaz de plantas pequenas (até 2 perfilhos);
- Dose: 1,2 a 3,0 L ha-1.
- Cletodim:
- Controle eficaz de plantas pequenas (até 2 perfilhos);
- Dose: 0,5 a 1,0 L ha-1;
- Adicionar óleo mineral 0,5 a 1,0 % v v-1.
- Haloxyfop:
- Controle eficaz de plantas pequenas (até 2 perfilhos);
- Dose: 0,55 a 1,2 L ha-1;
- Adicionar óleo mineral 0,5 a 1,0 % v v-1.
O Paraquat e o Glufosinato de Amônio fazem o combate das plantas ainda pequenas e são utilizados no controle de rebrota.
Embora não haja informações técnicas de que o capim-carrapicho seja resistente aos herbicidas usados no seu controle, é muito importante que a aplicação seja feita de forma correta.
Dessa forma, será possível manter sob controle essa planta daninha e evitar prejuízos em sua lavoura ou pastagem.
Conclusão
Conforme vimos neste artigo, o capim-carrapicho, além de sua popular capacidade de aderência à vestimentas e ao pelo dos animais, é uma planta daninha que pode causar grandes prejuízos ao produtor rural. É preciso manter um nível de vigilância e adotar práticas de manejo adequadas, visando manter o seu controle nas lavouras e pastagens.
E, por falar em plantas daninhas, confira as espécies mais comuns que atacam as lavouras e, ao mesmo tempo, as formas de controle em prol da agricultura. Boa leitura!
Escrito Por
Klaus Bernardino
Jornalista há mais de 40 anos, formado pela Unimar (Universidade de Marília). Editor do portal Visão Notícias.com