Quebra de safra e as perspectivas para 2024
João Paulo Pennacchi – 22 de fevereiro de 2024
Quebra de safra: Qual a previsão de perdas agrícolas e diminuição da produção de lavouras para a safra 2024 e como influenciam a cadeia do agronegócio
Introdução
Cada dia mais os produtores agrícolas brasileiros têm se acostumado com expressões bastante usadas no meio rural: “quebra de safra”, “perda de lavoura”, “replantio da lavoura”, “colher para pagar os custos”, “não vale a pena colher”, dentre outros.
Todas essas expressões estão relacionadas a problemas que ocorrem durante o ciclo de uma determinada cultura e que diminuem grandemente, ou totalmente, a sua produção. Isso gera uma perda tão grande que é chamada de “quebra de safra” e aterroriza produtores rurais no mundo inteiro.
As quebras de safra tem sido cada vez mais discutidas e têm causado incerteza e insegurança no meio rural, principalmente levando em conta os altos investimentos feitos pelos produtores safra após safra.
Nesse artigo discutimos a quebra de safra como um todo e fazemos projeções para a safra de 2024, já em andamento.
Qual a definição de safra e quando ela começa e termina?
Antes de falarmos em quebra de safra é importante definirmos termos que usaremos ao longo do texto. No Brasil, o período da safra é compreendido entre os meses de Julho e Junho do ano posterior. Por exemplo, a safra 2023/24 começou em 1 de Julho de 2023 e acabará em 30 de Junho de 2024.
Porém, na prática, a safra é definida como o período que vai do início dos plantios da primeira lavoura, principalmente de grãos, até o final da colheita das lavouras subsequentes. Normalmente, ao se falar em Safra 2024, falamos das colheitas que ocorreram no ano de 2024, compreendendo o período entre Outubro de 2023 e Setembro de 2024.
As principais culturas para cada safra no Brasil são as seguintes:
- Primeira safra: soja, milho, algodão, feijão, trigo, arroz;
- Segunda safra: milho, feijão, sorgo, arroz, amendoim, algodão, trigo;
- Terceira safra: milho, cereais de inverno, feijão, plantas de cobertura;
O que é e o que causa a quebra de safra?
A quebra de safra pode ser definida como a redução da produção de um determinado produto agrícola durante um período de produção. Por exemplo, no início de uma safra de grãos são previstos: a área de plantio e o total de sacas a ser produzido.
Quando ocorrem situações que causam altas perdas nas lavouras, a produção é muito menor que a prevista no início da safra, gerando uma quebra de safra. Isso pode acontecer em âmbito local, regional, estadual, nacional ou mesmo global.
Os principais eventos que podem gerar quebra de safra são:
- ataques de pragas;
- ataques de animais;
- incidência de doenças;
- competição por plantas daninhas;
- fogo;
- condições climáticas como: seca, inundações, ventos, geadas e ondas de calor.
A quebra de safra normalmente é medida pelo percentual de redução em relação à produção prevista. Dessa forma, uma quebra de safra de soja de 10% no país representa que produziremos apenas 90% do estimado no início da safra.
Quais os efeitos da quebra de safra?
A quebra de safra normalmente traz efeitos desastrosos a várias partes da cadeia produtiva do Agro. Isso acontece pois ela envolve danos econômicos que comprometem a saúde financeira do produtor e limitam seus investimentos nas safras seguintes.
As principais consequências da quebra de safra são:
- Aumento de preços de produtos agrícolas e seus derivados;
- Diminuição de estoques locais, nacionais ou mundiais;
- Impacto em mercados e bolsas;
- Falta de alimentos e outros produtos de origem vegetal como combustíveis e fibras;
- Insegurança alimentar ou energética;
- Perdas econômicas e falência de organizações e produtores.
Previsões para safra 2024
Qualquer pessoa envolvida no agronegócio brasileiro já ouviu em algum momento, a partir de Setembro do ano passado que o “El Niño tem causado impactos grandes na safra”.
O evento climático trouxe irregularidade de chuvas na época do plantio em algumas áreas do país e causou veranicos em estágios importantes da definição da produção de soja e milho. Essas condições combinadas de baixa pluviosidade acumulada e altas temperaturas atingiu grandemente a região Centro-Oeste, mas menos a região Sul, por exemplo.
Estima-se que em geral, possa haver uma quebra de safra de grãos de cerca de 2,5%, no Brasil. É importante notar que esse valor é relativo às previsões de produção ao início da safra e não com a produção da safra passada.
Soja
A soja é o maior produto agrícola brasileiro e o Mato Grosso, o maior produtor dessa “comoditie”. Para essa safra a previsão não é nada animadora, com recorde de quebra de safra prevista para o MT.
A pior quebra de safra já registrada no estado foi de 11% na safra de 1990. A previsão para esse ano é de que haja quebra de safra de 20% devido, principalmente, à restrição de chuvas e altas temperaturas.
Mesmo assim, estima-se que haja aumento na produção nacional de soja nessa safra, devido a boas condições em outras áreas produtoras.
Anomalias na precipitação nas duas últimas semanas de Dezembro/2023 (Fonte: Canal Rural)
Milho
O milho safra tem sofrido com as mesmas condições não-ideais ocorrentes na soja. Há uma previsão de queda de produção geral de 11% no milho, se comparado à safra passada, porém, isso se deve à menor área e não a uma quebra de safra.
Porém, espera-se que haja uma quebra de safra devido às condições climáticas da safra e ao atraso do plantio da safrinha, o que limita a janela de chuvas ao final do ciclo.
Ainda não há uma previsão geral de quebra de safra por causa da safrinha ainda estar se iniciando.
Plano Safra e sua importância
O Plano Safra é um plano do Governo Federal que propicia investimentos nos setores agrícolas, na forma de renda, investimentos, carta de crédito, subsídios e seguros. Os montantes são normalmente repartidos entre produtos familiares, médios produtores e grandes produtores. Na safra 2023/24, o montando destinado ao Plano Safra foi de 340 bilhões de reais.
Em situações de quebra de safra é importante que haja flexibilidade para que esses recursos sejam aumentados ou realocados, de maneira a diminuir o impacto negativo na economia, uma vez que a agricultura é o grande carro-chefe do PIB brasileiro.
Conclusão
As condições não-ideais que ocorrem durante o ciclo de uma cultura no campo ao longo da safra podem causar diversos tipos de impacto nas lavouras. O seu grau de impacto é medido pela perda em relação à previsão de produção.
Perdas em níveis avançados podem causar quebras de safra, levando a impactos regionais, nacionais ou globais. É preciso que o produtor esteja atento e se utilize de ferramentas que o auxiliem a diminuir os riscos de perder produção.
Atualmente, as previsões de perdas de safra ao redor do mundo são cada vez mais frequentes e o ano de 2024 no Brasil deve seguir esse padrão. Estresses abióticos (condições climáticas) e bióticos (doenças, pragas, plantas daninhas), são os maiores riscos. Conhecer as previsões climáticas e o monitoramento da possibilidade de incidência de pragas e doenças pode auxiliar o produtor a se prevenir ou atuar de forma corretiva em sua lavoura. Além disso, a boa gestão da propriedade é um fator de importância para evitar que perdas de produção levem à inviabilidade da atividade agrícola.
Sou engenheiro eletricista formado pela UNIFEI e engenheiro-agrônomo formado pela UFLA. Mestre e doutor em agronomia/fisiologia vegetal pela UFLA e PhD em ciências do ambiente pela Lancaster University. Atualmente desenvolvo pesquisa na área de fisiologia de culturas agrícolas pela UFLA.