A cultura da cebola (Allium cepa L.) representa a primeira hortaliça inserida no Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para todas as regiões produtoras do país. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), na última sexta-feira (09). Os estudos que subsidiaram a criação da Portaria foram coordenados pela Embrapa Hortaliças (Brasília – DF) no âmbito da Rede Zarc com o apoio do ministério.
O Zarc delimita as áreas e épocas de baixo risco climático para a implantação e produção da cultura no Brasil. O pesquisador da Embrapa Hortaliças, Marcos Braga, reforça que o objetivo é subsidiar os produtores com informações sobre os riscos agroclimáticos, com o intuito de reduzir perdas de produção e obter rendimentos mais elevados.
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Os resultados do Zarc da cebola abrangem todas as regiões produtoras e os plantios de verão e inverno, contemplando cultivos de sequeiro e irrigado. Em função da diversidade de cultivares e de ciclos de plantios, que variam de acordo com a região e época de plantio, o Zarc classificou as cultivares tropicais e de clima temperado em sete grupos e considerou ciclos médios de produção, conforme a duração média do ciclo e das fases de interesse, para a avaliação de risco.
Ao seguir as recomendações contempladas no Zarc, os agricultores ficam menos sujeitos aos riscos climáticos e ainda podem ser beneficiados pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e pelo Programa de Subvenção ao prêmio do Seguro Rural (PSR). Ressalta-se, também que muitos agentes financeiros, caso exista o Zarc para a cultura, só liberam o crédito rural para cultivos em áreas zoneadas, é o caso dos médios produtores que acessam o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).
Cultivo da cebola no Brasil
A cebola é a hortaliça condimentar mais difundida no mundo, sendo um ingrediente básico em quase todos os pratos brasileiros. A produção está concentrada, principalmente, na região Sul e nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Pernambuco, responsáveis por cerca de 95% da produção do país.
Na escala mundial, atualmente, o Brasil ocupa a 13ª posição com uma produção estabilizada em torno de 1,6 milhão de toneladas ao ano. Em virtude da extensão do território e da diversidade do clima, é possível ter diversas safras de cebola ao longo do ano. A produção concentra-se nos meses de março a novembro na maior parte das principais regiões produtoras, e abastece quase que exclusivamente o mercado interno. Já na região Nordeste, principalmente nos Estados da Bahia e Pernambuco, o cultivo de cebola ocorre durante todo o ano.
Por ser uma cultura presente em todas as regiões brasileiras, o pesquisador faz a seguinte ressalva: “é fundamental que os produtores utilizem somente cultivares testadas e recomendadas para cada local e época do ano, baseando-se sempre na orientação técnica de empresas de assistência e de extensão rural habilitadas na área”.
Critérios de avaliação de risco
Outra questão, que merece a atenção dos produtores e de alto risco para a cultura, está relacionada ao cultivo em áreas que já tiveram ocorrência de podridão branca (Stromatinia cepivora Berk.sin. Sclerotium cepivorum), considerada uma das principais doenças em cebola por causar perdas totais de produção.
Braga acrescenta que o cultivo da cebola é muito influenciado por condições meteorológicas. A disponibilidade hídrica, o fotoperíodo (número de horas de luz diária), a temperatura e as chuvas são os principais elementos que em condições desfavoráveis resultam em risco de perda de produção. Devido à alta sensibilidade da cultura à falta de água, o cultivo é quase que exclusivamente irrigado.
Pouquíssimas regiões viabilizam cultivo em sequeiro devido ao elevado risco de déficit hídrico. O pesquisador explica, ainda, que o fotoperíodo e a temperatura são os fatores climáticos que controlam a formação de bulbos na cebola e isso limita a recomendação de uma mesma cultivar para várias regiões produtoras, que estão no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil.
Em virtude desses fatores, as cultivares de cebola disponíveis para o plantio no Brasil são categorizadas em dois grupos: dias curtos – que bulbificam com pelo menos 12 horas de luz diária; e de dias intermediários – que exigem 13 ou mais horas de luz por dia. Por isso, a escolha correta é muito importante, já que o uso de cultivares erradas para determinado local e época resultará em produtividade baixa, que pode vir acompanhada de qualidade ruim dos bulbos.
No Zarc, as datas (decêndios) de plantio em municípios favoráveis para o cultivo da cebola, foram classificadas de acordo com o nível de risco climático de 20%, 30%, 40% em função dos seguintes critérios:
– Deficiência hídrica severa ao não atingir o limite mínimo do índice de satisfação das necessidades de água (ISNA), em sistema de sequeiro;
– Temperaturas muito baixas e deletérias à cultura por meio da probabilidade de ocorrência de valores de temperaturas mínimas menores ou igual a 11°C;
– Temperaturas muito altas e deletérias à cultura por meio da probabilidade de ocorrência de valores de temperaturas máximas superiores a 34°C;
– Excesso de chuva ou excesso hídrico deletério à cultura por meio da probabilidade de ocorrência de precipitação acumulada maiores que 130mm na fase final de maturação e na colheita;
– Excesso de chuva ou excesso hídrico por meio da probabilidade de ocorrência de precipitação acumulada maiores que 150 mm, na fase de implantação da cultura quando feita por meio de semeadura direta ou plantio de mudas;
– Excesso de chuva ou excesso hídrico por meio de probabilidade de ocorrência de precipitação acumulada maiores que 210mm, na fase de implantação da cultura quando feita por meio de bulbinhos.
(Por Mapa)