A estaquia é uma técnica de propagação vegetativa que possibilita a reprodução rápida e eficiente de plantas. Por meio dela, é possível obter uma infinidade de novas plantas em seu pomar ou jardim de forma rápida e sem gastar quase nada por isso.
Embora seja um método antigo, a estaquia ainda hoje é uma das técnicas muito utilizadas na agricultura. Todavia, nem todas as plantas podem ser reproduzidas por estaquia.
Por isso, preparamos este artigo, onde exploraremos detalhadamente o processo de estaquia, seus tipos, vantagens e passos essenciais para obter sucesso nessa prática. Boa leitura!
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A estaquia consiste no desenvolvimento de uma nova espécie a partir da retirada de partes da “planta mãe” que são colocadas em um recipiente, onde vão criar raízes até se tornarem mudas independentes.
Tecnicamente falando, trata-se de uma reprodução de forma assexuada, ou seja, sem ocorrer a fecundação e produção de sementes. Através da estaquia são geradas espécies, em geral, idênticas à planta original, ou seja, são verdadeiros clones.
A produção de mudas por meio do método de estaquia é um processo simples e rentável, acessível a propriedades rurais de qualquer tamanho. Em espécies frutíferas, geralmente são utilizadas estacas de ramos e em alguns casos por raízes, enquanto na floricultura utilizam-se estacas de folhas.
Instalações básicas
Para garantir o sucesso nessa atividade, a propriedade deve dispor de instalações mínimas, como uma casa de vegetação, casa de plástico ou estufa. A casa de vegetação, seja de plástico, vidro ou plástico, deve ser construída de maneira simples, com piso de brita para facilitar o escoamento da água.
Em casos de casas de plástico, é importante que o revestimento lateral seja facilmente ajustável para controlar a ventilação, junto com a abertura ou fechamento das portas para regular a temperatura interna, proporcionando conforto térmico conforme as condições climáticas.
Além disso, a cobertura da estufa com sombrite 50% é uma ótima opção para ajudar a reduzir a luminosidade interna e proteger o plástico de chuvas fortes, como granizo.
Outro detalhe importante, seja ela de vidro ou de plástico, é o chão de brita n°1, pois permitirá o escoamento fácil de água.
Além da instalação básica, é necessário contar também com os seguintes equipamentos:
- Bomba d’água: leva a água, sob pressão, para o conjunto de aspersores. Pode ser de 0,5 a 0,75 cv (potência), a depender da área da casa de vegetação;
- Conjunto de aspersores: devem estar distribuídos de maneira a cobrir toda a área interna da casa de vegetação;
- Válvula solenoide ou retenção: possibilita a automatização da aspersão comandada pelos temporizadores;
- Temporizadores: são responsáveis pelo tempo da nebulização e intervalos desejados. Deve haver dois temporizadores: um graduado em segundos e outro em minutos.
Em termos de tamanho, uma instalação de 10 metros de comprimento por 3 metros de largura é suficiente para abrigar 12 mil estacas por vez.
Procedimentos para a estaquia
Na etapa inicial de coleta, é recomendado utilizar uma tesoura de poda pela manhã para cortar as brotações jovens, ou seja, de até um ano de idade, preferencialmente provenientes de plantas jovens.
Estas brotações devem ser colocadas em uma das caixas de isopor, molhadas e transportadas para o barracão de trabalho. O diâmetro dessas brotações deve situar-se entre 0,5 cm e 0,8 cm, não ultrapassando a espessura de um lápis, sendo que esse diâmetro pode variar de acordo com a espécie.
Preparo das estacas
A etapa de preparo das estacas envolve, inicialmente, a divisão das brotações jovens (ramos) em segmentos com cerca de 15 cm de comprimento. Deve-se deixar apenas um par de folhas, reduzidas à metade, com o objetivo de minimizar a perda de água por transpiração. Esses segmentos, conhecidos como estacas de ramos (brotações), são então colocados em outra caixa contendo água. É importante eliminar a parte apical dos ramos, que é mais tenra, para otimizar o processo.
Limpeza das estacas
Na caixa onde estavam os ramos (brotações), prepara-se uma solução de hipoclorito de sódio a 0,5%, o que na prática envolve dissolver 1 litro de água sanitária em quatro litros de água. As estacas são então submersas nessa solução por 5 minutos, constituindo um tratamento preventivo contra bactérias. Após esse período, as estacas são lavadas em água corrente para remover o cloro presente na solução de água sanitária.
Tratamento com fungicida
A aplicação de fungicida é crucial para o sucesso do processo. Uma maneira prática de realizar esse tratamento é cortar ao meio garrafas vazias de água sanitária e enchê-las com uma solução de fungicida sistêmico na proporção de 0,5 g por litro de água. O tratamento é direcionado apenas para as hastes das estacas, sendo realizado durante 15 minutos, a fim de prevenir ataques de fungos.
Tratamento Hormonal
O ácido indolbutírico (AlB) é essencial para o enraizamento de estacas, sendo dissolvido em álcool e depois diluído em água numa proporção 50/50. 40 ml de solução com 20ml de água, 20ml de álcool e 320mg de AIB é suficiente para tratar 700 estacas. No preparo, dissolva primeiro o AlB no álcool, depois adicione água para completar a solução.
As hastes das estacas devem ser enxugadas, para tirar o excesso de água antes do tratamento hormonal, para não alterar a concentração de AlB. Mergulhe a base das estacas, molhando cerca de 2 cm das hastes, durante dez segundos.
A solução não usada deve ser armazenada na geladeira para evitar evaporação e contaminação. A concentração de AlB depende da espécie e deve ser consultada.
Plantio
O plantio das estacas para enraizamento deve ser realizado imediatamente após o tratamento hormonal. Esse plantio deve ser feito em recipiente apropriado contendo vermiculita média ou casca de arroz carbonizada, molhadas. As estacas devem ser levadas para a casa de vegetação, onde os temporizadores serão ativados, aspergindo água por 5 segundos a intervalos de 10 minutos.
A expectativa é que as estacas enraízem em aproximadamente 60 dias. A umidade deve ser controlada conforme as condições climáticas locais e a estação do ano.
Antes de tratarmos das vantagens desse processo, é preciso esclarecer que existe diferença entre estaquia e a enxertia, outro método também usado na reprodução de plantas de forma assexuada.
Enquanto na estaquia essas partes da “planta mãe” são colocadas em um recipiente até criarem raízes e depois são replantadas no local definitivo, na enxertia coloca-se partes de uma planta em outra planta que lhe sirva de suporte, juntando os tecidos e formando uma nova planta. A enxertia é também muito utilizada na produção de mudas de frutíferas.
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Vantagens da estaquia
Assim como qualquer método de propagação, a técnica da estaquia possui algumas vantagens. Abaixo, listamos algumas delas:
- Produção de um grande número de novas mudas a partir de uma única planta-mãe;
- As novas mudas serão idênticas à planta-mãe, mantendo as mesmas características;
- Multiplicação de espécies resistentes a pragas e doenças;
- Possibilidade de produção de mudas durante todo o ano;
- Crescimento da nova planta em curto espaço de tempo;
- Baixo custo e de fácil execução.
Desvantagens
Todavia, essa técnica também apresenta algumas desvantagens. A principal delas é que existem algumas espécies de vegetais que possuem baixo potencial de enraizamento. Por isso, produzem poucas mudas.
Para aumentar as chances de enraizamento da planta, siga essas dicas:
- Utilize primordialmente plantas mais jovens ou, se forem mais velhas, faça uma poda, com antecedência. Dessa maneira, vai proporcionar o rejuvenescimento da planta, permitindo o processo de estaquia, visando novas brotações;
- Faça a coleta durante as estações primavera/verão: a época do ano é um fator importante que influencia na produção de raízes. Durante a primavera/verão, as estacas apresentam-se mais herbáceas do que quando coletadas durante o inverno (período de repouso).
Principais tipos de estaquia
Em geral, existem diversos meios de utilizar a técnica de estaquia. Conheça três tipos mais comuns:
- Estaquia de caule: é a mais utilizada e também a que apresenta melhor resultado. Ela se regenera com facilidade porque as gemas do caule já estão desenvolvidas;
- Estaquia de folhas: é preparada tirando uma única folha da planta, gerando raízes e novos brotos. A folha, usada para propagação, geralmente não se torna parte da nova planta e se desintegra após a formação da mesma. Funciona para casos específicos, como espada de São Jorge;
- Uso de raiz como estaquia: é pouco utilizada uma vez que pode causar danos à planta de origem se não forem retiradas corretamente. Neste caso, as estacas são retiradas quando a planta está dormente e as raízes contêm a maior parte da energia armazenada.
Plantas que podem ser multiplicadas por estaquia
Como citamos no começo de nosso artigo, não são todas as plantas que podem ser multiplicadas por meio da técnica da estaquia. Conheça abaixo alguns exemplos.
Eucalipto: a estaquia é muito utilizada na produção de mudas de eucalipto. Essa técnica foi implantada em 1948 na Austrália e trazida para o Brasil em 1975, tendo sido adotada em escala comercial quatro anos mais tarde.
As estacas coletadas de cepas de árvores são cortadas com cerca de três anos de idade (matrizes). Essas estacas são levadas para minijardins, onde são produzidas as mudas clonadas.
Cana-de-açúcar: a multiplicação ocorre por meio da estrutura chamada de perfilho, um broto que se desenvolve a partir da planta mais velha, mas que ainda se mantém ligado a ela.
Vários perfilhos saindo de uma mesma planta são chamados de touceira. Uma lavoura de cana-de-açúcar é composta de milhares de touceiras.
Abacaxizeiro: A coroa do abacaxi pode gerar uma nova planta. Além disso, surgem mudas logo abaixo do fruto, chamadas de filhotes. É possível obter mudas também pelo caule, conhecidas como rebentão e filhote-rebentão.
Batata: a produção desse alimento ocorre por meio de uma estrutura chamada tubérculo que fica embaixo do solo e é o órgão de reserva das plantas. Todavia, esses tubérculos também podem gerar novas batatas.
Morangueiro – É outro exemplo de geração de novas plantas através da técnica de estaquia. O seu caule se ramifica e dá origem a novas mudas.
O crescimento horizontal do caule é uma estrutura chamada de estolho ou estolão. O estolho se espalha pelo solo e dele surgem raízes onde será desenvolvido um novo morangueiro.
Plantas ornamentais: principalmente as suculentas também possuem estratégias de reprodução por meio da estaquia. Elas soltam mini plantinhas (plântulas) nas suas folhas que possuem raízes. Elas são idênticas à planta adulta.
Estaquia na jardinagem
Por falar em espécies ornamentais, confira no vídeo 12 plantas que pegam fácil por meio da estaquia e também como usar essa técnica com sucesso:
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Materiais necessários para a estaquia
Antes de iniciar a técnica de estaquia, certifique-se de ter em mãos todo o equipamento necessário para cultivar uma nova planta. Confira quais são os principais:
- Faca e uma tesoura de poda: as lâminas devem ser muito bem afiadas e desinfetadas com o fim de evitar doenças transmissíveis;
- Recipientes de envasamento das estacas: é possível reciclar potes plásticos, como de margarina ou garrafa pet, pequenos sacos plásticos e tubetes;
- Uso de substratos no envasamento: depende da espécie a ser multiplicada (algumas plantas epífitas, exigem fibra de coco). É importante ressaltar que nem sempre o substrato da planta adulta é o melhor na produção das mudas;
- Hormônio enraizador: um fertilizante em pó balanceado que favorece o desenvolvimento das raízes das plantas.
Etapas para realizar uma estaquia caseira
Se você deseja testar a técnica da estaquia na sua casa, veja, a seguir, um “passo a passo” simples que vai te ajudar. Vale para todas as plantas:
1- Corte um pedaço do caule
O início da manhã é o melhor momento com o fim de cortar as mudas, já que as plantas geralmente têm mais umidade nesse momento. Selecione uma parte onde o crescimento esteja saudável, com cerca de 10 centímetros de comprimento.
Usando uma faca afiada ou uma tesoura de poda, faça um corte limpo, sem esmagar ou rasgar o caule porque o futuro broto terá mais dificuldade para desenvolver novas raízes.
Lembre-se de manter as mudas frescas e úmidas, colocando as pontas cortadas na água ou guardando-as em um saco plástico com uma toalha de papel úmida enrolada em volta delas.
2- Remova as folhas inferiores
Corte as folhas na metade inferior do broto. Assim, você terá um caule limpo para inserir no vaso. Para ajudar as mudas a enraizarem mais rapidamente, mergulhe a ponta do caule no hormônio de enraizamento.
3- Plantio da estaquia
Coloque imediatamente a mudinha em um vaso com matéria orgânica úmida, contendo ainda areia, perlita (uma espécie de rocha) ou vermiculita (espécie de substrato). Mantenha o corte úmido, envolvendo-o com plástico transparente.
O caule deve receber luz solar, mas não de forma direta, uma vez que pode queimá-lo. Algumas plantas enraízam mais rapidamente do que outras. Então, seja paciente.
Em média, pode levar de um a dois meses até que suas mudas criem raízes e se estabeleçam.
Conclusão
Em linhas gerais, a estaquia consiste em escolher um bom galho e colocá-lo em um recipiente com substrato e boa umidade. A expectativa é de que esse galho crie raízes e folhas, transformando-se em uma planta idêntica à “planta-mãe”.
E então, gostou de saber mais detalhes sobre a técnica da estaquia? Por falar em material utilizado nesse e em outros processos de desenvolvimento de plantas, sugerimos, como leitura complementar, nosso post que dá dicas de como fazer substrato para plantas. Até a próxima!
Escrito Por
Klaus Bernardino
Jornalista há mais de 40 anos, formado pela Unimar (Universidade de Marília). Editor do portal Visão Notícias.com