O produtor rural já está acostumado e sabe da importância de realizar a rotação de cultura, técnica que consiste em alternar, de maneira ordenada e planejada, diferentes culturas em uma mesma área em um dado período.
No oeste do Paraná as culturas mais comuns são: soja, milho e trigo. Mas uma novidade apresentada no Show Rural Coopavel, que já está apresentando resultados positivos em diversos estados, pode mudar um pouco o cenário e trazer mais possibilidades e segurança de lucro ao produtor.
A Fazenda de Carne traz como possibilidade aproveitar o período entre as safras de soja, por exemplo, utilizar a área para a criação de bovinos de corte. “A ideia da Lavoura de Carne surgiu quando por volta de 2016, tomando por base todos os dados da pecuária, verificamos que cerca de 70% das propriedades não lucram. Algumas empatam e outras perdem dinheiro. Então buscamos criar algo diferente para que pudesse buscar rentabilidade, com foco na margem de lucro, focado no que o hectare e o alqueire produzem. Então saímos daquele viés da pecuária, do preço da arroba, o preço do bezerro e começamos a focar como se fosse uma lavoura. A ideia que nós estamos expondo em parceria com a Coopavel é mostrar na prática que qualquer propriedade seja ela de 1 alqueire ou de mil alqueires, que queira entrar no conceito de uma pecuária intensiva, em que são levados em conta todos os fatores, desde a preparação de uma boa pastagem, suplementação, água, bem estar animal, sanidade e manejo. Temos implantado esse conceito desde 2017, principalmente nos estados do sul, que tem uma grande potencialidade em relação às pastagens de inverno, esse é o ponto mais forte que temos se comparado ao resto do Brasil, a capacidade de fazer aveia e azevém” explica o gerente técnico regional de pecuária de corte da Tortuga (DSM/Firmenich) e idealizador do projeto, Eduardo Madruga.
Integração lavoura pecuária
Eduardo reforça que a proposta não tem o objetivo de substituir o cultivo tradicional no campo, mas oferecer ao produtor novas possibilidades de lucro, com a diversificação e integração das atividades. “A lavoura de carne é uma homenagem às lavouras de grão que temos hoje no Brasil, seja de soja, milho, arroz, trigo e afins. Esses cultivos são muito profissionais, tem as etapas muito bem definidas, planejamento com cronograma de atividades previamente organizado. E nós trazemos esse conceito para as lavouras de carne, porque é esse o segredo do sucesso, o planejamento das ações. E o nosso projeto junto o que a pesquisa brasileira, tanto da agricultura quanto da pecuária desenvolveu ao longo dos anos, só que juntando todos os fatores ao mesmo tempo. Então se faz uma lavoura de pasto, se maneja esse pasto, adubando e fertilizando para melhorar o desempenho. Você trabalha focado no que a área produz, no que é possível colher”, ressalta.
Ainda com o viés de integração lavoura pecuária, o especialista detalha as possibilidades e vantagens que o projeto propõe. “Essa integração funciona muito bem tanto na rotação de cultura, nos períodos de primavera verão, quanto entre as safras de soja, que é o primeiro passo da maioria de produtores que entram no projeto. Outra possibilidade também, em especial no oeste do Paraná, é a Lavoura de Carne nas áreas que não são utilizadas para o plantio do trigo, muitas vezes em virtude das condições climáticas. Nesse período elas ficam paradas, então você tem de 120 a 150 dias que poderiam estar gerando aí de R$5.000,00 a R$6.000,00 por hectare. Um montante bem expressivo que pode fazer a diferença na renda do produtor”, observa.
Outro ponto em que lavoura e pecuária podem se complementar é na conservação do solo. “Nós temos exemplos, de lavouras de soja, inclusive aqui na região de Cascavel, que tem a produtividade melhor, cerca de 40 sacas a mais por alqueire, com a utilização racional da pecuária entre as safras. Claro, com o manejo correto, deixando a palhada, mas com um pasto que tenha uma boa profundidade de raiz, o que colabora e muito para a conservação do solo e preservação da umidade” garante.
Lucratividade
Os investimentos são de três a quatro vezes maiores que uma pecuária tradicional, só que uma pecuária tradicional produz cerca de 3 arrobas por hectare, 7 a 8 arrobas por alqueire, na lavoura de carne, em projetos que são de 12 meses, nós temos produzido uma média de 40 arrobas per hectare, cerca de 100 arrobas por alqueire, isso é muito impactante. O investimento é quarto vezes maior que a média tradicional, mas “colhe” cerca de 10 a 12 vezes o que se produz na pecuária tradicional. Nossa lucratividade média hoje é de praticamente 50%, por exemplo, quem investe R$ 5 mil ganha mais R$ 5 mil, ou seja R$ 10 mil de resultado bruto, é isso que muda o paradigma de que pecuária não dá dinheiro”, aponta.
Já se comparado o investimento necessário para o cultivo da lavoura tradicional e a de carne, a diferença é significativa. “Se você pegar as lavouras mais tecnificadas de soja e milho do Brasil, os investimentos na lavoura de carne são 30 a 40% menores”, garante.
Qualidade genética
Um dos pontos para o qual o especialista chama atenção é a importância de observar a qualidade genética do rebanho. “Nos últimos anos a genética evoluiu de forma significativa no Brasil, o potencial de ganho de peso de todas as raças aumentou muito. Então genética temos de sobra para ganhar um quilo, até um quilo e meio por dia em uma boa pastagem. Mas precisamos ter um bom substrato, uma boa pastagem, para garantir essa alimentação adequada. E mais uma vantagem da lavoura de carne é que você pode medir a evolução por meio da pesagem e ajustar os fatores se necessário. O Cuidado com a sanidade também é importante. São diversos fatores que devem ser observados e por isso estamos a disposição para ajudar o produtor que tiver interesse, basta o produtor ter interesse. Hoje temos 120 projetos rodando e que dado lucro”, completa.