Os insetos praga podem provocar perdas consideráveis na produção e causar sérios prejuízos na lavoura.
Normalmente, para evitar estes prejuízos, os produtores realizam o controle dos insetos utilizando agroquímicos, os inseticidas. No entanto, muitas vezes estes produtos têm um alto custo, além de causar danos ao meio ambiente.
Pensando nisso, medidas alternativas vêm sendo desenvolvidas, com destaque para o controle biológico de insetos utilizando formulações contendo entomopatógenos, que são microrganismos capazes de causar doenças ao inseto e até matá-lo.
Dentre os diversos agentes biológicos que podem ser usados no controle de pragas, um dos mais importantes é o fungo Metarhizium anisopliae.
Neste artigo, você verá o que é o Metarhizium anisopliae, como ele controla os insetos e como utilizá-lo na lavoura. Acompanhe!
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Saiba o que é Metarhizium anisopliae
Primeiro vamos entender o que são estes fungos entomopatogênicos. Tratam-se microrganismos capazes de colonizar espécies de pragas, causando doenças que podem levar a sua morte ou interferir na sua alimentação e reprodução.
O fungo Metarhizium anisopliae está amplamente distribuído na natureza, presente no solo e sobrevivendo por longos períodos.
Acredita-se que ele ocorra naturalmente em mais de 300 espécies de insetos das diferentes ordens, incluindo pragas importantes como gafanhotos, cigarrinha-das-folhas da cana-de-açúcar (Mahanarva posticata) e cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar (Mahanarva fimbriolata).
Vamos conhecer algumas vantagens em utilizar M. anisopliae no controle de pragas agrícolas:
- Não é tóxico;
- Não causa danos ao meio ambiente;
- Não deixa resíduos nos produtos colhidos;
- Não apresenta risco para outros insetos importantes, como abelhas e minhocas;
- Indicado para usar em Manejo Integrado de Pragas (MIP);
- É aprovado para a agricultura orgânica;
- Pode ser produzidos em escala industrial;
- Apresenta largo espectro de ação, ou seja, pode controlar diversas pragas;
- Pode ser usados em qualquer cultura agrícola.
Além disso, eles não causam danos a outros insetos inimigos naturais de pragas, como vespas parasitas e besouros predadores.
No Brasil, existem produtos registrados para o controle de cinco espécies de pragas agrícolas:
- Cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata);
- Cigarrinha-das-raízes (Zulia entreriana);
- Cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta);
- Percevejo-castanho (Scaptocoris castanea); e
- Cigarrinha-das-pastagens (Notozulia entreriana).
Basicamente, os fungos invadem o corpo dos insetos e destroem seus tecidos, causando a morte. Em aproximadamente 72 horas o inseto pode estar completamente infectado pelo fungo.
O Metarhizium anisopliae age por contato, e a morte ocorre por infecção generalizada no corpo do inseto, causada pelo fungo. Por esse motivo, seu sucesso no campo está diretamente relacionado à qualidade na aplicação e a sua facilidade de dispersão.
Este fungo produz os conídios, que são a sua estrutura reprodutiva assexuada. Estes conídios é que serão utilizados em campo para realizar o controle biológico de pragas.
Os conídios chegam ao hospedeiro suscetível, o inseto praga nesse caso, aderem-se a ele e penetram pela cutícula do inseto. Após a penetração, o fungo supera as respostas imunes do hospedeiro e produz toxinas que irão causar a sua morte.
Após a morte, acontece a produção dos conídios em volta do inseto, e estes conídios servirão de inóculo para se dispersar na área de cultivo.
O M. anisopliae pode agir em qualquer fase de desenvolvimento dos insetos, mas nas cigarrinhas da cana-de-açúcar, por exemplo, a fase mais suscetível ao ataque de Metarhizium é a fase de ninfa, durante a qual são encontradas na base da planta e protegidas por uma espuma.
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Como utilizar o Metarhizium anisopliae?
A aplicação de Metarhizium anisopliae vai depender do tipo de inseto que se está pretendendo controlar.
Por exemplo, como mencionamos anteriormente, as ninfas da cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar ficam alojadas na base da planta. Portanto, a aplicação para o controle desta praga deve ser direcionada para este local.
Para controlar outras cigarrinhas, como a Zulia entreriana, a Deois flavopicta e o percevejo Scaptocoris castanea, a aplicação também deve atingir a base das plantas.
Confira, agora, as condições climáticas apropriadas para realizar a aplicação de M. anisopliae:
- Umidade relativa do ar: mínimo 70%;
- Temperatura: entre 25 e 30°C;
- Radiação solar: evitar a aplicação do fundo em dias com radiação solar intensa, pois os fungos são sensíveis à radiação ultravioleta.
Dentre estes aspectos citados, a umidade relativa e a temperatura são os fatores mais importantes para garantir a eficiência na aplicação dos fungos. Portanto, fique atento a eles!
Cuidados com estes bioinseticidas
Como os produtos à base de Metarhizium anisopliae contêm microrganismos vivos, que são os fungos, é fundamental tomar alguns cuidados para garantir a sua sobrevivência e eficiência:
O transporte e o armazenamento devem ser realizados em condições refrigeradas, as temperaturas muito altas acabam matando o fungo.
As condições de temperatura ideais variam dependendo da formulação do produto. Por isso, essas informações devem sempre ser consultadas na bula e respeitadas.
Conclusão
Este artigo nos mostrou que a utilização do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae é uma alternativa eficaz e muito segura no controle de pragas agrícolas.
Além de ser de baixo custo, os produtos não causam impactos ambientais e contribuem para a produção de um alimento mais seguro, sem resíduos de agroquímicos.
Existem produtos registrados no Brasil para algumas espécies de cigarrinha e para o percevejo-castanho. Então, se você enfrenta problemas para controlar estas pragas, é válido experimentar a utilização do Metarhizium anisopliae.
Fique atento à temperatura e umidade relativa do ar, garantindo o alto rendimento e produtividade da sua lavoura.
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Escrito Por
Priscila Marchi
Priscila Monalisa Marchi é Engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal de Santa Maria, Mestra em Ciências, área de concentração em Fruticultura, e Doutora em Ciências, área de concentração em Fitomelhoramento, ambos pela Universidade Federal de Pelotas. Tem experiência e interesse em temas relacionados ao melhoramento genético vegetal, à pesquisa experimental, à fruticultura, à olericultura e ao manejo de grandes culturas. Atualmente é docente do curso de Agronomia, ministrando disciplinas relacionadas à fitotecnia e a experimentação agrícola.