Os piquetes são delimitações de espaço nas áreas de pastagem, o qual tem como objetivo principal oferecer alimento de qualidade e quantidade adequada para os animais.
O manejo inadequado de pastagens pode acarretar em problemas significativos na produção de leite e na saúde do rebanho, principalmente no período das águas, onde pode haver maior presença de lama/barro no ambiente.
Nesse texto iremos discutir sobre a interação entre o animal, a forragem e solo e como esses influenciam no sucesso do sistema de piquete e na performance animal.
Manejo incorreto dos piquetes
Sabemos que o manejo correto das pastagens irá garantir a maior disponibilidade de alimento de qualidade, e consequentemente maior produtividade do sistema. Dentre os fatores sugestivos de manejo inadequado do piquete, podemos citar:
- Pastagem degradada: quando se tem uma pastagem com manejo incorreto, a mesma pode se tornar degradada, limitando assim a oferta de forragem aos animais, além de expor o solo a condições climáticas adversas e a maior instalação de plantas invasoras.
- Presença de ervas daninhas: controle inadequado da pastagem no piquete favorece a proliferação excessiva de ervas daninhas, as quais em alguns casos podem ter potencial tóxico aos animais, além de afetar a qualidade nutricional da forragem.
- Acúmulo de esterco: quando não há uma rotina de manejo adequado dos dejetos, o mesmo irá se acumular e tornar o ambiente propício para que parasitas e outros agentes causadores de doença se desenvolvam.
- Erosão do solo: a ausência de práticas adequadas de manejo das pastagens pode resultar em problemas de compactação e erosão do solo. Por sua vez, esses afetam diretamente a disponibilidade e qualidade da planta forrageira do piquete, além de contribuir para problemas ambientais relacionados ao assoreamento e/ou contaminação de recursos hídricos.
- Superlotação: além do aumento da competição, estresse e dificuldade de manejo dos animais, piquetes superlotados podem causar comprometimento da qualidade da pastagem devido ao pastejo e pisoteio excessivos, o que também irá contribuir para a compactação do solo, maior acúmulo de dejetos e formação de lama.
Práticas que contribuem para um bom manejo dos piquetes
Os piquetes geralmente possuem sistemas de sombreamento para melhorar o bem-estar dos animais, seja natural (árvores) ou implementados no local, como telhados e sombrites. Entretanto, no período das águas as áreas de sombra podem se tornar um desafio devido a maior produção de lama em razão do aglomerado de animais e da reduzida incidência de radiação solar nestes locais.
Para minimizar esse problema relacionado à formação de lama oriunda do sistema de sombreamento é importante estar atento a alguns pontos, como a orientação da construção da sombra, a drenagem do solo e a declividade do local.
Orientação da sombra
Em relação à orientação da sombra, é importante que a mesma seja construída no sentido norte-sul, pois assim a sombra se desloca no decorrer do dia conforme a mudança da luz solar de leste a oeste.
Dessa maneira as vacas acompanharão o sentido da sombra e não ficarão sempre no mesmo local, permitindo assim que haja incidência de luz solar em todas as partes, resultando em menor formação de lama em áreas de sombreamento.
Imagem ilustrando a disposição da sombra dependendo da posição do sol em relação a construção de uma cobertura que promova sombra. À medida que o sol nasce (leste), há formação de sombra no lado oposto, o que também acontece quando o sol está em direção ao oeste. Fonte: Maria Fernanda Faria
Drenagem do solo
A drenagem do solo consiste na remoção do excesso de água da superfície do solo e/ou subsolo e está intimamente relacionada a um manejo eficaz dos piquetes.
Para a garantia de uma drenagem eficiente é comum a adoção de práticas como a instalação de drenos superficiais, canais de drenagem, nivelamento adequado do terreno, além de selecionar áreas que sejam adequadas para implementação de pastagem.
Ter uma projeção adequada do sistema de drenagem além de ser benéfico para o pasto, traz benefícios a saúde das vacas e a eficiência de toda operação, tais como:
- Reduz a compactação do solo;
- Minimiza a erosão do solo;
- Aumenta a disponibilidade e qualidade da forragem;
- Reduz risco de formação de poças d’água;
- Previne problemas de saúde, como mastite e lesões podais;
- Facilita o manejo do rebanho.
Declividade dos piquetes
A formação dos piquetes levando em consideração a sua declividade é um ponto importante por influenciar desde a drenagem do solo até a segurança dos animais. Dentre as razões pelas quais a declividade contribui para um bom manejo dos piquetes, podemos citar:
- Drenagem natural;
- Uso eficiente do espaço;
- Prevenção de enchentes;
- Controle da erosão;
- Facilidade de acesso ao pasto;
- Segurança do rebanho.
Imagem de pastagem degradada e presença de erosão. Fonte: Bioseeds Sementes
Pastejo rotacionado
Além disso, a rotação de pastejo é um manejo de suma importância para manter a qualidade da pastagem ao longo do ano. Por terem alta capacidade de selecionar o alimento a ser ingerido, os bovinos podem deixar de comer uma forragem que está próxima para se alimentar em áreas no restante do piquete, aumentando o pisoteamento e criando áreas de superpastejo e subpastejo.
Em consequência desse comportamento, a ausência de pastejo rotacionado pode resultar em diminuição do crescimento e da qualidade da forragem implementada, e consequentemente, redução do desempenho produtivo e reprodutivo dos animais.
Sendo assim, o período de pastejo e descanso e taxa de lotação devem ser analisados com maior atenção, mesmo sabendo que há maior desenvolvimento das forragens no período chuvoso. Dentre as vantagens de um sistema de pastejo rotacionado, destaca-se:
- Redução da perda de forragem por pisoteio;
- Propicia o crescimento e rebrota da planta antes do próximo ciclo de pastejo;
- Melhor qualidade da forragem;
- Pastejo mais uniforme e redução de áreas de subpastejo e superpastejo;
- Redução da infestação de plantas invasoras;
- Melhor distribuição dos desejos dos animais;
- Redução de áreas de lamaçais.
Imagens de animais pastejando em uma área de piquete bem manejado. Fonte: Acervo Rehagro
Como piquetes mal manejados no período de chuva afeta a produtividade, saúde e qualidade do leite?
A alta presença de barro nos piquetes pode afetar levemente ou severamente a produtividade e saúde dos animais, além da qualidade do leite produzido, impactando negativamente na parte financeira e econômica do sistema de produção.
Logo, o produtor deve se atentar a esses possíveis problemas para que não ocorram ou para que sejam minimizados dentro de sua fazenda.
Casco
As afecções de casco que acomete os bovinos possuem diversas causas, porém, na maioria das vezes está relacionada ao ambiente que o animal se encontra e as condições de higiene.
Estudos demonstram que vacas de leite em sistema de pastejo mal manejados no Brasil podem ter de 2,6 até 7,1x maior chance de desenvolver lesões podais a depender das condições ambientais e de higiene.
Logo, seus prejuízos são imensos, dado os custos associados com tratamento, redução da produção de leite e performance reprodutiva e aumento de descartes involuntários.
Mastite clínica
Ambientes úmidos somados a temperaturas elevadas durante o período chuvoso formam um ambiente propício para proliferação de bactérias e demais microrganismos causadores de mastite.
Dessa maneira, tem sido demonstrado que vacas primíparas possuem 1,2x maior chance e vacas multíparas 20,8x maior chance de serem diagnosticadas com mastite clínica durante o período chuvoso em sistemas de pastejo no Brasil.
Por sua vez, a mastite clínica é responsável por grandes perdas econômicas associadas ao custo com tratamento, descarte do leite, menor produção durante a lactação e maior descarte involuntário.
Diminuição da produção de leite
Apesar da maior disponibilidade de forragem nos períodos chuvosos no Brasil, vacas em sistema de pastejo são constantemente desafiadas quanto a sanidade e produção de leite em ambientes mal manejados com acúmulo de lama, como em áreas de sombreamento e descanso, entradas e saídas do curral, trilhos de condução a sala de espera, e aos redores de cochos de água e sal.
Tais situações de desconforto somadas às complicações adicionais reduzem a capacidade da vaca de expressar seu potencial de produção de leite, gerando prejuízos relacionados à menor produção de leite.
Diminuição da qualidade do leite
Animais que são alojados em piquetes com áreas contendo barro chegam sujos a ordenha, o que dificulta a limpeza dos tetos, além de elevar a chance de contaminação cruzada dos utensílios utilizados.
Nesse sentido, piquetes mal manejados nos períodos chuvosos podem representar um desafio maior quanto a manutenção de CPP (Contagem Padrão em Placa) e a CCS (Contagem de Células Somáticas) do tanque dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação.
Considerações finais
Em resumo, é fundamental que seja adotado um manejo adequado dos piquetes das vacas para que assim possa ser garantido a integridade das pastagens e do solo, a potencialização da produção de forragem de qualidade, o bem-estar e saúde animal, e a otimização da produção de leite.
Estar atento a práticas de manejo que levam em consideração a relação entre o ambiente, forragem e animal em todos os períodos do ano são imprescindíveis para o sucesso da atividade leiteira.
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