Os parasitas são organismos que para sobreviver, necessitam de outro ser vivo, retirando nutrientes para o funcionamento do metabolismo. O controle de parasitas na cadeia de produção de leite é de extrema importância para evitar a perda de produção e também a perda de animais.
Em ruminantes, as doenças parasitárias são responsáveis pela perda de peso, diminuição do ganho de peso, queda no consumo alimentar e também da fertilidade, fatores estes que levam a uma diminuição significativa na produção de leite, acarretando em grandes prejuízos econômicos e financeiros.
Nesse artigo, vamos entender melhor sobre a importância de contato controlado com os parasitas nas fases iniciais da vida do animal e também sobre quatro dos principais parasitas dos bovinos, o carrapato, a mosca de chifres, o berne e a miíase e a coccidiose, mostrando os impactos causados por eles tanto no desempenho e produtividade dos animais.
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Primeiro contato dos bovinos com os parasitas
As primeiras semanas de vida, são fundamentais para que os animais tenham contato com parasitas, e possam assim desenvolver uma boa resposta imunológica e construir resistência a esses parasitas ao longo do tempo. Esse processo é conhecido como “imunidade ativa”, ou seja, ocorre quando o próprio corpo produz uma resposta imune.
Os bezerros quando nascem, devido ao tipo de placenta que os gera, não há passagem de anticorpos da mãe para o feto, fazendo com que eles não possuam um sistema imunológico completamente desenvolvido no nascimento, o que os torna mais vulneráveis a contrair infecções e doenças.
A forma de transmissão de imunidade para os bezerros é através do colostro, o qual é possui uma alta concentração de anticorpos, as quais são absorvidas pelo bezerro nas primeiras horas após o nascimento e que irá conferir uma imunidade temporária contra uma variedade de patógenos e parasitas.
Ao entrar em contato com parasitas presentes no ambiente, os animais começam a desenvolver uma resposta imune adaptativa, a qual se desenvolve para uma resposta imune ativa, a qual é mais duradoura e oferece proteção contínua durante a vida do animal.
A falta do contato com parasitas logo no início da vida dos bezerros pode contribuir para ocorrência de dois cenários:
- Falta de imunidade: A imunidade passiva adquirida pelo colostro vai diminuindo com o passar do tempo, e sem o estímulo dos parasitas para a produção de imunidade ativa irá contribuir para a formação de um sistema imune não adequado, deixando o animal mais susceptível a doenças futuras.
- Resistência diminuída: Quando exposto de forma precoce a parasitas permitirá que ocorra o desenvolvimento de resistência contra espécies específicas de parasitas comuns naquela área. Se não ocorrer esse contato inicial, pode não ser adquirida a mesma resistência, o que deixará os animais mais vulneráveis à infestação de parasitas mais tarde.
Porém, é importante que estratégias de controle sejam traçadas, a fim de permitir que haja esse contato sem que o desenvolvimento e a saúde sejam comprometidos.
Infestações parasitárias intensas podem levar a problemas de saúde significativos, prejudicar o desenvolvimento dos animais e elevar os custos de produção da propriedade.
Essas estratégias de contato controlado em bovinos são conhecidas como “estratégias de desafio”, onde o objetivo é permitir que os animais desenvolvam imunidade contra parasitas de forma gradual e controlada evitando que ocorra infestação massiva que prejudicam a saúde e bem-estar dos animais.
Principais parasitas dos bovinos leiteiros
Os parasitas são divididos em 2 grupos:
- Endoparasitas: vivem dentro dos hospedeiros;
- Ectoparasitas: vivem sobre a pele dos hospedeiros.
Pensando nos principais parasitas, temos:
- O carrapato Rhipicephalus microplus, que causa grande desconforto aos animais e transmitem doenças como babesiose e anaplasmose, que causam a tristeza parasitária bovina, podendo esta ser fatal, principalmente para as bezerras;
- A mosca-dos-chifres, Haematobia irritans, que leva a uma perda de sangue significativa, além de estressar os animais, diminuindo assim o desempenho;
- Os bernes e as miíases(bicheira) que prejudicam a alimentação dos animais, visto que geram dor e incômodo;
- Os coccídeos, sendo um dos principais causadores de diarreia em bezerras;
Pensando no bem-estar animal e em um sistema de produção eficiente, se faz necessário deter de boas estratégias de controle destes parasitas, para que o sistema seja rentável.
Carrapato Rhipicephalus microplus
Um dos grandes problemas atuais, são as resistências aos acaricidas, que ocorrem devido a sua utilização descontrolada. Dessa forma, ao invés de solucionar o problema, este pode estar aumentando.
Para controlar este parasita, se faz necessário entender primeiramente o seu ciclo biológico e os fatores ambientais que predispõem sua infestação em rebanhos leiteiros.
Carrapato bovino Rhipicephalus microplus. Fonte: Embrapa
A fase parasitária do carrapato é a primeira, onde as fêmeas se alimentam do hospedeiro, retirando sangue. A fase não parasitária, conhecida também como de vida livre, é onde ocorre a postura dos ovos nas pastagens.
Passados 20 a 30 dias, dependendo dos fatores temperatura e umidade, os ovos eclodem, a maturação das larvas ocorre e estas se tornam preparadas para subirem nos hospedeiros. As larvas se alimentam de sangue e retornam para as pastagens, onde se tornaram ninfas.
Após cerca de 3 semanas, se hospedam novamente no hospedeiro, retornam ao ambiente e depois se tornam adultas. Para um controle eficiente, deve-se utilizar a ferramenta biocarrapaticidograma, para que assim a base do acaricida seja escolhida de forma correta, evitando assim resistência e piora na infestação.
Uma vez escolhida a base ideal, esta deve ser utilizada por aproximadamente 1 ano, sem que haja alternância para atingir bons resultados. Além disso, a forma de aplicação do produto, deve ser feita de acordo com a recomendação do fabricante, sendo necessário diluir adequadamente e também pesar os animais para calcular a quantidade a ser aplicada.
Mosca-dos-chifres, Haematobia irritans
O ciclo biológico, se inicia com a deposição dos ovos nas fezes frescas de bovinos. As larvas se protegem dos raios solares, penetrando para o interior das fezes e esta etapa tem duração de cerca de 10 horas. A fase de larva até a emergência dos adultos dura aproximadamente 10 dias.
Mosca Haematobia irritans. Fonte: Embrapa
Pensando no controle, este deve se concentrar nas fezes, para aumentar a morte do parasita, antes que este se torne adulto. Pode ser utilizado controle químico mas, estudos recentes mostram que a utilização do controle biológico também pode ser eficiente.
Em um estudo realizado pela EMBRAPA, mostrou-se que a utilização de besouros que se alimentam de fezes pode ser uma opção.
Além disso, existem os brincos que podem ser colocados nos animais, os quais proporcionam uma liberação lenta dos químicos na tentativa de controlar uma infestação ou evitar a chegada da mosca no animal. Para identificar o grau de infestação, a contagem das moscas presente no animal pode ser feita:
Fonte: SAUERESSIG, Thelma Maria, EMBRAPA.
Adultos de Haematobia irritans em um bovino. Fonte: Oscar S. Anziani, Guillermo Suárez Archilla (2018)
O controle químico é feito através de avermectinas, piretróides, fosforados dentre outros. Para o sucesso do controle, as condições climáticas devem ser levadas em consideração.
No período seco, é ideal utilizar os químicos em todos os animais do rebanho, independente do número de moscas que estejam infestando os animais e esse manejo precisa ser realizado no início e final da seca.
Bernes e miíases
As miíases surgem a partir da ocorrência de alguma lesão no tecido, e assim, a mosca Cochliomyia hominivorax deposita seus ovos no tecido, e uma vez eclodidos, se alimentam deste.
Já o berne, causado pela mosca Dermatobia hominis não necessita de lesão, ou seja, ocorre penetração do tecido saudável.
Ambas levam a lesões que geram dor, redução da produção de leite, queda de desempenho dos animais jovens, predispor a ocorrência de doenças secundárias e afetar o bem-estar do rebanho.
Cochliomyia hominivorax. Fonte: Ouro Fino
Quanto a formas de prevenção das miíases, podemos citar:
- Deter de cuidado ao manejar os animais, evitando qualquer objeto que possa machucá-los, além de observar sempre o ambiente, para que não se tenha obstáculos que permitem surgimento de lesões;
- Manter sempre higiene e limpeza de instalações e utensílios, visto que eles serão atrativos para moscas;
- Tratar feridas e cortes de forma precoce e correta, a fim de evitar que as moscas depositem ovos nesses locais e causem miíase;
- Utilizar ferramentas de controle de moscas é essencial para prevenção. Isso inclui utilização de armadilhas, pulverização de inseticidas e até dispositivos repelentes.
Algumas atividades realizadas como castrações, descornas, entre outros, devem ser preferencialmente no período de outono-inverno porque é o período de menor infestação em comparação com a primavera-verão, entretanto, é indispensável que seja feito monitoramento dos animais nessas condições.
Uma curiosidade sobre os bernes, é que a mosca Dermatobia hominis deposita os ovos em outras moscas como por exemplo a mosca-do-chifre, e esta é que realiza a deposição das larvas no bovino.
As lesões causadas pelos bernes, geram um estresse e irritabilidade grande, diminuindo principalmente o consumo do alimento, logo, a produção de leite. Pensando nas fases da vida produtiva de uma vaca, a depender da fase em que esta se encontra, os prejuízos podem ser ainda maiores.
A fase de pós-parto, é um bom exemplo, visto que já existe uma queda no consumo de matéria seca e qualquer situação que gere estresse vai impactar ainda mais, contribuindo para maior redução do consumo, podendo causar ou agravar quadros de doenças metabólicas.
Para o controle da mosca causadora dos bernes, pode ser utilizado os endectocidas. No mercado existem várias opções, e o tempo de ação e carência pode ser diferente para cada um, sendo então, necessário seguir as recomendações do fabricante. Além disso, alguns não podem ser utilizados em vacas leiteiras.
A higiene do ambiente também precisa estar em dia, visto que a umidade, acúmulo de matéria orgânica, como urina, fezes e restos de alimentos atrai moscas para o local.
Coccídeos
A coccidiose é causada por um protozoário chamado do gênero Eimeria, o qual está presente em todo o ambiente, podendo ser encontrado na água, no solo e nas pastagens.
Esse é considerado uns dos grandes causadores de problemas gastrointestinais em bovinos, podendo em muitos casos os animais nem apresentarem sinais clínicos da doença, tendo apenas o desempenho comprometido.
Oocisto de Eimeria bovis na forma infectante. Fonte: Ouro Fino
Situações estressantes, condição nutricional, eficiência da resposta imune e o volume de oocistos ingeridos podem ser determinantes na demonstração clínica da doença.
Quando o quadro clínico é instalado, é apresentado principalmente diarreia sanguinolenta como característica principal, a qual ocorre devido a destruição de células intestinais, a qual afeta a função do órgão e o rompimento de vasos sanguíneos. Entretanto, pode ser observado também falta de apetite, emagrecimento e fraqueza.
Bezerros são os principais desafios quando se pensa em coccidiose, mas em ambientes com alta densidade populacional, animais adultos também podem ser acometidos. A contaminação ocorre quando há ingestão dos oocistos esporulados que estão na água ou nos alimentos.
Após isso, animais contaminados vão seguir eliminando novos oocistos nas fezes, os quais se tornam esporulados e se mantêm viáveis no ambiente por um longo período de tempo, principalmente em locais de temperatura inferior a 35°C, alta umidade e baixa exposição à luz solar.
Os bezerros são extremamente afetados por este protozoário e pensando em uma das principais formas de prevenção, temos a colostragem.
Esta uma vez realizada dentro parâmetros ideais (qualidade, quantidade e tempo) contribui para um bom desenvolvimento imunológico do bezerro e este quando entrar em contato com oocistos, pode não desenvolver ou desenvolver uma forma mais branda da doença, a depender também da quantidade ingerida.
Um outro ponto importante, é o correto manejo dos utensílios utilizados, que devem ser lavados e higienizados corretamente, além de evitar ao máximo compartilhar esses utensílios entre os animais e estar atento ao ambiente de criação dos animais que são mais desafiados, mantendo as pastagens mais baixas para favorecer a entrada de luz solar e reduzir a umidade.
Além disso, buscar o diagnóstico correto da doença a partir da realização de exames de fezes, como o OOPG (contagem de oocistos por grama de fezes).
Conclusão
Os parasitas estão presentes no ambiente e são responsáveis por causar grandes prejuízos.
Por isso, é de suma importância conhecer e adotar estratégias de prevenção e controle, desenvolver programas de prevenção adequados a propriedade e contar com auxílio do veterinário para que assim os principais desafios sejam trabalhados, contribuindo assim para a saúde, bem-estar e sucesso econômico da fazenda.
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