Entendemos por novilhas as fêmeas leiteiras que deixaram de ser bezerras e iniciaram a vida reprodutiva até o dia do parto, quando se tornam vacas primíparas.
Adoção manejos adequados nessa fase é indispensável para que as futuras produtoras de leite tenham um bom desempenho, bom ECC ao parto, boas condições de saúde e consequentemente sucesso na produção de leite.
Nesse artigo, iremos entender os principais pontos que interferem na eficiência de criação da novilha leiteira, explorando desde o momento ideal da liberação para reprodução, estratégias e manejos reprodutivos que contribuem para melhores resultados, o impacto na nutrição dessa categoria na produtividade futura e a importância de deter de instalações adequadas que visam garantir o conforto, bem-estar e saúde dos animais e consequentemente o maior sucesso da propriedade.
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Aptidão
É importante ter critérios para iniciar o manejo reprodutivo desses animais, ou seja, decidir quando as bezerras se tornarão novilhas e receberão a aptidão.
A idade de aptidão dos animais pode depender dos objetivos específicos da fazenda, da raça e também dos manejos adotados. De modo geral, temos animais sendo liberados para reprodução entre 13 e 15 meses e com 60% do peso adulto. Por exemplo:
Fazendas de gado Girolando – média de peso adulto = 600 kg
Fêmeas em crescimento pesando 360 kg 🡪 Aptidão
Portanto, o ganho de peso até essa fase é de extrema importância e, para mensurar esse ganho de peso, é necessário pesar os animais ao nascimento, na desmama e na aptidão. Implementar como rotina uma pesagem mensal de todos os animais da recria também é excelente para acompanhar o desempenho das bezerras.
Realizando as pesagens corporais dos animais conseguimos avaliar o comportamento do ganho médio de peso (GMD), o qual se traduz em quantos quilogramas o animal ganhou desde a última pesagem. Hoje, fazendas com bom GMD tem alcançados números entre 0,800 kg e 1 kg.
É importante relacionar o bom desempenho dos animais na fase de crescimento e seu início precoce na produção de leite, visto que quanto pior for o desempenho dos animais nessa categoria, mais tardia será a liberação dos animais para a reprodução e consequentemente mais demorada a mudança do estado improdutivo e sem retorno econômico para produtivo.
Reprodução
A utilizar técnicas como inseminação artificial (IA) e transferência de embrião (TE) são ótimos caminhos para a reprodução das novilhas e contribuem para o progresso genético da fazenda.
Após o estabelecimento da aptidão dos animais, existem algumas opções de manejo reprodutivo a ser seguido, por exemplo, sincronização de cio através da utilização de protocolos de IATF, observação visual ou uso de detectores de comportamentos de cio.
Utilizar protocolos de IATF, estratégias com hormônios (como a aplicação de prostaglandina no dia da liberação) e ferramentas para observação de cio (bastão marcador e raspadinha) são escolhas assertivas que podem contribuir para o aumento da taxa de serviço e consequentemente a prenhez desses animais.
Outro ponto importante é a possibilidade de realizar acasalamento, onde o touro a ser utilizado em cada animal é predefinido baseado nas características genéticas desejadas e no objetivo de seleção da fazenda.
Além disso, essa categoria de animais em condições de manejo adequadas geralmente apresentam uma taxa de concepção mais alta em comparação com animais que tiveram mais partos.
Dessa forma, isso contribui para a utilização de forma mais direcionada de sêmen sexado, o que vai potencializar o nascimento de fêmeas na fazenda e o desenvolvimento genético.
Animais de recria contidos para a realização de manejo reprodutivo a partir a utilização de bastão marcador como ferramenta de observação de cio. Fonte: Acervo Rehagro
Nutrição
Nessa categoria o fornecimento de alimento deve atender as necessidades de desenvolvimento e mantença desses animais.
Estudos indicam que novilhas com melhor ganho de peso se tornam vacas mais produtivas, porém o consumo deve ser controlado.
Para realizar esse controle é necessário avaliar sobras e ter uma dieta própria para a categoria, com o nível ideal de energia para que elas continuem crescendo, mas não fiquem obesas, isso pode causar diversos problemas no período de transição como cetose e retenção de placenta.
Para avaliar a condição dos animais uma boa ferramenta é a avaliação de ECC (Escore de Condição Corporal), novilhas com um bom ECC estão entre 3,0 e 3,25.
Classificação de escore de condição corporal de 1 a 5, sendo que o escore 1 representa um animal caquético e o escore 5 um animal obeso. Fonte: Wildman (1982)
As necessidades básicas precisam ser atendidas em todas as categorias, elas precisam ter a disposição água limpa, espaço de cocho satisfatório e no período de transição pré-parto e pós-parto se possível, separá-las das multíparas para diminuir disputas, visto que os animais maiores e mais velhos são dominantes frente aos menores mais novos, impactando na ingestão de matéria seca e consequentemente na produtividade dos animais.
Animais de recria em confinamento após o fornecimento de alimento. Fonte: Acervo pessoal Rehagro
Instalações
Existem diversas propriedades, com condições diferentes de investimento em instalações, mas independente disso é preciso dar o máximo de conforto possível para os animais.
Os animais criados em piquetes ou a pasto precisam ter os cochos e bebedouros de fácil acesso e com altura necessária para o consumo dos animais na categoria, é importante promover áreas de sombreamento para evitar estresse térmico.
É importante ressaltar a importância de promover sombreamento aos animais em todas as categorias a fim de promover o conforto térmico.
No caso de animais criados a pasto, o sombreamento pode ser natural, a partir de árvores, ou artificial, com coberturas de telha ou sombrites, que são telas de fibra sintética e que devem fornecer de 60 a 80% de sombra. Sendo indicado que a área de sombra (natural ou artificial) seja de 3 a 5m² por animal em crescimento.
Outro ponto importante em relação à área de sombreamento em sistemas de criação a pasto é estar atento as condições do solo do local sombreado, pensando na formação de barro.
Então, é essencial se busque um local com boa drenagem, evitando assim locais com terreno mais argiloso e se for possível deter de mais de um local sombreado para realizar o revezamento de utilização das áreas.
Ilustração de diferentes formas de sombreamento, na imagem de cima é possível ver a área de sombreamento natural, a partir da utilização de árvores. Na imagem de baixo vemos uma área de sombreamento artificial. Fonte: 3RLab
Devemos também nos atentar a orientação da instalação, visto que os animais não conseguem se movimentar à procura de sombra, então, nesse caso, o sentido da construção deverá ser leste/oeste.
Já no caso de animais não confinados, deve-se planejar a orientação das árvores ou da estrutura artificial de sombreamento na orientação no sentido norte/sul, visto que os animais conseguem se movimentar procurando sombra no decorrer do dia.
Quanto ao espaçamento do comedouro, considerando animais com média de peso de 350 kg, o ideal é que o comprimento por animal seja de no mínimo 40 cm. Já em caso do espaçamento de bebedouros, o indicado é que seja 12 cm por animal.
Confinar totalmente os animais nessa fase também é uma ótima opção, dessa forma diminuímos os desafios, aceleramos a reprodução e conseguimos animais com melhores condições ao parto.
Em confinamentos, pensando na categoria de animais em crescimento, devemos nos atentar a área de cama por animal, onde é indicado que seja de 8m² por animal.
Imagem de cima demonstrando o momento de resfriamento na linha de cocho em sistema de confinamento dos animais e na imagem de baixo mostra o momento em que os animais criados a pasto se direcionam para a área de sombreamento natural. Fonte: Acervo Rehagro
Sanidade
A sanidade dessa categoria animal é fundamental para garantir o desenvolvimento saudável e a produtividade futura do rebanho leiteiro. Animais ainda em crescimento estão susceptíveis a muitas doenças, o que confere a alta necessidade da adoção de manejos adequados, e dentre eles podemos citas:
- Programa de manejo sanitário adequado a partir a elaboração de calendário sanitário estratégico para a categoria e condizentes com os principais desafios da propriedade.
- Promover práticas de biossegurança dos animais, o que inclui quarentena de animais recém chegados na fazenda, separação de grupos por faixa etária e higiene adequada dos utensílios e instalações.
É importante que se tenha um centro de manejo que permita manusear esses animais em momentos de realização de protocolos sanitários, monitoramento de doenças, utilização de pedilúvio caso esse seja um desafio dentro da fazenda e também a pesagem corporal para avaliarmos o desenvolvimento dos animais.
Outro ponto importante e que está relacionado com a saúde, é a realização da linha de ordenha onde é essencial que as primíparas, ou seja, aquelas novilhas que acaparam de parir sejam o primeiro grupo a entrar para ordenha e para isso existem algumas explicações.
Melhorar a eficiência de ordenha
Primíparas geralmente vão ter menos experiência com o processo de ordenha e podem levar mais tempo para se acostumarem com o manejo, ambiente e equipamento de ordenha.
Ao ordenhá-las primeiro, é possível ter mais tempo para trabalhar individualmente com elas, evitando o estresse causado pela presença de outras vacas mais experientes ao redor, garantindo uma ordenha completa e eficiente.
Redução do risco de mastite
As primíparas podem ter uma maior predisposição a contrair doenças, dentre elas a mastite pelo fato de que seu sistema imune ainda ser menos desenvolvido em comparação com vacas mais velhas.
Ao ordenhar primíparas primeiro o risco de contaminação cruzada entre as vacas e as primíparas é reduzido.
Promoção de bem-estar animal
Ordenhar essa categoria primeiro contribui para o bem-estar por favorecer uma abordagem mais tranquila e cuidadosa durante todo o processo de ordenha, contribuindo assim evitar o estresse desnecessário.
Considerações finais
A partir dessa abordagem é possível entender o quanto criar bem novilhas leiteiras é importante para garantir o sucesso a longo prazo de uma fazenda leiteira, tendo em mente que esses animais são o futuro do rebanho.
Garantir que os manejos sejam adequados desde o nascimento até a entrada desses animais na produção de leite traz benefícios para o bem-estar dos animais a partir do desenvolvimento saudável, garante uma idade adequada para entrada para reprodução, possibilidade de maior potencial produtivo e menor custo de reposição dos animais.
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