Quando abordamos o tema alimentação e nutrição de vacas de leite, muito se fala sobre o valor nutricional da dieta, como por exemplo quais ingredientes são os mais utilizados, quais são os nutrientes necessários para cada categoria animal e na maioria das vezes pouca importância se dá para a confecção e oferta da dieta para os animais.
Entretanto, de nada adianta a dieta deter de uma excelente formulação se os animais de fato não a comem.
Sabemos que a dieta formulada pelo nutricionista no computador, pode nem sempre ser a que chega na boca da vaca, e esse caminho percorrido pode ser um desafio que a fazenda enfrenta relacionado com o manejo alimentar.
O manejo alimentar compõe pontos críticos para que a dieta formulada seja corretamente preparada pelos colaboradores e misturada pelo vagão forrageiro, devidamente oferecida aos animais, prontamente consumida pelos mesmos e aproveitada de forma eficiente pela vaca.
Por isso, é desejável que se tenha constância na confecção e oferta da dieta para os animais da fazenda, com o intuito de que essa dieta esteja corretamente disponibilizada para as vacas e com a máxima qualidade possível.
Nesse artigo, traremos de forma sintetizada alguns pontos críticos relacionados principalmente ao vagão para que se tenha um bom manejo alimentar, onde dentre esses pontos podemos citar: o tipo do vagão misturador, o tempo de mistura, a ordem de carregamento, a posição de carregamento, o impacto da sobrecarga do vagão, a importância de deter de uma rotina de revisão e manutenção de peças, e a calibração da balança.
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Oferta da dieta e desempenho dos animais
A variação da confecção e oferta da dieta pode prejudicar o desempenho dos animais, e os vagões, que têm papel fundamental na mistura e entrega dos alimentos, são peça chave neste “quebra-cabeça”.
Desta forma devemos atuar sempre checando se essas máquinas estão entregando uma dieta homogênea e bem processada.
Para checar se isso realmente está acontecendo, é possível fazer uma mensuração através da peneira “Penn state”, onde após análise conseguimos ter o coeficiente de variação de vários pontos do cocho dos animais, o que aumenta a chance de identificação de alguma falha no processo de mistura.
Fazemos isso coletando 10 amostras da dieta disposta na linha do cocho após o vagão forrageiro distribuir o alimento, onde a porcentagem de cada peneira é contabilizada no final da análise.
Em seguida, é calculada a média, desvio padrão e com isso o coeficiente de variação das amostras. Quanto menor for o coeficiente de variação, melhor está sendo a mistura no vagão. A meta é trabalhar com menos de 5% de variação entre as amostras.
Teste da peneira Penn State sendo realizado. Fonte: Milkpoint
Caso haja uma variação muito grande dentre os pontos do cocho, significa que a dieta não está homogênea, e algo no manejo alimentar não está saindo como esperado.
Desta forma, devemos nos atentar a alguns pontos críticos, que nos ajudam a compreender melhor como aprimorar o manejo alimentar dentro da propriedade.
Principais pontos para se ter um bom manejo alimentar
Tipo de vagão misturador
Basicamente temos dois tipos de misturadores, os misturadores verticais e os misturadores do tipo horizontal, que se diferenciam quanto à mecânica, capacidade de mistura, processamento e mistura de fibra longa na dieta e também na potência.
Vagões tipo verticais
Os misturadores verticais que possuem o eixo da rosca sem fim na vertical. Esses podem ter uma como também duas ou mais roscas para auxiliar no processo de mistura.
A mistura deste vagão é mais agressiva se comparado aos vagões horizontais. Estes, podem facilmente processar fardos de feno quadrado, fardos de feno de bola, forragens picadas e grãos.
Devido sua capacidade, este vagão consegue processar dietas com alta inclusão de fibra longa sem prejuízos na mistura e seleção pelos animais.
Tratomix Ipacol misturador. Fonte: Ipacol
Vagões tipo horizontais
Os vagões forrageiros horizontais, os quais possuem o eixo da rosca sem fim posicionado na horizontal, são geralmente de dois tipos:
Misturador JF Mix 6000 PA (6m³). Fonte: JF Máquinas
- Rotormix: Vagão horizontal que tem a mecânica de sua mistura por tombamento. Neste vagão, não conseguimos trabalhar com fibra longa na dieta sem ter prejuízos na mistura, ou seja, não é um vagão que suporta alta inclusão de feno na dieta, por exemplo. São ótimos vagões para pequenos volumes, e tem um gasto menor de potência comparado a outros vagões.
Vagão misturador Casale Rotormix 110. Fonte: MF Máquinas
- Totalmix: Vagão com geralmente 4 roscas sem fim com eixo direcionado a horizontal. Nesta máquina, pode-se trabalhar com mais fibra longa se comparado ao Rotormix, mas ainda devemos nos atentar ao prejuízo na mistura, trabalhando com até 20% de feno no volumoso da dieta. Ademais, esse vagão possui maior capacidade por metro cúbico devido sua mecânica.
Vagão de trato misturador – Casale Totalmix 25. Fonte: MF Máquinas
Tempo de mistura
Considerando uma potência do vagão entre 1700 a 2000 rpm, podemos sugerir para vagão tipo totalmix (sem as facas repicadoras) uma mistura de 5 minutos e para vagões do tipo verticais e rotormix de 3 a 5 minutos. Entretanto, esses valores podem variar de fazenda para fazenda por diversos fatores.
Dessa maneira, deve-se atentar, se há qualidade de mistura para aquela faixa de tempo utilizada.
Ordem de carregamento
A ordem de carregamento depende de diversos fatores, tais como o tipo do vagão, tipo do ingrediente quanto a densidade e tamanho, nível de inclusão e localização dos ingredientes pensando em logística.
No entanto, uma boa sequência de carregamento pode seguir a seguinte ordem:
- Alimentos de menor densidade e maior tamanho, um bom exemplo é a silagem de milho.
- Alimentos com maior matéria seca e maior densidade, um exemplo são as rações comerciais.
- Alimentos com maior umidade, exemplo o resíduo úmido de cervejaria.
- Os líquidos.
Posição de carregamento
Além de sabermos quais alimentos são sugeridos ser adicionados primeiro e quais adicionados depois, é importante saber onde no vagão ele deve ser colocado para garantir ainda mais qualidade na nossa mistura.
Dessa forma, temos:
- Rotormix – Alimento colocado sobre a rosca no centro do vagão.
- Totalmix de 1 a 4 roscas – Alimento colocado no centro do vagão.
- Verticais de 1 rosca – Alimento pode ser colocado de ambos os lados.
- Verticais de 2 roscas – Alimento colocado entre as roscas.
- Verticais de 3 roscas – Alimento colocado em cima da rosca do meio.
Sobrecarga do vagão
É de suma importância se atentar a capacidade do vagão e a demanda que os animais da fazenda têm por alimentação.
Muitas vezes a capacidade do vagão é superestimada pelo tamanho de rebanho que há na propriedade e o vagão não suporta a quantidade de alimento para processar e misturar e acabamos encontrando falhas na mistura.
A sugestão para carga no vagão é de:
- Rotormix – 75% de sua capacidade;
- Totalmix 3 ou 4 roscas – Até cobrir as roscas ou tendo uma boa movimentação e mistura aos olhos.
- Vagões verticais – De 30 a 50 cm acima do topo das roscas. Para vagões verticais com baixa carga, é necessário o cuidado para que os alimentos fiquem dispostos sobre a rosca e não misturem na dieta.
Essas recomendações devem ser validadas na própria fazenda a depender do vagão, para isso pode-se usar a peneira “Penn State” para observarmos o coeficiente de variação ao longo do cocho.
Manutenção por causa do desgaste das peças
O desgaste das peças do vagão, são causas inerentes ao seu uso, e dependem do tamanho do rebanho da fazenda, da quantidade de feno e palha na dieta, e da rotina de manutenção estabelecida.
No entanto, muitas propriedades negligenciam a rotina de manutenção, e encontramos vagões com bordas abauladas, distâncias das facas e roscas comprometidas, menor capacidade de corte, ou pior, o não funcionamento.
As roscas de um vagão geralmente estão reguladas para trabalhar de 0,3 a 0,9 cm de distância da caixa do vagão, ou seja, havendo um desgaste consequentemente é comum observar uma dieta mal misturada e desigual para cada animal.
Visto isso, é de grande importância elaborar um plano de revisões e manutenções de acordo com cada vagão.
Roscas desgastadas. Fonte: VI Máquinas
Outros fatores
A balança destes vagões forrageiros pode-se destacar talvez como a peça mais importante para um bom manejo alimentar.
E devido isso, esta deve ser sempre calibrada, pois não adianta nada termos um bom potencial de mistura se as quantidades e proporções dos ingredientes estiverem erradas, por isso sua calibração deve ser realizada periodicamente.
Da mesma maneira, deve-se atentar ao desnível do vagão na hora de seu carregamento. Esta máquina, deve ser carregada com os ingredientes da dieta e um terreno mais plano possível, a fim de diminuir os riscos de erros na pesagem e mistura, contribuindo para uma dieta desigual para os animais.
Conclusão
Todos os pontos críticos elencados nos ajudam a entender melhor como aperfeiçoar o manejo alimentar na nossa propriedade, pois dessa maneira podemos entregar uma dieta mais coerente com a formulada pelo nutricionista e maximizar resultados como:
- Maior eficiência reprodutiva;
- Melhor saúde ruminal;
- Maior ingestão de MS;
- Maior produção de leite.
Dessa maneira, torna-se de suma importância nos atentarmos ao manejo alimentar nos pontos que se refere a carga, processamento e descarga dos alimentos.
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