O colostro não é apenas o primeiro alimento ingerido pela bezerra, mas também uma “vacina” contendo anticorpos colostrais (materno) que vai proteger a recém-nascida nas primeiras semanas/meses até que o sistema imunológico adquirido da bezerra produza anticorpos protetores.
Além disso, ele também contém altos níveis de fatores imunológicos não específicos, como fatores de crescimento, hormônios e nutrientes.
Uma colostragem bem feita é capaz de reduzir as taxas de tratamento e mortalidade, melhorar as taxas de crescimento e eficiência alimentar, reduzir a idade no primeiro parto, e aumentar a produção de leite de 1º e 2º lactação.
Bezerros leiteiros com soro IgG ≥ 15 g/L tem menor taxa de doença respiratória, e menor morbidade com soro IgG ≥ 24 g/L. Para tanto, é preciso quantificar a transferência de imunidade passiva, por meio do monitoramento da avaliação da qualidade do colostro e da colostragem.
Nesse texto discutiremos sobre a importância em fornecer um colostro com boa qualidade às bezerras e também em como avaliar tanto a qualidade microbiológica como também a qualidade imunológica do colostro. Além disso, falaremos sobre o fornecimento do colostro a bezerra e dicas de armazenamento.
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Qualidade microbiológica do colostro: como avaliar?
A avaliação da qualidade do colostro é um dos passos mais importantes para garantir a saúde e o desenvolvimento das bezerras recém-nascidas.
Os parâmetros mais importantes para avaliar a qualidade do colostro são a realização da Contagem Bacteriana Total (CBT) e a medição da densidade do colostro.
Logo após o parto, deve-se iniciar o processo de ordenha do colostro da vaca recém-parida. Essa atividade deve ser conduzida com rigorosa higiene, seguindo o mesmo protocolo de assepsia utilizado na ordenha convencional do leite, com o intuito de evitar aumentos indesejados na Contagem Padrão em Placa (CPP, antiga CBT) do leite.
É importante que o leite esteja livre de sangue, de sujidade e também o colostro proveniente de animais que no parto já se encontra com mastite ou alguma outra doença.
Durante a ordenha, indica-se a coleta de uma amostra desse colostro que pode ser armazenada em tubo Falcon para posterior análise da CBT.
A presença de uma CPP superior a 100.000 no colostro pode indicar coleta inadequada e compromete a absorção eficiente das imunoglobulinas.
Metas de Unidades Formadoras de Colônia (CPP). Fonte: Padrão Ouro de Criação de Bezerras
Colostros com alta CPP devem ser descartados para garantir a qualidade, pois a oferta desse colostro às bezerras pode ocasionar:
- Risco de infecções: Colostro com uma alta contagem de bactérias pode conter patógenos prejudiciais que podem causar infecções nas bezerras. Isso pode resultar em problemas de saúde, como diarreia, pneumonia e outras doenças. Devido não terem ainda um sistema imunológico totalmente desenvolvido, esses animais jovens são mais suscetíveis a infecções.
- Prejuízo nutricional: A presença de bactérias pode levar a deterioração do colostro, o que resulta em perda de nutrientes essenciais. Bezerras que recebem um colostro com alta contagem bacteriana podem não estar recebendo uma quantidade adequada de nutrientes e anticorpos, o que posteriormente prejudica seu desempenho.
- Impacto na saúde geral: A ingestão de colostro contaminado pode comprometer o desenvolvimento do sistema digestivo das bezerras. Isso pode levar a problemas de absorção de nutrientes e a um crescimento mais lento, afetando a saúde geral.
- Impacto na produção de leite futura: Devido o não recebimento de uma nutrição adequada nos primeiros momentos de vida e a susceptibilidade de problemas de saúde devido ao consumo de colostro contaminado, as bezerras podem sofrer um impacto negativo em sua produção leiteira futura. A saúde e o crescimento adequado das bezerras estão diretamente ligados à capacidade da vaca de produzir leite de qualidade.
A avaliação da densidade do colostro pode ser realizada por meio do refratômetro Brix ou do colostrômetro. A densidade do colostro é uma indicação da concentração de sólidos totais, incluindo às imunoglobulinas.
Colostrômetro
O colostrômetro (hidrômetro), mede a gravidade específica do colostro, relacionando essa gravidade à concentração de imunoglobulinas (Ig).
O colostrômetro categoriza em três níveis:
- Baixa qualidade (vermelho) para Ig < 20 mg/mL,
- Moderada (amarelo) para 20 – 50 mg/mL e
- Excelente (verde) para Ig > 50 mg/mL.
O teste é rápido e usado em fazendas comerciais, porém, para executá-lo com êxito, é preciso que o colostro esteja na faixa de temperatura apropriada (20 a 25ºC), temperaturas fora dessa faixa resultam em leituras imprecisas. Quando a temperatura é baixa, a leitura superestima a qualidade, e quando é alta, a leitura subestima.
Refratômetro de Brix
A porcentagem de brix indica a concentração de sacarose em líquidos, como sucos de frutas e vinho.
Em líquidos sem sacarose, como no caso do colostro, a porcentagem do brix está correlacionada aos sólidos solúveis totais, permitindo relacionar esse parâmetro para a concentração de IgG no colostro, onde 25% de brix corresponde a colostro de alta qualidade (> 50 mg de Ig/mL).
Dois tipos de equipamentos baseados nesse princípio avaliam o colostro: refratômetros de brix ópticos e digitais.
No refratômetro óptico, o resultado é visto na lente com base na separação entre áreas claras e escuras após a amostra ser colocada. No refratômetro digital, o resultado aparece em uma tela.
Determinação da qualidade do colostro através de refratômetro de Brix (A) e colostrômetro (B). Fonte: Battist et al. (2021)
Avaliação da qualidade do colostro através do refratômetro de brix digital. Fonte: Milkpoint
Armazenamento do colostro
Após avaliar, identificar a qualidade do colostro o mesmo pode ser fornecido fresco as bezerras ou então em caso de excedente, pode ser armazenado:
- Armazene o colostro em sacos plásticos, garantindo que o colostro forme uma camada fina (formando uma placa) para agilizar o processo de congelamento e descongelamento, esse processo pode ser realizado com o auxílio de uma assadeira retangular.
- Os sacos devem ser etiquetados com a data da ordenha, número ou nome da vaca, e grau Brix identificado na análise.
- O congelamento do colostro deve ser realizado a -20ºC, podendo permanecer congelado por até 1 ano em freezer não frost free e até 3 meses em freezer frost free.
- O descongelamento deve ser feito em banho maria na temperatura de 45º a 48ºC.
A criação de um banco de colostro, envolvendo o congelamento e armazenamento, é de suma importância para garantir que as bezerras recebam um colostro de qualidade no momento adequado e em quantidade suficiente.
Lembrando que a qualidade do colostro não é apenas sobre a concentração de imunoglobulinas, mas também sobre sua higiene e ausência de contaminação. Certifique-se de coletar o colostro de maneira adequada, garantindo que esteja livre de sujidades e microrganismos indesejados.
Fornecimento do colostro à bezerra
Após o nascimento, a bezerra deve ser levada ao local designado, e caso o colostro a ser fornecido esteja congelado, instantaneamente o descongelamento deve ser iniciado.
A colostragem exige atenção cuidadosa: obrigatoriamente 10% do Peso Vivo (PV) da bezerra, deve ser administrado através de mamadeira ou sonda, o mais rápido possível, sendo preconizado o fornecimento em até 2 horas após o nascimento. O colostro utilizado deve ter grau Brix de 25 ou mais. Uma segunda dose, equivalente a pelo menos 5% do PV, deve ser fornecida na próxima mamada.
Ilustração exemplificando o cronograma de colostragem de uma bezerra nascida com 40kg. Fonte: Padrão Ouro de Criação de Bezerras
Amostras de sangue devem ser coletadas das bezerras entre 24 e 48 horas após a colostragem, com os resultados registrados, a fim de avaliar e acompanhar a eficácia da transferência de imunidade passiva na propriedade.
Existem valores alvos na avaliação da transferência de imunidade passiva das bezerras, onde é preconizado que para correta interpretação seja avaliado no mínimo 20% dos animais.
Valores alvo para avaliação da transferência de imunidade passiva. Fonte: Lombard et al (2020).
O rápido isolamento das bezerras do ambiente de nascimento e sua transferência para instalações adequadas no bezerreiro reduzem doenças e mortes, aprimorando o desempenho.
A colostragem é essencial para garantir imunidade passiva, já que a placenta bovina não transmite anticorpos da mãe ao feto. Bezerras bem colostradas são geralmente mais resistentes e saudáveis, destacando a relevância do processo.
A medição da proteína plasmática é um indicador confiável para avaliar a eficiência da transferência de imunidade passiva. Se as metas tanto de qualidade de colostro quanto de resultado da avaliação de proteína sérica não estão sendo alcançadas, ajustes de manejo podem ser necessários para garantir o desenvolvimento e saúde das bezerras.
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