O National Research Council (NRC), foi lançado em 1944 para aves e suínos, posteriormente incluindo vacas leiteiras em 1945. A última versão revisada em 2001 agora é sucedida pelo NASEM, após 20 anos, trazendo uma ampla gama de dados das últimas duas décadas.
O NRC, como foi conhecido por décadas, agora é chamado de National Academy of Sciences, Engineering and Medicine (NASEM) – Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina.
A atualização se baseou em aproximadamente 500 mil observações de desempenho e incluiu 300 novas pesquisas de modelagem para aprimorar as equações do modelo 2020/2021 do NRC.
Trouxe melhorias significativas para a bovinocultura de leite, com base em um extenso conjunto de dados de análises de composição de alimentos, cerca de 2 bilhões de análises de laboratórios comerciais, que servem como uma nova biblioteca de informações para uma melhor avaliação do fornecimento de nutrientes na dieta servindo como referência para produtores de leite e técnicos nutricionistas, auxiliando na formulação de dietas e na composição de nutrientes para uma estimativa mais precisa da produção de leite e ganho de peso em bezerras e novilhas.
Nesse texto traremos as principais atualizações no NASEM 2021 relacionadas com o consumo de matéria seca, fibra, gordura, carboidratos, energia, proteína, minerais e vitaminas.
Principais mudanças NASEM 2021
Consumo de Matéria Seca
Para a formulação de uma dieta devemos levar como base o cálculo de consumo de matéria seca do alimento que será ofertado às vacas, para determinação da quantidade de nutrientes que o animal está ingerindo.
O NRC 2001 levava em consideração apenas os fatores de:
- Produção de leite corrigida para gordura;
- Peso do animal;
- Semana de lactação.
Já no NASEM 2021 alterou a antiga equação para uma equação mais robusta, sendo uma predição de consumo baseada nos dados das vacas e uma outra predição baseada nos fatores físicos da dieta.
Para a equação que relaciona os parâmetros da vaca, foi incluído se o animal é multípara ou primípara, o escore de condição corporal (ECC) e os parâmetros de composição do leite (gordura, proteína e lactose). Com isso aumenta-se a importância de se saber a composição de leite para a formulação da dieta para animais e destaca a necessidade de coletar amostras de diferentes lotes de vacas para uma estimativa precisa.
Já na equação que relaciona os parâmetros físicos da dieta, para se ter certeza se a vaca pode ou não consumir aquilo que foi predito, foi relacionado o Fibra em Detergente Neutro (FDN) de forragem, digestibilidade de FDN, produção de leite e relação Fibra em Detergente Ácido (FDA) x FDN.
De maneira geral, as equações trazem maior assertividade para os nutricionistas e produtores no momento da formulação, na tentativa de suprir todas as exigências do rebanho.
Fibra
Relacionado a fibra, o programa agora permite a verificação das quantidades por meio de uma tabela fixa, no qual o teor de FDN varia de acordo com o teor de amido, e por meio da FDN ajustável fisicamente, que necessita de muitos dados para verificação tornando-a pouco prática e aplicável.
A nova metodologia visa predizer o pH ruminal e a ruminação do animal, porém destaca que ainda é necessário avaliar em como estas mudanças serão aplicadas de forma prática.
Em resumo, a melhor forma de se ajustar a fibra nas formulações com o NASEM 2021 seria pela utilização da tabela fixa de referência para cada estágio da lactação, trabalhando com FDN de forragem.
Recomendações de FDN da forragem de acordo com o período da vaca.
Gordura
A atualização trouxe alterações na melhora da estimativa de energia proveniente de gordura, trazendo o perfil de ácidos graxos dos alimentos, deixando a predição de energia provinda de gordura mais precisa.
Essa melhora se deu pelas análises possuírem uma curva de calibração específica para os ácidos graxos utilizando Espectroscopia de Infravermelho Próximo (NIRS), tornando a estimativa melhor.
Olhando pelo ponto de vista prático, sabendo que o tipo de gordura da dieta interfere diretamente no consumo, digestibilidade e aproveitamento do alimento ofertado, o NASEM 2021 permite que na formulação das dietas seja feita tendo em vista a quantidade de gordura saturada, gordura insaturada e ácido linoleico e linolênico bem definidos. Isso permite maior assertividade nas dietas e a possibilidade de ajustes com base nos perfis de ácidos graxos.
Carboidratos
Com relação aos carboidratos, duas grandes mudanças ocorreram no NASEM 2021:
- Inclusão do amido em várias equações;
- Exclusão da utilização do carboidrato não fibroso (CNF), passando para o uso apenas da matéria orgânica residual.
A matéria orgânica residual é calculada por CNF menos o amido e, de forma prática, é a quantidade de açúcar, pectina, ácidos orgânicos da silagem.
O amido passou a entrar nas equações em razão de sua importância para a formulação das dietas e pelos laboratórios estarem realizando a análise com base no amido, trazendo a possibilidade de formulação de dietas com base neste componente.
Contudo os dados trazem apenas a digestibilidade total, impossibilitando a avaliação da fração digestível no rúmen por não ser abordado no NASEM 2021.
Energia
Antes da atualização, no NRC 2001, a estimativa de energia era dada pelos nutrientes digestíveis totais (NDT), porém com a atualização passou-se a usar a energia digestível para esta estimativa. A energia digestível inclui todas as fontes de energia para a dieta, utilizando:
- Ácidos graxos digestíveis;
- Amido digestível;
- Matéria orgânica residual digestível;
- Proteína degradável no rúmen (PDR) digestível;
- FDN digestível.
Por trazer todos estes componentes, a nova equação passa a ter maior assertividade e faz com que a estimativa de energia digestível contida na dieta aumenta.
Fonte: Apresentação professor Marcos Neves, UFLA.
Proteína
A parte de proteínas foi de fato a que mais sofreu alterações do NRC 2001 para o NASEM 2021. A síntese de proteína microbiana, que antes era com base no NDT, passa a se basear:
- FDN digestível;
- Amido digestível;
- PDR, excluindo o extrato etéreo e a matéria orgânica residual da equação.
As taxas de degradação da proteína permanecem as mesmas, A – solúvel; B – parcialmente solúvel e C – indigestível.
Em relação às proteínas pós-rúmen, a atualização do modelo se baseia nos aminoácidos mais importantes: metionina, lisina, histidina, isoleucina e leucina.
Destaca-se a necessidade de se balancear a todos eles, uma vez que o fluxo desses aminoácidos, o consumo de energia, o consumo de FDN e o peso da vaca definem a produção de leite e a produção de proteína do leite.
Quanto ao valor de PDR e PNDR o NASEM 2021 voltou às recomendações do NRC de 1989, fixando estes valores.
Para o balanço de nitrogênio do rúmen, não há mais a possibilidade de se verificar no momento de formular a dieta, sendo necessário a realização das análises de nitrogênio ureico do leite (NUL) no tanque.
Fonte: Apresentação professor Marcos Neves, UFLA.
Minerais e Vitaminas
Na parte de minerais o NASEM 2021 trouxe várias mudanças, porém a indústria já havia adequado estas mudanças. Umas das grandes alterações foi na redução da exigência de potássio e sódio para a produção de leite, porém com aumento das exigências de cobre, zinco e manganês.
Para as vitaminas, ocorreu um aumento da exigência de vitamina D, vitamina A e vitamina E, resultando em um impacto econômico significativo, tendo em vista o alto custo de implementar essas vitaminas.
Considerações finais
Em resumo, as atualizações trazidas pelo NASEM 2021 podem ter um impacto significativo na criação de vacas leiteiras, pois fornece orientações baseadas em evidências científicas que visam melhorar a produção, o bem-estar animal, a sustentabilidade e também a qualidade do leite.
Por isso, é importante que produtores e profissionais que atuam com nutrição de vacas leiteiras estejam atentos a essas atualizações para que seja possível manter sempre as operações atualizadas e alinhadas com as melhores indicações e práticas disponíveis.
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