A ordem com que as vacas são ordenhadas, o que é conhecido como linha de ordenha, se refere a uma sequência específica com que os grupos ou lotes de animais passam pela ordenha, o que pode variar de acordo com a fazenda e das condições de saúde do rebanho.
Isso é importante por diversas razões, mas principalmente quando pensamos na saúde do úbere e consequentemente na qualidade do leite, tendo em vista que o principal objetivo é fazer com que vacas doentes não contaminem vacas sadias.
Nesse artigo iremos tratar a importância da realização da linha de ordenha, evidenciando os principais impactos que isso pode ter na saúde do úbere por ser usada como uma estratégia de controle da mastite contagiosa, além de trazermos pontos que devem ser levados em consideração para ordenar os animais na ordenha.
Mastite contagiosa e sua transmissão durante a ordenha
Sabemos que a mastite é uma das principais doenças nos rebanhos leiteiros e que essa enfermidade é um processo inflamatório da glândula mamária, causada geralmente por bactérias, o que gera grandes perdas econômicas para uma fazenda.
Estudos relatam que pode haver até 30% de perda de produtividade devido à mastite, além da desvalorização do leite pela Contagem de Células Somáticas (CCS) alta.
Exemplo de bonificação e penalização por CCS e CBT, mostrando que quanto mais alto os resultados, maior é o desconto no preço do leite. Fonte: Danilo Cavalcanti Gomes
Um grande problema presente nas fazendas é a mastite contagiosa, que rapidamente pode se espalhar pelo rebanho, trazendo grandes prejuízos econômicos.
Os agentes mais comuns são Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, os quais na maioria das vezes podem não apresentar manifestação clínica, o que dificulta o diagnóstico nos rebanhos.
Em sua maioria, sua transmissão ocorre durante a ordenha, com o uso da mesma ordenhadeira em uma vaca contaminada e depois em uma vaca sadia, contaminando-a.
Dessa forma, quando é realizado o diagnóstico de agentes contagiosos, já se tem um grande número de animais contaminados.
Para identificar e combater a mastite contagiosa, deve-se ficar atento aos indicadores do rebanho. A realização do exame de CCS individual é um grande aliado no combate à mastite contagiosa, visto que traz o resultado de cada animal, possibilitando que os animais de CCS alta sejam avaliados com maior atenção.
No caso da mastite contagiosa, pode-se observar na fazenda uma alta taxa de novos casos de mastite a cada mês, bem como animais com mastite crônica, o que pode ser indicativo de contaminação de agentes contagiosos de um animal para outro.
Pensando então em reduzir e controlar casos de mastite no rebanho, a prática mais utilizada é a linha de ordenha, a qual consiste em determinar de forma estratégica uma ordem dos lotes de animais para evitar que os animais contaminados contaminem as vacas sadias.
Como ter uma boa linha de ordenha?
Para uma boa linha de ordenha, alguns passos devem ser seguidos:
1. Identificar os animais com CCS acima de 200 mil
O comparativo do CCS entre meses é de grande ajuda para se ter o comportamento desses agentes no rebanho, observando a prevalência (número de vacas com CCS alta em relação ao rebanho) e a incidência (número de novos casos de CCS alta no rebanho) nos animais.
Com isso, tem-se um mapeamento da saúde do úbere do rebanho, podendo determinar quais animais possuem mastite subclínica.
2. Cultura bacteriana dos animais com CCS alta
É de extrema importância determinar os agentes presentes no rebanho.
Agentes como Streptococcus agalactiae são de rápida transmissão, mas de fácil tratamento. Isso dá oportunidade à fazenda de retirar o agente de seu rebanho com a utilização de antibioticoterapia.
Já no caso de Staphylococcus aureus, estratégias devem ser pensadas, visto que essa bactéria possui uma baixa resposta à antibioticoterapia, o que pode levar a uma mastite crônica nos animais. Sua eliminação dos rebanhos é muito difícil, principalmente em multíparas, o que leva muitos produtores a descartar animais infectados por esse agente.
3. Redivisão dos lotes
A separação dos animais em lotes facilita o manejo e evita erros. Uma divisão recomendada seria a seguinte:
- Vacas primíparas sem mastite.
- Vacas multíparas que nunca tiveram mastite.
- Vacas que já tiveram mastite, mas foram curadas.
- Vacas com mastite subclínica.
- Vacas com mastite clínica.
Entretanto, sabemos que realizar a divisão dessa forma pode não ser uma realidade na maioria das fazendas leiteiras, mas isso não pode inviabilizar que uma linha de ordenha seja instituída sempre preconizando que primíparas sadias sejam ordenhadas primeiro e as vacas que compõe o lote de mastite clínica ou tratamento sejam as últimas a passarem pela ordenha.
No caso de fazendas com Staphylococcus aureus, onde o descarte desses animais não é possível, é prudente fazer um lote apenas com esses animais, retirando o agente do rebanho aos poucos, utilizando a contaminação pelo agente como um critério para descarte dos animais.
4. Alinhamento com os colaboradores a ordem dos lotes
Os colaboradores da fazenda desempenham um papel fundamental na realização da linha de ordenha e para o sucesso da operação.
Tendo em mente a experiência e conhecimento sobre o manejo de ordenha, o que inclui entender o funcionamento dos equipamentos de ordenha e os procedimentos adequados que as pessoas que trabalham na ordenha possuem, ter alinhamento sobre a importância da realização da linha de ordenha é essencial.
Essas pessoas serão responsáveis pela observação dos animais, garantia de higiene e qualidade do leite, registro de dados, como por exemplo a presença de grumos, além de identificar e segregar esses animais e determinar tratamentos.
Animais durante a ordenha. Fonte: Acervo Rehagro
Após a instalação do novo manejo, a linha de ordenha, deve-se acompanhar as mudanças de CCS e as culturas bacterianas frequentemente, para remanejar animais curados e novas infecções, podendo atingir os melhores resultados com o novo manejo.
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