No contexto da cafeicultura, muitos produtores têm a convicção de que a irrigação é uma prática viável e benéfica para suas plantações. No entanto, na prática, nos deparamos com inúmeros projetos de irrigação deficientes devido à falta de água disponível no solo.
Neste texto, abordaremos passo a passo de como determinar se existe água disponível ou não para a irrigação do café, e destacamos a importância de uma avaliação precisa nesse sentido.
1°Passo: definir a ETp a ser trabalhada
A evapotranspiração do cafeeiro é um processo vital na sua sobrevivência e crescimento saudável. Ela se refere à combinação de água através da evaporação da superfície do solo e da transpiração das plantas.
Calcular a evapotranspiração é essencial para a gestão adequada da irrigação e para compreender as demandas hídricas da cultura do café. Existem diferentes métodos para estimar a evapotranspiração do cafeeiro, e um dos mais utilizados é o método CAMARGO.
O Método de Camargo, proposto por Camargo em 1971, é uma abordagem para estimar a evapotranspiração de referência (ETo) em uma determinada região.
A ETo é uma medida fundamental para entender as demandas hídricas das culturas e o manejo da irrigação. O método se baseia em diversos parâmetros climáticos, incluindo a radiação solar extraterrestre (RT), o número de dias do período analisado (ND), a temperatura do ar média (T) e um fator de ajuste (kf).
A fórmula para calcular a ETo (ETo(CA)) utilizando o Método de Camargo é a seguinte:
ETo=Ra x Tmed x K
Onde;
- Tmed: Temperatura média (ºc)
- Ra = Radiação extraterrestre (mm dia-1)
- K = Fator de ajuste em função da temperatura média anual local
Exemplo: Lat 20°, mês Agosto.
ETo=11,5 * 20 x 0,01)
ETo=2,3 mm
O método de Camargo leva em conta a radiação solar, a temperatura média do ar e o número de dias do período analisado para calcular a ETo. Além disso, o fator de ajuste kf ajusta a estimativa da evapotranspiração de acordo com a variação da temperatura.
A utilização do Método de Camargo pode fornecer uma estimativa da evapotranspiração de referência, que é uma medida valiosa para a gestão hídrica em áreas agrícolas.
No entanto, é importante lembrar que qualquer método de estimativa tem suas limitações e incertezas, e os resultados devem ser interpretados com cuidado, considerando as condições específicas da região e a qualidade dos dados utilizados.
2°Passo: verificar a vazão do ponto de captação no período mais crítico
A cafeicultura é uma atividade sensível às variações climáticas, e a irrigação é uma estratégia crucial para minimizar os impactos de condições adversas, como a escassez de chuvas, que podem prejudicar o desenvolvimento das plantas e a qualidade dos frutos.
Entretanto, é fundamental que essa prática seja realizada com eficiência, levando em consideração a capacidade de captação de água disponível, a demanda das plantas e o período mais crítico, geralmente associado ao florescimento e ao desenvolvimento dos frutos.
A verificação da vazão no ponto de captação durante o período mais crítico é de extrema importância na cafeicultura, especialmente quando se trata da irrigação, uma prática fundamental para garantir o crescimento saudável e a produtividade das plantações de café.
Abaixo temos um exemplo prático de como fazer os cálculos para verificar essa vazão:
Ex.:
- Largura 1 = 2,6 m
- Largura 2 = 2,8 m
- Profundidade média = 0,85 m
- Trecho = 6 m
- Tempo = 135 segundos
V = 6/135 = 0,044 m/s
Área média = (2,6 x 0,85) + (2,8 x 0,85) / 2 = 2,29 m2
Vazão = 0,044 x 0,85 x 2,29 = 0,0856 m3/s = 308,16 m3/hora x 50% = 154 m3/hora
Esse cálculo demonstra a importância de determinar com precisão a vazão disponível na fonte de água para atender às demandas da cultura do café durante o período crítico.
Garantir uma vazão adequada é essencial para maximizar a produção, a qualidade dos grãos e, ao mesmo tempo, otimizar o uso dos recursos hídricos, contribuindo para a sustentabilidade da cafeicultura.
3º passo: calcular qual a área possível de ser irrigada
Calcular a área possível de ser irrigada em uma plantação de café é um passo crucial na gestão da cafeicultura, especialmente em regiões com variações climáticas significativas ou quando a água é um recurso escasso.
Esse cálculo permite aos produtores otimizar o uso da água, garantir a saúde das plantas e maximizar a produção de café. Exploraremos como realizar esse cálculo e por que ele é tão importante.
Irrigação do café por Aspersão – Canhão ou Pivô – sem consideração de perdas
ETP = 5,1 mm
Demanda água / ha = 5,1 l x 10.000 m2 = 51.000 l = 51 m3/ha
Captação = 154 m3/hora
154 m3/hora x 21 horas = 3.234 m3/dia
3.234 m3 / 51 m3/ha = 63 ha
Observação: Usou-se 21 horas, pois e o tempo de operação que se trabalha nos projetos
Irrigação do café por Gotejamento
ETP = 5,1 mm
Demanda água / ha = 5,1 l x 10.000 m2 x 40% (área irrigada) = 20.400 l = 20,4 m3/ha
Captação = 154 m3/hora
154 m3/hora x 21 horas = 3.234 m3/dia
3.234 m3 / 20,4 m3/ha = 158 ha
Nestes parâmetros 1 m3/hora de captação irriga aproximadamente 1 ha
Gestão hídrica para eficiência da cafeicultura
Em resumo, a cafeicultura moderna exige uma abordagem cuidadosa para a gestão hídrica, visando garantir que a irrigação seja realizada de forma eficiente e sustentável. Neste contexto, o primeiro passo consiste em definir a evapotranspiração potencial (ETP) para compreender as necessidades hídricas das plantas de café, utilizando métodos como o de Camargo. Isso proporciona uma base sólida para o manejo da irrigação.
Em seguida, é crucial verificar a vazão da fonte de captação, especialmente durante o período mais crítico, quando as demandas hídricas das plantas são mais elevadas. O exemplo prático de cálculo da vazão demonstra a importância de assegurar que a quantidade adequada de água seja fornecida às plantas, evitando prejuízos à produção.
Por fim, ao calcular a área possível de ser irrigada, levando em consideração diferentes métodos de irrigação, como aspersão e gotejamento, os produtores podem planejar e otimizar o uso dos recursos hídricos. Esses cálculos ilustram como a disponibilidade de água pode afetar a extensão da área irrigada, influenciando diretamente a produção de café.
É essencial ressaltar que a gestão hídrica na cafeicultura é uma combinação de ciência, tecnologia e boas práticas agrícolas. Os produtores que adotam uma abordagem precisa para determinar a disponibilidade de água, estimar as demandas da cultura e planejar a irrigação de forma eficiente estão mais bem preparados para enfrentar desafios climáticos e promover a sustentabilidade de suas plantações.
Cuidar dos recursos hídricos é fundamental não apenas para o sucesso da cafeicultura, mas também para a preservação do meio ambiente a longo prazo.
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